Mais um estabelecimento amante de um bom café. Descobri-o por acaso e gostei do grafismo e dos conteúdos. Concebido a partir do Brasil, chama-se Cafeína e vale a pena uma visita.

Visitar, aqui





"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

Clarice Lispector





Escreve assim a Ministra das Finanças de Cabo Verde:

"Caro Cidadão. Transparência tem sido o nosso lema. Através da desconcentração da gestão orçamental, dezenas de quadros da Administração Publica durante cerca de 9 meses participaram de forma dedicada e entusiasta na elaboração do Orçamento de Estado de Cabo Verde para o ano de 2010. Foram momentos de intenso debate e analise. Tendo finalizado a proposta, chegou o momento de dialogar consigo, Caro Cidadão. É neste contexto, que não só disponibilizamos para sua consulta este trabalho de 9 meses, como também, convidamo-lo a comentar, sugerir, porque não criticar de forma construtiva, a proposta de Orçamento do Estado para 2010 através do Forum criado na internet para o efeito. É com honra e dignidade que o servimos! "

E ali está, para quem quiser consultar, o Orçamento de Estado para 2010, com todos os detalhes. E ali está também um Fórum online para quem quiser participar. Faltou-me descobrir os dados por percentagem, pois estou curioso de saber qual a fatia que cabe ao Ministério da Cultura. Nada que um pouco de aritemética não resolva. O que fica claro é que pelo menos neste ministério, mais de 2/3 da verba disponibilizada é gasta com custos de pessoal. Independentemente do que se possa dizer deste orçamento, uma coisa é certa: esta iniciativa do Governo de Cabo Verde merece o nosso maior aplauso.

Para consultar e participar, é só vir aqui






Hoje, 30 de Outubro, é Dia Mundial de Luta Contra o Câncro da Mama. Uma data ideal para lembrar que morrem em média 400 000 de mulheres por ano em todo o mundo com cancro da mama. No entanto se for detectado a tempo pode ser curável em cerca de 90% dos casos.

Portanto, meninas e senhoras (e meninos também, porque embora em percentagem residual, o cancro da mama também afecta os homens), a regra é prevenir, prevenir, prevenir. E o auto-exame qualquer uma pode fazer. E se tiverem companheiro, ele que ajude, sempre se dá uma certa carga erótica à coisa. Na cidade da Praia, uma série de iniciativas organizadas pela Associação Cabo-verdiana de Luta contra o Câncro, vão acontecer durante o fim de semana, estejam atentas(os).





        "Sem cuidar do tempo
        que os ponteiros gastam
        entre o exdrúxulo som
        pelo qual o navio se faz ao mar
        e a exausta vogal
        com que termina a viagem, me dou ao vão
        ofício de escrever poesia.

        Tal se a aranha,
        alheia ao móbil
        que a faz tecer,
        em vez da presa
        buscasse o verso, acaso a perdida rosa,
        por ventura o número
        que tal nome oculta. "

        Arménio Viera - recebido ontem pelas 21:43 horas





Não te metas nisso. Como disse um poeta, os seres apaixonados tornam-se muitas vezes susceptíveis, perigosos. Perdem o sentido da realidade. Perdem o sentido de humor. Tornam-se nervosos, psicóticos, chatos, assassinos. Quero lá saber, vou mesmo escrever um romance, tenho que aproveitar este estado de espírito que num momento me coloca a voar entre-nuvens e num outro me dilacera nas chamas de um inferno que não consigo dominar (por isso mesmo se chama inferno), agora sei o que é ser enterrado vivo. Enterros? Romances? Mas quais romances, bo ta parvo?! Isto não está tempo para romances, amigo, deixa-te disso, é pura perda de tempo. Preocupa-te antes com a crise económica, com esses assassinatos brutais em plena via pública ou com o aquecimento global, pelo menos faz alguma coisa de útil na vida, vem, a sociedade precisa de ti. Pode até ser, mas agora não, deixa-me, deixa-me. Oh dor, vem cá depressa, dá-me uma melodia rápido!, que tenho aqui pronta para ser servida uma letra para uma morna revolucionária, tem tudo para ficar no ouvido, vai conquistar a juventude, vai ser uma morna no número um do top as dez mais, acredita! Vamos cantar juntos, sim? Bo ta dod, mim j'm bai. Preciso de ir a correr ler a biografia do Veiga e o Orçamento de Estado para 2010, não tenho tempo para essas mariquices. E como veio, se foi, com o vento. E o outro ficou, a pensar no quando, no como e no onde poderia começar a escrever o seu romance. Ou pelo menos um poema, concluiu. Afinal de contas "um bom poeta pode fazer uma alma despedaçada voar." É disso mesmo que ando a precisar, foi o seu último pensamento, antes de se estatelar no chão de pedra, directamente oriundo do décimo sétimo andar do prédio mais alto da cidade.






