A UNESCO acaba de declarar o Tango, Património da Humanidade.

A proposta para que a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) incluísse o tango, música e dança por excelência do Rio da Prata, foi apresentada em conjunto por Argentina e Uruguai.

Depois desta decisão, Argentina e Uruguai deverão adotar medidas que permitam proteger e promover o tango. Os dois países propuseram uma série de projectos que demandarão um investimento de um milhão de dólares procedente dos respectivos ministérios da Cultura.

E a nossa morna, por exemplo? Não faria sentido que já houvesse algum trabalho, de quem de direito, para que a canção nacional cabo-verdiana fosse apresentada como Património da Humanidade?

Na imagem, um dos tangos mais belos da história do cinema, protagonizado por Al Pacino, interpretando um velho coronel na reserva e cego, dançando um tango com uma jovem. no filme "Perfume de Mulher".





Merteuil: Gritante? O que é que esta mão paternal, Monseieur, procura nas partes do meu corpo que a madre superiora me proibiu que fossem tocadas?

Valmont: Que pai?! Deixa-me ser seu padre: quem é pai mais do que o padre, que abre as portas do paraíso para todos os filhos de Deus? A chave está nas minhas mãos. Impõe-se a pressa: antes que a sobrinha vire tia, ela deve aprender a lição. De joelhos, pecadora. Conheço os sonhos que passeiam por seu sono. Arrependa-se e transformarei seu castigo em clemência. Não tema por sua virgindade. A casa de Deus tem muitos aposentos. Só é preciso abrir estes lábios assombrosos e já voará a pomba do Senhor para entornar o Espírito Santo. Ela treme de ansiedade, está vendo? O que seria da vida sem a morte diária? Fala com a língua angelical. Você disse: virgindade. O que chama de virgindade é uma blasfémia. Ele só ama uma virgem, para o mundo basta um redentor. Acredita mesmo que este corpo dócil foi-lhe dado somente para ir à escola, às escondida dos olhos do mundo? Se quer saber onde mora Deus, confie no palpitar das suas coxas, na vibração dos seus joelhos. Uma membrana evitaria que fossemos um corpo? A dor é efémera e a alegria perpétua. Quem traz a luz, não deve temer as trevas: o paraíso tem três entradas. Quem recusar a terceira ofende a Santíssima Trindade.

Merteuil: Você é muito atencioso, senhor. Sou muito grata porque pôde me mostrar, com tanta persistência, a morada de Deus. Lembrarei de todos os aposentos e cuidarei para que o fluxo de visitantes não cesse e para que Seus hóspedes se sintam em casa, enquanto houver respiração em mim para recebê-los.

Valmont: Porque não um pouco mais? Alguns hóspedes terão necessidades especiais. O amor é forte como a morte. No final, a mulher tem só um amante. Ouço o estrondo da batalha, com o qual os relógios do mundo golpeiam a sua beleza indefesa. O simples pensamento deste corpo magnifico estar exposto às dobras do tempo, esta boca ressequida, estes seios murchos, de ver este colo enrugar, corta tão profundamente a minha alma que ainda considerarei a profissão de médico e quero lhe ajudar a alcançar a vida eterna. Quero ser a parteira da morte, que é o nosso destino em comum. Quero por as minhas mãos que amam no seu pescoço. Quero libertar seu sangue da prisão das veias, as vísceras do jugo do corpo, os ossos do sufoco da carne. Senão como poderia tocar com as mãos e ver com os olhos, o que o envoltório efémero tira da minha vista e do meu toque? Quero libertar o anjo que mora no seu corpo para a solidão das estrelas.

Henri Muller in Quarteto

Fotografia de Vadim Stein




Excelente esta campanha da Amnistia Internacional contra a violência doméstica. The only witness won't talk (a única testemunha não fala).








Série Laço Branco: dia 25 de Novembro, Dia Internacional da Eliminação da Violência contra as Mulheres.











          O pior analfabeto é o analfabeto político.
          Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.

          Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe,
          da farinha, da renda de casa, dos sapatos, dos remédios,
          dependem das decisões políticas.

          O analfabeto político é tão burro que se orgulha e
          enche o peito de ar dizendo que odeia a política.

          Não sabe, o idiota,
          que da sua ignorância política
          nasce a prostituta, o menor abandonado,
          e o pior de todos os bandidos
          que é o político vigarista, aldrabão,
          o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.

