É impressão minha ou o bairrismo cabo-verdiano é alimentado sobretudo por um conjunto de indivíduos que precisa dele para existir perante os outros?



À melhor resposta, ofereço um café







Não é por nada, mas tinha que anunciar aqui: hoje vou ver este senhor a tocar ao vivo. Chama-se Yo Yo Ma e é apenas o maior violoncelista do planeta (e arredores). E sim, podem sentir inveja.







Hoje várias pessoas me perguntaram: então, sobre as mudanças na cultura, não dizes nada? Está certo que a política cultural é um assunto que me fascina e que este espaço tem sido particularmente crítico em relação ao ministério de Manuel Veiga. A nova ministra tem uma grande vantagem: pior é impossível. Temo é que já venha tarde para que se note grandes mudanças de rumo. Assim que tiver um pouco de tempo desenvolverei o tema. 







Uma sentida declaração de amor


1. Esta é uma crónica mais intimista que o habitual e até um pouco lamechas, portanto ficam os leitores desde já avisados, não se dê o caso de alguém vir dizer que foi apanhado desprevenido. Não vou desta vez utilizar este espaço, geralmente crítico, irónico e até um pouco cáustico e amargo, para lançar polémicas, difundir reprimendas ou propor soluções com a dose de presunção que por vezes tanto me custa a disfarçar.

2. E não o faço, sublinhe-se, como corolário, causa ou consequência de mais um dia de S. Valentim, até porque nunca fui de comemorar uma data que foi inventada apenas para nos tornar ainda mais consumistas, como se o amor precisasse desses expedientes para se fazer sentir, antes pelo contrário, é claro como a água límpida das nascentes do vale do Paúl que quem precisa de comprar ursinhos com corações vermelhos ou cartões brilhantes com mensagens possidónias e juras de plástico, num dia específico marcado no calendário para o efeito, artificialmente concebido para nos meter a mão ao bolso, está em muitos maus lençóis e do amor entenderá muito pouco.

3. No entanto, e para voltar ao que aqui me traz hoje, devo confessar que há momentos na vida que nos marcam para sempre, para o bem ou para o mal, todos nós temos acontecimentos dos quais nem tempo nem vontades nos conseguem deles apartar, até aqui nada de novo.

4. Gostaria, pois, de partilhar convosco um desses episódios: foi quando regressei a Cabo Verde pela primeira vez depois de adquirida a nacionalidade cabo-verdiana e cheguei na fronteira da ilha do Sal com o meu documento azul na mão, ainda estávamos vivendo os últimos anos do século passado. Bem que o pessoal me avisava que eu estava na fila errada, mas eu não queria saber: obstinado, altivo e até um pouco de nariz empinado, ali estava eu na ala dos “nacionais”, mostrando aos mais insistentes que me encontrava naquele local de pleno direito e que não estava a tentar vender gato por lebre, que é como quem diz, crioulo por tuga, por muito que a minha pele e o meu apelido indiciassem o contrário.

5. Foi um momento pessoal glorioso e este facto apenas serve para enfatizar o meu profundo amor por este país que me deu quase tudo e me fez o homem que sou, com os seus defeitos e virtudes, mas que carrega a sua cabo-verdianidade no coração, não porque esta lhe tenha sido transmitida por raízes geracionais, mas antes por anos de uma vivência empenhada, com se de um prolongado e delicioso banho de emersão se tratasse.

6. Sou como uma planta transladada, que fincou pé neste chão e por isso me emociono até às lágrimas com os castanhos desta paisagem lunar, com a imponência do vulcão do Fogo, a imensidão das areias da Boavista, a energia contagiante da grande Santiago, as montanhas imponentes de Santo Antão, com a voz da Césaria interpretando uma composição de Manuel d’Novas ou B’Leza, com os acordes do Vasco Martins, com os poemas crioulos de Eugénio Tavares ou simplesmente ouvindo a minha filha Inês a dizer-me ao ouvido, nha pai, un ta gostá txeu de bo.

7. Talvez por isso considere a morna Doce Guerra, de Antero Simas, o maior hino deste meu país, acompanhado da interpretação de Ildo Lobo de Porton di nôs ilha, como cântico nuclear da nação crioula. Fiz questão ainda que as minhas duas filhas nascessem na cidade do Mindelo, urbe que tão generosamente me transformou num dos seus sem nada exigir em troca, e nunca tive qualquer dúvida sobre a sua, delas, identidade, sem desmerecer, como é lógico, o lado lusitano, manifestado de forma ruidosa quando cantamos lá em casa e em uníssono a música Filhos do Dragão, depois de mais uma vitória do FC Porto.

8. E mesmo tendo em conta este último aspecto, sinal óbvio de boa educação, são elas, antes de tudo, as minhas meninas crioulas, princesas do reino de Micadinaia, como diria o poeta João Vário se as pudesse ter conhecido, na sua infinita sabedoria.

9. Ao que parece, e do ponto de vista legal, é aos 18 anos que se adquire a chamada maioridade, e se assim é, a minha presença vivencial neste arquipélago único e mágico está em vias de se tornar maioral. Certo é que nesta vida de andarilho, já se pode dizer que foi em Cabo Verde que passei o maior período da minha existência e assim será, por muitos e bons anos, queiram os Deuses e as circunstâncias da vida.