[Porque sim...]







"Mulheres: gostava das cores das suas roupas; do jeito delas andarem; da crueldade de certas caras. Vez por outra, via um rosto de beleza quase pura, total e completamente feminina. Elas tinham vantagens sobre nós: planeavam melhor as coisas, eram mais organizadas. Enquanto os homens viam futebol, tomavam cerveja ou jogavam, elas, as mulheres, pensavam em nós, concentradas, estudiosas, decididas: a nos aceitar, a nos descartar, a nos trocar, a nos matar ou simplesmente a nos abandonar. No fim das contas, pouco importava; seja lá o que decidissem, acabávamos mesmo na solidão e na loucura."

Charles Bukowski - poeta





Duas receitas que vem mesmo a propósito, até porque como disse aqui uma cliente do Margoso "não adianta nada o Ministério da Saude, do Ambiente ou da Educação fazerem as campanhas que tem feito contra o Dengue ou o Paludismo, se as pessoas continuarem a não fazer a sua parte que para mim é a mais importante." Então cá vai:

Receita Primeira: esta receita de repelente de mosquitos, quem a mandou conhece-a há vários anos e garante que dá resultado. Experimentem porque está ao alcance de todos. A usar principalmente nas mesas de cabeceira à noite sendo que o efeito dura enquanto o limão estiver bom. Estamos a falar de cravos espetados em limão que afastam os mosquitos. O limão, quem diria, tão apreciado nas caipirinhas, não tem o mesmo prestígio entre os mosquitos. Aliado ao cravo, ajuda-nos a combater o Aedes Aegypt. Façam como na foto. Enterrem alguns cravos em meio limão. Façam isso com 3 ou 4 limões e espalhem pela casa. Mais uma arma para afastar os mosquitos e se prevenir contra a dengue.

Receita Segunda: curiosamente, também envolve cravos - que se podem comprar aqui no MIndelo em qualquer supermercado (ver imagem em baixo; não comprar em pó). Esta receita foi passada por moradores numa colónia de pescadores do Brasil. O excelente é que não intoxica e pode ser usado à vontade. O que é necessário: 1 garrafa de álcool etílico ou mesmo canforado; meio vidrinho de óleo para bebé para não desidratar a pele (o óleo é opcional); 1 pacote de cravinho (mais ou menos 30 cravos). Deixar ficar em infusão por uma noite. (Dizem que) se torna um excelente repelente caseiro! E o cheiro até é agradável!







A propósito do Seminário (mais um) promovido pelo IIPC sob o lema "Pensar e Valorizar o Património Nacional", que está a decorrer no Mindelo, seria bom aproveitar-se a ocasião para uma breve visita de estudo à mais antiga e emblemática sala de espectáculos da historiografia cultural de Cabo Verde, que está ali mesmo à mão de semear, a apodrecer aos olhos de todos na principal praça da cidade. O Éden Park agradece que lhe façam um enterro condigno como merece e que pelo menos seja dado como exemplo da forma como se "pensa" e "valoriza" o património no arquipélago.





Segundo escreveu Lourenço Lopes na crónica desta semana no jornal A Nação, os "sem partido" representam cerca de 17% do eleitorado. Não sabendo onde é que ele foi buscar este número - certamente num estudo abalizado - mas considerando que os "sem partido" serão aqueles cidadãos que não estão directa ou indirectamente veículados aos partidos políticos cabo-verdianos (e dentro destes, o PAICV e o MPD), quererá isto dizer que 83% dos eleitores já sabem o que vão fazer daqui a dois anos, ou seja, não questionam nada nem ninguém que esteja directamente ligado à sua cor partidária.

