Cafeína

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«Mas por que razão o Lobo da história do Capuchinho Vermelho é mau e acaba por levar uma coça dos lenhadores? Que injustiça. Todas as mulheres esperam encontrar um tipo que lhes diga, Miúda, pois é, tenho uns braços tão grandes mas é só para te abraçar melhor, tenho umas orelhas tão grandes mas é porque te quero ouvir melhor, sim, Capuchinho, tenho uns olhos tão grandes só para te ver melhor; quanto a esta bocarra que aqui vês, bem, rapariga deliciosa, é mesmo para te comer. Como se pode ver, o Lobo Mau é um tipo romântico (quer abraçá-la melhor), atencioso (quer ouvi-la melhor), sensível (quer «vê-la» melhor) e sente-se arrebatado pelo desejo. É um príncipe encantado, mas com pilinha e sem medo de a usar.

(...)

Como Neil Jordan (realizador) e Angela Carter (argumentista) nos demonstraram já num filme inesquecível lançado em 1985 – A Companhia dos Lobos –, o Capuchinho Vermelho é apenas uma história sobre a preservação da virgindade (tratada como um objecto precioso) e uma tentativa de associar o despontar da sexualidade feminina a uma coisa maléfica e perigosa que nos pode surgir à frente quando nos desviamos do caminho que outros nos traçaram. Se ainda não viram esse filme, arranjem-no: é excelente. É verdade que os efeitos especiais são um bocadinho merdosos, mas que importa isso quando a história é boa e bem contada?»

Imagem: Sarah Patterson in «A Companhia dos Lobos», de Neil Jordan


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5 comentários:

JonDays disse...

Esse filme foi um dos meus preferidos... e ainda o é... passou num Fantasporto há muitos anos atrás... pensando bem, deve ter sido em 1985 !! ehhehe

Unknown disse...

Não digas isso muito alto! hehe

Alex disse...

Meu Caro o Lobo Mau nestas histórias é que é a vítima. Aceito a teoria/leitura da preservação da pureza(eu cá preferiria que fosse da natureza, mas...), da virgindade (ainda existe?), o lado casto e imaculado da inocência, e blá, blá, blá.
Só nunca percebi por que teimam em vestir a Capuchinho de vermelho sexi (ou será vermelho-sexo?). Pior ainda, nunca percebi porque é que a história acaba em carnificina. Os lenhadores podiam chegar a tempo não é verdade? Quem controla essa variável é o escritor não é verdade. Mas não chegam. Logo...temos banho de sangue! Tão electivo, não é!

Depois há essa outra treta do Lobo MAU. Qual MAU? O gajo era um refinado 'maricas'. Veste-se de avózinha. Para comer a menina ele é só olhos, boca, dentes, mãos (tudo metáforas, tudo insinuado, e tudo em grande) e nunca, nunca com o sexo (A castração, em simetria de opostos com a castidade, não sei se já reparaste!). Logo, ou é capado, ou tem a "fita" escandalosamente pequena. Esse lobo só pode ter tido sérios problemas de infância. Se calhar foi pedófilizado por algum lenhador.

Falando sério, e voltando ao que importa, Neil Jordan não é só um bom cineasta, é uma escola de (um certo) cinema, que eu particularmente gosto. Bebeu nas melhoes escolas de cinema da Europa, o realismo Inglês e o Neo Italiano. Nunca esquecer que ele realizou coisas deliciosas e extraordinárias como:
Mona Lisa, Jogo de Lágrimas, Entrevista com o Vampiro, Michael Collins, O fim da aventura, Breakfast on Pluto (o último que vi). Cada um deste filmes tem sempre algo de extrordinário, da revelação de um grande actor e actriz, a uma boa história real ou ficcionada, da diversidade dos temas à profundidade com que os trata, mas ele é sobretudo um dos mais eficazes contador de estórias que conheço. A cinematografia do Jordan, dava uma boa tertúlia.
Talvez, "Um dia..." quando houver verdadeiras tertúlias bloguianas. E um cinema perto de si.

Fica bem
ZC

Unknown disse...

Nem mais, ZC, «se houvesse um cinema». Mas sempre vamos falando destas coisas. Já não é mau!

Anónimo disse...

Ei, eu adoro o filme! :D


Mas não deixo de ter pena do Lobinho! A Rosaleen é uma ninfita. Está tudo dito.