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O Ala Marginal andou fazendo uma série de perguntas sobre esta coisa de ser-se blogueiro, num país como Cabo Verde. Inspirado num texto muito interessante que li há semanas do escritor americano Merlin Mann, eis alguns aspectos que eu considero importantes num blogueiro.

1. Um bom blogue tem voz. Ou seja, dá cara, tem personalidade. Quem foi que escreveu isto? Quais os seus tiques, fobias, fascinações. Quais as suas obsessões?

2. Um bom blogue tem opinião. Quem começa um blogue - e mais importante o mantém vivo - é porque acha que tem algo para dizer. Pode ser que ele seja o único a pensar assim, que seja. As audiências e a participação das pessoas o dirão. É quase impossível iniciar um blogue e, sendo bom, não obter qualquer feed-back.

3. Um bom blogue é concreto. O tempo conta, hoje mais do que nunca. Não interessam neste mundo longuíssimos textos com profundas dissertações sobre os mais variados temas. Isso fica para outros meios, outros canais. Um blogue deve manter o interesse, fazer com que o leitor se pergunte: o que virá por aí amanhã?

4. Um bom blogue é arrumado. Tem artigos escritos, não vomitados. Se optar pela imagem, esta deve estar em consonância com o texto. Ilustra, não decora. Não há limites minimos ou máximos para os posts. Não é a quantidade que faz a qualidade. Mas a segunda, essa, é indispensável.

5. Um bom blogue tem estilo. Aquilo que eu designaria de personalidade gráfica. Que pode ser mantida ou alterada de tempos em tempos. Mas que não deve ser confundida nem com «distracções» a mais, nem com simplicidade extrema. Tanto num caso como noutro, a personalidade perde-se, o estilo «destila-se».

6. Um bom blogue incomoda. Faz barulho. Dá uns bufos de vez em quando. Promove discussões, sejam elas sérias ou menos sérias. Se não causar uma polémica num largo espaço de tempo é porque, provavelmente, se tornou um aborrecimento para todos menos para o seu autor.

7. Um bom blogue motiva os outros a quererem fazer os seus próprios blogues. Se ele tem, eu também posso ter. Aliás, o Café Margoso nasceu assim, graças aos grandes pioneiros da blogosfera crioula. Como referiu o autor, a certa altura, toda a gente quer matar o Buda e revelar ao mundo as suas obsessões. Isso é bom. Ter um blogue significa que te preocupas.

8. Um bom blogue comunica. Ou pelo menos promove a comunicação. Custa-me entender blogues que não tenham a opção dos comentários. Deixam de ser, na essência, o que os define. Essa capacidade de permitir ao leitor opinar, criticar, elogiar, aconselhar. Havendo a possibilidade de moderar os comentários, então, não há do que temer. E responder, sempre.

9. Um bom blogue tenta sê-lo. Na maior parte dos casos, nem consegue. Mas tenta ser um pouco melhor a cada post, a cada mês, a cada comentário. Um bom bloguer experimenta, ousa, arrisca, não tem medo. E isso é cada vez mais raro. Em Cabo Verde, nem se fala.

10. Um bom blogue não tem problemas em quebrar as suas próprias regras. Sendo assim, eu posso muito bem achar, daqui a algumas semanas, que não é nada disto que faz um bom blogue, e que por isso, mais valia partir para outra. Um café com açucar, por exemplo.

11. Um bom blogue, finalmente, será o que discorda de tudo isto. Porque tem uma opinião, que é diferente desta, assim como eu tenho a minha. E deve ser por isso que essa pessoa tem um blogue seu, não é? Neste caso, o sistema funciona, é simples e está à distância de meia dúzia de cliques.