Que legenda, para esta imagem?

À melhor legenda, ofereço um café


Fonte: recebida por e-mail





O pobre diabo não tinha ninguém abaixo de si, em quem pudesse desforrar-se da agressão do contínuo; entretanto, quando depois do jantar, sem vontade, no frege-moscas, entrou no pardieiro em que morava, deu um tremendo pontapé no seu cão.

0 mísero animal, que vinha, alegre, dar-lhe as boas-vindas, grunhiu, grunhiu, grunhiu, e voltou a lamber-lhe humildemente os pés.

0 cão pagou pelo servente, pelo contínuo, pelo amanuense, pelo chefe da secção, pelo director-geral e pelo ministro!...


Arthur Azevedo (via aqui)




«Estou convencido de que, apesar dos enormes obstáculos existentes, há uma obrigação crucial que recai sobre todos nós enquanto cidadãos: de com uma determinação intelectual inflexível, inabalável e feroz definir a verdade autêntica das nossas vidas e das nossas sociedades. É de facto uma obrigação imperativa. Se essa determinação não se incorporar na nossa visão política, não tenhamos esperança de restaurar aquilo que já quase se perdeu para nós — a dignidade do homem.»

Harold Pinter, in «Discurso de Aceitação do Prémio Nobel»


Comentário Cafeano: isto para dizer que se nos queixamos da nossa classe política e dos dirigentes partidários, muitas vezes com toda a razão, também é verdade que todos temos uma quota parte de responsabilidade por este estado de coisas. Para mudar é preciso agir. Para melhorar é crucial reflectir. Para criticar é fundamental estar-se bem informado. Para fazer-se parte do todo, é lógico que façamos a nossa parte. Com cabeças na areia, assobios para o lado, bolhas fraudulentas, insultos anónimos, riolas assassinas e a máxima do cada um por si, não vamos lá.


Imagem: pescada no Jumento





Nome: Mara Carfagna
Nacionalidade: Itália




Ministra da Família e da Igualdade de Oportunidades.
Mama mia!






"What A Wonderful World" por Stacey Kent




Quero lá saber do Parlamento e dos jornais, dos cronistas e da destruição do património histórico, do ministério da cultura e dos seus funcionários, ou das grandes reuniões onde mentes brilhantes disputam entre si os cinco minutos de fama já largamente ultrapassados noutras ocasiões similares; quero lá saber do Obama, da crise económica, do preço do barril de petróleo, das falcatruas dos banqueiros, dos ataques terroristas, das grandes cheias ou do buraco de ozono; quero lá saber que não haja espaço para o debate, para o contraditório, para o erro, para o romance, para o silêncio, para o arrebatamento, para a exigência, para a autoridade, para o direito à opinião, para a humildade artística, para as loucuras em jardins e cafés cheios de gente adormecida; quero lá saber dos juízes que não se renovam, dos engenheiros que não se controlam, dos advogados que não se envergonham, dos polícias que não se impõem, dos militares que não conseguem explicar a necessidade da sua existência, dos políticos que não se esforçam, dos economistas que não se fazem entender, dos deputados que não evoluem, das elites que inexistem sem o pedestal e os pés de barro; quero lá saber das invejas, das meias palavras, dos segundos sentidos, das metáforas, das piadas espirituosas, dos labirintos, dos jogos psicológicos, das hipocrisias, das mentiras, das pancadinhas nas costas ao virar das esquinas da cidade. Hoje, vou ao teatro celebrar a vida e o amor. Amanhã, quem sabe, acordarei para a realidade.



As melhores imagens de 2008,
segundo a Agência França Press (AFP)











Fonte: aqui




Um interessante exemplo que vem de Espanha. Um dos blogues mais lidos desse país pertence a Bibiana Aído, nem mais nem menos do que Ministra da Igualdade do Governo Espanhol, que utiliza essa poderosa ferramenta para dar a conhecer as suas actividades e dialogar com os cidadãos. Artigos interessantes e pertinentes sobre questões sociais relacionadas com o género. Vale a pena a visita.

