Mostrar mensagens com a etiqueta Livros. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Livros. Mostrar todas as mensagens
Para quem estiver em Lisboa, o lançamento de uma obra maior. A não perder.





Sempre gostei de estar perante objectos artísticos inovadores, quer como espectador quer num outro papel mais interventor. É o caso da obra poética de Filinto Elísio, particularmente o livro que vai lançar no próximo mês, que inova e surpreende, a começar pelo título, “Me_xendo no baú. Vasculhando o Ú”. Tive o privilégio de participar na gravação do CD que acompanhará o livro, juntamente com Nancy Vieira. 

Cada poema representou para mim um tremendo desafio, quer pela complexidade com que estão elaborados como pelo facto de ter a plena consciência de estar a dar voz a um objecto poético inaudito e novo dentro do panorama da poesia em língua portuguesa. Um orgulho.

No próximo mês de Abril acredito que muitos outros poderão se deliciar com os resultados de uma obra poética, cuja edição vai deixar marcas indeléveis. 






Não conhecia este livro maravilhoso, pleno da mais pura e bela poesia, "Livro das Perguntas" de Pablo Neruda, com ilustrações de Isidro Ferrer. É uma obra que constitui uma experiência única dentro do panorama de todas as obras do grande poeta. Composto de 74 poemas curtos em forma de perguntas, sem título, é imbuído de um finíssimo humor metafísico que se aproxima da filosofia oriental. O poeta preocupa-se em propor incessantes questões - sobre animais, sobre ele próprio, sobre o transcorrer da vida - e convida o leitor a respondê-las ou, pelos menos, a reflectir sobre elas. Isso sem abrir mão de um magistral domínio da linguagem.

As próximas Perguntas Cafeanas serão inspiradas directamente neste livro magnifico. Um livro que não se lê, mas que nos acompanha, todos os dias.





Não percam o lançamento do livro “O Trampolim” de Abraão Vicente. O lançamento terá lugar na livraria Nhô Eugénio, no dia 2 de Dezembro pelas 18h30.

A apresentação terá a participação especial do músico e compositor Princezito que fará uma leitura dramatizado de um texto. O lançamento terá um ambiente totalmente informal e contará também com leituras encenadas de alguns diálogos do livro pelos actores Dulce Sequeira, José Pedro Bettencourt, Paulo Silva e Raquel Monteiro.






Lendo.... Absolutamente arrebatador.






"É chegada a minha hora,

balbuciou a velha, que se encontrava havia mais de três meses no seu leito, diga-se mais morta do que viva, com forças apenas para aquelas palavras, como se as tivesse poupado para, desse modo, dar por anunciado o fim da mulher mais beata que o mundo alguma vez conhecera"


O Novíssimo Testamento de Mário Lúcio Sousa

Lançamento em Lisboa no dia 13 de Outubro, na FNAC de Columbo. Já tenho um exemplar, numa edição espectacular. Este livro vai dar que falar. Vai mesmo.







"Fragments" é uma nova obra com um conjunto de escritos de Marilyn Monroe até agora inéditos. Este livro mostra que havia, por trás do corpo com mais sex-appeal de todo o século XX, uma actriz apaixonada por Whitman, Joyce, Yeats e Beckett. Nele, a actriz revela a sua frustração por ver o seu lado intelectual ignorado, por se ver confundida com os seus papéis. «Ela também admirava Samuel Beckett desde que começou a frequenter o Actor's Studio. Mais surpreendente ainda, a sua fascinação pelo bardo Walt Whitman, fundador da poesia americana moderna».

Afinal, como se pode ler no blogue A Terceira Noite, «a menina Norma Jean não tinha apenas os diamantes como os seus melhores amigos. Gostava muito de ler e não correspondia bem ao protótipo da loura burra das piadas de subúrbio».

Reportagem completa aqui






"No dia seguinte ninguém morreu."

José Saramago - As Intermitências da Morte (grande, grande livro!)







