Tertúlia dos Mentirosos 108

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Voltou à hora do almoço. Cruzou a porta da cozinha e foi direto ao fogão vasculhar as panelas.

Constatou desapontado que a comida estava fria. Pudera, já eram quase duas da tarde... Que esquentasse, então. Do armário apanhou o fósforo (como sempre escondido prudentemente atrás da lata de açúcar). “Isto na mão de criança é um perigo.”

A requentar o almoço, sentou-se na velha cadeira e, depois de acender um cigarro, pegou a garrafa térmica, com a qual encheu um copo de café.

Levou-o à boca. Nem bem sorveu, cuspiu o café frio.
– Quantas vezes falei pra fechar bem esta garrafa?!

Imóvel no limiar da cozinha, a esposa não sabia o que responder. Estava tão perplexa quanto o filho de doze anos que a agarrava pela cintura, olhando aquele homem com um misto de temor e curiosidade.

Natural, porém, que o garoto não se lembrasse do próprio pai. Afinal, não o viam há quase dez anos. Desde a manhã em que ele saiu por aquela mesma cozinha, com o pretexto de ir à padaria comprar um maço de cigarros.

Wilson Gorj (link)





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2 comentários:

Unknown disse...

É incrivel a repetida coincidência de se acabarem os cigarros aos homens quando decidem abandonar o lar!

Amendes disse...

" E ele acendeu mais cigarro...
fosforo acabou... berrou...
A mãe pega filho pela mão...
-- "Vamo" filho... "vamo" à padaria,comprá fosforo p'ra papá...

Será que voltaram? ( fica ao critério de um cada qual)