Além disso, a senhora tem classe. Também ajuda.

Visitar aqui



Escrevi sobre Hernani Almeida uma crónica desaforada, depois do magnifico concerto dado pelo músico em S. Vicente e considerei-o uma das figuras do ano. Não só pela sua produção própria, mas também pelo que tem feito, produzindo para os outros. Nem de propósito a edição desta semana do jornal A Nação tem um entrevista, eu diria desaforada, com o guitarrista e compositor mindelense, que vale a pena uma leitura atenta.

Alguns excertos:

Sobre sermos um país de músicos: «talento é como barco na areia; é bonito mas também não navega. Em Cabo Verde, os músicos são barcos na areia. Precisam cair no mar e nada, para poderem crescer.»

Sobre ousadia: «não há. É tudo encostado naquela coisinha, confortável.»

Sobre escola musical: «enquanto não houver escola teremos apenas tradição oral. Através da tradição oral, não deixamos que a nossa herança se perca, mas falta o ensino sistematizado para se desenvolver uma cultura musical mais rica.»

Sobre Lura: «anda à procura de Cabo Verde. Não vai encontrar.»
Sobre Princezito: «grande poeta, não um músico.»

Fazer a arte pela arte: «tenho jeito para fazer alguma coisa, varrer a rua, vender sandes de atum com o meu pai, posso fazer qualquer outra coisa, estar vivo e concentrar-me no meu trabalho artístico.» (...) «Estou à procura de fazer arte e não restringir a minha música à música de Cabo Verde.»

Entrevista conduzida por Abraão Vicente, publicada no Nação nº65






87% dos acidentes de trabalho acontecem
nas segundas e sextas-feiras


Fonte: aqui



Quase todos por aqui vibraram com a espectacular vitória de Barack Obama nas últimas eleições presidenciais americanas. Chegou, pois, a hora, de conhecer um pouco melhor algumas das suas manias e tiques.
  • O seu nome significa "o que foi abençoado" no idioma swahili;
  • É canhoto;
  • Leu todos os livros de Harry Potter;
  • Tem um par de luvas de boxe autografadas por Muhammad Ali;
  • É fluente em espanhol e "arranha" o português;
  • Durante a campanha negou-se a ver a CNN;
  • A sua bebida favorita é chá gelado;
  • Antes de postular o cargo a presidente, prometeu a Michelle que deixaria de fumar. Não cumpriu;
  • O seu livro favorito é Moby-Dick, de Herman Melville;
  • A sua sala no escritório do Senado pertenceu a Robert Kennedy;
  • Os seus filmes favoritos são "Casablanca" e "Voando Sobre um Ninho de Cucos";
  • A sua música favorita inclui Miles Davis, Bob Dylan e Bach;
  • Se não fosse político gostaria de ter sido arquitecto;
  • Quando adolescente experimentou marijuana;
  • As ambições de suas filhas são ir à universidade de Yale antes de ser actriz (Malia, 10) e cantora e bailarina (Sasha, 7);
  • O reembolso de seu empréstimo estudantil foi feito há quatro anos;
  • Diz que o seu pior hábito é olhar constantemente para o seu telemóvel;
  • Utiliza um notebook Mac da Apple;
  • Corta o cabelo uma vez por semana em seu barbeiro de Chicago, Zariff. Paga 21 dólares pelo corte;
  • Quer instalar uma quadra de basquete na Casa Branca.
  • O seu artista favorito é Pablo Picasso.
  • Mantém no seu escritório uma peça talhada em de madeira que é um símbolo da fragilidade da vida no Quénia.

Fonte: aqui



Charlie Chaplin




Inspirado no exemplo do blogue Arrastão, elaboramos uma lista de individualidades e instituições, nacionais e estrangeiras, e damos início a uma grande sondagem de balanço do ano 2008 que está a entrar no seu último mês de existência.