Eu, obviamente, incluo-me nestes 17% dos "sem partido", e reconhecendo que uma das possibilidades (e direitos) de participação cívica do cidadão é fazê-lo por intermédio da intervenção política, nomeadamente a partidária, não deixo de ficar preocupado com este dado, porque a sensação que tenho é que estamos a criar uma sociedade de seguidores passivos que não questionam, não debatem, não aprofundam ou pior ainda, não querem saber. É o discurso do Veiga ou Neves é kampion e o resto que se lixe.

Nada seria tão mau se os "com partido", apesar de sê-lo, não vissem o mundo que os rodeia apenas nas cores que lhes convém, porque como já escrevi a propósito da figura única de Eugênio Tavares, "se tomamos determinadas posições, somos amarelos; se, pelo contrário, assumimos uma atitude antagónica relativa ao mesmo assunto, somos verdes. No país do mar, há cada vez menos espaço para o azul." E esse é o maior crime que podemos cometer contra nós próprio.




Existe alguma esperança para nós-outros, quando vemos quem são as pessoas que se perfilam para serem os futuros dirigentes deste país ou é melhor mesmo é nem pensar muito no assunto?


À melhor resposta, ofereço um café












Vai apresentar-se ao público hoje, quinta-feira, o mais novo grupo de teatro do Mindelo: o Grupo de Teatro do Centro Cultural do Mindelo, que se forma a partir do XIII Curso de Iniciação Teatral do Centro Cultural Português - Instituto Camões, que desta forma dá origem a mais um rebento teatral com o seu trabalho de formação de base.

O nóvel grupo, que apresenta agora a sua primeira produção cénica, nasce porque "pretende ser mais um contributo para a promoção e o desenvolvimento do teatro nacional." A peça de estreia chama-se "Androginia ou Moda bsot kizer" e é uma apropriação livre de Caplan Neves inspirada na obra "Como vos Aprouver" de Shakespeare.

Caplan Neves, um nome a reter, assina além da dramaturgia, a encenação e cenografia, e vai estar também no palco para interpretar um dos três personagens desta peça. Os outros actores são Idaletson Delgado e Genú Delgado. Segundo se pode ler no programa, o espectáculo tem como tema central "a violência baseada no género (particularmente a violência doméstica), adquirindo neste contexto particular um carácter especialmente provocativo em relação às noções assentes de categorias radicalmente opostas de homem / mulher, agressor / vítima." Uma abordagem diferente e original de uma temática actual, portanto.

Não percam, hoje, pelas 18:00 horas, no Centro Cultural do Mindelo. A entrada é livre, dado que esta apresentação se enquadra na Semana da Psicologia, a decorrer no IESIG.





Faz hoje 30 dias que faleceu o nosso trovador maior, Manuel d'Novas. Paz à sua alma. Que as novas gerações saibam ser dignas da rica herança deixada pelo mestre.

Imagem: fotograma do documentário "Mindelo trás d'horizonte"





Assisti ontem de madrugada a uma cena inusitada: já muito tarde ouviu-se bem perto da minha casa, no bairro Alto de S. Nicolau, um enorme estrondo. De início ainda pensei que podia ter sido um tiro, mas o barulho era diferente. Subi ao terraço, ouviam-se agora todos os cães da zona a ladrar desvairados, e numa rua paralela percebi o que acontecera, graças ao relato de um guarda nocturno de uma casa ali em construção: dois rapazes, ainda adolescentes, passaram por um carro novo que ali estava estacionado e sem mais delongas, pegaram em dois blocos da rua e pimba, partiram o vidro da frente, com duas violentas pedradas, pondo-se de imediato em fuga. Os donos do automóvel, um pacato casal que acordou atordoado com aquilo tudo, não me pareceu ser daqueles que justifiquem inimigos capazes de encomendar o serviço. Portanto, o que eu concluo é que este acto foi feito por pura diversão. Aliás, era essa a versão do guarda. Es fazê ess koza por feling, disse ele. Dito isto, apetece dizer que a sociedade que pior prepara o seu futuro é aquela que é incapaz de ler (e entender) os seus próprios sintomas.





