Dirceu Veiga pode ter este apelido, mas criatividade não lhe falta. Ainda por cima toca, e em simultâneo, em dois pontos particularmente sensíveis a este estabelecimento: a arte e o café. Este artista plástico brasileiro de Curitiba avança e põe em prática o conceito de Coffee Art, fazendo todos os seus trabalhos utilizando como única matéria prima o próprio café. Isso mesmo: em vez de tinta, o café é que dá cor e corpo ao talento do artista. Aqui ficam algumas imagens.











O sítio oficial, com muitas informações, biografia e eventos ligados ao Coffee Art, pode ser encontrado aqui.






        Diálogo

        - Então?
        - Cá estamos...
        - E como estão as coisas por aí?

        (pequena pausa)

        - Vamos andando, eu e o meu alter ego.







      Provisoriamente não cantaremos o amor,
      que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
      Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
      não cantaremos o ódio porque esse não existe,
      existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
      o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
      o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
      cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
      cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
      depois morreremos de medo
      e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

      Carlos Drummond de Andrade






Grande destaque no Diário I, uma reportagem surpreendente. "Quatro magnatas da música descobriram Ilo Ferreira num bar do Mindelo. Querem fazer dele uma estrela nos EUA", reza o jornal luso. A figura em causa chama-se Ilo Ferreira, é filho do conhecido Vlú, e já está nos States a ganhar visibilidade artística. O título maior da notícia: "O milagre de S. Vicente. De Cabo Verde para a NBC ."

Afinal, ainda há milagres acontecendo na ilha do Porto Grande. Leiam tudo e mais alguma coisa, aqui.






Mais um depoimento nos chegou motivado pela nossa luta em defesa do Éden Park, a principal sala de espectáculos da história do Mindelo, que vai apodrecendo aos olhos de todos na Praça Nova. Desta vez, Luiz Silva, em forma de carta, conta-nos um pouco do que lhe vai na alma sobre este assunto, aproveitando para escrever, de forma mais abrangente, sobre a problemática patrimonial da ilha de S. Vicente.

Então é assim:

"Carta ao amigo Maurino Delgado :

Quando se vê o interesse do Governo, de nacionalistas e ex-presos da prisão do Tarrafal de Santiago, que funcionou antes e depois da Independência, em conservar a memória dessa prisão, onde apenas restam hoje algumas barracas, pergunta-se por que não compreender o sacrifício dos Mindelenses pela conservação do seu património cultural e desportivo, como o Eden Park, o Fortim d’El-rei, o Golf dos Ingleses, etc.

Sem a memória a Nação não existe. E num país de pedras e rochas em que a Nação não se define em termos étnicos ou religiosos, a memória da Nação está inscrita nas suas construções de pedra, como acontece com o Cine Eden Park, o Fortim d’El-rei, o Golf Inglês, o Mercado Municipal, o Palácio do Governo, a Capitania dos Portos, etc.

O meu colega Maurino Delgado ainda se deve lembrar do Dr. Adriano Duarte Silva, homem elegante, vestido com o seu fato limpardo, que passava diariamente pelo portão do Liceu Gil Eanes e que cumprimentava com um largo sorriso todos os alunos do Liceu. O Dr. Baltasar Lopes da Silva, reitor do Liceu no nosso tempo, então falava da sua importância como professor de várias gerações, inclusive de Amilcar Cabral, do seu apoio ao regresso de vários quadros caboverdianos de Portugal e da sua luta em defesa dos interesses de Cabo Verde, como cidadão e deputado. Foi também um grande mecenas e em especial do B.Leza, a quem ele cedeu uma casa para morar em São Vicente e que lhe dedicou uma linda morna. O escritor Teixeira de Sousa, antigo Presidente da Câmara de São Vicente, prestou-lhe a devida homenagem, colocando o seu busto na Pracinha do Liceu (creio que o discurso foi publicado numa revista daquela Câmara Municipal).

Assim como Eugénio Tavares, José Lopes, Pedro Monteiro Cardoso, esta figura importante da História de Cabo Verde continua desconhecida pela nossa juventude. A nossa História continua ignorada devido à falta de bibliotecas, de livrarias, de iniciativas editoriais, tanto do Governo como dos Municípios, falta essa agravada pela passividade da sociedade civil, onde os intelectuais e os políticos deveriam exercer uma actividade cultural mais intensa.

O povo de Mindelo precisa das condições sociais mínimas para poder participar na evolução cultural da sua ilha. Mas como pode o povo comprar livros, educar filhos, sem um salário justo e verdadeiramente controlado pelo Estado e o Município? Como podem os deputados da Nação, que vivem com mais de trezentos contos, ignorar que há pessoas que vivem com salários de cinco mil escudos, numa indignidade total própria à promiscuidade? Aqui está uma das razões da existência dos thugs. Não era isso a Independência prometida. O fosso entre ricos e pobres nunca foi tão largo e fundo em Cabo Verde.

A pedra continua sendo a especialidade dos caboverdianos, dentro e fora de Cabo Verde, e não permitiremos que o trabalho e a arte do homem caboverdiano sejam desprestigiados. O caboverdiano chegou a ser o único africano da África Ocidental a trabalhar a pedra: os prédios de Dacar, Bissau e Bathurst foram construídos pelos caboverdianos; o cais acostável de Dacar também se deve aos caboverdianos. Em Portugal e em França, país que melhor conheço, os caboverdianos são os melhores pedreiros. Os caboverdianos marcaram, principalmente, a reconstrução dos Campos Elíseos em Paris e do Estádio de Mónaco.

