A Porta Aberta

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É um pequeno livro, com pouco mais de cem páginas. Chamo-lhe, de forma pomposa, a minha bíblia. Leio as suas páginas, aprendendo sempre algo de novo, antes de iniciar cada montagem teatral nova. Antes de cada desafio. Se lermos o que Peter Brook nos diz na página 4 desta obra magnífica - «Para que alguma coisa relevante ocorra, é preciso criar um espaço vazio. (...) Mas nenhuma experiência nova e original é possível se não houver um espaço puro, virgem, pronto para recebê-la» - percebe-se perfeitamente porque tenho que lá ir beber. Vou lá, para me esvaziar.

«A Porta Aberta», de Peter Brook é o retrato revelador do genial dramaturgo inglês e apresenta aos leitores uma visão inédita desse artista enquanto trabalha: como escolhe as peças que dirige, como consegue extrair actuações extraordinárias dos seus actores e o que busca obter através daquilo que acredita ser a melhor metáfora para a vida - o teatro.

O livro divide-se em três textos, quase conferências. No primeiro, «As Artimanhas do Tédio» (um título genial), Brook diz-nos o óbvio tão dificil de materializar: que não será suficiente, para quem quiser revitalizar a cena, o retorno à utopia da origem sagrada do teatro. Cada nova criação propõe, antes de mais nada, o tríplice desafio da comunicação do artista consigo mesmo, com os seus companheiros de trabalho e com uma platéia desconhecida que só é possível auscultar permanecendo atento aos delicados sinais de atenção ou aborrecimento. O segundo, «O Peixe Dourado», reitera que a qualidade essencial do teatro é a sua vigência no instante. O terceiro texto é uma pequena delícia, intitulada, «Não há Segredos», onde de forma quase intimista, o autor nos abre as portas ao seu método de trabalho.

Absolutamente obrigatório. Além disso, lê-se num ápice, como um pequeno conto de encantar.




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4 comentários:

Cesar Schofield Cardoso disse...

Vi Hamlet (DVD) encenado por Peter Brook, seguido de um documentário da vida e obra deste velhote energético...fiquei encantado. É das pessoas que nos dão forças para continuar. Peter Brook é uma força da natureza, um amante incondicional da arte, um trabalhador afincado, um carácter rigoroso...um grande personagem do sécXX...e ainda deste século

Se houvesse livrarias de jeito em CV...

Abraço
César

Unknown disse...

Cesar

O documentário é magnifico! Realizado pelo filho. Agora, se queres o livro vai ao seguinte endereço:
http://www.webboom.pt/ficha.asp?ID=160548
Vale a pena. E em 15 dias tens o livro debaixo do braço.

Abraço!

Alex disse...

Do Peter Brook há dois momentos inesquecíveis(segundo o João são 3, mas não me lembro).
Um, mais recente, a peça "SIZWE BANZI EST MORT" do sul-africano Athol Fugard (em colaboração com dois actores John Kani e Winston Ntshona), dirigida pelo PB (ausente), no Festival de Almada de 2007 (o 24º). Extraordinário em todos os aspectos. Vi 2 vezes.
Outro, mais distante, a direcção para TV de uma série excelente sobre o Mahabarata.
O que me fica destas experiências, para além do que o João já disse do PB, é o sentido de contenção, de austeridade cénica (a eficácia do estritamente necessário, o expurgo do que é inútil, supérfluo ou ornametal), a valorização extrema da palavra, e um imenso amor pelos seus actores (quase sempre nús de qq vaidade ou vedetismo). Em PB, o vazio é sempre criativo. Até que ponto se pode despojar uma peça? Qual o limite, a fronteira, do estritamente necessário? Só a magia (sem espalhafato) de PB responde a estas questões, peça após peça.
Abçs
ZCunha

Unknown disse...

Quem fala assim, não é gago. Peter Brook é uma figura fundamental da história do teatro, pela abordagem, pela clareza, pelo amor à arte. Não me canso, não me canso. O que escreves responde, de forma certeira, a quem não conhece ou não entende a grandeza e a importância de PB no caminho que fazemos em busca de um teatro mais humano, ou seja, um teatro que seja mais teatro. Abr.