Bem que me avisaram para não escrever sobre futebol num blogue que se pretende cultural como este, mas em homenagem ao carioca Nelson Rodrigues, cá vai. Antes de tudo, vários pontos d'ordem. Primeiro ponto: escrevo de barriga cheia, depois de quatro anos seguidos a festejar campeonatos, portanto não tirem desde já conclusões precipitadas sobre azias e outros quejandos porque eu estou muito bem de saúde, obrigado por perguntarem. Segundo ponto: sim, irritam-me as goleadas que, jogo sim jogo sim, o Benfica, esse novo colosso europeu, impõe aos seus adversários. Terceiro ponto: admito sem problemas que a equipa encarnada de Lisboa é neste momento a que melhor futebol pratica em Portugal, independentemente dos mergulhos do Aimar.

Dito isto, sinto-me pronto para afirmar que o menos mau em tudo isto é ver a forma ridícula como os adeptos das águias festejam cada jogo, cada golo, cada incidência e assisto divertido ao rol de afirmações bombásticas que proferem no auge desta tempestade de futebol atacante. Ainda ontem, num daqueles programas de televisão sobre futebol onde se discute tudo menos futebol, o representante do Benfica, num estado próximo do orgásmico, anunciou a sua última grande conclusão: o Jorge Jesus é melhor treinador que o Mourinho! E não era um filme realizado pelo dito cujo não, ele dizia isso com o ar mais compenetrado do mundo, não sem um sorrisinho malandro de quem acabou de molhar os lençóis depois de um sonho erótico, provavelmente enquanto via um dos seus filmes com a Soraia Chaves. E daqui se tira a primeira conclusão: o problema desta malta não é não saber perder (já estão mais do que habituados). É não saber ganhar.

Para que conste: o Mourinho não só venceu a Taça UEFA e a Liga dos Campeões com uma equipa formada por (então) ilustres desconhecidos, como bateu todos os recordes em Inglaterra, sagrando-se bicampeão nos seus dois primeiros anos, e preparando-se para fazer o mesmo em Itália. Mas claro! O ruminante do Jorge já é melhor. Entusiasma os adeptos como poucos, o que não espanta vendo um e outros. Mas tenho que admitir que o treinador da moda é extremamente honesto e tem espírito desportivo, e com isto tirar a segunda conclusão: foi preciso ser ele, Jorge Jesus, a lembrar em pleno jogo com o Nacional a todos os adeptos, inclusivé aos comentadores e jornalistas lusos, que o FC Porto é que é o tetracampeão, fazendo o mesmo gesto que fizeram os dragões há uns meses atrás quando festejaram o quarto campeonato consecutivo. É de homem!







"Talvez no gesto das mulheres haja sempre qualquer coisa a mais para além do próprio gesto."

Bagaço Amarelo (aqui)





[Ou de como o título deste post daria um bom nome para uma peça de teatro. Ou um livro]






Casos suspeitos de dengue em Cabo Verde ascende a 3.367

Comentário Cafeano: foda-se! [fonte: aqui]





Há dias - ou noites - em que não nos apetece escrever sobre nada. Ou porque os assuntos não nos motivam, ou porque estamos mal dispostos, ou simplesmente porque nos falta a inspiração. Foi o que me aconteceu ontem de noite, naquele horário em que habitualmente coloco os novos artigos do Café Margoso no ar, um hábito criado por mim para os leitores deste blogue e que para mal dos meus pecados tem feito com que cada vez que falho a colocação de novos post's de madrugada, receba na manhã seguinte uma série de mensagens de protesto da clientela a bradar "então, hoje não há café fresco, é?!" Foi o que aconteceu hoje.

