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Quando li na primeira página da Nação (a propósito, um jornal que melhora a cada edição), "hoje é dia mundial das mãos limpas", pensei que se celebrava um dia internacional contra a corrupção ou algo que o valha e que iríamos ser brindados com mais um índice ou estudo de alguma organização internacional sobre os lugares que Cabo Verde teria descido ou subido no ranking elaborado sobre este assunto, de grande interesse para todos. Até porque quando ouvimos falar em "operação mãos limpas" já sabemos que, inevitavelmente, lá colocaram um ou dois mafiosos na cadeia, quando mais não seja para disfarçar e mostrar que nem só o coitado é que vê o Sol nascer aos quadradinhos, como afirmou aqui há semanas o Bastonário da Ordem dos Advogados de Cabo Verde.

Confesso a minha desilusão quando afinal vim a saber que o dia 15 de Outubro é mesmo o Dia Mundial da Lavagem das Mãos (assim mesmo, não estou a ironizar). Lembram-se de cada uma! Claro que é importante lavarmos as mãos - evitando fazer como Pilatos - mas que raio, ainda por cima com esta paranóia da gripe dos txukus, que nos obriga a lavar as mãos quarenta vezes ao dia e evitar qualquer tipo de contacto epidérmico com o nosso semelhante. Confesso que eu, que adoro particularmente o contacto mano a mano, achei esta, como lhe chamar, celebração, um perfeito disparate.

Até porque toda a higiene é importante, não são apenas e só as mãos. Se é assim, há que lutar contra este tipo de discriminação e fazer umas petições para celebrar, por exemplo, o Dia Mundial dos Ouvidos Limpos (anda por aí muito boa gente que gosta de se fazer passar por surdo); ou o Dia Internacional da Luta contra a Lavagem Cerebral (este é particularmente urgente, e a vários níveis); o Dia Mundial do Pixim a Brilhar (que a higiene no acto sexual é não só preventiva como fundamental); ou, para aqueles seres com olfacto mais sensível, um Dia Global de Prevenção contra a Flatulência Desmesurada (que é como quem diz em linguagem popular, prevenção de bufos, pois são muitos os que andam espalhando bufos mal cheirosos pelo ambiente, quando falam, falam, falam e não dizem nada). Ou seja, e para concluir, se é para globalizar todos os dias do ano, pretextos é o que não falta por aí. Haja alguma criatividade!