10. O jornalista moçambicano Nelson Saúte chamou-me uma vez o “cabo-verdiano de sinal contrário”, porque era o que queria ficar, apesar de poder partir. Germano Almeida, por sua vez, indicava o meu caso como um feliz acontecimento de crioulização quase que forçada pelas circunstâncias, tendo em conta que foram estas as circunstâncias, que me fizeram aterrar na ilha do Porto Grande com uma velha mala de cartão que depois viria a ser utilizada como adereço em várias peças de teatro, e só com bilhete de vinda, para o caso de me acovardar e querer dar o feito pelo desfeito.

11. Não foi preciso: depois de ter aprendido a minha primeira palavra em crioulo, sampê, revelada por uma Marva Martins ainda menininha logo no primeiro dia do resto da minha vida, várias outras revelações se foram abrindo aos meus sentidos, como portas escancaradas para um futuro risonho: a aprendizagem da língua cabo-verdiana, o embalar da dança nas discotecas primeiras, de onde sobressaía a saudosa e inesquecível Je T’aime das febres de Sábado à noite e, claro, o choque térmico, emocional e arrebatador dos primeiros amores crioulos, numa cidade que tem mais mulheres bonitas por metro quadrado que as mundialmente famosas Florença, Paris ou Rio de Janeiro (e falo com conhecimento de causa).

12. Que querem que vos diga mais, agora que estou a não sei quantos mil metros de altitude, no Boeing B’Leza, a não ser que caminho a grande velocidade rumo a uma palavra também muito minha, que deu mote à música mais conhecida da nação crioula e que dá pelo nome de Sodade.

Crónica publicada no jornal A Nação de 25 de Fevereiro de 2010



Caros clientes:


Esta semana está mesmo complicada. Prometo voltar nos próximos dias ao ritmo habitual, com a mesma combatividade, poesia e bom-humor de sempre. Abraço a todos. E sim, eu também tenho saudades vossas...










Três imagens mad in Cabo Verde, da autoria de João Paradela






Pelo menos durante esta semana, o ritmo aqui do Café Margoso vai abrandar um pouco. Assim que for possível, voltaremos ao ritmo a que este estabelecimento já vos tem habituado. Só pedimos um pouco de paciência. Pode ser? 





Não sei como é, mas pelo historial do grupo, a qualidade está garantida. Agora, uma coisa é certa: a capa deste novo trabalho discográfico do grupo Cordas do Sol, da ilha de Santo Antão, é de um bom gosto sem mácula. Deu vontade de escutar. 








Duas boas novas na blogosfera cabo-verdiana: Brito Semedo e Ondina Ferreira, cada um à sua maneira, já estão aí para dar o seu contributo para o enriquecimento desta grande comunidade blogueira. O primeiro, deu ao seu blogue a designação de Na Esquina do Tempo (ver aqui) e a segunda, escolheu como nome de baptismo do seu espaço Coral Vermelho (ver aqui).

Brito Semedo, no seu texto de apresentação refere que "depois de alguns desafios e incentivos da minha mulher para sair da oralidade, decidi, finalmente, pelo registo da “colecção” das minhas histórias, daquelas que contam de mim e de um tempo cujas vivências são diferentes das de hoje, como forma de sublimar as experiências e as emoções fortes que me marcaram."

Ondina Ferreira, por sua vez, escreve o seu blogue "pretende ser um espaço de diálogo interactivo, salutar e fraterno entre todos os que nele entrarem e queiram connosco, através de temas e de assuntos vários enriquecer este painel coralino."

Aos dois o meu mais sincero abraço e sobretudo, agradecimento pela construção de mais dois blogues que serão, certamente, dois espaços de partilha e fraternidade.








Hoje, dia 21 de Fevereiro, como habitualmente tem acontecido no Café Margoso, assinala-se o Dia Internacional da Língua Materna, aproveitando a data para lançar mais algumas achas para esta fogueira, onde qualquer opinião se transforma facilmente em gasolina, tal é a forma apaixonada - e tantas vezes inconsequente - com que se debatem as questões relacionadas com o crioulo.

Aqui, hoje e mais uma vez, declaro o meu reiterado amor pela língua cabo-verdiana, impregnada no mais íntimo do meu ser, quase 18 passados da minha vivência diária e quotidiana com um país que adoptei e escolhi para viver e trabalhar e que no futuro, certamente será o chão e mar por onde as minhas cinzas serão espalhadas. Dizer que as experiências teatrais que mais me marcaram estão indubitavelmente ligadas ao conceito de crioulização - relacionado com a arte cénica - e que considero as adaptações teatrais que fizemos na língua cabo-verdiana de peças como Casa de Bernarda Alba ou Sapateira Prodigiosa, de Garcia Lorca; de Romeu e Julieta ou Rei Lear, de Shakespeare; Médico à Força, de Molière; e À Espera de Godot, de Beckett, dos momentos mais felizes e inspiradores do meu percurso enquanto homem do teatro.

A minha língua materna é o português, como é natural. Mas foi em crioulo de Soncent que chorei a morte de quem me transmitiu as primeiras palavras, no funeral da minha mãe. É em crioulo de Soncent que comunico e me relaciono diariamente com as minhas duas filhas, é em crioulo de Soncent que sonho, que discuto, que lamento, que amo. A aprendizagem, primeiro, a imersão, depois e a impregnação que se seguiu da língua cabo-verdiana na minha vida transformou-me num homem mais rico, mais musical e mais feliz. Sou, também por isso - mas não só - um defensor incondicional da oficialização da língua cabo-verdiana, embora continue a dizer que a forma como o processo foi conduzido transformou o debate num ruído de fundo, onde todos gritam e ninguém se escuta.

