Declaração Cafeana

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Todos os anos, por altura do Dia Mundial do Teatro, a UNESCO convida uma personalidade para escrever uma mensagem alusiva a esta manifestação artística. Este ano coube a vez ao canadiano Robert Lepage, actor, encenador e dramaturgo.

Mensagem para o Dia Mundial do Teatro 2008

«Existem várias hipóteses sobre as origens do teatro, mas aquela que me interpela mais tem a forma de uma fábula:

Uma noite, na alvorada dos tempos, um grupo de homens juntou-se numa pedreira para se aquecer em volta de uma fogueira e para contar histórias. De repente, um deles teve a ideia de se levantar e usar a sua sombra para ilustrar o seu conto.

Usando a luz das chamas ele fez aparecer nas paredes da pedreira, personagens maiores que o natural. Deslumbrados, os outros reconheceram por sua vez o forte e o débil, o opressor e o oprimido, o deus e o mortal. Actualmente, a luz dos projectores substituiu a original fogueira ao ar livre, e a maquinaria de cena, as paredes da pedreira.

E com todo o respeito por certos puristas, esta fábula lembra-nos que a tecnologia está presente desde os primórdios do teatro e que não deve ser entendida como uma ameaça, mas sim como um elemento unificador.

A sobrevivência da arte teatral depende da sua capacidade de se reinventar abraçando novos instrumentos e novas linguagens. Senão, como poderá o teatro continuar a ser testemunha das grandes questões da sua época e promover a compreensão entre povos sem ter, em si mesmo, um espírito de abertura? Como poderá ele orgulhar-se de nos oferecer soluções para os problemas da intolerância, da exclusão e do racismo se, na sua própria prática, resistiu a toda a fusão e integração?

Para representar o mundo em toda a sua complexidade, o artista deve propor novas formas e ideias, e confiar na inteligência do espectador, que é capaz de distinguir a silhueta da humanidade neste perpétuo jogo de luz e sombra.

É verdade que a brincar demasiado com o fogo, o homem corre o risco de se queimar, mas ganha igualmente a possibilidade de deslumbrar e iluminar.»

Imagem: montagem a partir da peça «Sonhos», do GTCCP




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3 comentários:

Carlos Parreira disse...

Subscrevo o texto do Robert Lepage. O teatro em todas as suas inúmeras facetas, é a capacidade se reinventar, criar coisas novas é de todas a que mais me fascina, partir de um simples texto ou frase e encerar uma peça de teatro é deveras estimulante e criativo.

Viva o teatro!

Abrç tds

Unknown disse...

podes crer JB, os destaques que deixas-te no texto falam por si.

Agradece à Micaela foi ela que mandou.

bali!

Unknown disse...

É isso aí, Odar. Viva o teatro!

Tide, a descoberta, foi graças à Pedra Bika. Fico-te a dever esta! Bali!