Declaração Cafeana

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Um amigo mandou-me uma correspondência. Dentro do envelope, uma folha em branco dobrada à maneira comercial e dentro dela um pequeno recorte de um diário português que diz assim: "Porto perpetua Isabel A. Costa. Homenagem. A Câmara do Porto aprovou ontem, por unanimidade, a atribuição do nome da ex-directora artística do Teatro Rivoli e programadora do Porto 2001 Capital Cultural, Isabel Alves Costa, a uma rua da cidade invicta. Falecida em Monção no último dia 15 de Agosto, Isabel Alves Costa era directora do Festival Internacional de Marionetas do Porto e colaborava ainda com o projecto Comédias do Minho."

Percebi então porquê que sinto este 2009 como um ano estranho. Ia dizer maldito, mas maldito não. Aconteceram coisas boas. Muito boas. Acordei todos os dias disposto para a luta diária contra a minha própria tendência de me acomodar às coisas conquistadas. Sonhei outras tantas noites e madrugadas, o que é fantástico, porque se aproveita melhor o tempo, vivendo vidas noutras dimensões. Convivi longas horas com as minhas duas filhas, Laura e Inês, dois faróis da minha existência. Conheci novas pessoas. Fortaleci amizades que já por cá andavam. Apaixonei-me, muito e várias vezes. Por projectos. Por gente que não conhecia antes. Por lugares. Por coisas (livros, discos, peças). Apaixonei-me pelo futuro, o que é um bom prenúncio.

Então é assim: a minha mãe vai ser nome de rua, no Porto, bela e generosa cidade geminada com o Mindelo cabo-verdiano do Porto Grande e do Monte Cara. Parece que faleceu e se transformou em cinza, mas é como muitos escreveram aqui na altura das dores e por isso me consolo sem a mágoa nem o peso excessivo da ausência inevitável: os grandes não morrem; permanecem vivos dentro de nós. Seja como for, o mundo ficou mais pequeno e um pouco mais triste. E cumpri aquelas que serão as duas etapas mais marcantes na vida de um ser humano: o nascimento de um filho; a morte de uma mãe. Agora, só me resta viver. Já não é pouco.




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14 comentários:

micaelabarbosa disse...

palavras tao simples, mas tao cheias...beijinho grande...e que os sonhos se perpetuem...

JonDays disse...

" Só me resta viver. Já não é pouco." É muito! Gosto sempre de te ler!

um abraço

Pedro Branco disse...

Tinha de ser, João.

Unknown disse...

E o que tem que ser... tem muita força!

Abraço, irmão.

Jorge Silva disse...

"Mãe...ô que nome sab", já dizia Morgadim! Se já estava perpetuado no teu coração e alma, agora e, merecidamente, fica perpetuado aos olhos da geração presente e futura!
Abraços,
JSilva

Unknown disse...

Por vezes, a justiça dos homens não esquece os justos...

Anónimo disse...

No dia que escreveres um livro, que de certeza será um best-seller, serei um dos primeiros a comprá-lo.

Muito bonitas palavras, que servem de alento a todos que tenham perdido algum ente querido.´E mesmo assim,às vezes a saudade aperta, sufoca, mas depois vêm as boas recordações, o reconhecimento, que são bálsamos para a dor. Perder uma mãe é dor que não passa, mas resta o conforto das boas recordações e dos valores herdados.

Abraço

Pimintinha

Lily disse...

As palavras, quando são verdadeiras e sentidas, deixam-me arrepiada.

Telmo Luz disse...

já soube de
vários blogs q se transformaram em livros(e de um q se transformarou em filmes cm "Julie&Julia",cm mais uma magnifica performance da Meryl Streep),quem sabe ainda alguem n te convida para transformar esse teu blog num livro?
eu cm certeza compraria,
é um prazer tomar este café todos os dias na net.
feliz ano 2010 e q continues sp cm esta forma peculiar de rever e reler a nossa Cabo Verde.

Dénis Rodrigues disse...

Meu caro JB,

Palavras Bonitas !! Podes crer que da gosto em ler as tuas escritas.

Saudações Mindelenses.

Catarina disse...

Beijinho grande, grande :-)

Anónimo disse...

bonitas palavras...titass

Amílcar Tavares disse...

Tive a oportunidade de ler a sua (extensa) biografia e só posso atestar: merecedor!

Anónimo disse...

se fosse eu a mandar ela teria direito a pôr o seu nome numa avenida da cidade Invicta.

um abraço grande amigo 'farias', em breve te escrevo x miguel