A selecção dos nomes foi feita com ajuda de amigos e colaboradores e, naturalmente, não será unânime. Mas pronto, mesmo assim, esperamos a participação de todos.

Mantêm-se a possibilidade de votar até ao último dia do ano. Aos vencedores nacionais, serão enviadas uma carta, anunciando oficialmente o facto, acompanhada de uns grãos de café.

Margosos Mais 2008 - Nomeados Nacionais
  • Abraão Vicente - colunista e apresentador de televisão
  • António Correia e Silva - reitor da Universidade de Cabo Verde
  • Cristina Duarte - Ministra das Finanças
  • Flávio Hamilton - actor de teatro
  • Graça Andersson Guimarães - Embaixadora de Portugal
  • Hernâni Almeida - músico
  • Jornal da Hiena - blogue de tendências anarquistas
  • Luisa Queirós - pintora
  • Princezito - músico
  • Ulisses Correia e Silva - Presidente da Câmara da Praia

Margosos Menos 2008 - Nomeados Nacionais
  • Bairro da Barraca - ilha da Boavista
  • Electra - companhia nacional de água e electricidade
  • Felisberto Vieira - político em stand by
  • Gilles Filletreault - administrador dos TACV
  • Jogadores da Bolha
  • Jorge Santos - líder da oposição
  • José Maria Barreto - responsável pelo Palácio Ildo Lobo
  • Manuel Fernandes - economista homofóbico
  • Manuel Veiga - Ministro da Cultura
  • Sara Lopes - Ministra, não se sabe muito bem de quê

Margosos Mais 2008 - Nomeados Internacionais
  • Barack Obama - Presidente eleito dos EUA
  • Ingrid Bettencourt - refém libertada
  • Michael Phelps - nadador
  • Nelson Évora - atleta de triplo salto
  • Scarlett Johansson - actriz

Margosos Menos 2008 - Nomeados Internacionais
  • George Bush
  • Manuela Ferreira Leite
  • Nino Vieira
  • Sarah Palin
  • Silvio Berlusconi

Nota final: hesitei bastante na possibilidade de incluir políticos nestas escolhas, mas depois acabei por decidir que não havia mal nenhum nisso, e por duas razões principais. A primeira, porque são os políticos que decidem ou influenciam muito do que diz respeito ao nosso dia-a-dia e portanto está no nosso direito elogiar ou criticar a sua actuação. Em segundo lugar, porque temos que acabar com esse complexo e preconceito de que quem critica o amarelo é verde, ou quem critica o verde é amarelo, como se o nosso mundo se resumisse a essas duas cores. Por enquanto que não aceitarmos que Cabo Verde tem muito mais do que apenas duas cores, ficaremos manietados de dar o nosso contributo para o crescimento da Nação.

Abraço fraterno e boa escolha.



Eis os resultados da décima sondagem do Café Margoso

Pergunta: Como classifica a nossa classe política?




Número total de votantes: 53

Resultados:

    Genial - 1 (2%)
    Muito boa - 0 (0%)
    Boa - 2 (4%)
    Razoável - 11 (22%)
    Medíocre - 27 (51%)
    Má demais - 7 (13%)
    Nem quero saber - 4 (8%)

Este estudo altamente científico e de enorme valor académico promovido aqui pelo margoso mostra o que todos já sabíamos: a imagem da nossa classe política anda pelas ruas da amargura. Há alguma (in)justiça, nestes resultados?





Porque é que os furacões mais devastadores
são sempre baptizados com nomes femininos?


À melhor resposta, ofereço um café





Como devem saber, a idade do nosso cérebro, não tem que corresponder, necessariamente, à idade biológica. Descobri um teste que nos permite calcular a idade do nosso cérebro. Arrisquem e tirem a prova dos nove, aqui mesmo.