Resta dizer que, não sendo linguista, não quero entrar no rol do acho isto ou acho aquilo sobre como se deve fazer para se dar maior dignidade institucional à língua materna do povo das ilhas. E sublinho o institucional, porque não há cabo-verdiano nenhum que não ame incondicionalmente a sua língua, seja qual for a sua posição relativamente a esta matéria. Não há heróis nem vilões nesta história. E penso que a dignidade passa sobretudo pela questão do ensino e de se criar as condições para que as crianças possam aprender a ler e a escrever na mesma língua primeira com que aprenderam a falar.

Dito isto, quero aqui reiterar que se tivesse que levar para um local deserto um, e apenas um, poema no bolso, escolheria, sem pestanejar este poema de Eugénio Tavares, que diz assim: Amor é carga? É carga grande, má el câ pesado! É culpa fundo, má el câ pecado!... Deus que fazel, el câ condenal! É Deus, nós Pai, el é que tempral… É Deus, é Deus que fazê Amor, El ca fazel pa bota cachor… Amor é culpa? Má el ca pecado, el cã perdição, Pamode é escada de salbação… Ami, de meu, já erguem nha bida… Ami, de meu, já limpam nha Céu… Se el é nha culpa, el ca nha pecado, Se el dam cudado, el lumiam nha bida…










Bom som para o fim-de-semana. Abraço a todos!







        Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
        O que agradece que na terra haja música.
        O que descobre com prazer uma etimologia.
        Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
        O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
        O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
        Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
        O que acarinha um animal adormecido.
        O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
        O que agradece que na terra haja Stevenson.
        O que prefere que os outros tenham razão.
        Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.   José Luís Borges





Uma fábula laboral

Era uma vez um pardal cansado da vida. Um dia, resolveu sair voando pelo mundo em busca de aventura. Voou até chegar numa região extremamente fria e foi ficando gelado até não poder mais voar e caiu na neve. Uma vaca, vendo o pobre pardal naquela situação, resolveu ajudá-lo e cagou em cima dele. Ao sentir-se aquecido e confortável, o pardal começou a cantar. Um gato ouviu o seu canto e foi até lá, retirou-o da merda e o comeu.

Moral da história:

1) Nem sempre aquele que caga em cima de ti é teu inimigo;
2) Nem sempre quem te tira da merda é teu amigo;
3) Desde que te sintas quente e confortável, mesmo que estejas na merda, conserva o bico fechado!






"O pior de se ser assaltado em Cabo Verde é que o assaltante fala crioulo. Ainda bem que tive o discernimento de lhe pedir para falar português. Assim percebi queria a minha carteira. Uma vez que ele me apontou uma pistola, calculei que fosse isso, mas nunca fiando."

Nuno Andrade Ferreira (aqui)







Uma conversa quinzenal com um artista cabo-verdiano, em tom descontraído, sobre a arte, a vida e as nossas pequenas inquietações. Para inaugurar esta nova secção do Café Margoso, a conversa é com o poeta Arménio Vieira, já refeito da ressaca do Prémio Camões. Com revelações interessantes, entre as quais o facto de se ter casado quase em segredo. O Conde, na primeira pessoa.

Uns meses depois de teres recebido o Prémio Camões alguma coisa mudou na tua vida?

Mudou. Agora sou casado, por exemplo.

Com contrato, papel passado e tudo? E a aliança, onde está?

Ah! Ela quer impingir-me isso mas eu sou refractário.

E como é que te convenceram a casar?

É um caso muito curioso, diria quase inédito. Primeiro, ela era virgem e isso foi também novo para mim. Depois a família dela, conservadora e tradicional, não aceitava que ela arranjasse um namorado. Namoro por namoro, não podia ser. Tinha que ser para casar.

Existe alguma poesia num contrato de casamento?

Existe o lado prático da coisa. E se eu morrer de repente, como é que fica? Pelo menos fica com a minha pensão, que é razoável. Ainda mais agora que vou ser um pai de sessenta anos.

Pensas muito na morte?

Isso é uma pergunta complicada. (Pausa) Quer dizer, não sou obcecado com a ideia da morte. Penso na antecâmara da morte. O Inferno que precede a morte. Por exemplo, a do Mário Fonseca. Para mim foi uma bela forma de morrer. Inconsciente, não teve dores físicas, que eu saiba, e morreu. Mas eu não tenho essa garantia, não é? Claro que me causa espécie, sim.

És daqueles que pensa que a morte é o fim do fim…

Estou convencido que o Homem é consciente desse facto. Não quer findar. E, em parte, as religiões existem por causa disso. Queremos ser imortais. Queremos continuar, eternamente. Olha, tenho um amigo estrangeiro que me dizia que preferia a ideia do Inferno do que a da morte total. Estás a ver, é terrível. Quer continuar vivo, mesmo que seja no Inferno. O Dostoiewski, quando escreveu o livro “Memórias da Casa dos Mortos”, que não é uma ficção pois retrata o período em que ele esteve na Sibéria, demonstra isso na perfeição. Havia lá coisas terríveis. Indivíduos que sobreviviam comendo insectos, num clima horrível, a falta de higiene, levavam pancada e, no entanto, faziam tudo para não morrer.

Faz parte da natureza humana, esse instinto pela sobrevivência.