A emigração esteve sempre nas lutas por Cabo Verde. E mesmo que continue excluída da gestão municipal do seu concelho ou da sua ilha (não vota nas eleições municipais-verdadeira injustiça) onde investe todas as suas economias, apoia estas manifestações em defesa do património do Mindelo. Mas em vez de estarmos a dispersar as nossas forças deveríamos unir os vários grupos de defesa do património ou sejam os defensores do Golf dos ingleses, do Fortim e do Eden Park e constituir um bloco comum em defesa do património de São Vicente. Devia-se publicar a lista do património do Mindelo com indicações precisas, a fim de garantir o futuro do património Mindelense.

O Eden Park não pode morrer. Merece ser modernizado para responder às novas necessidades de São Vicente; o Fortim d’El-rei pode ser um lindo museu com um restaurante, livraria e miradouro à volta do Porto Grande; o Golf Inglês pode servir como um dos museus históricos dos ingleses em São Vicente. A actual direcção do Golf de São Vicente (Golf dos ingleses), fez desaparecer da sede várias recordações do clube, como taças, documentos importantes da história dos ingleses no desenvolvimento de São Vicente. Essa direcção, constituída por traidores da causa de São Vicente, pretende associar-se com a empresa do antigo Ministro Agualberto do Rosário, (figura muito conhecida no mundo dos negócios em Cabo Verde) de forma a fazer desaparecer a presença inglesa em São Vicente, que foi fundamental na sua história económica, social e cultural. Os terrenos do Golf, hoje tão cobiçados, estão na base da criação dessa sociedade criada em Santa Cruz-Santiago (uma pouca vergonha, indigna para São Vicente).

Unidos que estão os defensores do património do Mindelo numa frente comum, tanto a Câmara Municipal como o Governo Central terão que recuar. Se for necessário, o povo de São Vicente deverá sair à rua e manifestar o seu descontamento. E mesmo nos vários pontos da emigraçao poderemos também nos organizar e manifestar junto das Embaixadas e Consulados.

São Vicente não pode morrer! Foi esvaziada dos seus quadros em benefício da capital e outros foram obrigados a emigrar. Felizmente que temos um povo que não dorme, não se deixa enganar e sabe manifestar o seu descontentamento nas urnas. Os partidos políticos estão assim alertados… O Aeroporto de São Pedro traz-nos esperanças, mas somente em condiçoes modernas a ponto de funcionar 24 sobre 24 horas.

Mais uma vez, meu caro Maurino, velho amigo e colega, tens todo o meu apoio, bem como da emigração mindelense e não só! Vamos precaver contra outras topadas no coração do Mindelo, para que as próprias pedras, abandonadas num canto qualquer de uma esquina, não chorem desalmandamente por Mindelo, como cantaram os grandes compositiores nacionais B. Leza, Manuel d’Novas, Luluzinho e Lela de Maninha, falecido recentemente em Angola com os olhos fixos em direcção à mamãe terra – São Vicente.

Um forte abraço,

Luiz Silva - Paris, 29/01/2010"

Na imagem: frame 0238 do filme Number Seventeen (1932) de Aldred Hitchcock





"Eu não sou eu nem sou outro; sou qualquer coisa de intermédio."

Mário Sá-Carneiro

(Ilustração de Darren Fiander)





Se houve algo que sempre me causou um bocado de espécie é o amor inusitado de certos homens pelos seus automóveis. Claro que não há problema nenhum em nos afeiçoarmos a um objecto especial, e um carro é sempre um carro, para muitos apenas mais um utilitário que nos permite circular mais rapidamente de um local para o outro, mas para muitos outros é um investimento importante e mesmo um objecto de estimação. Até aqui tudo bem, mas há exageros que me custam entender.

Em termos de despesas, ter um carro é quase como ter um filho. Em primeiro lugar, a comida, ou seja, o combustível, caro demais para a possibilidade de muitos. Depois, o vestuário, ou seja, o embelezamento do mesmo por dentro, os tapetes, os penduricalhos, as árvores com aqueles cheiros insuportáveis, a aparelhagem com alto som estéreo e por aí fora. Ainda temos os custos com a saúde do bicho, quer dizer, peças, baterias, escapes, correntes de transmissão e o diabo a quatro. Depois o seguro automóvel e o imposto de circulação. E tudo isto se não tivermos nenhum acidente rodoviário com algum louco que pensa que é dono da estrada.

Conheci vários casos patológicos de homens que preferem as suas máquinas às suas esposas. Que passam mais tempo cuidando dos carros do que brincando com os próprios filhos. Essa realidade pode ser até lamentável e demonstrativa das partidas que a natureza humana por vezes nos prega, mas mais triste ainda é o aproveitamento destes comportamentos sociais extravagantes (para não lhes chamar outra coisa) pela própria indústria, como no anúncio da marca BMW que ilustra este texto. A frase diz: "You know you are not the first. But do you really care?" ("Sabes que não és a primeira. Mas importas-te mesmo com isso?"). Bem, eu se fosse mulher e tivesse um homem destes mandava-o casar com o carro. Até porque o choque provocado num troglodita destes por dar uma chapada na mulher ou um pontapé no filho seria certamente menor do que o escândalo que faria ao verificar que algum vadio lhe riscou a pintura nova do seu mais-que-bem-querer de quatro rodas.

O que é espantoso no meio disto não é que haja tantos homens que prefiram as máquinas às amantes, mas sim que nos dias de hoje, em pleno século XXI, ainda se façam campanhas como esta da BMW.