O meu cérebro tem 24 anos de idade. Nada mau!



De todos os crimes possíveis e imaginários, o que mais abomino é, sem qualquer dúvida, o da pedofilia, definida como uma perversão sexual, na qual a atracção de um indivíduo adulto está dirigida para as crianças. Mete-me nojo, dá-me asco e tenho enormes dificuldades em manter o mínimo de racionalidade perante este tipo de criminalidade.

Ainda para mais sendo pai de duas meninas, confesso que um acontecimento tenebroso destes sobre qualquer uma delas, seria o único motivo que me faria capaz de perder a cabeça ao ponto de atentar contra a vida de um outro ser humano.

É nestas alturas que radicalizo o discurso. Na minha opinião pessoal, a única pena possível para indivíduos que abusam sexualmente de crianças, é a castração pura e simples do membro sexual, e em caso de reincidência, uma lobotomia e eventual oferta dos outros orgãos, como fígado, rim ou coração, para casos urgentes em listas de espera. Nestes casos, peço desculpa, mas estou-me a cagar, de alto a baixo, para os direitos humanos. Quem abusa de crianças dessa forma doentia, não tem direito a ter direitos.


Nota final: está a decorrer a leitura das sentenças de um dos processos mais horrendos da história da justiça portuguesa nos últimos anos, conhecido como o caso Casa Pia. Só espero que, não sendo possível uma solução tão radical, os culpados sejam exemplarmente castigados. Mesmo que saibamos que isso não vai trazer, nem de perto nem de longe, a paz de volta às crianças que se viram nas mãos desses patifes.




Em média,
4 mulheres
são agredidas, por dia, em Cabo Verde


Fonte: aqui






Pois é: segundo se pode ler no site 20 minutos aquela famosa expressão romântica "se quiseres até te dou a Lua", deixou de ser totalmente platónica e passou a ser uma possibilidade real. É que o extravagante e milionário russo Román Abramóvich acaba de oferecer à sua noiva, Dasha Zhúkova, 40 hectares da superfície lunar. Um terreno perfeitamente visível da superfície da terra, com o recurso a um telescópio minimamente potente.

E um dia, o feliz milionário, poderá declamar com propriedade:

      "Se fitas os céus
      Garota e seminua
      Verás Columbina sentada entre os cornos da Lua.

      Quantas vezes não vistes o seu olhar abstracto
      Nos fosfóreos vitrais das pupilas de um gato?"

(Excerto de "Máscaras" de Menotti del Pichia)
Imagem: "Amantes ao Luar" de Marc Chagall




Os Truques do Discurso Político

«Parecemos estupefactos ao ver a multidão ser conduzida por meros sons, mas devemos lembrar-nos que, se os sons operam milagres, é sempre graças à ignorância. A influência dos nomes está na proporção exacta da falta de conhecimento. De facto, até onde tenho observado, na política, mais que em qualquer outra área, quando os homens carecem de alguns princípios fundamentais e científicos aos quais recorrer, eles tornam-se aptos a ter o seu entendimento manipulado por frases hipócritas e termos desprovidos de sentido, dos quais todos os partidos em qualquer nação têm um vocabulário.»

William Paley, in "The Principles of Moral and Political Philosophy"


Imagem: fotografia de David Nightingale, «Lost and Foud»



Um fotógrafo cheio de felling...




Tchitche, conhecido em S. Vicente pelo seu trabalho como fotógrafo comercial, mostra o seu trabalho artístico no Centro Cultural do Mindelo, até ao dia 31 deste mês de Novembro, numa mostra fotográfica surpreendente. Pela qualidade das obras, pelo grande formato, pela estética inovadora, pela mistura da temática tradicional com a linguagem contemporânea. Fui ver e aconselho. A não perder.


Vamos ver, ouvir & comentar!