Em Auschwitz praticamente não houve suicídios. As pessoas iam até à câmara de gás. Sempre na esperança de haver um milagre e se safarem. É terrível. Pensa num rato. O rato foge de quê? A vida de um rato é para quê? Eu não sei o que é ser rato mas no entanto passa a vida a correr para uns buracos, anda sempre assustado. E o maior inimigo é humano.

E o maior inimigo do Homem, continua sendo o Homem?

Não apenas, porque também é o maior amigo.

Ainda acreditas nisso?

Claro que sim. Somos amigos, não?

Claro.

E isso é bom, não é? É agradável. Estamos aqui na esplanada a conversar.

O Inferno afinal, já não são os outros?

O Inferno é muita coisa. Esta crise, por exemplo, é infernal e é provocada por intervenção humana.

As grandes obras artísticas não foram criadas em períodos de crise? Ninguém cria obras-primas quando está tudo bem…

O Mal é a base da grande arte. A tragédia. Mas qual era o lado bom da coisa? É uma espécie de purga.

Ou seja, tem que haver crise para haver criação…

Repara, o Inferno também é monótono. É sempre a mesma coisa: o homem a ser queimado, a ser torturado. A própria tortura não muda. Deviam ser várias torturas para cada homem. Pelo menos, que se variasse a tortura, a forma de passar mal, de sofrer, como acontece nos 120 dias de Sodoma.

Tens produzido mais por causa do Prémio Camões?

Nem por isso. Sempre tive ideias para escrever e romances inventei mais de mil. Mas essa história de pegar na pena, não sei. É preguiça. Antigamente, tinha mais prazer no acto da escrita. Mas eu sempre disse, por exemplo, que ler é para mim mais agradável do que escrever. Já fiz um poema sobre isso. Porque eu quando leio Odisseia, eu sou Homero. Quando eu escrevo o Hamlet, não me dá grande prazer. A ler dá.

E continuas a escrever poesia em SMS?

Continuo, sim. Não são grande coisa. Mas sempre me vou entretendo.


Nota: página publicada no jornal A Nação, de 17 de Fevereiro de 2010. Ilustração é de Abraão Vicente.







Nelson Rodrigues - O grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota.



Nelson Rodrigues - A simpatia dos homens é directamente proporcional ao tamanho do teu decote.



Nelson Rodrigues - O homem começa a morrer na sua primeira experiência sexual.









Barack Obama volta a surpreender quando afirmou numa entrevista à revista “Essence” que as suas filhas, Sasha e Malia, estão proibidas de ver televisão durante os dias de semana. O objectivo é ajudar a melhorar os resultados escolares. “As meninas não vêem TV durante a semana. Ponto”, disse Obama. 

Obama revela ainda que a primeira coisa que Sasha (oito anos) e Malia (11 anos) fazem quando chegam a casa é fazer os seus trabalhos de casa. Se não concluem os deveres até à hora do jantar (por volta das 18h30) continuam a seguir. E quando acabam os trabalhos de casa têm autorização para ler até à hora de dormir. Não se sabe se há alguma lista de livos proibidos... Talvez numa próxima entrevista. 

O mais extraodinário é o facto do país que de forma mais profunda vive à volta e para os acontecimentos ditados pelas cadeias de televisão, ter um Presidente que recomende a mesma medida a todos os pais. "Não tenho dúvidas de que Michelle e eu estamos numa situação privilegiada e temos mais recursos do que muitos pais. Contudo, há coisas que todos os pais podem fazer, não importa o quão ricas ou pobres sejam, como desligar a televisão", acrescentou Obama. 

Não podia estar mais de acordo com a medida e quando disse à minha filha Laura, que tem 12 anos, para ler esta notícia, ela riu-se e falou: "ta dret, ma enquanto un continua a ter média de 19, nha novela, bo ka ta tram el!" É o que dá ter filhas inteligentes, louvara Deus.







A primeira página do jornal A Nação desta semana dá manchete à entrevista com artista plástica Luisa Queirós que, mais uma vez, denuncia publicamente o desaparcimento de peças patrimoniais, antes pertencentes ao Centro Nacional de Artesanato, entretanto extinto. Os mais distraídos podem até salivar com esta novidade, mas esta denúncia é tudo menos nova. Há alguns anos, no jornal revista Artiletra, a mesma artista já tinha feito estas mesmas afirmações. Pergunta-se:  o que se fez entretanto para apurar se houve, ou não, desaparecimento ou roubo de obras de arte pertencentes ao património histórico de Cabo Verde? Nada. Alguém ligado à instituição responsável procurou indagar sobre o que se passava, promoveu uma comissão de inquérito, qualquer coisa, para tentar saber o que realmente aconteceu? E se houve roubo de património que é do Estado, porque é que o Ministério Público não actua?

Eis algumas perguntas para as quais gostava de ter resposta.






Se há alturas do ano em que tenho uma poderosa sensação do deja-vú é precisamente na quarta-feira de cinzas. Depois de anunciados os resultados do Carnaval mindelense ouvem-se as mesmas palavras de circunstância, as mesmas queixas, as mesmas justificações, as mesmas polémicas de sempre. Que não há organização, que não há união entre os grupos, que começa toda a gente a pensar no Carnaval apenas depois de refeita a ressaca das festas de S. Silvestre, que é preciso um museu para preservar o que de melhor esta grande festa popular produz todos os anos, que é preciso um pensamento mais sistematizado, ligando o Carnaval do Mindelo ao turismo, vamos fazer uma Fundação, os deputados vem para cá - em trabalho, claro! - para assistir in loco e dizer mais meia dúzia de banalidades, não porque não sejam importantes, mas porque são tudo ideias e afirmações que já ouvimos até à exaustão. Ou seja, o diagnóstico está mais do que feito: falta a coragem para se providenciar os meios que uma cura exige para este caso.

