Um Café com António Abujamra

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António Abujamra, actor, encenador, provocador, tem 78 anos e detesta comemorar aniversários. Fez 78 anos no dia 13 de Setembro, no dia em que foi apresentada a peça "No Inferno" de Arménio Vieira, um poeta que ele certamente iria adorar conhecer. Terminada ontem a apresentação da sua peça "Começar a Terminar" no âmbito do festival Mindelact 2009, António Abujamra, actor, encenador, provocador, desmaiou no camarim. "Geralmente, quando me sinto fraco e vou cair, eu sei que vou cair antes de cair", confidenciou-me ele pouco depois de recuperar os sentidos. "Por isso me assustei: cai sem aviso de recepção."

Isto para dizer que António Abujamra, actor, encenador, provocador, com 78 anos, mesmo depois de um dia em que não comeu nada, depois de um dia em que passou mal por causa do calor, da humidade ou por algo que comeu e que lhe provcou desarranjos, esteve ali, implacável, durante mais de uma hora em cima do palco, apresentando uma peça espantosa do ponto de vista dramatúrgico, de encenação, de interpretação, com um cenário de J.C. Serroni, o mais importante e revolucionário cenógrafo do teatro brasileiro do século XX e um desenho de luz absolutamente mágico pela simplicidade e forma como utiliza as fontes de luz que emanam ao longo do espectáculo.

António Abujamra, actor, encenador, provocador, com 78 anos, desmaiou logo após a sua actuação em Cabo Verde. Há quem tenha dito que a actuação ficou "um pouco aquém das expectativas". Eu digo: foi muito mais além de todas as expectativas e até do bom senso comum, que nos diz que um homem, com 78 anos, enfraquecido por um dia sem comer, não deve fazer grande esforço, muito menos pisar um palco e ser protagonista durante mais de uma hora. E ainda bem que assim o fez. Porque a maior lição do texto, todo ele inspirado no universo de Samuel Beckett, nos confronta com uma primeira e maior conclusão: neste mundo louco, feio, violento e hipócrita, o oásis mais provável e a maior esperança está aqui mesmo, no teatro. Eis uma verdade em que acredito cada vez mais.

Obrigado, António.




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1 comentário:

Tina disse...

Tenho de regressar ao teatro, onde não ponho os pés há uns dois anos... É a crise!