Via: aqui







"Ah você quer teatro? Prefere comédia ou tragédia? Então toma lá esta: declaro aqui que sou candidato à Presidência da República e que não vou desistir a favor de nenhum vampiro, ainda que invoque a mais alta linhagem faraónica. Aceitam-se apoios de todos os quadrantes. Não é preciso apresentação de registo criminal. O único requisito é saber um verso de cor, ainda que seja do mais obscuro poeta da Mongólia. Por estes dias montarei banca à entrada do sucupira para a recolha das assinaturas necessárias. Terei um letreiro pendurado à volta do pescoço. Apoiantes, ainda que consigamos um único mísero voto de um defunto com paradeiro conhecido há mais de três décadas, celebraremos condignamente inundando a cidade de poesia."

José Luiz Tavares in entrevista ao Expresso das Ilhas (desta semana)


Comentário Cafeano: ter num mesmo jornal uma entrevista do nível desta e uma entrevista a um qualquer político da praça, faz-nos pensar que é uma pena que os nossos artistas e poetas continuem sendo tão mal aproveitados pelos políticos e suspirar de alívio que haja tão poucos políticos tentados a fazer criação artística... Ah, e tenho pena que a ameaça do poeta seja ficcional. Apetece pensar: why not?




Uma excelente sugestão...
[via: aqui]





No momento em que a petição para a salvação do Éden Park atingiu as 950 assinaturas, recebi um depoimento tocante que partilho com todos até porque, estou certo, muitos já passaram por momentos iguais.

Então é assim:

"Tenho acompanhado mais ou menos de perto o teu blogue. Assinei a petição pelo Eden Park. Nem imaginas o quanto me toca a luta pelo Eden Park!

Essa sala marcou a minha vida. Menininha ía sempre ver os filmes para crianças que passavam domingo à tarde. Combinávamos em grupo e íamos comprar bilhete cedo para não apanhar a bicha enorme que se formava e para não correr o risco de não termos bilhete.

Dentro da sala, o odor a “mancarra”. Como era bom conseguirmos juntar os nossos tostões e comprar um saquinho de “mancarra” na Titota ou na Beta ou na Nha Marlene, figuras imponentes de ponta d´praça.

A meio do filme a banda sonora misturava-se com o som das cascas a caírem no chão feito chuva prometida, mais, os metais da banda da praça (dirigida pelo meu avô). A excitação aumentava, confirmava-se a possibilidade de ainda fazer uma roda antes de ir para casa. À saída as pisadas sobre as cascas. Meu deus que riqueza de som!

Quando eram filmes para gente grande via os meus pais se preparem para irem juntos. Depois nos contavam o filme quando chegavam a casa (claro, as partes que podíamos ouvir, o resto imaginávamos).

Vi muitos bons filmes que marcaram a minha juventude. Também vi muitos filmes de acção fantásticos. Bruce Lee era incrível. A euforia que no público gerava o facto de ter a certeza de estar do lado certo, ter a justiça nas suas mãos e quase poder decidir e agir sobre o filme. Quando a projecção era interrompida berrávamos “Dám nha dnher”!

Fui sozinha ao cinema, fui com amigos, fui, convidada por rapazes ... paixões da juventude, que tão bem se confirmaram no escuro do cinema. Ainda não foi inventado um dispositivo que substitua a magia do cinema! Onde quer que esteja no mundo continuo a ir sempre ao cinema.

Nessa sala vi um espectáculo de dança nos anos 80, em que a minha irmã participava (ela tinha um fato preto e um esqueleto desenhado em verde fluorescente por cima). O fato ficou lá por casa, às vezes vestia-o e imitava-os à frente do espelho. Nessa sala vi os espectáculos de dança do grupo Crêtcheu. Nessa sala vi o espectáculo da Clara Andermatt e fiz a minha primeira experiência em cena de dança contemporânea. Nessa sala li uma apresentação para um concerto do Fernando Tordo (lembro-me de estar ali, de pé em frente à plateia, de mãos trémulas e voz tímida).

Mais importante ainda, nessa sala dancei pela primeira vez com um grupo de amigos, que viria mais tarde a chamar-se pelo nome Compass, num dos muitos concursos de Miss, na altura frequentes em São Vicente. Foi atrás da cena dessa sala que votámos o nosso nome. Conheço todos os recantos desse espaço. Foi nessa sala que o Compass apresentou as suas duas criações de noite inteira....As minhas primeiras e verdadeiras experiências coreográficas: Compass em épocas e Céu d´pedra. Nós, do grupo, estamos espalhados pelo mundo como bons cabo-verdianos (América, França, Portugal, Austrália, Cabo Verde). Eden Park une este grupo desfragmentado.... Lembram-se de como nos encavalitámos uns nos outros para podermos manipular a tela de projecção? Já eram talvez 3.00 h da manhã, mas estávamos atrasados para o espectáculo do dia seguinte. Meu deus que força!

Peço perdão pelo meu tom nostálgico. Passado é passado. Senão ressuscitávamos os mortos, que nos esburacam pela vida toda. Mas qual é uma das características físicas da morte ou da doença? Não será a nossa obediência perante a gravidade? A horizontalidade a vencer a verticalidade? Eden Park está de pé, doente mas de pé....vislumbro sem dúvidas, a sua capacidade de andar ou pelos seus próprios pés ou encavalitado sobre nós, sim porque se o pusermos às costas e o fizermos andar, ele anda. De cada vez que regresso sinto, com uma certa vaidade devo dizer, o orgulho de fazer parte desta ilha (gente de São Vicente tem brio e um sentido estético particular). Nem mesmo as construções de mau gosto que têm povoado esse chão cegam os que nele habitam, podem inebriar, diminuir a visibilidade, tal é o céu que estes conquistam, mas não os cegam.

Brio é o que nunca podemos perder. Brio sim de ter um cinema de não sei quantos lugares e que é usado por gente da ilha. Vamos trazer o Eden Park connosco às costas, se dividirmos o peso, não o sentiremos!