          Bertold Brecht

          Ilustração: La Chapelle




Não parece, mas um dos mais fantásticos personagens criados no século XX, faz hoje 45 anos. O seu criador, o argentino Quino, não desenha novas histórias de Mafalda desde 1973. Nesse ano, e em plena crista da onda de popularidade, decidiu parar de desenhar Mafalda, para evitar cair na repetição e na rotina e para se dedicar ao desenho de humor e à caricatura. O certo é que ela continua a encantar várias gerações, em todo o mundo.

Mafalda, "uma heroína zangada que recusa o mundo tal como ele é", como escreveu Umberto Eco. Parabéns.






Quanto tempo o tempo realmente tem?


À melhor resposta, ofereço um café



Estive lá e cantei, porque não há melhor forma de celebrarmos a vida e a obra do maior dos mestres. Estive lá e chorei, porque sou um tipo sentimental que admirava de forma intensa o homem, as composições e tudo o que a obra do maior dos mestres significa para Cabo Verde. Estive lá e dei meu sentido abraço a Neu Lopes, uma alma generosa como poucas, um homem que nunca vira as costas para ninguém e que encara os seus projectos com entusiasmo de menino, porventura a sua maior herança paterna.

E porque estive lá, hoje não me apetece escrever sobre mais nada. Tinha que vir aqui para dizer-vos assim. Nem que fosse para escrever que hoje não vou escrever, como diria o poeta Drummond Andrade.


Imagem: ASemana Online








Manuel d'Novas
(1938 - 2009)

Este tem sido um daqueles anos... A morte levou o maior trovador cabo-verdiano de todos os tempos. O mestre dos mestres deixou o mundo dos vivos.



Ilustração de Neu Lopes, filho do mestre, que lhe prestou uma belíssima homenagem com a encenação da revista teatral "Biografia d'un Criôl" no ano passado, e a quem deixo aqui o meu mais profundo abraço de amizade.



Ainda a propósito das eleições portuguesas (mas também se pode aplicar ao consumo doméstico), nada melhor que a Mafalda do genial Quino, para nos confrontar com certas realidades sociais.



[Para ver melhor, clicar na figura]






Dedicado a todos aqueles que, ultimamente, resolveram apostar na companhia de um cão. Certamente, em termos de fidelidade, não serão desiludidos.





Não poucas vezes me coloquei a estabelecer paralelos entre José Maria Neves e José Sócrates, num ano em que ambos foram várias vezes anfitriões um do outro, cá como lá. Para além de terem ambos o mesmo nome, são mais ou menos da mesma geração, são ambos solteiros (o português é divorciado) e utilizando uma terminologia bem conhecida aqui no arquipélago, ambos são os moranguinhos mais conhecidos e apetecidos dos seus respectivos países, sendo que Sócrates é muitas vezes referenciado nas listas dos líderes mundiais mais elegantes, sendo que José Maria não lhe ficará atrás, sendo apontado como um dos políticos mais fashion do continente africano.

No estilo também não são muito diferentes, para o bem e para o mal. Na capacidade de argumentação, na forma como passam as suas mensagens, para uns arrogante para outros determinada, no entusiasmo pelas novas tecnologias, Magalhães lá, Mundo Novo cá, na paixão pelas energias renováveis, na teimosia com que mantêm certos membros do Governo mesmo sabendo que são um desastre para a sua própria imagem (educação lá, cultura cá, por exemplo), e por aí fora.

Pois bem, isto para dizer que segui com muito interesse os resultados das eleições portuguesas que tiveram o condão de, mantendo Sócrates no poder, tirar a maioria absoluta ao partido que o sustenta, sendo que o dado mais relevante foram as subidas estrondosas dos dois antes pequenos partidos mais à direita e esquerda do espectro partidário luso, o Partido Popular e o Bloco de Esquerda. Sócrates vai continuar a ser Primeiro-Ministro de Portugal nos próximos anos, mas vai ser obrigado a negociar, acordar, dialogar, a ouvir opiniões diferentes e a absorver algumas medidas que possam não ir de encontro ao que ele defenda em todas as situações. Ou seja, vai ter que colocar a arrogância totalitária inevitável numa maioria absoluta dentro da sua gaveta.

