Romance Fragmentado 11

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Febre de Sábado à noite. Todo o cerimonial tem que ser bem preparado, não é algo que se possa desprezar ou minimizar, é como ir à missa aos Domingos. Sim, no fundo, isto é uma espécie de missa, tem os preliminares encontros à porta da igreja, o reconhecimento do terreno, as piscadelas inocentes e as trocas de olhares aparentemente ocasionais, vidas futuras que se desenham por entre sombras e arrepios, a eucaristia propriamente dita, música, bolachas de água e sal com vinho acompanhar, todo um colectivo celebrando o sofrimento de um terceiro que deu a vida pelos pecadores do universo. Febre de Sábado à noite. Escolher bem a roupa, a primeira fase é fundamental para o sucesso do resto da noite. A noite dos vampiros, dos chupadores de sangue, dinheiro e esperma. A noite dos fluídos. Dos cheiros. Sim, não abuses do perfume, na medida certa, as mulheres hoje não apreciam homens a cheirar a cavalo, mas também não é preciso tomar banho em colónias baratas, o mais certo é ficarmos tipo loja de chinês ambulante, fazendo grogue na Praça Nova. Febre de Sábado à noite. Sim, tudo na medida certa. Tecidos, líquidos, percings e tatuagens. Finalmente, colocar a render as horas de sofrimento passadas nos salões de beleza, autênticas câmaras de tortura da modernidade. Preliminares encontros, reconhecimento de terreno, troca de olhares mais ou menos inocentes, vidas futuras que se adivinham por entre cheiro de marijuana e passos perdidos no cimento, seduções, repelentes vários, a dança propriamente dita, todo um colectivo celebrando a arte do esfreganço ou da passada conforme a ocasião e a oportunidade, todo um colectivo celebrando o sofrimento daqueles que não podem querer. No Sábado à noite na cidade do Mindelo celebra-se, sim, é isso mesmo, a eucaristia dos vampiros. O sangue, também aqui, presente no momento mais alto da cerimónia.



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2 comentários:

Unknown disse...

Tantos anos passados, tirando os penduricalhos e a marijuana a receita continua a ser a mesma das minhas febres de sábados à noite, sextas à noite, domingoa á noite...

Anónimo disse...

O sociologo que resolver estudar esta...?? ´chamaremos de temática' terá resultados muito interessantes.

Uma delas estará ligado ao facto
de todas as geraçoes que vem antes da que se apresenta hj reclamarem como dizia a musica que "un vez soncente era sabe".

Será mesmo assim? ou será sinal de que cada geração tem a sua epoca de "ir a praça" ou a sua epoca em que a "febre de sabado" é mais forte...penso que sim...mas pode ser que nao tambem. mas penso que porque as pessoas mudam, as nossas vidas mudam, crescemos, amadurecemos e muita coisa deixa de fazer sentido ou deixa de ter a importancia que antes lhe atribuiamos.

Mas existem hábitos e costumes que vao passando para as outras geraçoes e cada uma a vive da sua forma. por ex. qdo uma pessoa da casa dos trinta sai hj em dia diz quase sempre "morada ca ta k'nada" mas para ele pq para a geraçao mais nova "lugar ti ta bomba" como dizem.

Sao Vicente é uma ilha bastante dinâmica em todos os aspectos e uma delas é o facto de muitas pessoas por causa do desemprego terem que procurar outros sitios para viverem embora na maioria das vezes nao seja essa a sua vontade. Pq mesmo nao sentindo ou nao vivenciando a "febre de sabado" a noite da mesma forma que antes existe algo nos "saovicentinos", algo vivido sobretudo na adolescencia com o seu pico nos sabados a noite que os liga de qq forma a sua ilha (isto e outras coisas maravilhosas que a nossa ilha oferece tambem claro).
por exemplo o show do hernany ontem a noite como disse um amigo meu "continuo emocionado até agora"...este gajo ainda vai dar MUITO que falar.parabens hernany!
bjoss Titass