Declaração Cafeana

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Umas das coisas que mais detesto nesta época é presenciar à quantidade quase apocalíptica de brinquedos de péssima qualidade e gosto mais do que duvidoso que invade as lojas dos chineses (e não só) durante estes dias. Acompanhado pela respectiva febre consumidora que toma conta da população do Mindelo, facilmente comprovada pelas filas nas caixas 24 e pela impaciência da grande maioria, como se oferecer prendas não devesse ser um prazer que se faz por amor e amizade, e não como uma desagradável obrigação que se cumpre porque tem que ser, já que foi esta a data e não qualquer outra, a definida como aquela em que todos devem dar prendas a todos, correndo o perigo de ir parar ao fogo do Inferno, se não cumprir esta santa obrigação nesta santa data.

Entretanto, hoje aparecem-me em casa duas crianças familiares, com duas pistolas de brinquedo, mas tão bem feitas que ninguém diria serem falsas. Duas pistolas que facilmente poderiam ser utilizadas na rua para aplicar uns caçus bodys aos mais incautos. Mas a parecença não é a única característica destes objectos: tem balas, carregadores, forma de serem carregadas, são duros, resistentes e disparam a alta velocidade, umas bolinhas de plástico duras, capazes de cegar, com a maior facilidade, olho que se coloque no seu caminho. Ah e a maior qualidade de todas: custa a módica quantia de 150 escudos em qualquer loja dos chineses.

Sinceramente, não gosto de me armar em puritano, mas estes brinquedos são uma lástima e um perigo real, a curto e médio prazo. E alerta-nos para uma preocupante realidade: não há qualquer controlo em Cabo Verde sobre os perigos destes produtos, nem quando entram no país e muito menos quando são colocados a preços de saldo nas montras coloridas das lojas citadinas, para serem adquiridos por qualquer criança que queira andar por aí aos tiros imitando as séries e filmes da televisão. E ninguém se parece importar com isso. Nem Governo, nem Câmaras, nem Polícias, nem Adeco, muito menos os cidadãos.

Até ao dia em que o filho de alguém importante ficar com um olho inutilizado por uma porcaria destas. Aí talvez acordem para esta triste realidade natalícia.



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6 comentários:

Fonseca Soares disse...

Parecendo que não, tem-se falado nisso. Desde consumidores até responsáveis, passando pelos chineses. Que não há! Que há! Que foi retirado! Que não compro desses! A operação 'brinquedo seguro' desencadeada pela IGAE estará por aí... Enfim! Inclusivé essa 'tua pistola' foi alvo de reportagem na TV...

Anónimo disse...

Podes crer João, esse tipo de brinquedo só instiga a violência nas crianças, sem contar com as trágicas consequências que as vezes têm. Não sei se é minha impressão, mas em CV nao se tem muito o hábito que oferecer brinquedos ou jogos didáticos as crianças, e isto é muito mau.

Arsénio Gomes disse...

A PN andava a vasculhar as lojas chinesas a procura desses brinquedos perigosos. Penso que devem saber como distingui-los.
É triste dizer isso, mas já ouvimos notícias de que em várias partes do mundo, algumas crianças já ficaram cegas por brincarem com essas "armas".
Temos a mania de deixar as coisas andarem e só depois quando acontecer algo, começamos a tomar medidas.
Espero que mudemos esse estado de coisas.

Unknown disse...

Bem, parece que afinal algo está a ser feito. Mas isso não invalida o facto de ter acontecido o que relatei: por 150 paus vieram parar na minha casa duas pistolas capazes de cegar ou de magoar a sério adultos ou crianças...

Álvaro Ludgero Andrade disse...

Meu querido João, é facto que o Natal, como é comemorado nas ruas, há muito perdeu a sua essência. Sobre o teu post, tive algumas pegas das boas com amigos há 16,17 anos porque queriam oferecer pistolas e outras apetrechos do tipo ao meu filho. E nesse tempo, os chineses ainda estavam na China. É triste ver como a paz e a alegria são facilmente trocados por valores de guerra, por míseros 150 escudos. Feliz ano e até qualquer dia.

Unknown disse...

Para ti também, Ludgero. Aquele abraço!