Declaração Cafeana

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É perfeitamente compreensível que a nossa curta passagem por este mundo, faça com que muitos se agarrem a essa ideia de que a alma é imortal ou de que há um ser superior a tudo e a todos, que nos condena ao fogo eterno ou nos absolve a uma eternidade nas nuvens ao som de harpas angelicais. Ou que teremos 73 virgens à nossa espera no paraíso, no caso de sermos fundamentalistas islâmicos e nos fizermos explodir com um cinto de bombas na cintura dentro de um autocarro cheio de "infiéis". 

As maiores guerras, as maiores torturas, as maiores injustiças foram cometidas em nome de algum Deus sob a capa de uma qualquer crença religiosa. A guerra de Gaza está aí mesmo para o comprovar. E embora acredite que ter fé dá conforto a biliões de pessoas no mundo inteiro, continua a revoltar-me profundamente que haja um chefe supremo de uma Igreja que esteja a espalhar pelos seus fiéis que não devem utilizar o preservativo ou que as relações sexuais tem como único objectivo a procriação, ou que uma outra religião impeça as mulheres de estudar, ter emprego ou sair à rua quando estão menstruadas. 

Esses e outros absurdos são proclamados, defendidos e postos em prática em nome d'Ele. Dalgum Ele, seja lá quem Ele for. Tivemos um exemplo recente em Cabo Verde de algumas anormalidades proclamadas em nome de Deus, com um energúmeno a escrever no jornal mais lido do país de que a homossexualidade seria uma doença, "tratável", como a toxicodependência. 

Acho até mais lógica a teoria romanceada por José Rodrigues dos Santos no seu livro "A Fórmula de Deus", onde se utiliza a física quântica e a astronomia, para mostrar que tudo está definido por uma entidade superior, sim senhor, mas que esta não é um senhor velho de barbas e com um cajado que nos vem dizer o que fazer, mais sim um super-computador concebido para que tudo volta ao grau zero da existência. 

Tudo isto - que é muito pouco porque um daqueles assuntos que nunca terminam - para dizer que adoro a campanha desenvolvida pela União de Ateus e Livres Pensadores da Catalunha, que pagou para serem colocados anúncios nos autocarros em Londres, Barcelona e brevemente noutros locais, porque esta campanha, que vive de doações, está a ter um enorme sucesso. O anúncio diz exactamente: "Probablemente Dios no existe. Deja de preocuparte y goza de la vida". Sinceramente, acho que é um óptimo conselho.




Ilustração: "Happy_Easter" de BellZ



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38 comentários:

Anónimo disse...

os nazis apostavam nessa probabilidade!

depois, muitas religiões dizem exactamente para cada um disfrutar da vida!!

mas em geral com uma pequenina nuance: disfrutar da vida, sim, mas com respeito pelo próximo, pela Vida e com Amor!!!

Virgilio Brandao disse...

João, o conselho pode parecer bom; mas a verdade é que a existência sem Deus é uma vida sem esperança para além do visível.

O conhecimento “acrescenta dores”, é verdade; mas a esperança, a fé e o amor que estes geram é e será, sempre, uma mais-valia para a humanidade.

Ah…, o livro do José Rodrigues dos Santos é uma tontice ao nível das ideias. Não me parece que seja ou deva ser considerado no plano de coisas tão sérias como este arcano confronto entre deísmo e ateísmo.

Mas, enfim...
Abraço fraterno

Anónimo disse...

Quanto ao conselho, não sei, não.

É que, como escreve José Manuel Fernandes no Editorial do jornal "Público" de hoje, Gaza não rima com o apelo a "gozar a vida". Rima com responsabilidade, não com o "não te preocupes".

Quanto ao mais, totalmente de acordo.

Um dos períodos mais negros da humanidade foi, aliás, o da Grande Inquisição em nome de Deus.

a) RB, anónimo por obrigação

Unknown disse...

Ora et, concordo, certamente com a última parte da frase.

Virgilio, desculpa mas está a confundir a crença na "existência de Deus" com "conhecimento", ou então fui eu que não entendi o teu comentário. Com certeza que o amor, a esperança e o conhecimento podem gerar mais valias para a Humanidade.

E não concordo com o primeiro parágrafo também. Vida sem esperança para além do visível? Nem penses. Basta olhar para as minhas filhas...