Por um lado, coloca-se a questão da organização dos próprios grupos. Que eu saiba, já houve uma Associação de Grupos de Carnaval, que chegou há alguns anos atrás a ter reuniões e encontros com a Câmara, mas como acontece quase sempre, o colectivo foi substimado, sem peso suficiente para fazer frente aos ideiais egocêntricos de cada um e tudo ficou como estava. Sempre que ouvimos qualquer pessoa ligada ao Carnaval - o jornal A Nação da semana passada falou com dois importantes nomes, Manú Cabral e Mick Lima - o discurso é sempre o mesmo, as queixas coincidentes. O pessoal do Carnaval trabalha e dá muito de si, sem dúvida, mas talvez não fosse preciso dar tanto se houvesse outra capacidade de organização e, porque não, um pouco mais de ambição, no que diz respeito ao Carnaval do Mindelo.

"O júri tem que ir para formação para saber o que é arte”, afirmou São Costa, a presidente de Sonhos sem Limite, e tem toda a razão. Ou melhor, do júri deveriam fazer parte pessoas qualificadas para avaliar determinados aspectos do desfile, que exigem algum preparo. Não posso afirmar se isso aconteceu ou não este ano, porque nem sei qual foi a composição do júri. Mas penso também que não é só o júri que devia "ir para a formação" (gosto da expressão, algo semelhante da que usamos quando dizemos que aquele rapaz deve "ir para a tropa", para ver se ganha juizo e se faz um homem): também ao pessoal criativo dos grupos não faria mal uma formação, mais ousadia, mais imaginação, mais criatividade, não apenas nos carros alegóricos, mas principalmente na organização do enredo e nos figurinos, nos últimos anos um pouco vira o disco e toca o mesmo.

Mais uma vez defendo que se devia fazer um levantamento para se saber quem são esses criativos, essa gente generosa e abnegada que já faz muito com muito pouco, mas que poderia fazer muito mais se tivesse possibilidade de adquirir formação de base em artes visuais, artes plásticas ou design. Feito esse levantamento, e em ligação directa entre a Câmara Municipal, os grupos de Carnaval e a M-EIA Escola Internacional de Artes, que se pusesse todo esse pessoal a estudar, aprender, evoluir. Estou certo que todos ganhariam, a começar pelo próprio Carnaval do Mindelo.

Na foto: rainha do grupo Flores do Mindelo, vencedor do desfile 2010





caiofabreu - Abraça tua loucura antes que seja tarde demais.

notícias CV - Governo cabo-verdiano desconhece estudos sobre eventual erupção vulcânica submarina, mas já está a investigar.

blodpack - São dias como os de hoje em que me pergunto porque eu não nasci na Antártida.


chicolatras - Você era a mais bonita das cabrocas dessa ala; você era a favorita onde eu era o mestre sala.









Três imagens de outros tantos carnavais:  
Trinidad Tobago, Veneza e Rio de Janeiro, respectivamente.






"Se A é sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X. Y o lazer. E Z é manter a boca fechada."

Albert Einstein





Que legenda para esta imagem?
[entrada do Ministério do Ambiente de Cabo Verde, na cidade da Praia]


À melhor legenda ofereço um café





Depois de um dia como todos os outros, saiu de casa, já noite feita, sem rumo certo. Não falou com ninguém - raramente falava fosse com quem fosse e portanto foi aprendendo com o tempo a arte de se tornar invisível. Não que esta capacidade de não ser visto pelos outros pudesse ser considerada como um desígnio vital da sua existência, antes pelo contrário, aquilo tudo o deixava um bocado deprimido, afinal de contas era um ser social como todos os outros e invisível, no sentido prático e concreto da palavra, ele sabia que não era - tinha espelhos em casa, embora quase não fizesse uso deles por razões mais do que óbvias. E portanto, foi neste dia igual a tantos outros, que este homem igual a tantos outros, saiu de casa sem que ninguém lhe notasse os passos ou da ocorrência desse devida conta, nem os que estavam dentro de casa e lhe eram mais próximos, quanto mais os que cá fora se encontravam e pouca ou nenhuma ligação tinham com a sua vida. Andou, sem rumo e chegou na praia. Sentou-se num dos bancos de pedra, em frente ao mar, ouvindo as ondas e vendo ao longe as luzes dos barcos, numa noite triste e sem luar. Foi então que este homem, igual a tantos outros e depois de um dia igual a tantos outros, se levantou e caminhou em direcção às ondas, sem parar nem ninguém que o impedisse. Entrou nas águas frias e continuou. Mergulhou naquela água salgada e sorriu. Encontrara, finalmente, uma forma simples de se sentir abraçado pelo mundo. Se voltou ou não, é o que menos importa.






