Great Minds




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Bom feriado!





Uma pergunta verdadeiramente incómoda foi um dia feita a um rabino, como nos conta uma das mais saborosas histórias judias.

É na verdade a história de um milagre. Certo dia, um homem deixou cair, por descuido, a sua torrada com manteiga e nesse dia, por extraordinário que pareça, não caiu sobre o lado que tinha a manteiga. Contrariamente a todos os hábitos, a todas as crenças, contrariamente ao que afirmam as Escrituras, a torrada caiu do lado do pão seco.

Tratava-se sem dúvida alguma de um milagre.

A notícia espalhou-se a toda a velocidade lá na terra, as pessoas juntavam-se e lançavam-se em profundas discussões. Por que razão, naquele dia, a torrada não teria caído do lado da manteiga?

Acorreram à sinagoga, falaram do assunto ao rabino que considerou a questão muito embaraçosa e pediu todo um dia e uma noite de reflexão e oração.

Era um homem com grande fama de sábio. Durante todo o dia e noite jejuou, reflectiu, orou e consultou os livros santos.

No dia seguinte, o rosto fatigado mas iluminado pela verdade, dirigiu-se à casa onde se tinha dado o pretenso milagre. Toda a cidade foi com ele. Pediu que o levassem junto do homem e disse-lhe:

- A solução é simples e vou dizer-ta. Não foi a torrada que caiu mal. Foste tu que barraste a manteiga do lado errado.


Imagem: «Intention» de Paul Klee





O Café Margoso foi alvo de uma referência no Ala Marginal, do Abraão Vicente, que o classificou como sendo «neste momento, o mais interessante blog berdiano». Escusado será dizer que ficamos muito inchados com a referência e não podemos deixar de a destacar, como deve de ser, num post próprio e absolutamente narcísico. Um muito obrigado pois, ao Abraão e a toda a clientela.





«Afinal, quantas pessoas se interessam pela cultura?, se põem o problema da vida?, do homem?, se põem a interrogação sobre o que nos rodeia? É um erro tocante o imaginar-se que as pessoas cultivadas se interessam pela cultura. A cultura não vem nos livros, nem nos cursos, nem nas salas de conferências, espectáculos, exposições com uísque ou a seco. A cultura é um problema que tem que ver com os nossos cromossomas e tem a dimensão secreta, oculta, privada, íntima, de uma vivência sagrada

Vergílio Ferreira, in «Conta-Corrente 3»

Imagem: pintura de Antoine Tàpies






Porque é que nas discotecas crioulas
se dança tanto sem se sair do lugar?


À melhor resposta, ofereço um café






Digam o que disserem, sou eu mesmo. Fiz ballet clássico durante 5 anos. Era o único rapaz numa escola privada com mais de 500 meninas. Por ser o único rapaz, não tinha que pagar as altas propinas. Ali passei dos melhores momentos da minha infância. Conhecem o filme, «Billy Elliot»? Era mais ou menos assim. Só que lá em casa ninguém me obrigava a treinar boxe nem eu era nascido para dançar, como o protagonista do filme.

Nos espectáculos no final de cada ano lectivo, punham-me sempre a dançar um pas-de-trois, com uma loira (Mafalda) de um lado, e uma morena (Isabel), do outro. Enfim, a fantasia de qualquer macho que se preze. E como se pode ver pelas imagens, deu para grandes momentos. Como este solo, em pleno palco do Teatro S. João, rodeado de meninas por todos os lados! Nunca mais lhe perdi o gosto...


...pela dança, pela dança!





Há espectáculos que não se esquecem. «Uma História da Dúvida» é, sem dúvida, um deles. Coreografado por Clara Andermatt, esta peça coreográfica única foi o resultado de uma residência na cidade do Mindelo e mais de metade dos participantes foram cabo-verdianos, entre músicos e bailarinos. Entre estes estava Orlando Pantera.

«Uma História da Dúvida» fica-nos pelo poder das imagens, das figuras, da música e da dança. Há momentos que não se esquecem. A longa fila dos intérpretes sentados no chão; o enorme cais de madeira movível; a imponente parede de metal, com as suas portas e varandas; Pantera cantando de tronco nú ao longo da varanda; Avelino pendurado no cais como um morcego; Voginha a correr pela plateia quem nem um louco com um violino na mão; o velho Malaquias com o seu violino, sózinho na varanda, vestido de branco, dizendo para o público num inglês imaculado «I'm a profissional», and so on...

Há finais que não se esquecem. E o final, oh Deus, o final de «Uma História da Dúvida», com músicos a tocar uma morna, agarrados pelos bailarinos, que pegam neles, que não param de tocar, e são voltados de cabeça para baixo, sempre tocando, sempre bailando, até ao chão, corpos, instrumentos, poeira, suor, poesia. E a morna que acaba com uma longa nota do violino de Malaquias, em pleno solo.