Continuando a fazer o paralelo, está mais do que provada a falta que faz a Cabo Verde a existência de uma terceira via política e partidária que se possa afirmar e quebrar esta inevitabilidade crioula de ter governos com maiorias absolutas. Não uma terceira via apenas motivada por necessidades de vendetas pessoais resultantes de cisões de partidos maiores, como foram os casos dos defuntos PRD e PCD, ou de índole regional, como é o caso da UCID ou do partido de Onésimo Silveira, mas algo que nasça das novas gerações, de muita gente boa que há por aí e que não só não se reconhece em nenhum dos dois maiores partidos, como tem qualidade, talento e ambição para poder ser um pouco mais do que apenas mais um excelente quadro técnico de alguma empresa pública ou privada. Uma terceira via que arrisque, ouse e traga um novo discurso político para Cabo Verde e não se limite a escrever crónicas nos jornais ou a manter um blogue.

Parece-me que a mensagem aqui é simples, e esta declaração não é dirigida a ninguém em particular: chegou o momento de passar das palavras aos actos. E para que isso possa acontecer falta o mais importante: um líder, homem ou mulher, com coragem, determinação e carisma suficiente para dar a cara por um projecto que tem tanto de necessário como de (aparentemente) talhado ao fracasso. No entanto, cabe-nos perguntar: porque não?





Bom conselho...





          O mundo é grande e cabe
          nesta janela sobre o mar.
          O mar é grande e cabe
          na cama e no colchão de amar.
          O amor é grande e cabe
          no breve espaço de beijar.

          Carlos Drummond de Andrade





"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."

Clarice Lispector



















Hoje, Domingo, é dia de Mural aqui no Café Margoso e a dedicatória vai para o fotógrafo checo Vlad Artazov que utiliza pregos mais ou menos ferrugentos para provocar a nossa própria imaginação e criar mundos paralelos que conseguimos identificar de imediato. A série de imagens é notável e merece uma visita para apreciar a galeria completa, aqui.




"Uma constatação crua, mas verídica, se nos impõe, com o impacto de um murro no focinho: a maioria esmagadora dos muitos textos que foram submetidos à nossa apreciação e à de outros, de 1990 para cá, são textos que não merecem sair do limbo das gavetas donde foram, indevidamente extraídos. (...) Conviria não esquecer que a indigência de que padecem aqueles que se autoproclamam escritores, mas também se autoproclamam economistas, filósofos, juristas, investigadores, cientistas, etc.) não é gratuita, infelizmente. Na verdade, alimenta-se num tecido social permissivo, porque displicente e acrítico, que tudo aceita, e na inexistência de uma crítica que não se constitui por timidez ou compadrio, criando-se assim um vazio propício ao pulular de todas as pretensões."

Mário Fonseca - extraído do último artigo escrito (versão integral, aqui)





Foi inaugurada ontem a 1ª Feira de Turismo de Cabo Verde, iniciativa que tem tanto de pertinente como de lógica. Há que repensar, mudar, alterar, ousar o rumo do turismo que se está promovendo no arquipélago. Ah, e segundo se pode ler no programa, para hoje, o Dr. Carlos Alberto de Carvalho, Presidente do IIPC, vai ministrar um workshop intitulado "Turismo e cultura: uma nova perspectiva".

Sinceramente, eu já nem digo mais nada. Basta-me esta imagem de Einstein.




O que vemos, quando fechamos os olhos?


À melhor resposta, ofereço um café




O que vos digo: nada me exclui
De nada. Estou incluído em tudo.
Tudo está incluído em mim. Mesmo
Depois de morto estarei em vós incluído.

Mário Fonseca - poeta cabo-verdiano





Mário Fonseca
(1939 - 2009)

Um dos nossos maiores foi-se. E nós ficamos mais pequenos. Foda-se.


Imagem: Mito (sacada aqui)




Este é o café 2000 deste estabelecimento.

E agora?




Aconteceu numa Fnac em Lisboa, eu e a minha filha Laura (de 12 anos) a ouvir um mesmo disco num dos muitos pontos de escuta que estas lojas abençoadas tem por todo o seu espaço de vendas. Foi uma festa, principalmente no tema número 8 (salvo erro), cujo título e refrão começa com a mundialmente conhecida expressão "fuck you". O disco é pop puro e duro, a cantora é britânica e chama-se Lilly Allen. Ao que parece decidiu abandonar a sua carreira musical para se dedicar por inteiro ao teatro, isto numa altura em que é um dos maiores sucessos da pop mundial. Subiu logo na minha consideração. Ah, e o disco em causa, "It's Not Me Its's You" cuja capa está aí em baixo, é mesmo bom. Daqueles que colocam pai e filha a dançar juntos, aos gritos "fuck you", "fuck you" num local público. Coisa muito saudável para contrariar eventuais conflitos de gerações, que irão inevitavelmente bater-me à porta.