Tentei inspirar-me no entusiamo biandástico mas não resultou. Tentei sentir-me provocado pelas linhas rosas mas nada mexeu. Tentei informar-me com o sempre informado Micau, mas dessa informação não resultou temática que me apetecesse desenvolver. Senti-me um vegetal. Em autêntico coma blogueiro. Nos jornais electrónicos, sempre tão inspiradores, o que é que vemos? Que Cabo Verde está a transformar-se num farwest, com mais um assassinato em plena via pública ou uma senhora transloucada que entre em plena Câmara Municipal com o intuito de ceifar um vereador, assim mesmo, strictus sensus. Passo.

Há dias assim. Eu gosto mesmo de falar, discutir, conversar e debater sobre política cultural. Sobre arte e o sublime acto da criação. Nestes dois últimos dias na rádio nacional, ouvindo o debate na Assembleia Nacional, ainda houve aquela esperança de que algum deputado se lembrasse de fazer algum questionamento ao Ministro da Cultura, na sessão de perguntas ao Governo. Que alguém lhe perguntasse, por exemplo, da eventual inconstitucionalidade da medida que aprovou o novo alfabeto cabo-verdiano, dos muitos anúncios públicos que são feitos no sector e aos quais depois não é dado qualquer seguimento, ou apenas pela curiosidade de se querer saber de novas iniciativas e projectos que possam substituir aqueles que já se encontram moribundos pela passagem implacável do tempo. Mas não. A única palavra que se ouviu aobre esta área da governação foi um voto de pesar, proposto por um deputado da UCID, em relação aos artistas que pereceram nestes últimos tempos. Foi bem, mas eu queria mesmo saber é o que fazer com os que (ainda) cá estão. Mas pelos vistos a nossa política cultural merece os deputados que tem. E vice-versa.






Que legenda para esta imagem?

À melhor legenda, ofereço um café



Comentário Cafeano: esta impressionante imagem merece um aparte. Foi tirada na semana passada na cidade do Rio de Janeiro, no âmbito dos violentos tumultos que tanto eco fizeram na comunicação social. Mas é uma imagem que só podia mesmo ter sido tirada no Rio de Janeiro, cidade que amo e que conheço razoavelmente bem. Onde a violência urbana e a descontração típica do carioca convivem lado a lado, talvez porque as pessoas se recusem simplesmente a deixar de viver para ficarem enfiadas debaixo da cama com medo de uma bala perdida. Mas este é daqueles lugares que não merece os bandidos que tem. Que a vitória dos Jogos Olímpicos possa servir para ajudar a resolver um problema que muitos já consideram impossível de resolver, esse o meu maior desejo. [via: Jumento]






Eça de Queirós, ano da graça de 1871
...ou de como o Tempo, por vezes, parece que não faz o seu trabalho

      "Estamos perdidos há muito tempo...
      O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
      Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada.
      Os caracteres corrompidos.
      A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
      Não há princípio que não seja desmentido.
      Não há instituição que não seja escarnecida.
      Ninguém se respeita.

      Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
      Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
      Alguns agiotas felizes exploram.
      A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
      O povo está na miséria.
      Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
      O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
      A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
      Diz-se por toda a parte, o país está perdido!
      Algum opositor do actual governo? Não!"







Porque hoje é segunda-feira, aqui fica a crónica Café Margoso, emitida na passada 5ª feira, na Rádio Nacional de Cabo Verde. O tema, o Dia Nacional da Cultura (nunca me farto...).






          Basta sentir o peso do calor,
          a voz rude dos que dominam,
          o odor indisfarçável do real,
          logo um sonho me transpõe,
          busca teu sono para se acudir
          e te fazer sonhar, transmigrar,
          manchar com a fé nossa cama,
          sensual castelo, firme, irreal.

          Helga Holtz























Kubrick é o mais genial cineasta da história do cinema, ponto. Das várias obras-primas que realizou, destaco hoje o filme "Laranja Mecânica", um autêntico manual de entendimento e (também) de sobrevivência sobre a violência urbana, realizado há décadas atrás mas que se mantém absolutamente actual. Mas é essa uma das principais características das obras de arte únicas: são imortais e resistem à passagem do tempo. É o caso deste filme.

"Interessante como as cores do mundo real se parecem realmente reais quando as vês num ecrâ."
— Alex, protagonista de Laranja Mecânica





O dinheiro é afrodisíaco?


