Declaração Cafeana

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Há dias assim em que nem mesmo o horóscopo nos facilita as coisas. A vida também tem o seu lado de dentro, aquele mundo infinito em que somos ilha e abismo, em que procuramos milagres que justifiquem a nossa existência, aqueles momentos em que nos fragmentamos e, dito assim num lugar como este, dias em que ficamos mais pequenos, ridículos, quiçá humanos.

Hoje é o dia em que, ao que parece, a acreditar no que vem no Facebook, a Lua em Conjunção com Mercúrio traz tendência para a má disposição, o que pode vir a tornar confusos os meus pensamentos racionais e práticos que, pela natureza poética e inconformista, já de si tem pouco de racionais e práticos.

Os pensamentos levam-me para outros caminhos e aproveitando a folga do meio da semana, sem semanários a jorrar o seu veneno - verde ou amarelo, pouco importa - em doses cavalares, já que estamos a entrar na época alta de injúria e maledicência, só apetece ler Clarice que nasceu num navio no meio do mar e, ao que se sabe, escreveu muito mais sobre o dentro do que sobre o fora.

A minha ilha é a minha alma, o meu percurso a poesia que faço questão de visitar como quem toma o café da manhã. A solidão é mais assustadora quando em pleno calor de Verão só vemos gente à nossa volta. E estamos sós porque há dias assim, em que temos que olhar para dentro, nos rasgar um pouco, como um pedaço de espelho que brilha e se encontra connosco, lembrando o quanto pode ser bom atravessar milagres e tentar, ao menos isso, ser feliz. 

Se não entenderam nada, a culpa é do horóscopo do dia...






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4 comentários:

Unknown disse...

Meu caro: se a gente não olha com alguma frequencia para dentro e faz o balanço do que resta de nós,
acabamos por correr o risco de um dia descobrir que estamos ocos...
por dentro e por fora!

Unknown disse...

A introspecção é necessária pelo motivo apontado por Zito Azevedo.

Mas nem sempre é pacífica, seja lá que o horóscopo concorde (ou não) com a cronologia de onde saltam estes momentos, principalmente quando olhamos para dentro com os mesmos olhos com que olhamos para fora, incisivos e críticos, ainda que apaixonados e curiosos.

Já entender ou não este texto, talvez não passe por qualquer conhecimento que se adquire sobre o seu autor, mas pelo conhecimento que se (re)descobre do próprio. Porque entender o que se lê tem muito mais barreiras na relação com o próprio do que na relação com os outros.

Eu entendi perfeitamente :) talvez não tanto o que o João disse de si mesmo, mas o espelho que essas palavras formaram e onde me reconheci aqui e ali...

Entendi, por exemplo, que rasgar o entendimento é sempre confuso e doloroso, seja em que direcção for :-)

Unknown disse...

Isso tudo...E sem falar dos que, por mera cobardia, não "se" olham no pavor permanente de reconhecerem alguém que abominam!

Lily disse...

Temos de fazer as nossas viagens interiores, muitas vezes por percursos desconhecidos e perdendo-nos várias vezes pelo caminho...