Como escreveu Clara Andermatt (essa força da natureza) «tudo se expressa através do movimento e da música. As palavras são fundamentais. Accionam pensamentos e emoções que formam e informam tanto o movimento como a música. Mas tudo o que é relevante do ponto de vista do significado, foi incorporado no som, no ritmo e no gesto. Os intérpretes falam a maior parte do tempo, mas as palavras que por vezes murmuram, outras vezes gritam ou cantam são como que explosões da alma, não podendo ser encaradas como um discurso perceptível e coerente. Por um lado as palavras são força motriz e focos de energia para o movimento dos intérpretes. Por outro, são ingredientes poderosos do som e do ritmo na partitura musical.»

Há espectáculos que não se esquecem. Tornam-se, pela sua qualidade, inovação, energia e criatividade, em objectos imortais. «Uma História da Dúvida» é um deles.





Hoje, dia 29 de Abril, é
Dia Mundial da Dança

"Eu poderia acreditar somente num Deus que soubesse dançar"
Nietzche


Imagem: DDiArt «Fly to me»»





Que legenda, para esta imagem?

À melhor legenda, ofereço um café





1. Por incrível que pareça, cada vez temos mais provas da tão falada «inserção de Cabo Verde na economia mundial». É que, por causa da anunciada «crise do arroz», lá para os lados da Ásia, os nossos comerciantes não perderam tempo: um quilo de arroz custa hoje bastante mais do que há 15 dias atrás. Na Libéria, por exemplo, devido ao preço do arroz, já estão a mudar para as massas e a aprender como se come spaghetti com um garfo. Por aqui, já há quem esteja a reservar o seu stock comercial ou familiar, não vá o Diabo tecê-las;

2. Segundo nos relata o Semana on line, a estreia do filme «A Ilha dos Escravos», rodada parte em Cabo Verde, foi bastante atribulada. O problema foi que no chamado (e ainda) Auditório Nacional, não havia forma de colocar o projector de película a funcionar e depois de muitas paragens, resolveu-se optar pela solução universal, projectar a cópia, em formato DVD, tendo a qualidade do som e imagem ficado comprometida. «Não obstante as várias tentativas de reparar a falha técnica, o filme teve que ser interrompido por diversas vezes e, não obstante os pedidos de desculpa por parte da produção, a maior parte da plateia preferiu retirar-se.» Isto até seria um pequeno fait-divers, não estivessemos nós a falar do Auditório Nacional, na capital de Cabo Verde.




Porque (algumas) imagens valem por mil palavras




Imagem: pintura de Bento Oliveira





Let's talk about sex, baby

1. O sexo é uma componente fundamental da vida, todos o sabemos. Aqueles que não o sabem, vivem na ignorância, ou porque não tem a informação devida, ou porque estão a fingir que não sabem. Para alguns, é o sexo, e não o sonho, que comanda a vida. Mas há dados curiosos, como poderemos ler de seguida;

2. Acontecem 114 milhões de relações sexuais todos os dias no planeta. Se todas atingissem o orgasmo, teríamos 2.638 orgasmos por segundo. Em apenas 20 ejaculações, o homem produz espermatozóides que são suficientes para povoar o mundo inteiro;

3. Na Babilónia, os homens pagavam caro para conseguir as mulheres mais bonitas. As feias repartiam o dinheiro arrecadado para que pudessem comprar um marido;

4. Em 1343, a rainha Joana I, de Nápoles, casou-se com o príncipe húngaro Andrea, dono de um enorme nariz. Ela imaginava que o tamanho dos dotes do marido fossem proporcionais ao nariz e… enganou-se! ‘‘Ó, nariz, como foi que me pôde enganar assim tão maldosamente?’’ — disse Joana, antes de mandar estrangular o marido;

5. Na Idade Média, os violinos não podiam entrar nos conventos ou mosteiros. Motivo: segundo a Igreja, o formato do instrumento lembrava o corpo de uma mulher e poderia prejudicar a pureza dos bons cristãos. Também foi na Idade Média, mais precisamente em 1593, que um inquisidor relatou a existência do clitóris pela primeira vez. Ao observar uma mulher acusada de bruxaria, ele descreveu o órgão como «o bico do seio do diabo»;

6. A rainha Cleópatra era especialista na arte do amor. Dizia-se que ela chegou a fazer sexo oral em 100 homens numa única noite. Tanto que ganhou o apelido de «Boca Escancarada». Por outro lado, a esposa do imperador Cláudio ficou famosa pelo seu insaciável apetite sexual. Calcula-se que ela teria feito sexo com cerca de 8 mil homens. E viveu apenas 26 anos… Cruel, Messalina ordenava que alguns homens que não mais lhe serviam fossem masturbados até ficarem impotentes ou morrerem;

7. Na Grécia Antiga, o exército encorajava o alistamento de casais homossexuais. Acreditava-se que, lado a lado, dois amantes lutariam até à morte;

8. Os homens da tribo Waibirir, na Austrália Central, costumam apertar o pénis de um visitante como forma de cumprimento;

9. Aconteceu no Mons Venus Club, na cidade de Tampa, estado da Flórida. Depois de uma discussão, um homem de 75 anos disparou contra a stripper Dora Oberling. Os médicos disseram que a prótese de silicone lhe salvou a vida;