E eis que foi anunciado, sem muita pompa e menos circunstância, que o Primeiro-Ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, tem o seu próprio blogue. Aqui no Café Margoso apoia-se a iniciativa, mas com a pretensão habitual, deixamos alguns conselhos, porque isto de ser blogueiro em Cabo Verde tem muito que se lhe diga, principalmente para quem assina e dá a cara pelas suas próprias opiniões. Então é assim, como quem não quer a coisa:

1. Faça do blogue não um espaço do Primeiro-Ministro, mas sim do cidadão. Um blogue é um espaço pessoal, como que uma impressão digital e já se diz nalguns estudos que se tem mais hipótese de se conhecer bem um blogueiro que se leia todos os dias do que um colega de trabalho;

2. Não faça do blogue um espaço de propaganda /disputa política ou de anúncio / justificação de medidas; há outros fóruns mais apropriados para o fazer, seja na página oficial do Governo, dos vários ministérios ou do seu próprio partido;

3. Coloque-se, em primeiro lugar, no papel de cidadão e procure expor as suas ideias de forma clara, concisa, directa e, principalmente, crítica;

4. Um dos segredos para o sucesso de um blogue é a sua dinâmica, pelo que seria importante actualizá-lo, diria que pelo menos uma vez por semana, e que responda directamente aos comentários que lhe pareçam mais pertinentes; uma actualização mais desenfreada também não é aconselhável, porque senão ainda vão dizer que não tem mais nada para fazer e sujeita-se a ouvir comentários desagradáveis (que serão inevitáveis);

5. Não caia na tentação de deixar a escrita dos textos pessoais e das respostas aos comentários a cargo de colaboradores; se não for o próprio a escrever, vai-se certamente acabar por notar e será pior a emenda que o soneto;

6. Aproveite o espaço do blogue, sendo pessoal, para se dar a conhecer; nos seus gostos pela poesia, pela música, pelos livros, pelos filmes;

7. Prepara-se para duras batalhas: um blogue transforma-se, de quando em quando, num local pouco recomendável, até pela falta de hábito que ainda temos na discussão descomplexada de temáticas diversas;

8. Não se deixe levar demasiado pela emoção, mas também não faça do blogue apenas um espaço de racionalização e conceptualização de medidas ou ideias políticas; aqui, como noutros domínios, no meio é que está a virtude.

Posto isto, só me resta desejar-lhe boa sorte e que o seu blogue traga uma real mais valia num aspecto que terá sido uma das principais motivações: torná-lo mais acessível e mais humano aos olhos de todos os cabo-verdianos.

Ah, e coloque o logótipo da blogosfera cabo-verdiana no seu espaço. Afinal, já é um dos nossos!


Eis o link do blogue, aqui





O amor é, como dizem, um lugar estranho?


À melhor resposta, ofereço um café







"O amor é o milagre da civilização"
Stendhal








"Ditadura de Estado está fora de moda. Hoje imperam as ditaduras de Pensamento. Ouse pensar pela própria cabeça e te colam um rótulo na cara."

Fábio Escorpião in O Colecionador (fonte: aqui)






Mick Lima, o homem da bateria do Carnaval mindelense
(e para as clientes do sexo feminino não virem para aqui dizer que nunca coloco homens na galeria.)

Fotografia de João Branco





A revista International Living coloca Cabo Verde na 142.ª posição na tabela anual de melhores países para se viver, que classifica 194 nações a partir de um conjunto de indicadores que vão do custo de vida até ao clima, passando pela cultura e entretenimento, economia, ambiente, liberdade, saúde, infra-estruturas e segurança. Quer dizer, se virmos as coisas de baixo para cima, estamos na posição 52 mas do ranking dos países onde se vive pior. Em 194 degraus, a situação não é nada famosa. Bem pelo contrário, é muito preocupante.

Mas mais preocupado fico sabendo que cada item é classificado de 0 a 100 e que Cabo Verde conseguiu 60 pontos em custo de vida, 29 em cultura e entretenimento, 44 em economia, 36 em ambiente, 100 em liberdade, 49 em saúde, 32 em infra-estruturas, 64 em segurança, 36 em clima, obtendo um resultado final de 50. Não sei se estão a ver bem estas pontuações. Qual foi o item em que Cabo Verde obteve uma pior classificação, qual foi? Em cultura e entretenimento! Com miseráveis 29 pontos em 100 possíveis. Num país que tem a cultura como seu diamante, factor primordial de identidade, paradigma do desenvolvimento. Não pode ser! E logo saber isto em plena época de Carnaval, até parece mal, nestes dias em que anda todo o mundo em festa e onde entretenimento é algo que abunda como petróleo na Arábia. Então porque será que não estou espantado com isto?

Agora, nada de confundir as coisas. É claro que o facto do artista plástico Domingos Luiza ter vencido o concurso público para a elaboração do Monumento à Liberdade não tem rigorosamente nada a ver com o lastimável estado de coisas a que chegou a aplicação de políticas culturais no arquipélago (ver notícia, aqui). As pessoas que conhecem o trabalho do artista em causa, e eu conheço muito mal, sabem perfeitamente que se há alguém em Cabo Verde capaz de fazer um monumento "de estrutura imponente, com uma dimensão e um porte de destaque, com blocos, colunas, baixos e alto relevos, escadarias, torres, esculturas e estátuas, em bases de dimensões que possam servir para cerimónias públicas" e que seja "de fácil descodificação e compreensão" (termos de referência que constam no regulamento do concurso) essa pessoa é o artista vencedor. Ganhou, pois, um concurso feito à medida do seu talento, com todo o mérito e vamos ter, certamente, o Monumento à Liberdade que este Ministério da Cultura tanto fez por merecer.