Quanto ao livro do JRS é apenas um romance, nem por isso muito bem escrito, mas que aflora a temática de uma maneira que não sendo uma total novidade, está numa linguagem acessível. Aprendi um bocado de física quântica e de budismo, ao lê-lo. Não estou a dizer que é o teu caso, mas sabes que não se pode ser um intelectual em Portugal se não se falar mal de livros do JRS... hehehe

RB, a campanha é um pouco mais profunda do que parece, não te parece? Há que ler nas entrelinhas. Com certeza que qualquer uma daquelas pessoas que pertença de corpo e alma (lá está!) a uma organização de Ateus se preocupa e se inquieta com o que está a acontecer em Gaza. E pensará o que todos sabemos: a base de todo aquele ódio, entre os judeus e os islâmicos é o quê? Precisamente, a religião. A forma como cada um deles olha para ELE. E deu no que deu.

Anónimo disse...

Caro João: a religião como ópio do povo? Não creio que seja essa a mensagem, mesmo nas entrelinhas...!

Ah.., e também não se pode ser intelectual em Portugal se não se disser bem dos livros do Saramago! (hehehe também).

Por último: embora não tenha a ver directamente com este Post, aconselho uma ida ao blog plataformaabstencionista.blogspot.com onde um grupo de pessoas oriundas da esquerda "libertária" expõe um manifesto que apela à abstenção eleitoral e onde a dado passo se afirma que "reduzir a participação eleitoral aos que alimentam e se alimentam do sistema, transformá-los em criadores, actores e espectadores da sua própria encenação poderá ser uma interessante tarefa revolucionária" (in jornal "Público", edição de 10/01/09).

a) RB, anónimo por obrigação

Anónimo disse...

Que os homens precisam obsessionalmente acreditar em deuses, nao significa que existêm... "Probablemente Dios no existe", esta afirmaçao ainda duvida da existência de um deus. A probabilade cientifica é magnanima em relaçao a mentira global que é a existência de algum deus. A justificaçao de Virgilio de nao existir esperança além do visivel participa ainda desta mentira e interroga sobre o visivel e o invisivel, questionamentos basicamente humanos que a ciencia resolve todos os dias, até tentar recriar o "trou noir" e mesmo debruçar-se sobre a alma. Nesta conjontura de terrorismo, de terror maxima, de medo incontrolavel e de mercantilismo religioso (ver a proliferaçao at urbi das seitas evangelicas), regozijam-se as religioes que negam todos os dias a existência dos homens da natividade até a morte. Elas nao criam esperança mas sim terror, da diabolizaçao da mulher (Adao e Eva) até a protectora camisinha de vento. Nao sairam do obscurantismo da ignorância primal que hoje continuam em perpetuar ao abrigo do poder e das riquezas materias (nao espirituais) accumuladas. A religiao nao passa de um comercio muito ganancioso, especulativo e lucrativo!!!

Sera a morte a unica deusa dos seres vivos neste planeta!!

Anónimo disse...

João, quando disse que o «conhecimento acrescenta dores» estava a citar Salomão no livro de Eclesiastes (Bíblia) que queria dizer que quando mais se sabe mas se tem a tendência para questionar as coisas e, de certo modo, enveredar pelo caminho do existencialismo (como o existencialismo ateu de Sartre e Camus e desses senhores da Catalunha).

Quando olhas para as tuas filhas e vês a esperança nelas, o que fazes, João, é ver a esperança a uma dimensão humana; o que Deus ou a ideia de Deus nos invoca é a amar aqui e agora e a ver o plano espiritual, exotérico ou metafísico da existência. Mas olha que se veres a existência de Deus nas tuas filhas não estarás, de todo, errado. O panteísmo cristão segue nesse sentido – ainda que seja, erradamente, tido como uma heresia.

Assim como ao falar em «esperança, a fé e o amor» estava a invocar o «Hino ao Amor» de S. Paulo aos Coríntios (I Coríntios, XII). Não era do «amor, a esperança e o conhecimento» (como referes) mas «esperança, a fé e o amor», não necessariamente por esta ordem. O conhecimento é estruturante, pois ele é o instrumento mediático (functor deôntico, diria) do homem com as realidades que consubstanciam a Fé, a Esperança e o Amor. Como dizia Göethe: quem não conhece não ama.

Ah, sim… o JRS e a Margarida Rebelo pinto são os novos ícones da Cultura literária portuguesa; são uma espécie de Zé Cabra da literatura. He, he…

Ah, sabes que este teu post fez-me fazer um cartaz a contradizer esta campanha e que vou enviar a UAL.

Abraço fraterno

Anónimo disse...