10. Os donos de antigos bordéis inventaram uma forma de fazer com que as “suas moças” passassem por virgem várias vezes. Encharcavam de sangue um pedaço de esponja e o colocavam na vagina da mulher. Quando o pénis do cliente a penetrava, a esponja libertava o sangue;

11. Duas grandes personalidades da história morreram virgens: o cientista inglês Isaac Newton (1642-1727) e o filósofo alemão Emanuel Kant (1856-1950). Já o dramaturgo inglês Bernard Shaw (1856-1950) perdeu a virgindade aos 29 anos quando foi seduzido por uma viúva. Ficou tão chocado com a experiência que passou 15 anos sem a repetir;

12. Um orgasmo feminino dura de cinco a dez segundos mais que o masculino. Em algumas mulheres, já foram medidos orgasmos de até um minuto. Na hora do orgasmo, as paredes da vagina soltam uma descarga de 244 milivolts. Cinco mulheres produzem energia suficiente para acender uma lâmpada de um volt;

13. Confesso que de todos estes relatos algo insólitos, o número doze foi o que mais me impressionou, por razões estritamente práticas. Com o apetite sexual das nossas crioulas, quem sabe não estará aqui a resolução definitiva da crise na Electra.

Mindelo, 27 de Abril de 2008


Imagem: ilustração de Geraldine Georges





O que se pode ver ali em baixo, na coluna da esquerda, é o tempo que falta para eu fazer 40 anos. Porra! O tempo, esse grande malandro, passa depressa demais: já tenho uma filha quase mais alta do que eu e cada vez que me olho no espelho, penso para mim próprio: «não parece, pois não?». Será isso já um sintoma do que vem por aí?




Marketing 5 estrelas





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O Baluka Brazão vai estar durante os próximos dias
a mostrar do que é feita a sua arte.

A não perder!


«Raiz di Polon, Entre a Arte e a Loucura»
Exposição de Fotografia de Baluka Brazão

«Através da fotografia, contar a história deste grupo de dançarinos
que, são suficientemente loucos para pensar que,
em Cabo Verde, a sociedade pode ser educada através da Arte!»

Vamos ver, ouvir & comentar!


24 de Abril a 10 de Maio
Local: Centro Cultural Francês da Praia





O poder da mistura. Genial, não?





            I

            Entra pela janela
            o anjo camponês;
            com a terceira luz na mão;
            minucioso, habituado
            aos interiores de cereal,
            aos utensílios
            que dormem na fuligem;
            os seus olhos rurais
            não compreendem bem os símbolos
            desta colheita: hélices,
            motores furiosos;
            e estende mais o braço; planta
            no ar, como uma árvore,
            a chama do candeeiro.

            II

            As outras duas luzes
            são lisas, ofuscantes;
            lembram a cal, o zinco branco
            nas pedreiras;
            ou nos umbrais
            de cantaria aparelhada; bruscamente;
            a arder; há o mesmo
            branco na lâmpada do tecto;
            o mesmo zinco
            nas máquinas que voam
            fabricando o incêndio; e assim,
            por toda a parte,
            a mesma cal mecânica
            vibra os seus cutelos.

            III

            Ao alto; à esquerda;
            onde aparece
            a linha da garganta,
            a curva distendida como
            o gráfico dum grito;
            o som é impossível; impede-o pelo menos
            o animal fumegante;
            com o peso das patas, com os longos
            músculos negros, sem esquecer
            o sal silencioso
            no outro coração:
            por cima dele, inútil; a mão desta
            mulher de joelhos
            entre as pernas do touro.

            IV

            Em baixo, contra o chão

            de tijolo queimado,
            os fragmentos duma estátua;
            ou o construtor da casa
            já sem fio de prumo,
            barro, sestas pobres? quem
            tentou salvar o dia,
            o seu resíduo
            de gente e poucos bens? opor
            à química da guerra,
            aos reagentes dissolvendo
            a construção, as traves,
            este gládio,
            esta palavra arcaica?

            V

            Mesa, madeira posta

            próximo dos homens pelo corte
            da plaina,
            a lixa ríspida,
            a cera sobre o betume, os nós,
            e dedos tacteando
            as últimas rugosidades;
            morosamente; com o amor
            do carpinteiro ao objecto
            que nasceu
            para viver na casa;
            no sítio destinado há muito;
            como se fosse, quase,
            uma criança da família.

            VI

            O pássaro; a sua anatomia

            rápida; forma cheia de pressa
            que se condensa
            apenas o bastante
            para ser visível no céu,
            sem o ferir;
            modelo doutros voos: nuvens;
            e vento leve, folhas,
            agora, atónito, abre as asas
            no deserto da mesa;
            tenta gritar às falsas aves
            que a morte é diferente:
            cruzar o céu com a suavidade
            dum rumor e sumir-se.

            VII

            Cavalo, reprodutor

            de luz nos prados, quando
            respira, os brônquios;
            dois frémitos de soro; exalam
            essa névoa
            que o primeiro sol transforma
            numa crina trémula
            sobre pastos e éguas; mas aqui
            marcou-o o ferro
            dos lavradores que o anjo ignora;
            e endureceu-o de tal modo
            que se entrega;
            como as bestas bíblicas;
            ao tétano, ao furor.