Ilustração: David LaChapelle






Sonhos Mindelenses

Sonho 1

Um espaço enorme e afastado da cidade do Mindelo, que um dia foi pensado para ser centro industrial, e que já se encontrava equipado com estradas alcatroadas, luz e ligação para água e esgoto, é hoje um importante Centro Tecnológico, inicialmente previsto para a capital do país, mas que posteriormente se entendeu poder ser concretizado na ilha de S. Vicente como forma de aproveitar, ou melhor, reaproveitar, uma infra-estrutura que custou muito dinheiro ao Estado e que desbaratou um potencial de esperança dos habitantes da ilha, já que nunca teve utilização que fizesse justificar a avultada verba ali aplicada. Este Centro Tecnológico contempla, além de locais próprios para a investigação e elaboração de programas com vista a melhorar a aplicação prática da governação electrónica, um conjunto de estruturas direccionadas para a formação, incentivo à utilização das novas tecnologias, espaço de exposição permanente com as últimas novidades, com circuito directo e aberto para todos as escolas do básico, liceu e pólos universitários da região Norte, que fazem desse espaço um local privilegiado de contacto, primário ou não, das novas tecnologias. Parte do pessoal da NOSI foi transferido para esta ilha, uma outra parte do pessoal deste centro foi garantido com mão-de-obra local. Muitos outros estudantes ali se formam, sendo que o curso superior de programação do actual pólo da UNI-CV tem feito deste espaço local um espaço privilegiado de aplicação prática de matérias e investigação universitária, a nível de mestrados e doutoramentos.


Sonho 2

O espaço que se consignou chamar de Museu de Arte Tradicional, volta ao seu nome anterior de Centro Nacional de Artesanato e torna-se um local vivo, com a presença de artistas e artesãos produzindo, com uma mostra de artesanato nacional que tira proveito de um trabalho pioneiro de recolha e investigação feito nos primeiros anos de Independência e que tem sido desbaratado como se fosse possível ter o produto de uma valiosa colecção escondida num armário poeirento, como se alguém tivesse vergonha do seu próprio passado, colecção essa que se retira dos baús apenas em ocasiões especiais e visitas de Estado. O local, situado na principal praça da cidade, está agora, e finalmente, cheio de vida. Com uma exposição permanente, representativa da história e evolução do artesanato nacional em todas as ilhas do país e guias qualificados que a podem explicar a estudantes e turistas; com ateliers de artistas e artesãos que ali encontraram um centro de produção para fazer, mostrar como se faz e vender os seus produtos; com espaços de formação profissional em áreas como a tapeçaria, batik ou pintura; com ateliers de ocupação dos tempos livres para crianças, transformando o espaço em mais um pólo de educação artística; com exposições temporárias de menor dimensão e encontros de reflexão sobre o nosso percurso artístico. O local é hoje uma referência nacional de como se pode dignificar não apenas um espaço físico, mas toda uma herança que em muito contribuiu para a paisagem visual que hoje encontramos nas artes cabo-verdianas.


Sonho 3

No espaço em frente ao mercado de peixe, enorme e que ocupa todo um quarteirão – tendo o outro lado voltado para a Praça da Estrela – foi projectado e concebido num prazo extraordinário uma estrutura baptizada de Espaço Carnaval, e que contempla oficinas para os criadores; espaços de formação em áreas como costura, desenho artístico ou percussão; espaço museológico para as peças mais valiosas e belas de cada desfile; escritórios para os diferentes grupos de Carnaval existentes de forma a se poder projectar cada Carnaval com a antecedência que uma actividade como esta, geradora de imensa riqueza para a ilha, sem dúvida merece. Este espaço encontra-se directamente ligado à M-EIA, Escola Internacional de Artes do Mindelo, onde os artistas e criadores dos grupos tem a possibilidade de obter uma formação em exercício permanente, com aulas não apenas relacionadas com a concepção de andores e trajes, mas também de desenho, geometria, história da arte, entre outras. Desde a concretização deste espaço emblemático da cidade, e que contou com o apoio dos principais beneficiários do Carnaval mindelense, como a Câmara Municipal, o Governo e algumas das principais empresas sediadas na cidade, o Carnaval do Mindelo deu um salto qualitativo inigualável.


Sonho 4

Ainda na principal praça da cidade e depois de muita luta, conseguiu-se que o Governo, em parceria estratégica com a Câmara Municipal da ilha, adquirisse o edifício do Éden-Park, que desde que foi classificado com património nacional pela Assembleia Nacional, deixou de poder ser destruído para nele se construir um edifício de vinte e tal andares como inicialmente previsto. Hoje, ali está sediado o Palácio da Cultura Éden-Park do Mindelo, com duas pequenas salas de cinema, um auditório para espectáculos de teatro e música e espaços para ensaios e aulas de teatro. Também aqui, tal como no espaço ali ao lado do Centro Nacional de Artesanato, este local se transformou num centro activo de formação artística, formal e informal, vocacionada para as artes do espectáculo. A Praça Nova, com a atribuição a privados, por concurso, dos espaços contíguos frontais ao edifício, ganhou nova animação, e não poucas vezes a população da cidade é confrontada com exercícios de teatro de rua dos alunos dos cursos ali ministrados ou com as filas de gente querendo ver a última novidade cinematográfica, neste último caso, um filme todo ele rodado em Cabo Verde e interpretado por actores e actrizes locais.