P.S. Ontem à noite fui ao cinema, coisa que nem tu, nem os meus amigos e nem a minha mãe podem fazer! "

Marlene Freitas - coreógrafa e bailarina profissional

Na fotografia, outro momento marcante: o Grupo Cénico Korda Kaoberdi deixa-se fotografar na porta do Éden Park após a sua única apresentação neste espaço histórico.





      Contra ti se ergueu a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas
      A indecisão dos complicados e o primarismo
      Daqueles que confundem revolução com desforra

      De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de consumo
      Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das igrejas

      Porém
      Em frente do teu rosto
      Medita o adolescente à noite no seu quarto
      Quando procura emergir de um mundo que apodrece

      Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"




Imaginação em tempos de crise

Um dia, numa expedição, um cachorrinho começa a brincar entretido a caçar borboletas e quando se dá conta já está muito longe do grupo do safari.

Nisto vê bem perto uma pantera a correr na sua direcção. Ao perceber que a pantera o vai devorar, pensa rapidamente no que fazer. Vê uns ossos de um animal morto e põe-se a mordê-los. Então, quando a pantera está quase a atacá-lo, o cachorrinho diz:

"Ah, estava deliciosa esta pantera que acabo de comer!"

A pantera pára bruscamente e desaparece apavorada pensando:

"Que cachorro corajoso! Por pouco não me comia também!"

Um macaco que estava numa árvore perto e que tinha assistido à cena, vai a correr atrás da pantera para lhe contar como foi enganada pelo cachorro.

Então, a pantera furiosa diz:

"Maldito cachorro! Agora vamos ver quem come quem!"
"Depressa!" - disse o macaco. - "Vamos alcançá-lo."

O cachorrinho vê que a pantera vem de novo atrás dele com o macaco às cavalitas.

"O que faço agora?"

O cachorrinho, em vez de fugir, senta-se de costas para a pantera como a não visse e, quando esta está quase a atacá-lo, diz:

"Raios partam o maldito macaco! Há meia hora que eu o mandei trazer-me outra pantera e ele ainda não voltou!"

Moral da história:

"Em momentos de crise, a imaginação é mais importante que o conhecimento"
Albert Einstein





"Desde os dez mandamentos que não se falava tanto de uma tábua."

manchete desta notícia, aqui
(Bendita seja a Apple, no reino dos computadores!)





"Cada um deverá ter, pelo menos, o mínimo indispensável para não ficar na estrada, porque o homem não vive de graça. Daí até afirmar-se, por exemplo, que é o bem-estar resultante da riqueza e abundância que permite ao homem dar realidade ao seu temperamento criador, e seja esse bem-estar a condição indispensável para a produção de obras duradoiras, vai uma grande distância. Isso aplica-se àqueles que olham o mundo de longe, que lhe fogem ao contacto, trancados na imaculada torre de marfim. A arte, por exemplo, não é só a expressão, o que produz o esteta frio, distante e inacessível - é, sobretudo, o que salta faiscante do fogo da vida, da luta, dos deseesperos e dessas verdadeiras humanas alegrias. É o que tem sangue porque ao mesmo tempo é vida e vive. Os mais profundos e autênticos impulsos criadores provêm da dor e do inconformismo, do ódio, do amor e da revolta., em suma, da compreensão, que é o produto das mais duras experiências."

Manuel Lopes - Os meios pequenos e a Cultura


Comentário: cruzei-me com este texto do claridoso Manuel Lopes quase por acaso. Foi escrito à meio século, fala de meios pequenos, dos preconceitos relativamente à criação artística e à cultura e a importância destes bens essenciais para a sociedade, mais ainda em meios pequenos. É espantosa (e devo dizer, assustadora) a actualidade deste texto. Ou o mundo dá mesmo muitas voltas e acabamos por ir parar aos mesmos lugares de sempre ou nunca muda, embora pareça o contrário. Continuaremos a dar conta deste pensamento de Manuel Lopes, em futuras ocasiões. Há muito, muito para partilhar.






...ou de como Eistein é que tinha razão (sobre o mesmo assunto, eis duas notícias que parecem estar a falar de realidades opostas):

Cara: "o Índice de Liberdade Económica de 2010, divulgado esta semana, mostra que as reformas na Administração Pública em Cabo Verde estão a produzir efeitos positivos. É que o nosso país conseguiu uma pontuação total de 61.8, traduzida numa melhoria de meio ponto em relação ao "score" do ano passado." (Semana online: aqui)

Coroa: "Cabo Verde desce no ranking em Liberdade Económica. Portugal é o país da CPLP melhor posicionado no Índice de Liberdade Económica divulgado esta terça-feira pelo The Heritage Foundation e pelo Wall Street Journal, mantendo o 62.º lugar, com Cabo Verde a descer um posto (para 78.º)." (Liberal: aqui)





Vai ser apresentada na RIbeira Grande de Santiago (Cidade Velha) uma obra maior. Belo livro que casa a poesia de José Luiz Tavares com as fotografias de Duarte Belo, tendo como temática central a Cidade do Mais Antigo Nome (baptismo que mereceu o livro agora lançado).

A apresentação estará ao cargo do historiador António Correia e Silva e de César Schofield Cardoso. O acto terá lugar no espaço "Nôs Origem", na Cidade Velha, dia 30 de Janeiro, às 18 horas. Se pudesse, não faltaria.

        Agora que as rotas do mundo
        já não passam à tua porta,
        perdura na tarde íngreme de agosto,
        ferida pelo mais donairoso azul,
        os seus nomes resgatados à poeira imóvel
        que os meus salitrados olhos prende
        a essa cantada página de desterro e começo.