            VIII

            Outra mulher: o susto

            a entrar no pesadelo;
            oprime-a o ar, e cada passo
            é apenas peso: seios
            donde os mamilos pendem,
            gotas duras
            de leite e medo; quase pedras;
            memória tropeçando
            em árvores, parentes,
            num descampado vagaroso;
            e amor também:
            espécie de peso que produz
            por dentro da mulher
            os mesmos passos densos.

            IX

            Casas desidratadas

            no alto forno; e olhando-as,
            momentos antes de ruírem,
            o anjo desolado
            pensa: entre detritos
            sem nenhum cerne ou água,
            como anunciar
            outra vez o milagre das salas;
            dos quartos; crescendo cisco
            a cisco, filho a filho?
            as máquinas estranhas,
            os motores com sede, nem sequer
            beberam o espírito das minhas casas;
            evaporaram-no apenas.

            X

            O incêndio desce;

            do canto superior direito;
            sobre os sótãos,
            os degraus das escadas
            a oscilar,
            hélices, vibrações, percutem os alicerces;
            e o fogo, veloz agora, fende-os, desmorona
            toda a arquitectura,
            as paredes áridas desabam
            mas o seu desenho
            sobrevive no ar; sustém-no
            a terceira mulher; a última; com os braços
            erguidos, com o suor da estrela
            tatuada na testa.

            Poema de Carlos de Oliveira, sobre Guernica de Picasso




1. Eis a capa do CD mais aguardado do ano: Scarlett Johanson canta músicas de Tom Waits. Este acontecimento único já havia merecido um post aqui no Margoso; Agora, o blogueiro Hiena conseguiu descobrir esta joia na net, e ao que parece a música também já circula pelo espaço. Mas com uma capa destas, eu tenho que ter o original. Ah, e num dos temas, o David Bowie participa nos côros. Que surpresas nos revelará ainda mais este «Anywhere I lay my head»? Como escreveu o Hiena, «deta, sonha... e falling down»;

2. Hoje é dia 25 de Abril, dia da Liberdade, o valor supremo do Humanismo. Tenho a impressão que nós, os cabo-verdianos, não temos bem a consciência da importância que este dia tem (teve?) para a história de Cabo Verde. Por isso, aqui no Margoso, a temática domina o dia. Devia ser feriado em Cabo Verde. Justifica-se muito mais que alguns feriados que temos por aqui;

3. Voltando ao Hiena, o ZCunha desafiou e ele não se fez de rogado. Fez um delicioso cartoon dedicado ao Germano Almeida que vale a pena ver. Aliás, ele tem andado inspirado. A sua descrição do filme «300» é de ir às lágrimas de riso. Será que encontramos o nosso «Gato Fedorento», em-forma-de-Hiena?;

4. A campanha eleitoral ainda não começou mas já dá para perceber o que vem por aí. Muita riola, muito golpe baixo, muito discurso irresponsável, muitas mútuas acusações, muitas vitórias anunciadas com a maior convicção do mundo. Discutir, debater ideias, projectos, visões para o futuro de cada Concelho? Não! Isso fica para algum futuro Encontro com Quadros, Fórum, Congresso ou Atelier, numa qualquer Câmara Municipal perto de si.





Não têm saudades (ou curiosidade, não tendo passado por isso) daquelas manifs, em que se gritava palavras de ordem como «25 de Abril Sempre, Fascismo Nunca mais» ou «o Povo Unido Jamais Será Vencido» de braço no ar e punho cerrado?


À melhor resposta, ofereço um café




Cartoon de Ferraz, in Os Ridículos





«Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar... (...) Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois

José Mário Branco - excerto da obra «FMI»

Imagem: 25 de Abril de 1974


P.S. José Mário Branco, um dos símbolos vivos da Revolução de Abril, lutou contra a pide e cantou contra a guerra colonial. Foi preso e teve que se exilar em França. Lá teve dois filhos. Um deles estava na barriga da mãe em pleno Maio de 68, no meio das barricadas de Paris, a um mês de nascer. É filho da Revolução e de revolucionários. Sou eu. E tenho um orgulho dificil de descrever por ter este homem como meu pai.




Não conhece a arte de navegar
quem nunca navegou no ventre
de uma mulher
, remou nela,
naufragou
e sobreviveu numa das suas praias.

Cristina Peri Rossi

Imagem: fotografia de Manuel Librodo




«Há na leitura aspectos que merecem a nossa atenção porque ligados a um difundido hábito não inspirador, julgo eu, de grandes afirmações… Refiro-me a ler na retrete. Em rapaz, quando procurava um lugar tranquilo para devorar os clássicos proibidos, muitas vezes me enfiei na retrete.(…) De conversas com amigos íntimos pude concluir que a leitura na retrete é quase sempre fútil: revistas ilustradas, selecções, folhetins, romances policiais ou de aventuras, toda a escória da literatura. Há gente que chega a ter uma prateleira de livros na retrete, local onde a leitura os aguarda como na sala de espera de um dentista. É espantoso verificar a avidez com que as pessoas passam revista à “leitura”, se assim posso dizer, que se amontoa nas antecâmaras dos médicos e dos dentistas. Para não pensarem tanto nas provações que as esperam ou recuperarem o tempo perdido, “ficarem a par”, como dizem, da actualidade?