Horário: todos os dias, até ao final do mês, das 09:00 - 19:00
Local: Centro Cultural do Mndelo
Imagem: A Semana



Quando te procurei
Estaria por acaso a verdade à minha espera?
O amor ocorre num espaço flutuante
Num exíguo lugar-nenhum
E o sonho é matéria incerta
Mestre na arte da fuga.
Ana Hatherly, in "A Neo-Penélope"


Imagem: Katerina  (Via: Jumento)

Um novo local, dedicado à imagem.
Abraão Vicente, a preto e branco.






Galeria completa aqui





Apontar os males

1. Decorreu na cidade da Praia um evento, denominado Fórum Internacional sobre a Economia da Cultura organizado pelo Ministério da Cultura, que superou as minhas expectativas, o que nem era muito difícil que acontecesse porque, diga-se em abono da verdade, a falta de definição gritante na defesa pública, no diálogo e na aplicação concreta de uma política cultural do Estado, tem sido a principal marca deixada pela actual equipa que comanda os destinos culturais do Governo.

2. O Fórum trouxe, porém, algumas surpresas, várias confirmações e deixou muitas perguntas no ar. A maior surpresa foi, para mim, a inegável humildade política do actual Ministro da Cultura, em vários aspectos: no convite dirigido a um ex-Ministro da Cultura (de diferente cor política) para a preparação do documento de base do evento; na aceitação de uma quantidade considerável de recomendações, que mais não são do que, em muitos casos, um reconhecimento tácito da própria incompetência do Governo na execução de planos, políticas e medidas para a área da Cultura.

3. No evento, como eu suspeitei que pudesse acontecer, não se falou de "Economia da Cultura". A Economia foi o pretexto, porque as intervenções, os debates, as oficinas e as recomendações foram muito além da visão economicista da Cultura, e de forma inteligente centraram-se, sobretudo, no papel do Estado, na necessidade de uma redefinição da estrutura orgânica e orientações do actual Ministério da Cultura, aplicação de muitas medidas consideradas prioritárias e na necessidade, também urgente, de mudança de mentalidade dos próprios artistas.

4. Esta humildade política esteve mais patente ainda no discurso de encerramento do Ministro da Cultura, naquela que foi a melhor intervenção pública que já lhe ouvi, e já ouvi algumas. Em certos momentos da sua elocução, diríamos que estávamos a ouvir algum membro da oposição, propondo políticas claramente opostas àquelas seguidas nos últimos sete anos pela situação. Não é por acaso que a expressão que o Ministro mais repetiu nestes dias tenha sido "mudança de paradigmas". Espantosamente, vi-me a concordar com muitas das suas posições.

5. Confirmações também ouve algumas. A primeira foi a tremenda generosidade da classe artística convidada, que em termos gerais me pareceu muito bem representada, em vários domínios, com destaque para a música, mas com a excepção de algumas áreas de intervenção. Não se conhecem os critérios para a escolha dos presentes em cada área, e a verdade é que senti a falta de algumas figuras importantes, como os fundadores do Centro Nacional de Artesanato, representantes dos grupos de teatro mais activos, representantes da Universidade de Cabo Verde ou artistas plásticos e fotógrafos da nova geração, que tem tido alguma intervenção pública e até bastante crítica nesta área.

6. A segunda confirmação foi ter colocado a nu deficiências e mesmo alguma incompetência irresponsável de pessoas com cargos públicos, incompatíveis com tais modos de agir, sendo que os sinais foram claros e todos os conhecem: a forma quase insultuosa como foi montada e organizada a designada "Exposição de Arte e Cultura Cabo-verdiana"; a bandalheira que graça no Auditório (dito) Nacional, que não parece ter melhorado com a gestão privatizada (antes pelo contrário); a postura e o discurso da falta de apoio que parece ainda dominar parte substancial da classe artística nacional.

