Declaração Cafeana

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A vida pode ser madrasta, estamos cansados de saber. Todos passamos por momentos de sofrimento incomensurável, por instantes de raiva mal contida, por alturas em que nos apetece só gritar a tudo e a todos as injustiças de que somos alvo por este ou por aquele. Outras alturas há em que, menos egocêntricos, nos vemos confrontados com a realidade que nos rodeia, e ficamos revoltados com os abusos dos políticos, os crimes ambientais, os mafiosos violentos, os incompetentes basofos. Finalmente, há períodos em que nos dá para nos preocuparmos com o aquecimento global, a guerra no Iraque, a crise económica, as cotações nas principais bolsas mundiais, o futebol português, as secas e fomes em África, o perigo nuclear e os conflitos do Médio Oriente.

Há momentos em que nos perguntamos porque raio certos ruminantes anónimos nos atacam sem dó nem piedade sem nos conhecerem de lado nenhum, nem nunca terem visto fumo nem mandado de qualquer obra que tenhamos feito, mas mesmo assim nos julgam, nos apontam o dedo, nos acusam de sermos o que sabemos não ser, e de imediato congeminamos respostas bombásticas na directa proporcionalidade da ignorância dos comentários precedentes, textos incendiários e declarações espectaculares. 

Depois paramos. Ouvimos a nossa própria respiração. E sorrimos com a relatividade de tudo isto. E no meu caso particular, que sou um ser demasiado susceptível e epidérmico, o que me salva é aquele instante preciso em que me esvazio de toda essa angústia que me quer consumir e penso nas minhas filhas. Tudo se esfuma por alguns segundos. Tudo o resto é secundário ao lembrarmos aquele sorriso, aquele carinho, aquela frase inesperada que nos deixa boquiabertos, aquele gesto inusitado, enfim, os melhores momentos de cada dia. É nestas alturas que agradeço a todos os Deuses possíveis e imaginários a benção de me ter dado a oportunidade sublime de ter a sorte que tenho. É uma sorte e um valor inqualificável poder ser pai. É tão bom ser pai. Não custa nada e o que nos dão em troca é incomparavelmente superior a todos os males do mundo.



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8 comentários:

lumadian disse...

Não há nada neste mundo comparável ao sentimento de ser Pai.

Anónimo disse...

Por isso mesmo é duplamente bom ser avô!

a) RB, anónimo por obrigação

Anónimo disse...

Ser pai não é tudo. A responsabilidade que emana de tal acontecimento entre a mãe e o pai é o mais importante. Um homem com trinta filhos pode ser um bom pai? Um homem que faz filhos à várias mulheres é responsável? Poucos são os que têm essa noção de responsabilidade como tu João e por isso digo que as tuas filhas têm muita sorte também. Fazer filhos não é tudo mas o que damos à esses para que possam ter as "armas" e o Amor, necessários para enfrentar a vida.

moreia

Tiago Leão disse...

Estou quase sempre a leste dos «raids anónimos» que por estas terras se fazem, mas somente por estas palavras que dedicas às tuas filhas, parece-me que valeu a pena.

Unknown disse...

Lumandian, concordo...

RB, espero que ainda demora um bocado! :)))

Moreia, esse é um outro prisma, mas não deixas de ter toda a razão.

Tiago, vale sim, porque a alma não é pequena!

karine disse...

Concordo a 100% contigo, em genero, grau e também no nome - também tenho uma Laura que é a luz da minha vida!

Lily disse...

Também "é uma sorte e um valor inqualificável" ter-se um pai que pense dessa forma!
E assim é que está certo.
Felicidades para as suas princesas!

Unknown disse...

Da trilogia segundo a qual o homem completo é o que fez um filho, plantou uma árvore e escreveu um livro, nunca gostei do "fazer" um filho, que mais parece operação de bricolage, como acho dispensável plantar florestas e escrever dezenas de livros: para ser homem inteiro, completo, perfeiro, rei de todos os universos, BASTA SER PAI!
Zito Azevedo