Várias observações me garantem que estas pessoas já todas têm a sua conta de “actualidade”, quero dizer guerra, acidentes e mais guerra, desastres e outra guerra, assassínios e mais guerra, suicídios e outra guerra, assaltos a bancos, guerra e mais guerra quente e fria; as mesmas, não duvidemos, que têm o rádio aberto dia e noite, vão ao cinema o mais que podem – fora as novelas, fora a “actualidade” – e compram televisões para os filhos. Para estarem informadas!

No entanto o que sabem (que valha a pena saber) dos acontecimentos importantes que estremecem o mundo?

Muita gente devora jornais e cola o ouvido ao rádio (às vezes as duas ao mesmo tempo!) para ficar ao corrente do que se passa. Ilusão pura. No entanto activa e ocupada, essa pobre gente toma consciência do vazio aterrador que existe dentro dela. Pouco importa aonde mama: essencial é evitar o encontro face a face consigo própria. Meditar no problema do dia, ou nos seus próprios problemas, é a última coisa que a gente normal deseja fazer.

Mesmo na retrete, sítio onde não há nada para fazer nem pensar, onde ao menos uma vez por dia estamos sós e tudo se processa de forma maquinal, onde a ocasião é de beatitude (pois realmente se trata de uma espécie de beatitude), há pessoas que decidem concentrar-se na matéria impressa e, ao que imagino, têm o seu género de leitura favorito: umas absorvem longos romances, outras bagatelas sem consistência, outras voltam páginas e sonham. Que espécie de sonhos?... pergunto eu. Que espécie de tintas lhes dão a cor? (…).»

Henry Miller, in “Ler na Retrete” & etc, 1981

Nem de propósito, descobri este texto... E então, ler na retrete é ou não é um acto de cultura?






Dicionário do Diabo Margoso

Fronteira
Em matéria de geografia política, designa uma
linha imaginária entre duas nações, separando
os direitos imaginários de uma dos direitos
imaginários de outra.

Ambrose Bierce







Dan Froomkin, no Washington Post, descreve o sentimento americano quanto ao seu presidente e descreve qual é o seu legado; ir para a História como um dos piores - senão mesmo o pior - presidente de sempre. George W. Bush no entanto colecciona recordes; o último foi o de obter a maior índice de desprovação em toda a história da Gallup Poll, com 69 por cento dos americanos a desprovarem o trabalho do presidente. O recorde pertencia a Harry Truman desde Janeiro de 1952, quando os EUA se debatiam com a guerra na Coreia. Diga-se que o recorde do presidente com maior índice de aprovação também pertence a George W. Bush, com 90 por cento; foi obtido logo a seguir ao 11 de Setembro. Num outro recorde, este ligado à guerra no Iraque, 63 por cento dos americanos consideram a invasão um erro.

Foi encontrado, finalmente, qual será o legado de George W. Bush e o seu papel na História americana e mundial.

Imagem: Cartoon de John Sherffius, «Boulder Daily Camera»

Fonte: aqui




O velho hábito de ler na casa de banho ganhou um componente actual: o papel higiénico literário.

A empresa espanhola Empreendedores está a lançar rolos de papel especial onde aparecem impressos clássicos da literatura mundial para que o utilizador vá lendo enquanto permanecer na casa de banho. O produto, vendido só através da internet, inclui trechos de literatura clássica, teatro, poesia e até textos sagrados da Bíblia e do Budismo.

«Hemingway dizia que clássico é aquele livro que todo mundo respeita, mas ninguém lê. O que estamos a fazer é a levar os livros às casa de banho, aproximando a literatura do homem», disse o dono da empresa, Raúl Camarero. «E surge aí um conflito interessante: limpar o traseiro com uma bela obra e o dilema moral que isso representa», disse.

Da Bíblia foram escolhidos trechos do Apocalipse, do Cantar dos Cantares e dos Provérbios. Os textos sagrados budistas são O Sutra do Loto e o Livro Tibetano dos Mortos. A intenção dos sócios da companhia era incluir também trechos do Corão, mas tiveram medo da possível reacção dos islâmicos. Desde que apareceu num programa de televisão, a empresa Empreendedores, que anuncia o seu produto apenas na internet, está a ficar famosa na Espanha.

Fonte: 7FM


Eu adorei esta ideia, até porque tenho por hábito ler quando estou sentado na retrete. E pode ser qualquer coisa: revistas velhas, jornais, livros, até rótulos de detergentes, se não tive mais nada ao alcance da mão. Eu compraria este papel! E tu?






Porque lemos tão pouco?


