Declaração Cafeana

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Desde que sobrevivemos à passagem do Milénio, onde segundo as muitas previsões o apocalipse finalmente se viria a revelar nas suas múltiplas formas, raramente ouvimos alguém a falar do fim do Mundo. Já não temos Testemunhas de Jeová a batermos à porta num Domingo de manhã a anunciar o terrível desenlace. O que sabemos é que o nosso planeta pode não ter chegado no fim, mas está completamente louco. Não morremos, mas estamos a ser castigados!

E Cabo Verde não foge à regra. Não admira que um tipo com língua solta e pena certeira não aguente muito tempo sem escrever um blogue, porque todas as semanas há acontecimentos que dão vontade de não ficar quieto. Um amigo meu dizia, num misto de frustração e piada, que pelo andar da carruagem só via duas soluções: "emigração ou revolução!" É um lema interessante para um ciclo de palestras a organizar por um instituto qualquer, não acham?

Os debates parlamentares; os preços das telecomunicações e de muitos outros produtos de primeira necessidade; o estado do Estado Cultural; o povo adormecido não pela inércia mas como resultado directo da sua enorme apetência por essa nobre actividade que é a paródia; o culto das seitas invadindo os espaços públicos; as nomeações para altos cargos do Estado que ninguém entende e quase todos invejam; as ressurreições políticas fora do período da Páscoa; os negócios de terrenos mal explicados; os dossiers acusatórios que entram na justiça mas nunca de lá chegam a sair; os empreendimentos aprovados porque entre o "desenvolvimento sustentado" e as preocupações ambientais deve-se privilegiar o primeiro, como se este não dependesse de um respeito ambiental à partida; e por aí fora.

Quem desconfiasse que todos estes acontecimentos tiveram lugar nas últimas semanas, diria que estamos bem próximos de um novo apocalipse. Mas não, isto é apenas o resumo da animação que por aqui vai. Com certeza que pelo meio há muita competência, trabalho, obra, evolução. Inauguram-se estradas, centros de saúde, estações de dessalinização, traficantes são apanhados nas fronteiras dos aeroportos, enormes comitivas internacionais estão de visita ao arquipélago provocando um tremendo rodopio diplomático constante, mostrando que o país não pára, pelo contrário, pulsa, pujante e divertido, porque afinal de contas vem aí mais um grande festival de música, patrocinado por uma não menos poderosa marca de cerveja e pelo menos durante dois dias o povo vai pular e saltar e beber e celebrar os seus heróis sem pensar no dia de amanhã. Como naquela passagem d'ano em que se anunciou o fim do Mundo. Pelas vias das dúvidas, o melhor é festejar mesmo, nunca se sabe o que pode acontecer.




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1 comentário:

Anónimo disse...

Vive cada momento como se fosse o último. Qualquer dia acertas!

Ou, como dizia o outro, esta vida são dois dias e o Carnaval tem três!

Viva a Santíssima Trilogia: Fátima, Futebol e Fado!

(E a Morna também!)

a) RB, anónimo por obrigação