Plágio 23: Foda-se!

17 Comments


Avisam-se os mais incautos. Este é um texto chocante. Cheio de si e de palavras de não pode ser. É também um plágio, porque não é da minha autoria, foi-me enviado por mail por um dos homens que mais sentido de humor tem neste país, chamado Kaká Barbosa, e portanto, quem não gosta de plágios, mude já de freguesia. Eu - sinceramente - adorei este texto! Intitula-se «O Foda-se de Millor Fernandes», numa versão adaptada, não sei muito bem por quem. Ah, sempre sobram os limãos para chupar, no caso disto ser forte demais.


Então é assim:

«O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda se!" que ela diz. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta-me. "Não quer sair comigo?! - então, foda-se!" "Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!"

O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"? "Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.

A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!

Entendem?

(...)

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pensem na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-nos outra vez nos eixos. Os nossos neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que nos permitirá dar um merecido troco ou livrarmo-nos de maiores dores de cabeça.

E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"? Já imaginaram o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai levar no olho do cu!"?

Pronto, tu retomamos as rédeas da nossa vida, a nossa auto-estima. Desabotoamos a camisa e saimos à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!". Conhecem definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?

Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estamos sem documentos do carro, sem carta de condução e ouvimos uma sirene de polícia atrás de nós a mandar parar. O que dizemos? "Estou fodido!"

Ou quando nos apercebemos que somos de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar … e pensamos “Estou fodido com esta merda!

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!

Mas não desesperemos:
Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”»




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17 comentários:

Anónimo disse...

De chocante não li nada...penso contudo que teria mais graça e sentido adpatar-se o mesmo à realidade caboverdiana onde a maioria dessas expressões não são usadas. Ao ler, fui transportada à realidade de Portugal. Como o KKB é um conhecedor da lingua criola penso que teria sentido fazer uma adpatação...para nós seria de longe mais comico!
Ana

Eileen Almeida Barbosa disse...

Vou-te dizer uma coisa, João. Eu passei uns 17 anos sem usar palavrões, porque a minha irmã mais velha assim me ensinou. Mas quando me soltei.... tive uns anitos de total liberdade, e cada um sabia-me melhor que o anterior. Até que a sociedade pôs-me no meu lugar e agora, só em privado deixo escapar uma coisa bem forte.

MYA disse...

Arre foda-se, puta que pariu o texto que está pra la do caralho mais velho. Isto nem é levar no cu! É a "enrrabadela" textualizada.

Unknown disse...

Ana, acredita que pensei nisso. Alguém tem sugestões? Mas tens razão, o próprio KKBB é que era cabeça para fazer isto!

Eileen, eu agora é ao contrário. Passei parte da infãncia e juventude no Porto, a cidade da liberalização total dos palavrões. Os palavrões ali não são palavrões, são palavras como todas as outras. Não há discriminação! Em CV, um porra ou um chiça fora do lugar, era logo um problema... hahaha

Mya, hehehe

Anónimo disse...

É verdade que deixar uns desses palavrões sairem de vez em qdo faz um bem enorme e é sempre melhor que canalizar aquilo que sentimos naquele momento para outras coisa, tais como agressão física. Contudo, por exemplo, aqui em Portugal os "Foda-se e os Vá pró caralho" são vírgulas nos diálogos da malta mais jovem.

Unknown disse...

Sisi, e essa verdade torna-se mais «verdadeira» quanto mais a Norte estivermos, não é?

Anónimo disse...

Meus caros o texto foi-me enviado por um grande moçambicano, o Guita Junior, um poeta do camano, uma granda gajo. Não imaginem como arri..arri... com graça. Pensei abrir o blogue com isto. Mas o computador é do Parlamento. Resolvi mandar o joão e alguns bons amigos. Tive relutancia em mandar à Eile. A verdade é que quando acerto com uma boa frase melodica ou com uma frase escrita, não sei porquê, mas saem-me nomes lubificados de espiritualidade.
Até se podia tentar construir algo semelhante com as nossas palavras brancas.
Pra já fica um abraço do camano. kakaBarboza

Anónimo disse...

Oh João
Para mim o palavrão menos palavrão que existe (se me fiz entender) é o PU-TA-QUE-O-PA-RIU dito a brasileira.

Quando fui pra lá estudar ficava vermelha cada vez que os meu professores a usavam para exprimir admiração, para fazer alusão a um lugar longe pá fronta.

Depois vi que para eles era normal!
Dificil foi habituar-me outra vez a não dizer palavrão quando voltei pra cá.

Unknown disse...

KKBB, ficamos à espera da reabertura do teu blogue e da tua versão kriola deste magnifico texto!

Kuskas, adoro dizer «puta que pariu», e adoro dizer, bem à moda do Porto «fuuuuuooooooda-se!». Pode haber maior sinal de espanto do que esse?

Anónimo disse...

Está aqui um post do caralho!
Fartei-me de rir!
Saudações.

Unknown disse...

André, obrigado pela visita. Volta sempre!

lumadian disse...

Absolutamente fantástico!
Nos dias de hoje tudo isto é normal, é dito em cada esquina de Lisboa, do Porto e até em algumas terras do interior.
Deve ou devia ser levado por quem ouve, como uma graçola, mas o que é mesmo pena é a juventude de hoje não saber falar nada mais que estes palavrões.

Unknown disse...

Fica banalizado, e como tudo que é banal, perde o interesse...

Neu Lopes disse...

Meu brother, este texto fez-me rir pra caralho. O autor deve estar fodido dos cornos.
Mas a minha preferida vem de terras latinas e é muito usada por nós crioulos.
Trata-se da famosa PUTA MADRE! E isso já me fez lembrar de uma cena em "A Mexicana" com Julia Roberts e o Brad Pit. Foi uma gargalhada imensa e em côro no Eden-Park.

Unknown disse...

Xi, tens razão, Neu! E eu adoro esse «PUTA MADRE». Acho que é a versão crioula do «Como ó caralho» do artigo, não é?

Neu Lopes disse...

Acho que o "Puta Madre" tem mais ênfase quando arrebenta uma corda da tua guitarra em pleno concerto.
Aí dá aquela vontade enorme de dizer esse famoso palavrão.

Unknown disse...

Tens razão, Neu. Boa expressão para situações inesperadas. Mas também para as boas. Uma noticia que ganhamos o totoloto: «PUTA MADRE!». O jogador da tua equipa que marca aquele golo impossivel, com um remate a 40 metros de distancia: «PUTA MADRE»...