À melhor resposta, ofereço um café






Germano Almeida
(O contador de estóreas)


«Germano Almeida tem a minha idade, mais de dois metros de altura, odeia ternos, gravatas, sapatos e discursos pomposos, é advogado (formado em Lisboa) e deputado junto a Assembléia do seu país. Na sua biblioteca tem mais livros de autores brasileiros que na minha. Adora mulheres (tem um filho com cada uma das três esposas oficiais que já teve). Come como um leão, gargalha como uma hiena e é mão-de-vaca

Descrição de Germano Almeida feita por Mário Prata (escritor brasileiro)

Confesso, o meu romance preferido continua a ser «Os Dois Irmãos» que já adaptei para teatro.






Pronto! Vem aí polémica... Oh Captain, my captain! Este é um daqueles filmes que muitos podem considerar lamechas, insuportável, impregnado de clichês e outros qualificativos pouco abonatórios. Mas pronto, não me interessa! Carpe Diem, eu confesso que adorei, já o vi vezes sem conta e gosto de mostrá-lo aos meus alunos de teatro.

Por várias razões: a exploração da poesia como se fosse algo proíbido, o método de ensino que começa, num primeiro momento, por mandar os alunos rasgar os manuais oficiais, as reuniões secretas em grutas nocturnas, a melhor interpretação que se cohece do Robin Williams no papel do «liberal» professor de inglês John Keating, as leituras dos poemas de Shakespeare («Shakespeare não é chato!»), a trepidante cena final com os alunos desafiando a autoridade subindo em cima das carteiras. Claro que no meio de tudo isto há, como tem que ser naquela indústria, o Bom, o Mau e o Vilão, mas o que me importa se este filme mexeu comigo?

O Clube dos Poetas Mortos é um filme de Peter Weir, um realizador que nem aprecio particularmente. Corre o ano de 1959, quando na capela da Academia Welton (E.U.A.) o reitor preside a cerimónia de abertura do novo ano lectivo. Trata-se de uma instituição privada que acolhe jovens rapazes de famílias abastadas com o intuito de lhes ensinar o se entendia por «Tradição», «Honra», «Disciplina» e «Excelência».

Robin Williams tem uma interpretação notável, representando com convicção um professor que todos nós certamente gostaríamos de ter tido (no meu caso, o professor que eu gostaria de ter sido): alguém capaz de olhar para além dos limites pré-estabelecidos com que os mais variados temas nos são tradicionalmente apresentados. Todos estes aspectos combinam-se numa lição de vida, de humanismo, ao som da inesquecível música de Maurice Jarre. O Clube dos Poetas Mortos é um filme que ou se ama ou se odeia. Eu amei. Oh Captain, my Captain!





Hoje, dia 23 de Abril, é
Dia Mundial do Livro

"Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por idéias."
Mário Vargas Llosa






Serei o único a considerar que temos
os mais belos castanhos do Mundo?


À melhor resposta, ofereço um café





As loiras russas, objecto de admiração pela sua beleza e de brincadeiras no seu país pela sua suposta falta de inteligência, já têm o seu próprio partido, embora para ser membro não seja preciso ter fios de ouro brilhantes, mas sim ter «alma de loira».

«Ser uma loira é um estado mental. Você pode ser loira por fora ou interiormente. Trata-se de ser optimista e não levar a vida tão a sério», disse à Agência EFE, Marina Voloshinova, secretária-geral do Partido das Loiras.

O que originariamente era um minoritário clube de amantes das loiras na internet, transformou-se agora numa formação política que pretende apresentar uma candidata nas eleições presidenciais de 2012. O partido já conta com cinco mil membros - um terço deles homens - e a lista de espera é «longa», segundo Marina, economista de profissão.

«Pintei o meu cabelo uma vez, mas não ficou muito bom. Para ser membro não é preciso ser loira. Mas é necessária a recomendação de outros dois membros e superar um período de teste, no qual o aspirante deve demonstrar um compromisso activo com o partido», explicou.

O emblema do partido é um retrato da famosa Mandy, a jovem loira que protagoniza uma famosa série de desenhos animados e que aparece com um super decote e uma margarida na mão.

«Uma loira nunca passa despercebida. Sempre chama à atenção. Além disso, é o elo mais fraco. Tanto homens como mulheres ridicularizam-nas e ninguém as leva a sério. Façam o que façam, são sempre bonitas e tolas», comentou.

Fonte: Yahoo Notícias





«Penso que o amor é muito difícil. Existem muitos obstáculos a que possa ser o absoluto que é. A palavra amor é uma palavra muito gasta, muito usada, e muitas vezes mal usada, e eu quando falo de amor faço-o no sentido absoluto... há uma série de outros sentimentos aos quais também se chama amor e que não o são. No amor é preciso que duas pessoas sejam uma e isso não é fácil de encontrar. E, uma vez encontrado, não é fácil de fazer permanecer.»

José Luis Peixoto

Imagem: pintura «The bride» de Gustav Klimt





Que legenda, para esta imagem?

À melhor legenda, ofereço um café
(embora seja óbvio!)