        José Luiz Tavares




Há uns meses descobriram uma gripe terrivel que ia dizimar metade da humanidade. Agora, parece, descobriram a pólvora. Wolfgang Wodarg, presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, diz que a Gripe A foi uma falsa pandemia e que é “um dos maiores escândalos médicos do século.”

Notícia completa, aqui.





A propósito de um outro assunto que não vem para o caso, Daniel Oliveira escreveu o seguinte no blogue Arrastão:

"Uma coisa que me comove é ver gente que não mostra o seu curriculo para poder escrever o que entende a esfregar na cara dos outros o currículo dos outros por causa de coisas que os outros escrevem. Se há coisa que me comove é a coerência de quem exibe o passado dos outros enquanto esconde o seu presente."

Isto para dizer que o meu currículo profissional está online e à disposição de quem o quiser consultar. Folgo em saber que haja quem perca o seu tempo precioso a esmiuçar a minha biografia para depois despejar comentários anónimos na blogosfera, ainda por cima de forma deturpada. Por mim estão absolutamente à vontade. Não tenho nada a esconder, não tenho património material próprio acumulado, nem carro nem casa própria, e tirando uns quadros de alguns artistas plásticos cabo-verdianos que me foram oferecidos pelos próprios, o que tenho é apenas o orgulho do que fui conquistando com o meu trabalho na vertente teatral e está ali, à mostra, no curriculo que faço questão que seja público. Bom saber que somos observados de forma tão atenta. Dá motivação para fazer mais e melhor, principalmente sabendo que esse é o último objectivo de quem faz da Internet o fórum preferencial para o vómito das suas frustrações pessoais e ataques mesquinhos, sob a capa do anonimato.










E por falar em criatividade, vejam só este trabalho espantoso do arquitecto ucraniano Mark Khaisman que abandonou a arquitectura para se dedicar a algo bem diferente: à arte de pintar com... fita adesiva. Fazendo justaposição de diferentes camadas, com o intuito de produzir diversas itensidades de iluminação e sombra, escolhe muitas vezes o cinema como tema principal das suas obras, inspirando-se em frames dos seus filmes de eleição. Simplesmente fantástico.

Vejam a página oficial do artista aqui.





A Culpa

Nunca assumia os próprios erros. Sempre transferia sua culpa para os outros.
Por essa razão, convertido, adequou-se perfeitamente à fé evangélica.

Agora, para tudo o que faz de errado, Satanás é o culpado.


Wilson Gorj em Sem Contos Longos





O Semana online jura que o congresso do PAICV terminou "em apoteose". Pode até ser que sim e devo dizer mais uma vez que me continua a espantar a capacidade de improviso e o entusiasmo quase tocante com que o actual chefe do Governo pontua as suas intervenções. Um governante que chora, como ele fez questão de referir quando descreveu a sua reacção quando visitou as roças em S. Tomé. Ou como parecia que iria acontecer nalguns pontos dos discursos: tivesse a nossa televisão nacional já um canal HD e certamente conseguiríamos vislumbrar uma lágrima no canto do olho do nosso primeiro.

Eu, sinceramente, penso que faltou ali alguma humildade e auto-crítica. Aliás, e só para dar um exemplo, se juntarmos à utilização nos momentos mais apoteóticos, e num país musical como Cabo Verde, de um tema de Vangelis com décadas e já utilizado em inúmeras campanhas políticas (nomeadamente a que deu a primeira vitória a António Guterres em Portugal), uma moldura com o regulamento do monumento à liberdade mandado publicar pelo Ministério da Cultura nestas últimas semanas, facilmente percebemos da urgência na implementação da educação artística em Cabo Verde, antes que seja tarde demais.

A propósito, em conversa sobre o tema, lembrei-me de um episódio a que tenho assistido quase que diariamente, quando vou buscar a minha filha Inês, de quatro anos, ao jardim infantil. No final da manhã, os meninos e meninas estão todos numa sala, com posters de personagens do Walt Disney e da Xuxa vestida de cor de rosa, voltados para uma televisão, que está a passar um vídeo com músicas infantis cantadas em português com sotaque do Brasil, onde uns bonecos passeiam uma bandeira do Brasil e ensinam às crianças alguns dados estatísticos e geográficos sobre esse grande país continental. Ou seja, estão-nos a transformar num brazilim à força, porque hoje, com os meios digitais ao dispor, que dificuldade teria um Ministério da Educação em produzir um DVD com bonecos e crianças falando crioulo, um representando cada ilha de Cabo Verde, cantando músicas tradicionais do arquipélago e aprendendo algo mais sobre as raízes e os costumes do país? E uma vez produzido esse filme, distribuí-lo, gratuitamente, a todos os jardins de infância, em todas as ilhas?

Talvez se isso fosse feito não haveria tantas crianças a chegar a casa cantando as pombinhas da catrina ou o giroflé giroflá (nada contra, mas convenhamos!) e alguém de bom senso se desse conta que a criatividade é um bem precioso que toda a nação deveria saber germinar, cuidar, promover, reconhecer e nele investir algo que se visse. Porque nem tudo está bem. não senhor. Depois que ninguém se admire que sejam dadas horas e horas de destaque a um congresso político na televisão nacional e que à maior actividade de promoção de dança jamais ocorrida na história de Cabo Verde tenham sido dedicados uns míseros minutos num qualquer telejornal.





Aquele tema de Vangelis, da banda sonora do filme Colombo, e que serviu para sonorizar os inícios e finais dos discursos de José Maria Neves no Congresso do PAICV, era apenas uma piada de mau gosto ou apenas o comprovativo (se preciso fosse) de que ainda estamos no paleolítico no que diz respeito à criatividade publicitária e ao marketing (incluindo o marketing político)?



