Ao Café Margoso

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Texto: Zé Cunha / Alex, Poeta

Diz-se que o “criminoso” não deve regressar ao local do crime. Cá estou para testar este improvável vaticínio. Faço-o porque Café Margoso (CM) foi também um lugar ‘meu’, inaugural na minha blogosferina estreia blogosferiana, esta casa, dito café, que adoptei e onde fui adoptado, que fiz meu sem licença e sem censura, onde muito recebi no pouco que dava (sem falsa modéstia), lugar onde a partilha, e a palavra partilhada, foram semente que frutificaram, onde o diálogo traz nomes, rostos, e imagens, sob a forma de selos de afecto que se nos colam à memória, e onde o nó das discussões e o calor dos debates deram à costa amigos que expandiram esta precária geografia da ingratidão, matéria de que é feita estes nossos tristes cinzentos dias de hoje.

Café, dizia, margoso, por supuesto. Simples ou pingado, com ou se açúcar (comme il faut), em chávena fria ou escaldada, bica, cimbalino ou simplesmente café, carioca ou italiana, cheio ou curto, com ou sem cafeína (CM é, decididamente, COM CAFEÍNA). Assim foi, (tem sido?) o Margoso. Margós, mar-grossu, mar(di)gozu. De tudo um pouco, um pouco de tudo, quem sabe este o segredo do seu sucesso, mas também o seu lastro. Desafio ganho a vários títulos.

Incondicional, que sou, da(s) nossa(s) Blogosfera(s), espaço onde as muitas virtudes compensam de longe os muitos defeitos. Hoje, pede-se talvez menos, mas melhor. Que é como quem diz, mais com menos, ou, pelo menos, com o mesmo. A receita do CM funciona(ou). Imaginação precisa-se para renovar. Tanto mais que o café, e as delícias deletérias da molécula cafeínica, diz-se, não devia deixar dormir. Não adormecer entenda-se, à sombra do sucesso (cuidado João!). Nestas coisas (coisas da criativa+idade e das ideias), ao contrário do futebol (e o João, como bom Portista que é, sabe disso pelas nossas sucessivas sangrias de fim de época), em equipa que ganha … MEXE-SE! Saudar o João, e o Margoso, sem lembrar essa invenção com selo de qualidade que é a marca Caboverdiana do Ano, CABO VERDE BLOG, seria injusto. Só por ela já teria valido a pena o Café.

Talvez seja oportuno falar do meu afastamento definitivamente provisório, ou provisoriamente definitivo da blogosfera. Afastei-me por uma única razão maior. Estava a ficar “apanhado pela coisa”. Os blogues são, acreditem, viciantes. Assim, decidi ir dar uma volta, arejar, recuperar as minhas horas de sono, reivindicar o meu direito à preguiça. A razão menor, e a mais funesta, é a velocidade e a rapidez com que tudo acontece (deve ser da idade), o corre-corre, o atropelo neurótico de ir a todas e de se falar de quase tudo, uma espécie de hiperactividade autista (que nos cria a ilusão de debate mas de facto não passa disso – salvo raras excepções), que desagua num hiperconsumo de Post’s que nos submerge, atropela, e não nos deixa tempo nem para reagir quanto mais para digerir. Convenhamos, é esta a filosofia da maioria dos Blogues, assente na ideia de descartável! Talvez por isso mesmo Poucos contrariem a regra do “fast-food”, do “prait-a-porter”. Chamei-lhe efeito “Buble-Gum”. Dura enquanto durara o “açúcar” da primeira página. O resto é mastigação. O que não está à vista morreu. Pior, nunca existiu, mesmo que esteja a um clique de distância algures num link aí mesmo ao lado. Poucos, dizia, contrariam esta regra, e, estranhamente (ou não), são esses poucos blogues os menos comentados. Cá está um bom tema, e, quem sabe, uma boa oportunidade para se falar/debater o papel dos blogues. Para quando um encontro dos nossos bloguer’s? Quem tem medo da Blogosfera?

Em tempo próprio, muito antes destas coisas de datas especiais (lá estou eu a embirrar com as datas, João) carregadas de confetties e chantilly, disse o que pensava do Margosos e do João (que então não conhecia pessoalmente). Não vou repetir os elogios, porque como me ensinou o grande (o enorme) poeta Luso-Angolano Ruy Duarte Carvalho, “O adjectivo corrompe”. Perguntou-me o João, com outros modos, outros meios, e outra fala, “virás por uma palavra?” (verso de Carlos Alberto Machado, in Talismã). Sim irei, respondi. Chego tarde? 27 foi (só) ontem. Não! Nunca tarda quem tem de chegar. Por isso, cá estou.

Uma última palavra. Por acaso a primeira de um belíssimo livro de um dos meus mestres, Eduardo Prado Coelho (in, O cálculo das sombras):

“A primeira palavra é: obrigado. É a mais fácil, é a mais justa, é a mais espontânea.”. Acrescentarei: a mais sincera!

Obrigado João, e um grande abraço.


Série Café Margoso Primeiro Aniversário




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