7. A terceira confirmação veio com o trabalho apresentado pela jornalista Teresa Sofia Fortes sobre Mercado de Artes em Cabo Verde, que embora tenha imprecisões facilmente identificáveis, é considerado pela própria autora apenas como um início de um estudo mais aprofundado, que se recomenda. Mas algumas das conclusões são importantes retratos da actual situação: artistas sem formação específica nas suas áreas; intervenções baseadas no empirismo; sentimento de abandono; confusões de conceitos, nomeadamente, entre formação, criação e negócio; falta de espaços de intervenção artística; desunião das diferentes classes artísticas; incapacidade total para potenciar talentos; necessidade de intervenção urgente do Estado em muitas áreas; etc. etc.

8. Ao longo dos dias senti um misto de esperança, desconforto e dúvida. Algumas questões urge serem feitas, a partir do momento em que o Ministro da Cultura assume publicamente as muitas recomendações feitas pelos artistas, técnicos, produtores e funcionários públicos presentes. Porque não entendi porque foram precisos sete anos para este Governo perceber que é fundamental auscultar a classe artística, receber subsídios e a partir daí, definir políticas, estratégias, modelos, paradigmas, enfim, o que lhe quisermos chamar. Independentemente dos nomes que damos a estas coisas, nós queremos é ter gente que faça. Que faça acontecer. Que inove e ouse.

9. A intervenção do Primeiro-Ministro foi improvisada e, mais uma vez, brilhante. Eu sei que o mal pode ser meu, já houve aqui quem me tenha acusado de gostar de dar graxa ao nosso chefe de Governo - como se ele precisasse disso para alguma coisa! Ou então sou eu que tenho tido sorte de apenas ouvir discursos bons, mas desta vez uma pergunta ficou-me a martelar na cabeça: faz sentido, depois de uma legislatura inteira e uma outra quase completa, ouvir um Primeiro-Ministro falar de necessidade da implementação de um Plano Estratégico de Desenvolvimento Cultural, no espaço de seis meses, quando ele deveria ter sido feito pelo menos há seis anos?

10. Está certo que mais vale tarde do que nunca. Mas se é preciso mudar de paradigmas, de políticas, de rumo, não seria bom também mudar de pessoas? Não são elas que definem e colocam em prática os paradigmas, as políticas e os rumos que todos sabemos não serem os mais ajustados? Não é estranho que é precisamente na vertente cultural, a área onde as chefias intermédias se mantém há mais tempo sentadas nas cadeiras do poder, Governo vai, Governo vem, Ministro vai, Ministro vem? Porque é que é tão difícil encontrar pessoas disponíveis para esses cargos? Trabalhar na aplicação das políticas públicas na área da cultura é mais perigoso ou complexo, do que fazê-lo em qualquer outra área?

11. Faz sentido ter como uma das propostas principais saídas deste Fórum a implementação de um Fundo de Apoio às Actividades Culturais, apresentado como uma grande novidade e espectacular inovação, quando na própria orgânica - oficial - do Ministério da Cultura, está referenciado um Fundo Autónomo de Apoio à Cultura, com um Conselho de Administração e um Director Executivo, mas que nunca existiu na prática, nunca saiu do papel porque, segundo está escrito no sítio oficial do Ministério, "não foi ainda dotado de meios humanos, materiais e financeiros necessários à sua estruturação e ao seu funcionamento"? Durante estes anos estivemos todos à Espera de Godot?

12. Tem alguma lógica aceitar e fazer referência pública à necessidade do Estado apostar mais nas infra-estruturas, apenas alguns meses depois de entregar a gestão do Auditório (dito) Nacional a um privado e preparar-se para fazer o mesmo em relação aos espaços do Palácio Ildo Lobo? Se a ideia é que o Governo construa e depois conceda os espaços para gestões com participações públicas e privadas, acho muito bem. Mas que o diga claramente. Ainda assim, continuo a pensar que há algumas estruturas que, pelo seu forte pendor simbólico e por deverem servir como instrumento da execução das políticas governamentais, não deveriam, de forma nenhuma, serem abertos a modelos privados de gestão. A Biblioteca Nacional, o Auditório Nacional ou o Arquivo Histórico Nacional estão, claramente, neste grupo.

