Declaração Cafeana

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Se houve algo que sempre me causou um bocado de espécie é o amor inusitado de certos homens pelos seus automóveis. Claro que não há problema nenhum em nos afeiçoarmos a um objecto especial, e um carro é sempre um carro, para muitos apenas mais um utilitário que nos permite circular mais rapidamente de um local para o outro, mas para muitos outros é um investimento importante e mesmo um objecto de estimação. Até aqui tudo bem, mas há exageros que me custam entender.

Em termos de despesas, ter um carro é quase como ter um filho. Em primeiro lugar, a comida, ou seja, o combustível, caro demais para a possibilidade de muitos. Depois, o vestuário, ou seja, o embelezamento do mesmo por dentro, os tapetes, os penduricalhos, as árvores com aqueles cheiros insuportáveis, a aparelhagem com alto som estéreo e por aí fora. Ainda temos os custos com a saúde do bicho, quer dizer, peças, baterias, escapes, correntes de transmissão e o diabo a quatro. Depois o seguro automóvel e o imposto de circulação. E tudo isto se não tivermos nenhum acidente rodoviário com algum louco que pensa que é dono da estrada.

Conheci vários casos patológicos de homens que preferem as suas máquinas às suas esposas. Que passam mais tempo cuidando dos carros do que brincando com os próprios filhos. Essa realidade pode ser até lamentável e demonstrativa das partidas que a natureza humana por vezes nos prega, mas mais triste ainda é o aproveitamento destes comportamentos sociais extravagantes (para não lhes chamar outra coisa) pela própria indústria, como no anúncio da marca BMW que ilustra este texto. A frase diz: "You know you are not the first. But do you really care?" ("Sabes que não és a primeira. Mas importas-te mesmo com isso?"). Bem, eu se fosse mulher e tivesse um homem destes mandava-o casar com o carro. Até porque o choque provocado num troglodita destes por dar uma chapada na mulher ou um pontapé no filho seria certamente menor do que o escândalo que faria ao verificar que algum vadio lhe riscou a pintura nova do seu mais-que-bem-querer de quatro rodas.

O que é espantoso no meio disto não é que haja tantos homens que prefiram as máquinas às amantes, mas sim que nos dias de hoje, em pleno século XXI, ainda se façam campanhas como esta da BMW.

Via: aqui





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11 comentários:

Unknown disse...

Entendendo por completo esse teu sentimento de espécie em relação ao amor desmedido de alguns homens pelos seus carros (lembro-me de um vizinho, em Lisboa, de pano na mão, sempre de volta da sua máquina, mas não tenho uma única imagem de o ver de mão dada, que fosse, com a sua mulher), mas deixa-me levantar-te outra questão. Li o anúncio antes do teu texto e traduzi-o, para mim, deste modo: «Sabes que não és o primeiro.» Ou seja, a BMW dirige-se aos homens e diz-lhes: sabem perfeitamente que esta miúda não é virgem, mas o que é que isso interessa, ou seja, sabem que não os primeiros a conduzir um BMW, mas... Enquanto que a tradução que fizeste nos leva para um discurso dirigido às mulheres, dizendo: vocês sabem que não são a primeira, mas... o que, de facto, seria insultuoso para as mulheres. Ou terás feito ainda uma outra interpretação? Abraço.

Unknown disse...

Pode ser que tenhas razão, mas não deixa de ser sexista... hehehe

Anónimo disse...

De facto o comentario é direccionado aos homens, que não os primeiros a conduzir a BMW. Mas não deixa de ser sexista, pois põe a mulher "on the spot" disputando lugar com um carro e comparando este utilitário com o sexo...
Homem em mudança

Unknown disse...

É verdade... o lugar da mulher na publicidade é quase sempre redutor.

Anónimo disse...

Uma pergunta - inocente - nunca te apaixoaste para um scenário? (teatralmente falado)

Se sim, pode ser que te ajude a perceber.
Se não, pode ou não haver outros exemplos :)

Hugs

Anónimo disse...

A imagem é uma publicidade para carros usados e recertificados pela BMW (nesta imagem não se vê a parte "BMW premium selection - Used Cars"). Com o crescente mercado de carro usado os fabricantes de automóveis sabem que o mercado de carros usados pode ser tão lucrativo como o de carros novos. Até achei a publicidade interessante.

Eu que pensei que os homens utilizam o automóvel para pescar as mulheres, e hoje aprendo que o automóvel, afinal não é um meio para outros fins.

Pela minha experiência, sustentar uma máquina até custa muito menos, ou então pergutam ao Tiger Woods :)

Unknown disse...

Este último comentário - apesar de anónimo (mas qual a necessidade? - foi publicado porque esclarece muito sobre o enquadramento desta publicidade, pelo que agradeço os esclarecimentos. Ainda assim, mantém-se o que escrevi sobre a forma como muitos homens "trocam" a companhia do carrinho pelo da mulher ou dos filhos.

Quanto a apaixonar-te por cenários... hum... pode até ser, mas passa-me depressa! Basta olhar para uma das minhas filhas, por exemplo.

Anónimo disse...

É só publicidade com um toque de humor. Não penso que ofenda as mulheres. E para mais é excelente porque toda gente percebe e sorri quando lê o cartaz. Piada de café.

Ás de Espadas.

Joshua disse...

Ver a mulher como acessório, novo ou usado, parece que não passa de moda.
Esta é mais uma daquelas campanhas da treta.

Unknown disse...

Duas coisas, no entanto, se devem ressaltar: 1ª trata-se de uma máquina levada da breca: 2ª a frase é de uma baixesa tal que extravasa os limites da imbecilidade...

Joshua disse...

O Zito fez o resumo perfeito da situação.
:)