A realidade

Acordei. O imenso espaço ali do lado direito da estrada de S. Pedro, continua inexplicavelmente vazio. Em frente ao mercado, num edifício semi-abandonado, ouve-se a batucada de um ensaio de carnaval, intenso, pois o tempo não é muito, já que não houve programação atempada. Na Praça Nova um espaço que se chama a si mesmo de museu faz o que pode para justificar essa designação, enquanto ali mesmo ao lado, a mais emblemática sala de espectáculos do país, continua apodrecendo aos olhos de todos. Abro o jornal. Mindelo está com uma taxa de desemprego de 27%. Ao longe, ouvem-se os sons dos muitos bailes de máscaras. Mindelo está em festa. Sabe pa cagá.

Crónica Publicada no Jornal A Nação

Foto de felix.h





"O parlamento devia ser a casa dos deputados, mas não é. É apenas dos grupos parlamentares. Infelizmente, somos democratas apenas na conversa."

Lídio Silva - deputado da UCID (fonte: aqui)






O rapaz da fotografia chama-se Diego Frazão Torquato, e pertence à Orquestra de Cordas da Associação Cultural AfroReggae, uma ONG que tem feito história com o seu trabalho social e cultural no Brasil. Aliás, e bem a propósito do que se tem discutido aqui no Café Margoso nos últimos tempos o principal lema do AfroReggae é precisamente "a cultura é o principal instrumento de mudança."

Diego chora tocando o seu violino, emocionado, na homenagem ocorrida durante o enterro de Evandro João da Silva, um dos líderes da associação, querido por todos, barbaramente assassinado no centro do Rio de Janeiro, no final do ano passado. Pois é, meus amigos, acredito mais do que nunca nisto, e por isso repito: a cultura é o principal instrumento de mudança.

Por enquanto que se aprecia esta tocante imagem, nada como o som do violoncelo de Yo Yo Ma, sempre tão apreciado por estas bandas, aqui.












Faz hoje, dia 11 de Fevereiro, 20 anos que Nelson Mandela foi libertado. Fossem todos como ele e o mundo seria bem melhor. Agora, é esperar o filme que Clint Eastwood acabou de estrear - “Invictus” - e que conta um episódio pouco conhecido de Nelson Mandela ao recrutar o capitão da equipa nacional de rugby para o ajudar a unificar o país. Morgan Freeman, que interpreta Mandela no filme, está nomeado para os óscares 2010, na categoria de melhor actor principal. Vinha mesmo a calhar.

Ver também aqui e aqui.






Mais um belo cartaz de cinema. Um filme que quero muito ver. Tim Burton no seu melhor. O inevitável Johnny Depp completamente transformado. E uma chávena de café em tamanho gigante (não sei se repararam...).






Só quem já ficou horas e horas nos aeroportos do Sal e da Praia nos últimos anos é que pode entender a alegria que esta notícia oferece aos mindelenses. Pelo menos de final de Abril a final de Outubro, e pelo menos uma vez por semana, os TACV vão promover um voo com ligação directa entre São Vicente e Lisboa. Todas as sextas-feiras, para ser mais exacto.

É uma fantástica notícia. Em primeiro lugar porque as viagens vão ficar mais baratas já que deixa de contar a utilização de um aeroporto e o pagamento de uma viagem interna. Calcula-se, assim por alto, que viajar de e para Portugal, custará menos de 20 contos, mais coisa menos coisa. Além disso, os charters que já estão a utilizar o aeroporto, fazendo ligações directas aos Estados Unidos e a Paris, e acredita-se que a TAP, concorrente directa da companhia cabo-verdiana, vá acabar por deixar as suas reticências de lado e apostar também nesta ligação. Porque se o aeroporto serve para uma companhia deixa de ser aceitável que não sirva para outra. Ou seja, ou o Aeroporto Internacional de S. Vicente está operacional ou não está. E pelos vistos, está mesmo.

Eu não sei qual vai ser a sensação de entrar no avião em Lisboa e sair já em S. Vicente. Que vai ser estranho vai. Que vai ser fantástico, também vai. Eu até podia entrar em Cabo Verde por outro lado. Podia, mas não era a mesma coisa.





Mais uma rede social. Apenas mais uma? A Google jura que não, os concorrentes reagiram assim que souberam da novidade. Mal o Google lançou a sua nova rede social, Buzz, a Microsoft e o Yahoo reagiram, mostrando que a nova ferramenta incomodou os dois rivais. Vindas de concorrentes, as críticas são vistas como uma medida do quanto o lançamento do Buzz incomodou. O Facebook e o Twitter, principais concorrentes do novo serviço, contudo, mantiveram o silêncio.

O Buzz concorre diretamente com o maior site de relacionamentos do mundo, o Facebook, que planeja reformular seu serviço de webmail, passando a disputar mais efetivamente com o Gmail, principal serviço de e-mails da internet, pertencente ao Google, ao qual o Buzz foi integrado.

Entretanto, todos seguem todos, mas a verdade é que estamos cada dia mais solitários. O certo é que o pessoal não tem do que se queixar, num lugar onde toda a gente sabe - ou diz que sabe, ou pensa que sabe - da vida de toda a gente, aqui está mais um lugar para saber o que pensamos, o que fazemos, o que sentimos, o que vemos, o que ouvimos e por aí fora. Um destes dias, quem sabe, a gente se encontra no mundo real. Sigam-me.