13. Termino lembrando que uma das intervenções mais aplaudidas no Fórum, no último dia de trabalhos, foi a de um jovem artista da ilha do Fogo, que pediu a todos os presentes para que, quando regressassem às suas ilhas e às suas casas, gastassem algum do seu tempo para "pensar no que aqui se passou e na melhor forma de nós próprios, como artistas e cidadãos interessados e responsáveis, dar também a nossa contribuição", para a melhoria do estado da Cultura, e da cultura do Estado.


Com esta crónica, espero estar a cumprir esse desiderato.


Mindelo, 25 de Novembro de 2008





Vamos promover o teatro?
Divulguem
, convençam os amigos, tirem-me esses rabos dos sofás!




Voz de Mayra Andrade, recitando poema de Eugénio Tavares «Amor é Carga»





Ter sabido qual é o real significado da expressão "dar um café" aqui no Mindelo deve fazer-me sentir obrigado a mudar o nome e a estrutura deste blogue ou posso ficar descansado que ninguém vai aproveitar esta coincidência para atentar contra o meu bom nome?


Nota: por aqui ficarei também a saber se era só eu que não fazia a mínima ideia que dar um café é o mesmo que... bem, se não sabem, digam lá, para eu não ficar na vergonha, está bem?


À melhor resposta, ofereço um café (bem, depende!)



A sério, qual é o problema?




Via: aqui



Amanhã, 25 de Novembro, será o Dia Internacional da Luta Contra a Violência Doméstica. Eis alguns cartazes de uma campanha publicitária sobre o tema.






Fonte: vejam a galeria completa aqui




Eis a sequência de alguns factos:

1. Um país africano encontra-se hoje dominado pelo circuito internacional do narcotráfico;
2. Realizam-se, nesse país, eleições legislativas, consideradas pelos observadores internacionais, livres, justas e transparentes;
3. O histórico PAIGC ganha as eleições com larga maioria;
4. O futuro Primeiro-Ministro auto intitula-se o "Buraco Obama" do seu país;
5. Militares atacam violentamente a residência do Presidente da República;
6. Tentativa frustrada de golpe de estado;
7. A imprensa anuncia a instalação de uma "paz podre".


Tudo isto aconteceu nas últimas semanas num país chamado Guiné-Bissau. Sim, esse mesmo, que Amilcar Cabral sonhou, defendeu e projectou ser uno e indivisível com Cabo Verde. E enquanto isso, o bom povo da Guiné Bissau sofre, pena, chora e desespera. Mesmo sabendo que não devemos justificar os nossos males com o mal alheio, há alturas - como esta - em que tenho um imenso orgulho do meu país, Cabo Verde.





Foi assim... na cidade da Praia.


No próximo fim-de-semana, "Máscaras" estará no Mindelo.



Charles Chaplin ficou classificado em 3º lugar
num concurso de imitadores de... Charles Chaplin


Fonte: aqui



A questão da homossexualidade volta aos jornais. A socióloga Cláudia Rodrigues publica um artigo de reacção ao pseudo-economista homofóbico que classificou os homossexuais como doentes a necessitar de "reabilitação" e no mesmo jornal um padre - suponho que da Igreja Católica - segue a doutrina que já conhecemos, considerando entre outras coisas, que o "fenómeno" é "um desvio sexual aos correctos princípios de uma sexualidade humana" e que a legitimação do matrimónio entre seres humanos do mesmo sexo é uma "legitimação de uma desordem".

Embora mais "civilizada" do que o artigo que originou esta discussão, o artigo não deixa de ser igualmente preconceituoso e homofóbico, e por aqui se percebe porque é a Igreja Católica tem cada vez menos fiéis nos seus templos. Continuam parados no tempo.