«Sibarita. (do gr. Sybarites, pelo lat. sybarita). 1. De, ou pertencente ou relativo à antiga cidade grega de Síbaris (Itália). 2. Diz-se de pessoa dada à indolência ou à vida de prazeres, por alusão aos antigos habitantes de Síbaris, famosos por sua riqueza e voluptuosidade» (Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira).

Se você imaginar a Itália como uma grande e bem torneada perna feminina, então o Golfo de Taranto fica naquela parte de baixo, a mais sensível a lambidas, do pé da Itália. Síbaris era ali onde a Costa de Taranto faz uma curva suave, e nas noites de Verão o vento traz o perfume dos jasmineiros de Alexandria. Os muros de Síbaris eram cobertos de heras afrodisíacas. Os Guardiões do Portal - uma casta cuja principal função era apalpar quem entrava na cidade, não para descobrir qualquer coisa escondida mas pelo prazer de apalpar - faziam um teste com quem quisesse a cidadania sibarita, envolvendo questões de matemática e das artes da indústria e do comércio. Quem passasse no teste era mandado embora. Quem não passasse entrava. Quem tentasse subornar os Guardiões entrava por aclamação.

A alfândega de Síbaris era rigorosa: só deixava passar supérfluos. As coisas úteis era apreendidas e mandadas para a cidade vizinha de Crotona, onde todos trabalhavam e eram conscienciosos e correctos. Mas Síbaris era mais rica do que Crotona porque era lá que os crotonenses gastavam seu dinheiro nos fins-de-semana. Por lei, todos os crotonenses tinham que estar fora de Síbaris ao amanhecer de segunda-feira, senão seriam presos. A lei raramente era cumprida porque a polícia de Síbaris nunca acordava antes do meio-dia.

Cada sibarita podia ter sete concubinas e sua mulher um escravo etíope, mas às vezes trocavam. As orgias duravam vários dias e só terminavam quando os sibaritas começavam a engatar as suas próprias mulheres, sinal de que já não viam mais nada. A monogamia e a abstinência sexual eram consideradas perversões imperdoáveis e punidas com chicotadas, nos raros dias do ano em que o chicoteador oficial não faltava ao serviço. No caso do infractor ser sadomasoquista, a sua punição era ficar olhando enquanto o chicoteador oficial chicoteava outro. Sexo em grupo era qualquer acto envolvendo mais de 50 pessoas. A justiça, em Síbaris, era dividida. Havia juízes togados para os casos de direito e juízes nus para os casos de paixão. O bestialismo era tolerado, salvo excepções como o sexo com abelhas.

Era Rei de Síbaris Flanfo, chamado o Sete Queixos, que vivia imerso numa banheira com óleos aromáticos. Foi lá que, certo dia, Flanfo recebeu um emissário de Crotona, que propôs a fusão das duas cidades. Flanfo, chamado o Sete Queixos, mastigando um pardal caramelizado, perguntou que vantagens teria Síbaris juntando-se a Crotona.

- Traremos o nosso dinheiro - disse o emissário.
- Nós já temos o vosso dinheiro - disse Flanfo.
- Traremos a indústria, a ciência, a contabilidade e as armas.

E então Flanfo, porque estava na hora da sesta que tirava de meia em meia hora, fez um gesto desrespeitoso que o emissário tomou como uma negativa, e um insulto. E só depois de acordar da sesta, inalando o seu pó de papoilas, Flanfo foi informado que Crotona declarara guerra a Síbaris. Mandou chamar o seu primeiro-ministro, Badan, para saber o que fazer.

Badan foi encontrado na cama com duas concubinas e um cabrito e convocado ao palácio, onde informou ao rei que Síbaris precisava se preparar para a guerra. Os homens deveriam se armar e erguer barricadas. As mulheres deveriam desfiar suas sedas caras e fazer ataduras. E o rei Flanfo deveria sair da sua banheira e fazer um pronunciamento ao povo, mobilizando-o para a defesa. Com grande dificuldade, Flanfo foi até a ágora para conclamar o povo à guerra. Mas não havia ninguém na ágora. Estavam todos na praia. Quando parou de falar, o rei Flanfo só ouviu o silêncio, o borbulhar das fontes e os cachorros. Voltou para o palácio, porque estava na hora da sua sesta.

Síbaris foi invadida e destruída por Crotona em 510 a.C. Não sobrou nenhum vestígio da cidade. Só recentemente, em 1965, uma expedição arqueológica conseguiu determinar a sua localização exacta, ali onde a Costa de Taranto faz uma curva suave, e nas noites de Verão o vento traz o perfume dos jasmineiros de Alexandria. Parece que descobriram cântaros para vinho, algumas estranhas estatuetas com formato lúbrico e uma garra de ouro na ponta de uma longa haste, que, segundo os pesquisadores, só podia ter sido usada para coçar o pé.

Mas até hoje ninguém localizou as ruínas da cidade de Crotona.

Luis Fernando Veríssimo

P.S. Quem quiser continuar a conversar sobre a questão do «crioulo poligâmico», clicar aqui.