Nada como uma publicidade (verdadeiramente) honesta!
[E criativa]







À mulher com o sorriso mais bonito que já vi

Procuro entrar em contacto com a Mulher com o sorriso mais bonito que já alguma vez vi...

Encontro casual no sábado último, dia 15 de Novembro de 2008, pelas 15:00 horas, paragem dos táxis no Aeroporto do Porto, tendo-me cedido o lugar na fila de espera, depois de um ter fumado;

Olá desconhecida
  • desejo-lhe um dia de milagres comuns e singulares;
  • redondo e simples o primeiro pensamento que lhe venha ao acordar;
  • uma pequena nuvem cor-de-rosa à sua frente, no momento exacto em que distraia no céu o olhar;
  • um sorriso inesperado na face dura que se cruza consigo no passeio e nem olha, e hoje pousa em si pela primeira vez devagar;
  • o acorde principal da sua canção favorita duma qualquer janela que a deixa a cantar para si mesma em surdina.
Bom dia.

Era tudo quanto lhe queria dizer.


Autor desconhecido num anúncio (real) publicado em jornal português

Imagem: fotografia de Manuel LIbres Librodo Jr.





"Está provado: quem espera, nunca alcança."

Chico Buarque in Bom Conselho





Que legenda para esta imagem?

À melhor legenda ofereço um café






"Há novos com talento? Eles que apareçam! Por enquanto, o que eles têm oferecido é uma produção bastante irregular, bastante esporádica... O que precisam de facto é concentrar as suas forças... e, se não querem trabalhar com os "velhos", eles que arranjem o seu campo de acção e que produzam!"

António Aurélio Gonçalves


Comentário Cafeano: o nosso Ministério da Cultura meia volta e lá organiza mais uma mesa redonda - vulgo Fórum, ciclo de conferências, encontros internacionais, etc. e tal - e desta vez o homenageado é António Aurélio Gonçalves, cronista maior da ilha do Porto Grande, ocasião mais que certa para mais umas lambidelas no ego dos mindelenses, que nunca conseguem deixar de apreciar estas morabezas, porque tem o espírito de Narciso ou São Basofo implementado no seu código genético. Eu também, como mindelense que sou e assumo, confesso não resistir a uma boa massagem ao ego. Vou lá espreitar até porque fui convidado e não sou mal educado. Um encontro classificado por um auto-intitulado excluído nos comentários da Semana online, não sem uma certa piada, como "mais uma reunião da malta."

Notícia completa, aqui





Esclarecedora (ou talvez não), rica (muitos argumentos e participação) e com condimentos para todos os gostos, na discussão sobre a oficialização da língua cabo-verdiana que se desenrola no sítio Tertúlia Crioula, já com mais de 350 participações.


A conferir, aqui.






Será esta notícia um sinal claro do fim de um casamento de conveniência que só beneficiou as duas companhias aéreas que durante mais de trinta anos andaram a fingir que concorriam uma com a outra, quando na verdade tem (tinham?) um acordo vergonhoso para manter os preços de e para Cabo Verde a um nível não só irrealista como injusto?

Será esta notícia o princípio do fim da companhia área cabo-verdiana? Este é um assunto recorrente. Andamos todos ansiosos à espera que esta indispensável revolução de preços nos transportes aéreos chegue ao país, com a tal companhia low cost Ryanair na linha da frente. A realidade está mesmo aí, pronta para nos bater à porta. Por 30 contos e depois por 20, poderemos estar a viajar para a Europa. Isso mesmo, já nos próximos dias.

Certo certo é que com esta notícia, poderemos voar de Portugal para Cabo Verde pelo mesmo preço que hoje pagamos para ir de S. Vicente até à Praia. As promoções, com bilhetes a 270 euros numa primeira etapa, começam agora em Outubro e irão até ao final de Março do próximo ano, com interrupção no período do Natal e passagem de ano (espertos!). Esqueceram-se eles do Carnaval mindelense? Não sei. O único pormenor menos prático é que as passagens terão que ser adquiridas até 30 de Outubro, mesmo para quem queira viajar em Março. Também não se pode ter tudo.