Entretanto, o jornal A Nação dá a notícia, esta semana e com muitos dias de atraso, do artigo publicado à quinze dias atrás pelo mais famoso economista de Cabo Verde, referindo que pior do que o conteúdo, terá sido o silêncio que rodeou a reacção ao mesmo. Aconselha-se, vivamente, o articulista a estar mais atento à blogosfera cabo-verdiana, onde o assunto tem sido, desde há muito tempo, alvo de intenso debate e contestação.




Que legenda, para esta imagem?

À melhor legenda, ofereço um café


Fonte: galerias 20 minutos




Não posso deixar de dizer isto: a forma como estavam colocadas as obras de arte nas paredes do amplo átrio da Biblioteca Nacional, na anunciada Feira de Arte e de Negócios (?), no âmbito do Fórum sobre Economia da Cultura, espaço que misturou artes plásticas dos nossos artistas mais representativos, com a exposição-venda de livros, artesanato e instrumentos musicais, põe a nú dois aspectos muito graves:

1. Não há ninguém no actual Ministério da Cultura que saiba o que é organizar e preparar uma exposição de artes plásticas, e muito menos, como se «pendura» um quadro, como se trata uma obra de arte, no contexto de uma mostra como aquela que se pretendia organizar;

2. A forma como essa «mostra» estava «organizada» (os termos mostra e organizada tem que estar entre aspas, por razões óbvias) demonstra também uma total falta de respeito pelos artistas representados. Tudo feito sem critério, sem cuidado, sem conhecimento, sem nada.

O pior exemplo do que aqui vai denunciado foi a utilização dum belo e majestoso biombo da artista Luísa Queirós, obra que representou Cabo Verde numa exposição universal, como separador (!) entre a mesa da comida e o local escondido onde se preparava o cafezinho para os participantes do Fórum.

Se esta «mostra» tinha como objectivo dar uma imagem do actual estado das artes plásticas cabo-verdianas, conseguiu, de forma transparente, cumprir esse desiderato. Principalmente ao nível da (im)competência de quem a organizou. Uma vergonha.


Imagem: pintura de Kiki Lima




Uma nova rúbrica do Café Margoso.

A chamada sociedade civil deu, no Fórum da Economia da Cultura realizado esta semana na Praia, uma forte demonstração da sua força. Colaborando, trabalhando, propondo, incentivando, pressionando. Deste Fórum saíram recomendações. Ao Ministério da Cultura e ao Governo. Ao Estado. Vamos publicando no Café Margoso algumas dessas recomendações. Mas não só.

Os políticos, na Situação e na Oposição, falam muito. É normal, faz parte do exercício das suas funções falar. Falar uns com os outros, na comunicação social, falar com o povo. Uns falam de menos e outros falam demais. Vamos procurar registar aqui no Café Margoso algumas das promessas que vão sendo feitas. Porque a chamada «sociedade civil» também tem o seu papel e isso ficou cabalmente demonstrado esta semana.

De realçar, finalmente, a humildade politica do actual Ministro da Cultura. Porque se há algo que se pode concluir das (muitas) recomendações do referido Fórum, é que quase tudo está por fazer nesta área, e muito do que está a ser feito, deve ser revisto, ao nível das competências, dos processos e das prioridades. A aceitação pública deste pressuposto revela uma postura que, mesmo tendo chegado com anos de atraso, é reveladora. E quem entende que escrever isto é «dar graxa» ao Ministro, não entendeu uma palavra do que tenho escrito sobre o tema. Mas isso não é um problema meu.


Sendo assim, cá vai o Registo nº1

«Que se promova a elaboração de um plano estratégico - nacional e regional - de desenvolvimento cultural integrado

Fonte: Recomendação nº 20 do Fórum sobre Economia da Cultura


Imagem: «Drawing Hands» de Escher