À melhor resposta, ofereço um café







O maior problema das (bocas) indirectas é que, por defeito de fabrico, raramente atingem o alvo.





Não ouvi (felizmente, apetece-me dizer), mas li no blogue Terra Longe: Manuel Veiga, Ministro da Cultura de Cabo Verde, no programa "Ao Sábado" da RCV, anunciou mais uma ideia luminosa: leiloar o dia Nacional de Cultura! Isto é, deixem lá ver se entendi bem. Hum. É isso mesmo: a ilha, isto é a Câmara Municipal, que der mais, ganha. Ou seja, o responsável máximo da nossa política cultural grita aos sete ventos let's leiloed baby! e lá vão os Presidentes das Câmaras dos municípios cabo-verdianos, amarrados nos seus respectivos Veradores da Cultura (quando existem) correndo para apresentar as suas propostas no sentido de conseguir que as actividades centrais do dia 18 de Outubro possam ser feitas no seu quintal. Lindo!

Eu acho que podíamos ir um pouco mais longe. Porque não colocar o Dia Nacional da Cultura no E-bay? Assim, as associações de emigrantes também poderiam lutar para que as comemorações aconteçam nas suas respectivas sedes e quem sabe algum milionário da Singapura ou da Suécia ache piada à efeméride e dê uma pequena grande fortuna para levar as principais actividades para os seus castelos privados. Com o dinheiro ganho com esta medida criativa, sempre se podia construir um auditório na cidade do Mindelo, por exemplo.

Mesmo considerando que posso ser mal interpretado - como habitualmente - por estar a brincar com coisas sérias, um dos aspectos que mais me incomoda em todos estes tiros culturais que são dados no pé do próprio Governo é o silêncio ensurdecedor de toda a oposição. Não se lhes ouve nada de nada sobre questões culturais. É o vazio absoluto. Nenhuma opinião incisiva, nenhuma crítica construtiva, nenhuma proposta para o futuro, nenhuma cara que, quanto mais não seja, aproveite politicamente estes lapsus lingaes masoquistas do Ministro Veiga. Mas não. A oposição elege um novo líder, rejubila com a biografia do ressuscitado, mas continua profundamente adormecida, fazendo prever que numa eventual mudança, a cultura continuará a ser o parente pobre, assim como uma daquelas jóias que se colocam apenas em dias de festa. Ou em leilões, já agora, que são também muito chiques.










Hoje, ao resolver ouvir a transmissão pela rádio nacional a abertura oficial do ano judicial - assim, tipo como quem vai para uma nova época, apresentando o novo treinador, as aquisições mais sonantes, as perspectivas para o novo ano de competições, nacionais e internacionais, etc. - acabei por concluir que discursos não é comigo. Ao quarto vocelência adormeci profundamente e acordava de quando em quando para tentar perceber quem é que estava a falar, o que era um pouco complicado, pois os cinco ou seis discursos (perdi a conta, passado o segundo) diziam todos mais ou menos as mesmas coisas, o que pode até ser encarado com um bom sinal, pois estando todos de acordo e remando para o mesmo lado, é mais provável que o barco siga para bom porto, a não ser que ande tudo a remar para o lado errado e aí estamos sem qualquer razão para optimismos quanto ao nosso futuro próximo, ideia que pessoalmente eu não comungo até porque o meu lado ingênuo e optimista (há que o considere irrealista) acaba sempre por vencer as batalhas individuais que quase diariamente acontecem dentro da minha cabeça.

Aliás, depois da soltura de um famoso advogado da praça e da enorme massagem no ego que este recebeu por direito da parte dos juízes do Supremo - por exemplo, a mim nunca ninguém me chamou publicamente "bom chefe de família" - podemos até ficar um bocadinho na dúvida, embora seja certo que quando lemos no mesmo acórdão que o senhor vive em condições de "grande debilidade financeira" e com uma "saúde precária" não podemos deixar de reconhecer uma certa simpatia por esta decisão, pelo menos assim o pobre e penhorado senhor pode esperar a decisão final no calor e tranquilidade do lar doce lar, juntamente com a sua família, como qualquer cidadão de bem.