Ilustração: Cutteroz




          Da alma só sei o que sabe o corpo:
          onde a esperança e a graça
          aspiram ao ardor
          da chama é a morada do homem.

          Vê como ardem as maçãs
          na frágil luz de inverno
          uma casa devia ser
          assim: brilhar ao crepúsculo
          sem usura nem vileza
          com as maças por companhia.

          Assim: limpa, madura.

          Eugénio de Andrade



É preciso fazer alguma coisa, caraças!, disse com uma fúria inusitada. Isto não pode continuar assim, estamos fartos de ser pisados, fartos desta propaganda terceiro mundista, fartos de sermos ignorados. Porra! Suspirou, uma, duas, três vezes. E continuou a manifestar a sua profunda revolta. Isto não pode continuar assim, temos que fazer alguma coisa. As chuvas acabaram com a nossa cidade, a irresponsabilidade e a intolerância parecem ter tomado conta dos responsáveis, não pode ser! Todos concordaram com aquele homem, que sabia falar, tinha uma capacidade de argumentação acima da média, um futuro líder deste país, não haja dúvidas. E como futuro líder ficava deliciado ao ver o efeito que conseguia com as suas palavras, os olhares admirados, as cabecinhas abanando para cima e para baixo em sinal de concordância a cada nova frase emitida para o espaço circundante. Voltou a suspirar, uma, duas, três vezes satisfeito consigo próprio, com o resultado alcançado. Tinha conseguido impressionar, novamente. Levantou-se basofo, bebeu o resto do whisky velho (25 anos!) que ainda tinha no copo com um sonoro ahhhh, com pena de ter que sair daquela nova esplanada, sem dúvida o lugar mais in da capital. Mas tinha que ser: por causa da lama, o seu jipe último modelo estava muito sujo, tinha que ir para a oficina, ser revisto e lavado, não havia desculpa um gajo como ele, sempre preocupado com tudo e com todos, andar pela cidade com o carro naquele estado lastimável.



Bom conselho...








Se não nos podemos abraçar ou beijar, o que nos resta?


À melhor resposta, ofereço um café




A minha cabeça está cada vez mais confusa com esta história rocambolesca da gripe dos animais. Txuk, galinha e sabe-se lá qual o bicho que vem a seguir. Os conselhos e os alarmes não param e tem eco brutal na comunicação social. O conjunto de medidas adoptadas é assustador. A última, que li hoje num online espanhol, informa que as autoridades de saúde de Espanha desaconselham as crianças a brincar ou a dormir com peluches, esses bonecos fofos que tanto gostam de ser abraçados. E por falar em abraços, parece também que se quer proibir ou pelo menos desaconselhar, numa universidade portuguesa, os estudantes a se abraçarem ou beijarem para evitar contágios e que o melhor mesmo é o pessoal se cumprimentar com uma vénia, assim tipo budistas ou japoneses, eu sei lá.

Por outro lado, dia sim dia não, recebo recorrentes e insistentes mensagens a avisar-me que os perigos e ameaças da cura são maiores que os da doença. Que as vacinas e os remédios são autênticas armas de destruição de cérebros humanos e que o mais certo é ficarmos todos maluquinhos ou mesmo irmos desta para melhor se cairmos na tentação de sermos vacinados contra estas gripes esquisitas. Isto quando não me avisam que tudo isto não passa de um esquema maquiavélico para enriquecer uns quantos ou mesmo para reduzir a população mundial.

Querem mesmo saber? Quero lá saber desta paranóia. Vou continuar a abraçar os meus amigos e amigas, como fiz com todos os que colaboraram no último festival mindelact, a oferecer ursos de peluche à minha filha, a cantar e a celebrar o amor entre os homens e se, por mero acaso, a gripe me apanhar, vou fazer uns dois chás de limão com mel e seja lá o que os deuses quiserem. Se for para ir, vou. Agora, recuso-me a estar sujeito a medidas ridículas e desumanas só compreensíveis à luz desta sociedade estupidamente hipocondríaca, assim como me recuso a entrar nesta espiral de teorias da conspiração que nunca levam a lado nenhum porque tem tanto de verdade como de mentira. Certo, certo é que hoje, mais do que nunca, Daniel Filipe tinha razão quando gritava que se tem que (re)inventar o amor com carácter de urgência.











Série Cabaret, de Andrey & Lili
(ver série completa, aqui)