Porque fiquei sem saber se o meu último comentário "entrou", aí vai uma repetição.

1. Caro João: a religião como ópio do povo? Não creio que seja essa a mensagem, ainda que nas entrelinhas...!

2. Ah..., e também não se pode ser intelectual em Portugal se não se disser bem dos livros do Saramago (hehehe também!).

3. Embora não tenha a ver directamente com este "post" recomendo uma visita ao blog plataformaabstencionista.blogspot.com, onde um grupo de pessoas oriundas da esquerda "libertária" expõe um manifesto pela abstenção eleitoral e onde a dado passo se pode ler que "reduzir a participação eleitoral aos que alimentam e se alimentam do sistema, transformá-los em criadores, actores e espectadores da sua própria encenação poderá ser uma interessante tarefa revolucionária" (notícia do jornal "Público", edição de 10/01/09).

a) RB, anónimo por obrigação

Anónimo disse...

A religião como justificação da situação em Gaza é uma resposta muito simples...

moreia

Unknown disse...

RB, acho que já disse isto aqui, aquando das autárquicas de Cabo Verde, mas sou contra o abstencionismo. O verdadeiro voto de protesto é o voto em branco. A abstenção é um lavar de mãos ao estilo de Pilatos e nunca o defendi. Ou isso ou a revolução!

Ariane, também aqui estou próximo das tuas posições.


Virgilio, eu não vejo a existência de Deus nas minhas filhas. Eu vejo a minha "existência" além da minha morte, nas minhas filhas, o que é muito diferente.

E quando dizes que "o que Deus ou a ideia de Deus nos invoca é a amar aqui e agora e a ver o plano espiritual, exotérico ou metafísico da existência", não é o que a História tem demonstrado à exaustão, já que as mais fraticidas guerras foram ou estão sendo cometidas em nome da Sua existência ou das diferentes perspectivas que se possa ter da Sua natureza. Além de que esta campanha, talvez de forma irónica, deixa em aberto tudo, ao utilizar o termo "provavelmente"...

Moreia, a religião não é uma "justificação", tem sido um, ou melhor O pretexto, para esse e muitos outros conflitos. Diz-me, o que está na base de todos estes conflitos? A luta pelo petróleo?

Joshua disse...

D´us existe! Este natal pedi-Lhe para não receber mais livros do Rodrigues dos Santos e do Paulo Coelho e recebi o "Change we can believe in" do Obama com uma t-shirt da campanha...Ou será que isto foi obra do Pai Natal? :0)

Anónimo disse...

Gosto desta maxima de Ghandy: Deus não tem religião.

E a de Nietzshe: Deus Moreu...

Um abraço. Tchale Figueir

Unknown disse...

Joshua, foi o pai natal, de certeza!

Tchalé, este tenma é mesmo à tua medida! Abraço.

Anónimo disse...

Acho a campanha publicitária simplesmente genial. Não sei, mas de algum modo provavelmente deturpado acho que as religiões estão para os deuses como os partidos políticos estão para as ideologias. E diz-se por aí que as ideologias já morreram... Uma coisa é um homem acreditar na existência de um ou mais deuses ou no socialismo ou na social-democracia. Outra coisa, totalmente diferente, são as instituições castradoras da individualidade – igrejas e partidos políticos – que, mais do que tudo, pretendem rebanhos de gente sem vontade própria de dízima ou voto na mão... enfim! É-me indiferente que haja gente que considere a IVG contra-natura, a homossexualidade uma doença, a abstenção uma fuga para a frente, etc. Chateia-me é que partilhem isso com o mundo! Todos temos contradições em nós. Não sei até que ponto o grau de irracionalidade de uma religião ou de um partido político difere do fanatismo futebolístico. O futebol, pelo menos, tem do seu lado o facto de não gerar guerras e mortes. Gosto particularmente das ideias lançadas pelos Marillion em «When I meet God», dois excertos: «Why do the Gods/Sit back and watch/So many lost» e «When I meet God/I'm going to ask her/What makes her cry/What makes her laugh».

Anónimo disse...

João, se devia responder aqui seria uma tese. A história desta parte do mundo merece muito mais que algums paragrafos e artigos com reflexões "à la va vite dit/vite consommé" de certas midias que passam o tempo a alimentar os extremistas em vez de informar.

moreia

Anónimo disse...

Tiago, Ariane, e JB: Nem mais!

Catarina Cardoso disse...

É pá João, eu já concordava com a ideia de que deus provavalemente não existe, não consigo é deixar de me preocupar para gozar a vida integralmente- tb uma vida sem preocupações é uma grande chatice!!