«Estamos a tornar-nos mais estúpidos porque vivemos numa sociedade na qual temos de ser consumidores para que essa sociedade sobreviva. E para ser consumidor, é preciso ser estúpido, porque uma pessoa inteligente nunca gastaria 300 euros num par de calças de ganga rasgadas. É preciso ser mesmo estúpido para isso. Essa educação da estupidez faz-se desde muito cedo, desde o jardim de infância. É preciso um esforço muito grande para diluir a inteligência das crianças, mas estamos a fazê-lo muito bem. Estamos a conseguir destruir aos poucos os sistemas educativos, éticos e morais, o valor do acto intelectual.»

«A escola não tem culpa, é a nossa sociedade que é culpada. A escola, a universidade, deveriam ser o lugar onde a imaginação tem campo livre, onde se aprende a pensar, a reflectir, sem qualquer meta. Mas isso é algo que estamos a eliminar em todo o mundo. Estamos a transformar os centros de ensino em centros de treino. Estamos a criar escravos. Somos a primeira sociedade que entrega os seus filhos à escravidão, sem qualquer sentimento de culpa. Nesses centros de aprendizagem, estamos a criar seres humanos que não confiam nas suas próprias capacidades e que começam a acreditar que o seu único objectivo na vida é arranjar trabalho para conseguir sobreviver até chegar à reforma – que também já lhes estão a tirar. O que estamos a fazer é horrível. Não tem nada a ver com os valores da Internet, com a competência do professor, faz tudo parte de um conjunto. Somos culpados enquanto sociedade.»

Alberto Manguel - escritor


Dá que pensar, não dá? Ver entrevista completa, aqui




Muito se tem falado aqui de livros e de como lemos pouco. Pois bem, pode ser que este genial filme ajude um pouco. Aliás, nem tenho por hábito colocar filmes aqui no Café Margoso, mas este é uma excepção que se justifica perfeitamente. Brilhante.










«... estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu.»

Clarice Lispector, A Paixão Segundo G.H.





Este novo dispositivo vai revolucionar o mundo multimédia. Vocês não estão a perceber. E imaginem só, não foi inventado pela Apple. Vejam o que faz a nova maravilha. O nome? Biótico Organizado de Conhecimento. Vejam o espantoso vídeo de apresentação, aqui.






Vou vos falar de um escritor que aprecio particularmente e é pouco conhecido. Chama-se Caio Fernando Abreu, faria este ano 62 anos, se não tivesse falecido em 1996, por causa do vírus da SIDA. Tem uma escrita inquieta, um estilo económico, directo, dramático, pessoal. Escreve sobre a vida, a morte, o sexo mas principalmente da angustiante solidão do ser humano. Há quem sobre ele tenha escrito que estarmos perante «um fotógrafo da fragmentação contemporânea.» Teve uma vida atribulada, cheia de viagens e equívocos, conviveu com artistas e poetas e foi considerado por Lygia Fagundes Telles como o “escritor da paixão”. Destaques de sua obra: O ovo apunhalado (1975), Triângulo das águas (1983), Os dragões não conhecem o paraíso (1988), Onde andará Dulce Veiga? (1990), Ovelhas negras (1995), Estranhos estrangeiros (1996).

É um escritor que vale a pena conhecer. Aprofundar. E na internet, qualquer um pode ler a sua obra integral, completa. Os contos, as cartas, as epifanias, as peças de teatro. Neste sítio aqui, encontram tudo. Vão dar uma espreitadela, que vale a pena.

Entretanto, deixo aqui alguns excertos que aprecio particularmente:

«Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais – por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.»

«Em luta, meu ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não. Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver.»

«Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza, deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és.»

«Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria. Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.»






Fabulosa capa, de um não menos fabuloso romance







Três acontecimentos culturais de vulto irão ter lugar na cidade da Praia, pelo que não nos podemos deixar de associar aos mesmos. Abertura da exposição de pintura de Abraão Vicente - de que já demos conta -; um raro concerto de música clássica, com a Orquestra de Câmara de L'Empordá, de Espanha (que repete no dia seguinte, na cidade do Mindelo); e o lançamento do livro do poeta José Luiz Tavares, por iniciativa da Câmara Municipal da Praia. Tudo antes mesmo de entrarmos no fim-de-semana. Nada mau.