À melhor resposta, ofereço um café










Combinam bem, esta imagem e esta música.
Bom fim de semana.






Não é por nada, mas ao ler esta notícia fico com aquela sensação, sei lá, que me estão a fazer passar por parvo (e a conseguir, o que não é muito complicado, já que me iludo com demasiada facilidade). E como diz o outro, "fico chateado, é claro que fico chateado!" Isto é como casar com uma mulher linda, que se desejou durante anos, e que na noite de núpcias se recusa a coiso e tal porque está com dores de cabeça ou porque alguma entidade lhe colocou um cinto de castidade ou porque algo que devia ter subido, desceu. Simplesmente não se faz... Chama-se a isto má gestão de expectativas.







Abraça-me. E pronto, foi com esta simples palavra que ele enterrou definitivamente (assim pensava) o machado de guerra, pronto para se entregar ao inimigo. Ao inimigo é uma forma um pouco paradoxal de se dizer, porque o amor de alguém por um outro alguém apenas é inimigo de quem tem medo de viver ou, sobretudo, de quem tem medo de ser feliz. Sim, abraço-te. Isto já não foi falado assim, mas sim feito em acção realizada, sendo que a escrita, por muito rebuscada e trémula que seja, nos permite avançar no terreno das palavras sem necessidade de grandes transcrições, sim, abraço-te, pressupõe que ao apelo desesperado (assim pareceu) se seguisse uma resposta em consonância com o desejo e isso é meio caminho andado para a sementeira, que é o que provoca, havendo condições, que algo de novo nasça e veja a luz, não necessariamente ao fundo de um túnel qualquer pleno de angústia e amargura. Abraça-me. Sim, abraço-te. E para terminar esta prosa insonsa dizer apenas que assim ficaram os amantes por um tempo não determinado, a poesia talvez o possa dizer infinito, mas como isto poesia não é, podemos concluir que mais minuto menos minuto irão acordar e chorar ou rir o tempo que permaneceram ligados (desligados do resto do mundo. Quem bom! Que sabe!).





Luís Romano
(1922 - 2010)

Este início de ano não está, de facto, para brincadeiras. Outro grande intelectual que nos deixa. Ler notícia e biografia, aqui.









Hoje a declaração não é minha, mas aqui vai, com a devida autorização:


"Caro João Branco

Sobre os herois nacionais Baltasar Lopes deixou um texto duma grande justiça, próprio dum homem que sabia pensar e sentir o seu pais, no n° 9 da revista Ponto & Virgula sobre os Herois Nacionais. Acho mesmo que poderias reeditar o texto porque é dos raros que pôe o dedo nesta pretenciosa doença nacional e faz justiça à emigração. Estou certo que hoje, dia 22 de Janeiro, ninguém vai fazer uma referência à contribuição dos emigrantes na construção de São Vicente e de Cabo Verde e nenhum emigrante será condecorado por tudo aquilo que tem feito por São Vicente a todos os niveis (económico, social, cultural, politico, etc). Nem direito de voto tem no Municipio que ele construiu do sofrimento deriba d'água de mar. Ontem fiquei banso de ver no Liberal uma declaração do Dr. Jorge Carlos Fonseca na Holanda de que foi o 13 de Janeiro que deu prestigio internacional a Cabo Verde. Onde estava a cabecinha desse homem ao falar para emigrantes que há mais de dois séculos vêm promovendo e divulgando Cabo Verde pelo Mundo? Herois, nessa terra terra nhanhida como dizia Baltasar Lopes, somente o emigrante. Os outros vem atrás e é uma grande injustiça no dia São Vicente, no 5 de Julho ou no 13 de Janeiro ignorar o papel dos emigrantes na vida de Cabo Verde. Desculpa-me esse desabafo mas não poderia deixar passar esta data sem me refererir aos emigrantes que entre outras coisas puseram termo à emigração para São Tomé. Na verdade, como dizia Baltasar Lopes, se Carpistrano de Abreu conhecesse o caboverdiano ele nao diria que o brasileiro é o povo mais ingrato do Mundo.

Luiz Silva - Paris / França"





1. A crise toca a todos e este ano os adeptos do FC Porto, entre os quais orgulhosamente me incluo, não tem muito para festejar. No entanto, a fotografia que ilustra o presente post, explica, sem mais delongas nem indirectas o porquê de ninguém na equipa querer marcar golos por enquanto que o Hulk está no campo. Bendita suspensão!, - que certamente vai durar enquanto outros não tiverem atingido os seus objectivos desportivos (assim também eu!). Pode ser que percam o medo e comecem a jogar futebol, raios os partam!

2. Entretanto, saiu uma notícia, da autoria de Mário Botequilha, no destacável humorístico Inimigo Público (do diário Público), que reza assim:

"A procuradora Maria José Morgado mobilizou vastos meios do Ministério Público e da PJ para investigar os 15 penalties marcados a favor do FC Porto, na eliminatória da Taça de Portugal, contra o Belenenses.

Na quinta-feira de manhã, ao pequeno-almoço, assim que pegou na imprensa de referência (A Bola, Record e O Jogo), Morgado ficou espantada com a desfaçatez do árbitro Olegário Benquerença, que desatou a marcar penalties contra o Belenenses como se não houvesse amanhã e só parou quando o FC Porto ganhou o jogo.

Morgado também mandou investigar as escutas a Pinto da Costa que foram colocadas no YouTube. A magistrada quer saber porque foram divulgadas apenas aquelas escutas, quando havia tantas outras gravações igualmente comprometedoras no processo que também teria sido giro lançar para a praça pública."

É como sempre digo: mesmo em tempos de desgraça valha-nos o sentido de humor.