Unknown disse...

Tiago, é isso mesmo. Explicaste bem melhor do que eu!

Moreia, pelo menos vamos conversando sobre a vida enquanto ela passa por nós.

Catarina, entende a mensagem que está por trás...

Catarina Cardoso disse...

Bem, eu acho que entendi a ideia...mas explica lá o que tu achas que eu não entendi!

um abç

Unknown disse...

Fácil: penso que o "deixa de te preocupar" da campanha é referente às questiúnculas originadas das várias religiões. Poderia ser, "preocupa-te, mas que valha a pena!"... Abraço e bom feriado!

argumentonio disse...

ou bem que a questão tem solução e então não há razão para preocupação... ou bem que é de todo insolúvel e não há razão para preocupação!!!
;->>>

PS - acho que me esqueci, do que muito me penitencio, de quem seria o grego que disse isto há mais de 2.000 anos, ainda não existiam algumas das religiões que poderão hoje ser fonte de preocupação... ou será mais um velho provérbio chinês?

Anónimo disse...

Só acredita em Deus, quem não tem mesmo nada na cabeça.

Virgilio Brandao disse...

João…
Conheço um fulano chamado Tzartas Azani e que pensa como tu e concordo: a eternidade – ponto de vista puramente existencial – está na nossa descendência. Concordo: quem não a deixa, morre. Para sempre!

Mas esta é somente uma dimensão da questão – concordemos ou não. Facto.

Tchalé Figueira...
Olhe que não, olhe que não…

Ghandi, ao dizer o que disse quis, tão somente, alertar o homem para a dimensão universal da irmandade do espécie humana. Não foi, de todo, um ataque à religião pois era, ele mesmo, um homem religioso…

E sobre Nietzsche… bem, muita gente leu o homem e não o entende. Outros, citam-no sem o ler – esteve na moda há alguns anos, assim como o Fernado Pessoa: quem os não lia não era tido como «culto». Toda a gente «leu» obras de Nietzsche nas prateleiras das livrarias ou nas estantes da casa...

Mas quem leu mesmo, por exemplo, «Assim Falava Zaratrustra» e «Para Além do Bem e do Mal» (obras de Nietzsche) sabe que o Nihilismo não era, nem é, de todo, um ataque exclusivo à Religião mas a todos os valores dominantes do seu tempo. Já agora… do nosso.

Na verdade, se Nietzsche for bem lido e entendido o leitor perceberá que, ao nível do discurso, o mesmo tem um pressuposto do seu discurso… Pois é… isso mesmo.

Note-se, ainda, que a própria ideia da «morte de Deus» - como valor - pressupõe a sua pré-existência e o entendimento «do quê» e »porquê» esse valor «morreu». Mas, enfim… o que acontece, também, com a obra de Bertrand Russell: «Porque Não ou Cristão» (uma longa e mui interessante entrevista em forma de livro).

Ah, já agora, se puder leia a poesia da juventude de Nietzsche (que está na origem de «Assim Falava Zaratrustra») e talvez se surpreenda… O mesmo digo do mais conhecido ateu da história – Karl Marx. A peça teatral deste, o «Oulanem» (também do tempo de juventude do autor do «Kapital»), é a prova bastante da sua crença em Deus.

Mas o que dizer de um defensor do proletariado que, defendendo a destruição da burguesia e uma sociedade sem classes, se casa com uma aristocrata e enriquece à sua custa?

É como bem diz o Moreira: a resposta à esta questão daria uma tese, na verdade várias. Mas para quem tem vontade de saber mais esta matéria, aconselho a leitura do «Monologion» e do «Proslogion» de Santo Anselmo – onde este desenvolve o chamado «argumento ontológico» sobre a existência de Deus e que, em parte, está na base do pensamento de Emmanuel Kant.

«There are more things bettwen heavean and earth...», invocando o Horácio do magno Shakes.

Abraço fraterno

Virgilio Brandao disse...

Argumentonio,

Essa frase: «Se podes fazer alguma coisa, porque te preocupas? Se não podes fazer nada, porque te preocupas?», é uma frase de Epicteto, um dos fundadores da escola estóica, e é citada pelo sábio Imperador romano Marcus Aurelius Antoninus no seu livro «Meditações».

Marco Aurélio era, ele mesmo, confesso discípulo do pensamento de Epictecto e, também ele, uma referência da escola estóica; era grego, sim.

