Declaração Cafeana

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 Ainda a propósito da micro-remodelação governamental vários comentários tem sido escritos e ouvidos, sobre a importância de um suposto lobbie composto por artistas descontentes, dizem uns, ou pelos blogues cabo-verdianos, dizem outros. O zig-zag do jornal A Nação, chega mesmo a escrever que Manuel Veiga foi substituído porque José Maria Neves "se deixou levar pela pressão de um “lobby” muito bem localizado e que não se coíbe em fazer das suas. Esse “lobby” estaria zangado com Manuel Veiga por causa da política linguística, sobretudo, pelo ALUPEC."

Devo dizer que acho tudo isto um tremendo disparate. Em primeiro lugar, não me parece, ao contrário do que um comentador aqui escreveu, que o legado de Manuel Veiga tenha deixado "obra" ou que foi um dos "mais marcantes". Bem, ser marcante não quer dizer necessariamente ter deixado obra, porque pode-se marcar um ministério pela negativa. Aliás, parece-me claramente que foi este o caso e estar afirmar que o Ministro saiu por causa de lobbies escusos é querer tapar o Sol com a peneira. O Ministro da Cultura saiu porque se mostrou incompetente para o cargo, para o que terá contribuído ter estado rodeado pelos mesmos de sempre que por lá andam a vegetar deste o tempo de canequinha. E isto que estou a escrever nem é nenhuma novidade, toda a gente o diz, nas conversas informais. Não se entende, simplesmente, porque demorou tanto tempo a ser substituído.

E onde mais Manuel Veiga falhou foi onde se esperava que menos falhasse: na questão da língua. Quando foi anunciada a sua ida para o Ministério da Cultura, há longos sete anos atrás, foi prometida a oficialização da língua cabo-verdiana no espaço de dois anos. Havia que se aproveitar  o facto de o seu grande defensor estar agora num lugar de relevância política que lhe permitisse fazer o que fosse preciso para conduzir para o primeiro plano a língua de todos os cabo-verdianos. Hoje estamos como estamos. E porquê? Mais uma vez digo aquilo que é apenas uma opinião de um observador atento: porque todo o processo foi mal conduzido. Gerou desconfianças, resistências, mal-entendidos e argumentos falaciosos de parte a parte. E a socialização mal começou, porque continuo convencido que ser colocado perante factos consumados e depois vir pedir a opinião, já com tudo decidido, é um pouco como querer passar por parvos todos os que se interessam por estes assuntos.

Quanto ao resto, concordo que se deu um passo atrás com a extinção do Ministério da Cultura. Mas esse será também mais um legado do ex-titular: mostrar a quem de direito, por A + B, que Cabo Verde não precisa de um ministério exclusivamente dedicado à cultura. Porque parece claro que, se o Ministério da Cultura tivesse tido durante estes longos sete anos mais dinâmica, capacidade, criatividade e competência, não teria nenhuma lógica que o responsável máximo pelo governo do país achasse por bem pura e simplesmente acabar com ele, enterrando vivo um ente cheio de saúde.





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2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é ! Eu também gosto quando os blogueiros resolvem mostrar que afinal os "têm no sítio" e fazem declarações claras e inequivocas!

Sima ta fladu na ALUPEKI: "Sem leru leru tcheu", Veiga foi incompetente como Ministro tchau ... e o Srª. que se segue pode entrar !

E que siga a oficialização do criolo sem argumentos "científicos" muito válidos mas que nós o comum dos mortais temos dificuldades em compreender.

Portanto vamos começar de novo. Vamos fazer um REBOOT ! Expliquemos essa estória como se fossemos burros, mesmo muito burros sem á partida achar que somos todos Doutores em Linguistica.

É preciso inveter a tendência do passado recente no Ministério de Cultura que foi um ministério de que aparentemente terá trabalhabdo mais para dividir os caboverdeanos do que para unir-nos. Terá tido mais tendência para balcanizar o pais do que para reforçar o nosso sentimento de nação.

Não será por decretos que se vai criar cultura, nem por decretos que se vai criar a lingua caboverdeana.

Aliás se assim fosse passado 500 anos de colonialismo nunca teria sobrevivido nenhuma outra lingua ou cultura que não fosse as do colonizador.

Unknown disse...

Quando se extingue um Ministerio da Cultura, para além de se estar a abrir mão do patromónio - todo o património - está-se a abrir a porta ao liberalsmo que não me parece seja o mais recomendável para Cabo-Verde e para os caboverdeanos!