Onde & Quando

Lançamento do livro de José Luiz Tavares (poesia) e Duarte Belo (fotografia) "Cidade do mais antigo nome", com apresentação de António Correia e Silva e César Schofield Cardoso.

Salão Nobre da Câmara Municipal
Dia 04 (quinta-feira) às 18 horas

Concerto de música clássica, com a Orquestra de Câmara de L'Empordá, de Espanha

Auditório da Assembleia Nacional
Dia 05 (sexta-feira) às 21:30 horas

Auditório da Academia Jotamont
Dia 06 (Sábado) às 21:30 horas


Fotografias da Cidade Velha de Duarte Belo





Vai ser apresentada na RIbeira Grande de Santiago (Cidade Velha) uma obra maior. Belo livro que casa a poesia de José Luiz Tavares com as fotografias de Duarte Belo, tendo como temática central a Cidade do Mais Antigo Nome (baptismo que mereceu o livro agora lançado).

A apresentação estará ao cargo do historiador António Correia e Silva e de César Schofield Cardoso. O acto terá lugar no espaço "Nôs Origem", na Cidade Velha, dia 30 de Janeiro, às 18 horas. Se pudesse, não faltaria.

        Agora que as rotas do mundo
        já não passam à tua porta,
        perdura na tarde íngreme de agosto,
        ferida pelo mais donairoso azul,
        os seus nomes resgatados à poeira imóvel
        que os meus salitrados olhos prende
        a essa cantada página de desterro e começo.

        José Luiz Tavares




Se houve alguma consequência palpável da atribuição do Prémio Camões a Arménio Vieira foi isso ter obrigado - por motivos comerciais, naturalmente - a que o poeta tirasse uma série de trabalhos da gaveta e que estes acabassem por ver a luz do dia mais cedo do que o previsto (não foi preciso, por exemplo, esperar que o poeta morresse para que alguém se lembrasse de lhe publicar obra inédita a título póstumo - lagarto, lagarto!).

O primeiro destes livros, com o título "O Poema, a Viagem e o Sonho", que terminei de ler, é delicioso, de fácil leitura e com algumas frases antológicas que de forma clara explicam - se preciso fosse - a razão porque ele venceu o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Um livro da mais fina prosa poética, se me permitem a expressão. A edição que li foi a portuguesa (da Caminho) e já ouvi dizer que a cabo-verdiana Ilhéu Editora se prepara para lançar a edição nacional (o natural seria o contrário, mas pronto). Que venha depressa, porque este é um livro que merece ser lido (devorado, é o termo) pelo maior número de pessoas possível.






"Caminhais em direção à solidão. Eu, não, eu tenho os livros."

Marguerite Duras - escritora francesa

[Imagem: A Biblioteca, de Vieira da Silva]





Decidi que o primeiro livro que iria ler neste ano de 2010 será o portentoso Afrodite, de Isabel Allende. Uma re-leitura, aliás, deste livro que mistura culinária, erotismo e literatura. Devem existir várias razões para isso, além da qualidade ímpar da escrita e da beleza da edição (com ilustrações de Robert Chekter) - que fica sempre bem trazer debaixo do braço quando se anda nas ruas. Assim de repente destaco a minha necessidade urgente de me reconciliar com a cozinha e os seus mistérios, embora depois de ler a dedicatória do livro, ter pensado que essa seria a principal razão de ser desta revisitação. Diz assim:

"Dedico estas divagações eróticas aos amantes brincalhões e - porque não - também aos homens assustados e às mulheres melancólicas."


Não é preciso dizer mais nada.





Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.

– Continue, disse eu acordando.
– Já acabei, murmurou ele.
– São muito bonitos.

Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jantar com você.” – “Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo.” – “Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça.” Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até o fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.


Machado de Assis in Dom Casmurro