Abraço fraterno

Unknown disse...

Virgilio, concordando ou não, a tua é uma excelente colaboração. E como eu disse, este é daqueles assuntos que nunca terminam, não é? Abraço Fraterno e viva a Liberdade (de escolher ter ou não ter um qualquer Deus, por exemplo).

Anónimo disse...

Virgilio, como dizeste eram obras de juventude, idade que raramente foge das herdanças familiais e sociais, Nietzsche nasceu num lar lutheriano. O pensar constroi-se até a morte e da juventude até idade adulta, um ser muito se questiona e transforma. Nietzsche combateu todas as religioes!!

Anónimo disse...

Bem senhor Virgilio Brandão.
Com a sua erudição de fazer inveja, e o bom pupilo que sou vou ler os livros que recomendou e reler os que acha que muitos leram nas estantes das livrarias e bibliotecas. Sei muito bem qual foi a intenção de Ghandy ao dizer a tal frase e tambem a do Frederich... Quando um homem perde o seu humor com estas coisas terrestes, creio que ha algo que não bate certo...
Quando perguntavam ao mestre budista ZEN Suzuky se ele acreditava em deus ele respondia: DEUS É TÃO GRANDE QUE NÃO CABE NA MINHA PEQUENA CABEÇA.
Bem senhor Brandão, já tem pano para uma longa resposta aqui no cafe margoso que espero nunca tornar-se AMARGO.
Tchale Figueira

Anónimo disse...

Francamente, que conversa mais jacobina vai neste blog. É muito pouco original, um discurso já muito datado. Até a memória da Inquisição, sempre reavivada quando interessa, já não é boa e a contabilidade não ajuda, seriam milhares os mortos dos autos-de-fé, ou dezenas de milhar, ou podem mesmo chegar às centenas de milhar de vítimas?
Mas nunca na ordem dos milhões, além disso a população Europeia não seria mais do que duas ou três dúzias de milhões. Bem podem juntar as vítimas das cruzadas católicas e das árabes, que a contabilidade ainda assim continua medíocre.

Já do outro lado do balanço, dos homens sem Deus mas cheios de ideologia, quantos contam como vitimas mortais? Só no século XX há o Gulag soviético, as purgas e as depurações, onde Estaline totaliza duas dezenas de milhões de mortes, Hitler com meia dúzia de milhões de mortos judeus, Pol Pot mais modesto têm na sua conta dois milhões de mortos, mas já Mao Tse-Tung consegue um número recorde de mais de sete dezenas de milhões de mortes. Onde entrava Deus na cruzada religiosa de Estaline, Hitler, Pol Pot e Mao, a não ser do lado das vítimas?

Andam os homens sempre em guerra e a culpa é de Deus?
Se necessário fosse, o século XX veio tornar este vosso discurso uma falácia pífia.

Unknown disse...

Anónimo, que fixe!

O teu massacre é mais pequenino do que o do outro? Que orgulho! As religiões só mataram alguns milhões e o comunismo matou muito mais? Parabéns! É essa a justificação que tens para os crimes da Igreja e do fundamentalismo islâmico? E jacobinos somos nós? Está bem!

JonDays disse...

JB, o nível da conversa, hoje, está mto por baixo aqui. O argumento das guerras religiosas foi chão que já deu uvas há muito, muito tempo atrás... ninguém mata por um deus!! Isso é um disparate completo, e se acreditas mesmo nisso, então estás pior do que eles ( os que supostamente matam em nome de deus ). Se há quem mate por um deus deve ser internado, pois padece de um atraso mental grave, digo eu, não sei se concordas. Mata-se por uma questão de poder, eu quero isto, tu também queres, logo um de nós vai ter de perder. Eu quero petróleo, tu tb queres, eu quero terra, aquela terra, tu tb a queres... enfim, não se trata de deus ou de algum desígnio superior, é apenas estupidez! A humanidade já deu provas mais que suficientes da sua estupidez. Só lamento é fazer parte dela...hehehe

Unknown disse...

João, achas isso mesmo? Baixa? É a conversa das próximas gerações, meu caro. A mulher que entra com um cinto bomba dentro de um autocarro cheio de civis e se faz explodir, fá-lo em nome do quê, podes-me dizer?

Agora, NESTE momento, as guerras estão relacionadas com um aspecto mais amplo e que inclui a religião mas vai para além desta: são guerras de civilizações.

Há outros casos, claro, como o do Iraque, em que o motivo da guerra foi claramente económico, mas isso é outra conversa.

