Cafeína

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A RAINHA — Despe-te, bom Hamlet, desse luto, e deita olhar amigo à Dinamarca. Não prossigas assim, de olhos caídos, a procurar teu nobre pai na poeira. É lei comum, tu o sabes; quantos vivem, passam da natureza para a vida da eternidade.

HAMLET — É lei comum, realmente, minha senhora.

A RAINHA — Então, se é assim com todos, que te parece estranho nesse caso?

HAMLET — Não parece, senhora; é. Não conheço “pareces”, boa mãe. Nem esta capa sombria, nem as vestes costumeiras de solene cor negra, os tempestuosos suspiros arrancados do imo peito, as torrentes fecundas que me descem dos olhos, o semblante acabrunhado, nem todas as demais modalidades da mágoa poderão nunca, em verdade, definir-me. Parecem, tão-somente, pois são gestos de fácil fingimento. Mas há algo dentro em mim que não parece. Tudo isso é roupa e enfeite do infortúnio.

Shakespeare in "Hamlet" (Acto I, Cena II)


Ilustração de Derya Öztürk




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