«Num país a
sério serias processado!»

Anónimo comentador do Café Margoso sobre a polémica dos "Heróis"






          Sim, sei bem
          Que nunca serei alguém.
          Sei de sobra
          Que nunca terei uma obra.
          Sei, enfim,
          Que nunca saberei de mim.

          Sim, mas agora,
          Enquanto dura esta hora,
          Este luar, estes ramos,
          Esta paz em que estamos,
          Deixem-me crer
          O que nunca poderei ser.

          Fernando Pessoa




Se houve alguma consequência palpável da atribuição do Prémio Camões a Arménio Vieira foi isso ter obrigado - por motivos comerciais, naturalmente - a que o poeta tirasse uma série de trabalhos da gaveta e que estes acabassem por ver a luz do dia mais cedo do que o previsto (não foi preciso, por exemplo, esperar que o poeta morresse para que alguém se lembrasse de lhe publicar obra inédita a título póstumo - lagarto, lagarto!).

O primeiro destes livros, com o título "O Poema, a Viagem e o Sonho", que terminei de ler, é delicioso, de fácil leitura e com algumas frases antológicas que de forma clara explicam - se preciso fosse - a razão porque ele venceu o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Um livro da mais fina prosa poética, se me permitem a expressão. A edição que li foi a portuguesa (da Caminho) e já ouvi dizer que a cabo-verdiana Ilhéu Editora se prepara para lançar a edição nacional (o natural seria o contrário, mas pronto). Que venha depressa, porque este é um livro que merece ser lido (devorado, é o termo) pelo maior número de pessoas possível.




Confesso que fiquei espantado com alguma reacção ao painel que coloquei aqui no dia de ontem. Vozes indignadas se levantaram contra estes "pseudo-intelectuais" que proliferam que nem o mosquito do dengue, outros mandam indirectas aludindo a uma "dominação cultural" e outros ainda comentaram no próprio post contra a "banalização do conceito de herói". Isto tudo com uma violência verbal que, confesso, não consigo entender.

Acho que estes desmandos valem o que valem, mas devo dizer que não estava à espera. Como expliquei, o painel mostra personalidades, a maior parte delas ligadas à cultura, que tem sido referenciados aqui no Café Margoso ao longo deste dois anos e que se tem destacado nalguma área. Juntamente com estes coloquei ainda o próprio Amílcar Cabral, já que a data lhe é dedicada e uma mulher não identificada, que simboliza o conjunto de mulheres que tem lutado neste país em condições muito difíceis, nomeadamente pela educação dos seus filhos e netos.

Não entendo onde é que um painel que tem figuras como Eugénio Tavares, Bana. Cesária Évora, João Vário, Paulino Vieira, Bau, Vasco Martins, Manuel Figueira, Corsino Fortes, Boy Ge Mendes, Vadu, Katxás, Tutuna Évora, Ildo Lobo, Germano Almeida, Mito, José Luiz tavares, Luisa Queirós, Manuel d'Novas, Orlando Pantera, Jorge Martins ou Tito Paris possa ser ofensivo para certos indivíduos. Alguém me pode explicar?






E porque hoje devia ser um dia para (sobretudo) reflectirmos, cá vai:

"A nossa Cultura é de reprodução, com pequenos momentos de transformação, mas essencialmente reproduz, inova pouco, cria pouco e, para mim o mais importante, questiona pouco. Um sociedade tradicional, portanto.

Cesar Schofield Cardoso in Bianda





[E há muitos mais. Abençoado país este...]







Soube com um dia de atraso que ontem, dia 18 de Janeiro, e segundo estudos efectuados por um professor britânico da Universidade de Cardiff que não tinha melhor forma de ocupar o seu tempo, foi o dia mais deprimente do ano. Porquê? Bem, dizem eles, porque o Natal nunca esteve tão longe (para mim, isso é motivo de júbilo, mas tudo bem) e o Inverno tão agreste (aqui tem estado um frio gélido de 20 graus positivos de noite que faz com que ninguém queira sair de casa). Depois será deprimente também porque por esta altura já se deve ter recebido as contas do mês (como se não as houvesse todos os meses), e é neste dia preciso que se percebe que as resoluções do ano novo nunca serão cumpridas e que não se adivinham melhorias (como raio foram eles descortinar isto?).

Na verdade, tenho sido o primeiro a admitir que este início d'ano tem sido particularmente complicado, mas por condicionalismos outros que todos conhecemos. Mas o mais interessante da notícia não é o diagnóstico, é a proposta de cura. Diz o diário inglês Telegraph, que criou um guia prático de como combater este blue monday, que nada é melhor do que começar o dia comendo chocolate ao pequeno almoço. Apoiado! Depois, aconselha um passeio pelo jardim (aqui como ando sempre a pé e o centro do Mindelo é um pequeno-grande jardim, estou dentro do esquema). A seguir, uma exposição de pelo menos 15 minutos ao Sol (é só ir ali à varanda de casa e pronto, assunto resolvido!) e, finalmente, o cancelamento de uma reunião (praticamente um património cultural das ilhas). A conclusão é fácil e imediata: Cabo Verde é o paraíso do anti-stress. Será?

Se lermos os conselhos seguintes, talvez não: forçar um sorriso (há-os cada vez menos); marcar as suas férias (com que dinheiro, se é tudo caro e se ganha pouco?); imaginar o fim (despos de passa sabe, morre ka nada?); comer fruta (lá se vai o orçamento familiar!); e beber chá (só se for Ice Tea, mas não me parece que seja a mesma coisa). "Mude as músicas que ouve no ginásio" (se em vez de ginásio estivesse escrito rádios, estavamos fritos!); "tente exercer uma influência positiva" (com a nossa capacidade de invejar o vizinho, dúvido que o consigamos) e, se nada resultar, dormir uma hora mais cedo também é remédio para a depressão. Aqui, com a quantidade de festa e de paródia permanente, não me parece que seja essa a melhor solução!

