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Vamos todos para o Inferno

1. É uma notícia fresca, que pode mudar o Mundo. O Vaticano fez saber, em forma de entrevista, que a lista dos 7 Pecados Mortais vai ser actualizada. A modernidade assim obriga, já que veio dar uma dimensão social a novos pecados como a poluição ou o consumo de drogas.

2. Eram sete, mas a modernidade obrigou a Igreja a actualizar os pecados mortais e a renovar a lista de situações que, sem arrependimento ou confissão, condenam a alma humana ao fogo eterno do Inferno. Por isso, segundo se pode ler no jornal oficial do Vaticano, a partir de agora, o consumo de drogas, a poluição ou a desigualdade social passam a constar da lista de novos pecados que podem custar o descanso eterno.

3. A fonte é clara, sagrada e composta apenas por água benta. Estamos a falar do jornal Osservatore Romano, e de Gianfranco Girotti, responsável pelo tribunal da Cúria Romana, que explicou numa entrevista que os novos pecados vão para além da individualidade, ganhando uma dimensão social.

4. De todas as novidades, a manipulação genética é a considerada mais grave pela Santa Sé, «dentro da qual não se podem deixar de denunciar algumas violações de direitos fundamentais da natureza humana, através de experiências e manipulações genéticas, cujos êxitos são difíceis de prever e manter controlados», revela a referida entrevista.

5. Mas as novidades não se ficam por aqui. A partir deste momento, a pedofilia e aborto, não por mero acaso colocados lado a lado com se de pecados gémeos se tratassem, condenam a alma humana, assim como a injustiça social ou a poluição ambiental, uma área que, segundo Girotti, «desperta hoje grande interesse».

6. A lista não poderia ficar completa sem a condenação do consumo de substâncias proibidas. «A droga enfraquece a psique e obscurece a inteligência, deixando muitos jovens fora do circuito da Igreja», pode-se ler ainda na mesma entrevista divulgada em vários sítios noticiosos na Internet.

7. Esta é a segunda novidade dogmática profunda anunciada pela Igreja Católica nos últimos tempos. Para quem não soube, a primeira teve como centro nevrálgico o anúncio de que o Inferno, afinal, existe, e não são os outros. O Papa Bento XVI esclareceu recentemente, durante um encontro realizado em Roma, que “o Inferno existe“. Assim mesmo, com a singeleza com que um agente de viagens informa um turista céptico: “A Ilha da Reunião existe”.

8. O esclarecimento era necessário, já que o anterior Papa, João Paulo II, igualmente infalível na matéria, afirmara várias vezes que “o Inferno não é um lugar, mas um estado de privação de Deus”. Afinal, garante Bento XVI, o Inferno “existe mesmo, e é eterno”. Não é um estado, é um Estado.

9. São muitas novidades e podem provocar duas consequências inevitáveis: a primeira que salta à vista é a necessidade premente de se proceder a obras de remodelação e ampliação do Inferno já que, com os novos pecados mortais que aí vem, os inquilinos vão multiplicar-se de forma exponencial. Ainda por cima, sabendo-se, como foi anunciado, que o lugar é mesmo um lugar e não apenas um estado de espírito.

10. Não sei se estão a ver a gravidade da coisa. Os novos pecados resumidamente anunciam os seguintes pressupostos: (1) Não manipularás geneticamente o teu semelhante; (2) Não poluirás o ambiente; (3) Não causarás a injustiça social; (4) Não causarás pobreza; (5) Não acumularás excessiva riqueza; (6) Não usarás drogas.

11. Assim, à primeira vista, 98% dos governantes do planeta terra teriam lugar garantido no Inferno. A eles acrescentaríamos 99,5% dos administradores das grandes empresas globais, multinacionais, regionais ou locais. O pecado da droga pode também levar de uma acentada muitos bons cristãos, transformados por decreto em ovelhas negras, até porque ninguém ainda nos esclareceu se o vinho tinto, com uma média de 12 a 15% de álccol, e bebido na principal cerimónia religiosa catolica, pode também ser considerado uma droga ou não, ou se depende do local e /ou da quantidade em que é consumido.

12. As intenções são as melhores, mas como todos sabemos o Inferno também está infestado delas. Com tanta gente poderosa envolvida nesta nova política internacional do pecado, ficamos desconfiados se não terá havido algum empresário com vontade de investir que tenha comprado já uma quantidade razoável de terrenos no Inferno e projectado um resort com todas as mordomias, ou se algum responsável do local não terá definido certas áreas infernais, como Zonas Integradas de Desenvolvimento Turístico, com vista a fomentar o desenvolvimento sustentado do lugar. Até porque, tudo indica, a procura vai ser grande!

13. Ainda mais sabendo dos resultados de alguns estudos que não podem deixar de preocupar a cúpula da Igreja. Um dos últimos desses estudos revelou que hoje são mais as pessoas que verificam se têm os seus aparelhos electrónicos a carregar do aquelas que rezam antes de dormir. Ou o dado, revelado pelo Vaticano, de que 60% dos fieis deixaram de se confessar, por acharem não haver necessidade de um padre como intermediário do perdão divino. Possivelmente, agora utilizam a Internet ou telemóveis da 3ª geração para comunicar directamente com Deus.