Imagem: fotogramas do filme «Eyes Wide Shut» de Kubrick







Nome: Penélope Cruz Sanchez

Nacionalidade: Espanha

E Deus criou a mulher...




1. Sábado passado, vive um grande dia. Consegui, depois de muita luta, insistência e alguma chantagem psicológica, que a minha filha Laura, de 10 anos, lesse o seu primeiro livro - daqueles que se lêm mesmo! - do princípio ao fim. Melhor do que isso, consegui (conseguiu-o ela) que o livro a agarrasse. Ontem já estava deitada no chão, com um novo livro nas mãos. Disse-me que viria hoje à Biblioteca do Centro Cultural Português, para fazer o seu cartão de leitora. Foi uma dura luta, acreditem! E haverá recaídas, uns dias sem consumo de palavras, em que a preguiça falará mais alto. Mas estou certo de que quando ela terminou esse seu primeiro livro, este se voltou para ela e lhe disse: «nha menina, ess li é apenas o começo de uma bela amizade». Que assim seja!



O grupo de amigos da Fundação Amilcar Cabral promove, até ao próximo mês de Julho, uma série de actividades voltadas para as mais variadas manifestações artísticas, e cujo título genérico é «Amílcar Cabral, para além do mito». Um amplo projecto de dinamização cultural que merece a divulgação e participação de todos. Aqui no Margoso daremos conta da programação, durante cada mês de actividades.

Programa para o mês de Abril



Quarta-feira, dia 23 de Abril
"Multiculturalismo"
Debate

Sábado, dia 26 de Abril
"Lixo é útil"
Oficina

Quarta-feira, dia 30 de Abril
"Terra da Fartura" - Wim Wenders
Visionamento de filme seguido de Debate


Vamos ver, ouvir & comentar!

Horário: às 18:30
Local: Fundação Amílcar Cabral




Uma prenda do Jornal da Hiena. Que tal?



Bom fim-de-semana





O Ministro da Educação do Brasil deu, numa recente visita aos EUA, um autêntico baile, que merece ser divulgado, até porque, ao que parece, o seu discurso terá sido censurado e tido pouca divulgação. Durante um debate numa universidade daquele país, o Ministro da Educação Cristovam Buarque foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência em alguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros). Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro. A resposta de Cristovam Buarque não se fez esperar.

Então foi assim:

«De facto, como brasileiro, eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que os nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro...

O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país. Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar que esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de comer e de ir à escola.

Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa!»

Brilhante...





Acabamos de atingir as 10.000 visitas.

O Café Margoso existe há muito pouco tempo. Nasceu no dia 27 de Dezembro de 2007. É capricorniano, pois. Tem pouco mais de três meses de vida. No primeiro post, desse primeiro dia, coloquei um poema de Ricardo Reis, em que se aconselha a ser todo em cada coisa e a põr quanto sou no mínimo que faço. É o que tenho procurado alcançar.

Agradeço aos fieis clientes do Margoso e aqueles que só cá vem de quando em vez. Aos muitos que comentam neste espaço, que é de todos. Tentei contabilizar os comentários, mas desisti quando cheguei à casa dos milhares. A porta está sempre aberta. Certo que só voltarei a comemorar números de visitantes quando acrescentarmos um zero à direita, que é como quem diz, mais uma chávena de café.

Aceitam-se sugestões, críticas, ideias, desaforos, gritos, silêncios, anonimatos, flores e algo mais que vos aprouver dizer, nesta ocasião tão solene. Bzoute é kês kliente «dakel bom». Obrigado.

Aquele abraço!




Vira o disco e toca o mesmo





Para ver melhor, clicar na figura




Os avisos da morte

Um rapaz encontrou-se com a morte uma vez, e fizeram-se muito amigos. Então o rapaz disse à morte que, já que eram amigos, lhe ia pedir um favor: que o avisasse antes de ir por ele, que assim se poderia divertir melhor. A morte prometeu ao rapaz que assim o faria.

Despediram-se, e passaram muitos anos sem que o rapaz recebesse nenhum aviso da morte. Mas um dia apresentou-se a morte diante do rapaz, que agora já estava velho, e disse-lhe que vinha por ele. O homem, todo assustado, disse-lhe que isso não era o combinado, que ele ficara de o avisar com tempo, e que não devia ser assim. A morte contestou:

- Ficaste com os cabelos brancos?
- Fiquei – respondeu o homem.
- Caíram-te os dentes?
- Caíram.
- Cansam-te as pernas?
- Cansam.
- Perdeste a força?
- Perdi.
- Então, que mais avisos querias tu que te mandasse?

Conto popular galego




Que legenda, para esta imagem?

À melhor legenda, ofereço um café





A pergunta cafeana referente à Poligamia bateu todos os recordes do Margoso. Já chegamos aos 40 comentários!

E muito mais há para discutir sobre este assunto... Então, meninos e meninas: a pergunta (provocatória) ainda lá está. No bá partir más un kzinha de pedra?



P.S. Obrigado a todos os clientes por fazerem deste espaço aquilo que ele mais se orgulha de ser: o nosso café, mad in Cabo Verde, orgulhosamente!