Um Café com Capitu

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Esperei 43 dias por esta encomenda. Desde o dia em que foi comprada por uma amiga, em S. Paulo e colocada no correio para chegar aqui a Cabo Verde, ilha de S. Vicente, passaram-se 43 longos dias. A esperança inicial, feitas as contas e contabilizando as devidas distâncias era que chegasse pelo Natal e assim era como se estivesse dando uma prenda a mim mesmo, sendo eu esse outro que fez com que o filme fosse comprado e colocado no correio da grande cidade brasileira para que pudesse chegar a tempo até mim, esse outro eu que está por cá. Mas não aconteceu. Um mês e mais alguns dias não foram suficientes porque os correios tem caminhos que a razão desconhece e há que se lhes perdoar: é como o amor, que tantas vezes a mesma razão desconhece e tudo isto tem uma certa poesia. Os próprios correios, nesta era global e digital, mantêm uma das poucas actividades que ainda tem uma certa poesia hoje em dia. Enfim, continuemos.

Chegou a encomenda tempo de me fazer passar de um ano para o outro com o supremo prazer de me deliciar com uma obra-prima de várias artes em simultâneo: uma lição de literatura de Machado de Assis; uma portentosa direcção de Luiz Fernando Carvalho, que cria um teatro mágico que transforma um realismo aparente num comboio pleno de fantasmas, magia, sombras e rodopios; soluções geniais para cenas inesperadas; uma plástica visual absolutamente arrebatadora; e a já habitual e costumeira capacidade interpretativa de actores e actrizes brasileiros, que continuam a conseguir surpreender, mesmo quando estamos convencidos que já os vimos fazer de tudo.

Tudo isto filmado dentro de um palácio abandonado no centro do Rio de Janeiro, numa história que nos transporta como que para dentro de um grande teatro, uma ópera bufa, como dizia da vida o próprio autor. Esta mini-série tem momentos, muitos, inesquecíveis para a vista. A banda sonora, que chegou junto do DVD, é outro portento, que mistura géneros musicais e épocas de uma forma nada convencional e contudo tudo aquilo funciona como um relógio suiço velho e caduco, e por isso mesmo lindo e carregado de histórias, tempos passados, memórias. A mini-série da Globo, Capitu, adaptação do romance Dom Casmurro de Machado de Assis, é uma obra-prima que, juntamente com os extras, deveria ser mostrado, apreciado e discutido, nos cursos de arte, actuais e nos que se vierem a formar. Indispensável. Fantástica forma de entrar no ano novo.



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2 comentários:

ManuMoreno disse...

Excelente palavriado seu parceiro(APLAUSO, i + APLAUSO).

Feliz Ano 2010!

ManuMoreno
Kel Abxom Di Kuraxom!!!

Érico Cardoso disse...

Muito boa a mini-série.