Um Café leiloando a Cultura

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Não ouvi (felizmente, apetece-me dizer), mas li no blogue Terra Longe: Manuel Veiga, Ministro da Cultura de Cabo Verde, no programa "Ao Sábado" da RCV, anunciou mais uma ideia luminosa: leiloar o dia Nacional de Cultura! Isto é, deixem lá ver se entendi bem. Hum. É isso mesmo: a ilha, isto é a Câmara Municipal, que der mais, ganha. Ou seja, o responsável máximo da nossa política cultural grita aos sete ventos let's leiloed baby! e lá vão os Presidentes das Câmaras dos municípios cabo-verdianos, amarrados nos seus respectivos Veradores da Cultura (quando existem) correndo para apresentar as suas propostas no sentido de conseguir que as actividades centrais do dia 18 de Outubro possam ser feitas no seu quintal. Lindo!

Eu acho que podíamos ir um pouco mais longe. Porque não colocar o Dia Nacional da Cultura no E-bay? Assim, as associações de emigrantes também poderiam lutar para que as comemorações aconteçam nas suas respectivas sedes e quem sabe algum milionário da Singapura ou da Suécia ache piada à efeméride e dê uma pequena grande fortuna para levar as principais actividades para os seus castelos privados. Com o dinheiro ganho com esta medida criativa, sempre se podia construir um auditório na cidade do Mindelo, por exemplo.

Mesmo considerando que posso ser mal interpretado - como habitualmente - por estar a brincar com coisas sérias, um dos aspectos que mais me incomoda em todos estes tiros culturais que são dados no pé do próprio Governo é o silêncio ensurdecedor de toda a oposição. Não se lhes ouve nada de nada sobre questões culturais. É o vazio absoluto. Nenhuma opinião incisiva, nenhuma crítica construtiva, nenhuma proposta para o futuro, nenhuma cara que, quanto mais não seja, aproveite politicamente estes lapsus lingaes masoquistas do Ministro Veiga. Mas não. A oposição elege um novo líder, rejubila com a biografia do ressuscitado, mas continua profundamente adormecida, fazendo prever que numa eventual mudança, a cultura continuará a ser o parente pobre, assim como uma daquelas jóias que se colocam apenas em dias de festa. Ou em leilões, já agora, que são também muito chiques.




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3 comentários:

Anónimo disse...

Pois...! Por isso é que muito boa gente acha que a cultura é o verdadeiro contrapoder!

a) RB

Unknown disse...

Vamos supor que o que se pretende é que as Camaras apresentem candidaturas mediante programas de intenções estruturados e devidamente orçamentados para que uma comissão de entendidos escolha a melhor segundo parametros a fixar?
Zito

Amílcar Tavares disse...

Onde licito? Se ganhar, a festa será cá em casa. Estão, já, todos convidados!!