Agora, vendo o nível médio das intervenções aqui, devo dizer que não concordo nada quando dizes que está baixo. Antes pelo contrário. Está muito interessante.

Virgilio Brandao disse...

Senhor Tchalé Figueira...

Não sei onde está ou deveria estar o humor nesta questão… Mas enfim…
Só o perde ou perderá quem o tem.

Eu nunca vi as coisa com leveza – defeito meu, certamente. Não se sinta ofendido com tão pouco e por tão pouco, nem me tenha em tão grande conta pois ainda estou muito longe do Dharma (aqui no sentido de verdade).

O amargo, Senhor Tchalé Figueira, não está nem se faz – encontra-se.

Mas já que falou no budismo Zen e no de cujus e emérito professor Doutor Daistz Teitaro Suzuki, discípulo de Soyen Shaku, deixa-me dizer-lhe o seguinte.

Daistz Suzuki (mestre zen – Zen não é nome do homem…) ao escrever os «Ensaios sobre o Budismo Zen», como sabe, Senhor Tchalé Figueira, almejou, ao falar do seu Mestre no prefácio da obra em causa (na primeira série dos ensaios), «que o seu espírito não desperte nem uma vez se sua profunda meditação para criticar o livro que agora está perante o leitor». Penso que me entende(rá).

Mas, não fugindo da questão em discussão, cito Daistz Teitaro Suzuki : «Este é o tempo em que se reclamará eleger-se entre o «Não Eterno» e o «Sim Eterno». Esta eleição é a que Confúcio queria dizer com "estudo"; não se trata de estudar os clássicos mas sim de embrenhar-se profundamente nos mistérios da vida.» (Suzuki, Daistz Teitaro, «Ensaios sobre o Budismo Zen», Buenos Aires, 1995, p.7).

As coisas, Senhor Tchalé Figueira, são mais do aparentam. Como dizia –citando arcano mestre zen, «porque isso conheço sempre de maneira muito inteligível, mas expressá-lo em palavras… isso é impossível» (Suzuki, Daistz, idem, p.91). É o mesmo juízo que encontra em Santo Agostinho a propósito do tempo… Nihil novi sob soli.

Ah!, não se preocupe, não… não vou fazer nenhum longo comentário sobre o budismo zen. É que, como diz, pode ser amargo.

Mas digo-lhe, an passant, que um mantra não faz mal a ninguém... Cante um e quem sabe se, por obra e graça do Grande Arquitecto, não tropece no “Om”.

Que a luz ilumine o seu caminho, saltando ou não o Dharma.

Unknown disse...

Que a luz ilumine o NOSSO caminho... se a Electra deixar!

JonDays disse...

Eu continuo a pensar, e espero não estar sozinho neste pensamento, que se uma mulher entra num autocarro e se faz explodir a ela, e a não sei quantos passageiros que lá estão dentro, não faz isso por uma questão de fé. Acho mesmo que o seu acto está nos antípodas do que é ter fé, e já não digo fé num deus qualquer, mas sim fé na humanidade, acreditar que somos capazes de fazer melhor, que podemos viver como irmãos. É no mínimo uma mulher perturbada, com algum tipo de problema extremo, que a levou a esse acto insano. O problema não é com deus, o problema é mesmo com o Homem. Acho que está na hora de chamar os bois pelos nomes...
Desculpa lá João, mas essa ideia de que se fosse possível erradicar a ideia de deus do nosso mundo, este, por artes mágicas, se tornaria num sítio melhor, sem homens-bomba nem guerras santas, é um pouco absurda. Pelo menos tenho fé nisto que te digo... hehehe

Unknown disse...

Estás enganado, João. Vai investigar. São pessoas perfeitamente "normais" e fazem essas barbaridades convencidas de que são actos de fé que as farão ganhar o paraíso.

Quanto à parte final do teu comentário. A questão não é essa. Estás a deturpar. Continuaria a haver guerras, torturas e tudo o mais. Aliás, houve aqui um Anónimo que confundiu tudo e até trouxe os crimes do Comunismo à baila, como se uma justificasse outra. Mas que as Religiões são usadas como motivação principal de muitos conflitos, não tenho dúvidas nenhumas. Nenhumas.

Anónimo disse...

Ter pulso e argumentos... Os Cabo-verdianos retomam a PALAVRA, obrigados as novas tecnologias!!

Unknown disse...

Isso era um cumprimento... espero! :)

Anónimo disse...

Obrigados aos bloggers sobretudo!!