Bem, mas se mesmo em Cabo Verde nada disto resultar, não desanimem: o estudo também revela que existe um dia que é "o mais feliz do ano". Acontecerá a 18 de Junho. Porque será? Cá por mim, acho tudo isto um disparate. Os dias mais e menos felizes podem acontecer a qualquer altura do ano e só depende da forma como, hora a hora, gerirmos as nossas emoções, tristezas, alegrias, pequenos prazeres e frustrações. O resto é conversa para boi dormir. E se chegaram ao final deste texto sem adormecer, certamente concordarão comigo.


Fonte: Diário I





Imagem escolhida de uma notável (e impressionante) galeria de fotografias dedicadas ao Haiti, intitulada Haiti six days later, que podem ver, na integra e com boa definição, aqui.





"A realidade fica nos subúrbios da utopia."

Maria João Freitas in A Namorada de Wittgenstein







Stória de Cinderela na linga de Soncent

(ou como contar a história da Cinderela às crianças de São Vicente para que não nos chamem gente bedje)


Já tem um data de time, tinha um eskurinha que sê pai já tinka rankód pa nha merkinha, entom el tive ke fcka ta môra ma kel chunga de sê madrasta e kesh sacana de sês irmã de criação (filhas de sê madrasta).

Cinderela (Cindy p'á maltas), tava vive móda se el tava estóde na djelz, tude dia na lómba e sem time pa mandá uns mail pa gang.

Ke tude es trapaiada na sê vida, tude o ke Cindy kria era fgi d'casa e ranki, mod sê madrasta tava tral merda. Entom um dia Cindy fcka ta sabe que maltas d'zona tava ta organiza um fistinha de kel bom. El fcka logue atente na muve, ma kesh filha de sê madrasta bai logue te cortal eskema.

Ai, el fcka flipóde, ma depôs de andá um time desanimóde, sômá um fada madrinha que dal speed num rupinha fashion e konde el pestil, el fcka ta parce kum suco +, prope sexy.

Sô ke kel fada dzel k'el podia fcka na festa sô até meia-note. Bzôte tita tcheká eskéma?!!!! Baby curty ideia e el desmarcá logue logue pa fistinha, chei de speed.

Konde el entra na fistinha, el tchecá um tipzat chei de paus, um moss dekel bom, ke ba logue ta metel frase. Entom Cindy ma brodix começá um góma e eje curti ól naite long, até k'el uvi kesh 12 badalada de meia-note e el dá kel tipzat um descontra pa desaparce na fmaça.

Brodix fcka completamente atoada konde baby ranka sem konde de nada, e el ranka trás del logue, ma infelizmente el incontra foi um sapatim de kel kuzinha na camin.

Na dia seguinte, tipzat mete na se diabom de córre e el anda de brock em brock ta espiá kem ke kel sapote tava sirvi. Chei de sorte, e depôs de esprimenta kel sapóte num data de Kamak de amdjer, el incontra kel doida, pa azar de um data de metrera ke já tava k'oi na kel broxi. E assim eje vive fliz pa psuda.

The End

*Ainda não consegui parar de rir com esta tradução genial, que me foi enviada por mail. Não sei quem é o autor, mas merece um forte aplauso.






"Mindelo e S.Vicente tem tudo para dar certo. Falta uma acção inteligente daqueles que são pagos com o dinheiro do Estado para fazer a promoção adequada das actividades culturais. Muita coisa vem acontecendo nesta ilha, só que muito poucos são aqueles que apreciam. Estou farto de ir a actividades culturais onde aparecem apenas meia duzia de pessoas. Neste momento está a decorrer uma exposição fantastica do pintor Amandio Oliveira no Centro Cultural do Mindelo. Ninguém fala disso, injustamente. Mindelo tem sim neste momento é falta de publico apreciador e claro que isso há de interferir na motivação e na criatividade. É certo que temos um campo imenso de possibilidades a explorar. Para isso as pessoas com capacidade e com motivação para a cultura precisam arranjar estratégias correctas para influenciar os politicos nacionais e locais bem como cativar as empresas para o mecenato cultural."

Américo Silva - comentando esta pergunta cafeana





No próximo dia 22 de Janeiro a Rua de Lisboa vai juntar num concerto comemorativo do dia do Município de S. Vicente nada mais nada menos que Boy Ge Mendes, Sara Tavares, Nancy Vieira e Paulo Flores. Sublinho o primeiro nome, compositor que comemora 40 anos de carreira e é, na minha opinião pessoal, um dos mais brilhantes músicos cabo-verdianos, criador de uma sonoridade única e original.

Bem que este seria um caso para dizer sabe pa fronta!, mas contando todos os gastos desta festa, acho que preferia ver esta verba ser aplicada numa entrada financeira da Câmara para a aquisição do Éden Park. E no dia da abertura do novo teatro municipal, convidavam-se estes e muitos outros músicos para a celebração do salvamento, in extremis, de um património cultural de inestimável valor para todos os mindelenses e cabo-verdianos. Aposto que nem cobravam cachet.

(A propósito, a petição já vai em 894 assinaturas. Seria interessante chegar ao milhar. O link está na coluna à direita.)

Nota Margosa: entretanto, soube hoje (dia 18 de Janeiro) que Sara Tavares, por motivos profissionais, não vai poder estar presente no concerto que comemora os 40 anos de carreira de Boy Ge Mendes. Uma pena.