Daqui a alguns minutos, iremos saber, assim como se fosse o primeiro jogo de apresentação da equipa aos sócios para a nova temporada que se avizinha, se realmente podemos esperar algo de bom para os próximos meses, pois está a ser lida neste momento, e ao que parece sob fortes medidas de segurança, a sentença de um dos julgamentos mais mediáticos do ano, com o Ministério Público a pedir penas pesadas para os acusados, em torno de 15 a 20 anos, sendo provável que acione ainda a lei de lavagem de capitais, tendo em conta a riqueza acumulada pelos arguidos e que se supõe - segundo o Ministério Público - seja proveniente do narcotráfico e da associação criminosa.

Vai ser uma pré-temporada interessante para avaliar a forma e a capacidade da justiça cabo-verdiana para a nova época que se avizinha.


Imagem: "Ansiedade" de Edward Munch


Adenda: Acaba de ser lida, na ilha do Sal, a sentença do grupo de cinco cabo-verdianos alegadamente envolvidos numa rede de narcotráfico. O tribunal do Sal decide pela reclusão total dos arguidos. As penas variam entre os 12 e 25 anos, com os arguidos Zé Pote, José Jorge e Lígia Furtado a perderem todos os seus bens a favor do Estado de Cabo Verde. Zé Pote apanha a pena de 25 anos de reclusão: José Jorge, 24 anos: Lígia Furtado, 23: Tigana, 22 e Naiss, 12 anos. Estes cinco indivíduos estavam a ser acusados de crimes de narcotráfico e lavagem de capitais. Não se sabe agora o que poderá acontecer ao bom chefe de família... [Fonte: aqui]






"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."

Clarice Lispector, escritora brasileira





Esta bela senhora, pianista, chamada Gabriela Canavilhas e que, segundo rezam as crónicas, nasceu em Angola há 48 anos (eu nunca pergunto a idade às mulheres, mesmo que procure adivinhar), é a nova Ministra da Cultura de Portugal. Claro que é absolutamente prematuro dizer isto, mas tendo em conta que é uma ministra que entra no Governo depois de Sócrates ter admitido - em tempo de pré-campanha, é certo, mas ficou gravado - que um dos seus erros de governação foi ter dado pouco dinheiro à Cultura; tendo em conta que é uma mulher com currículo, principalmente na área musical; pode ser que esta (surpreendente) aposta acabe por dar certo. Nunca se sabe. Mas se a beleza é fundamental, como disse o poeta Vinícius, temos que convir que este foi um bom início. E se não há, como sabemos, uma segunda oportunidade para se causar uma boa primeira impressão, desejo-lhe daqui toda a sorte do mundo. Já agora, que sirva de inspiração ao nosso Primeiro local, numa futura remodelação!










Este gajo é um génio. Quem não pode vê-lo, diariamente na SIC Notícias (canal 3 da ZAP) não sabe o que perde.

Na imagem: Jon Stewart, apresentador do Daily Show





"Apesar do blábláblá dos Direitos Humanos, do papo furado a respeito da Cidadania, das balelas Humanistas, da verborréia diária dos políticos e das sopas dos animistas, as classes sociais privilegiadas continuam olhando-os do alto de suas coberturas ou por detrás das cercas de suas mansões com um misto de pena, raiva e repugnância. Seguem alienadas e torpes, cada vez mais fúteis, mais gordinhas e mais pelegas, entretendo-se com seus brinquedos eletrônicos e com suas porcas presunções, sempre resmungando do umbral de suas janelas: “Descendez, descendez, lamentables victimes, / Descendez le chemin de l’enfer éternel”."

Ezio Flavio Bazzo


Ilustração de José Pádua







Não percam, grande concerto com sonoridades originais e repletas de magia, com

mamadu & sulabanku
AFRO FUSION MUSIC


23 de Outubro de 2009 - 21h30
Academia Jotamont



Entrada Livre
Produção: IC / Centro Cultural Português - Pólo do Mindelo









Dois homens contemplando obras durante a inauguração da exposição "Lágrimas de Eros", no Museu Thyssen na Fundação Caixa Madrid, com o objectivo de mostrar "o lado obscuro do sexo e do amor, assim como os tormentos da paixão."