Café Cinematográfico

6 Comments
Este é, muito possivelmente, o mais belo beijo da história do cinema. Uma sequência absolutamente fabulosa do filme «Janela Indiscreta», do grande mestre Alfred Hitchcock. James Stewart, imobilizado por uma perna partida dorme na sua cadeira. Ouvem-se os ruídos da vizinhança. Alguém entra. Uma sombra, um despertar, uma princesa, um beijo lucinante, um diálogo arrepiante.

Só um realizador como Hitchcock seria capaz de nos dar um beijo assim.


Grace Kelly: And your love life?
James Stewart: Not too active...

"Rear Window" - Alfred Hitchcock (1954)



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6 comentários:

Alex disse...

Boa sequência. Filme extraordinário. As ideias mais 'simples' são quase sempre as melhores.
Vejo dois beijos.
Um - quanto ao mais evidente, no comment's. Até ousaria blasfemar dizendo que é um beijo d'época.

DOIS - Se repararem, há um outro beijo, mais subtil, mais discreto, mais secreto, infinitamente mais belo, mais surpreendente, porque antecipa o outro, todo ele desejo a brilhar no rosto da Grace. Só que este é muito mais íntimo, muito mais intenso, um beijo liberto do olhar do James Stewart, sem pudor, traiçoeiro, roubado à vontade do destinatário, quase uma violação daquele sono, dado em segredo, com os olhos, com os lábios, com o corpo, com a mente, intenso e todo ele intensão, intensão contida, tensão erótica, profundamente erótico aquele movimento da câmara, aquele crescer de um beijo sob a forma de desejo-sombra para o rosto-desejo. Um rosto a crescer para outro rosto. Dois rostos banhados de luz e uma sombra. Luz e sombra. À sombra do desejo, cresce já flor rara de um outro beijo. A sombra do desejo de Kelly a cobrir o rosto de JS. Ele acorda sob o peso dessa sombra impregnada de desejo. Reparem no primeiro fotograma, o primeiro beijo, delicado, sob o lado esquerdo do lábio. Depois, o rosto de James já coberto pelo desejo de Grace sob a forma de uma sombra, é já tão ostensivo como o próprio beijo. Magnífico. Ou não fosse este um filme sobre pormenores, sobre detalhes, e sobre olhares (verdadeiros e falsos, imagens e miragens, certezas e ilusões).
Não vêem? Paciência! Que querem que eu faça(?), nos filmes do Mestre Alfred há sempre quem veja a mais, ou quem veja a menos, mas nunca SÓ o que lá está. Delírio ou imaginação? Neste caso, no caso deste filme muito em particular, direi que é puro contágio. Delirium cinéfilum.
ZCunha

Unknown disse...

ZCunha, acabaste de descrever, não o OUTRO beijo, mas O beijo, a que me referia e a que se referem as imagens. É esse mesmo. E acompanhado de um diálogo, de arrepiar! Ganda cinéfilo! Abraço

Alex disse...

O Jimmy Stewart é o protagonista do filme da minha vida. Aquele que mudou a minha maneira de ver cinema. Um daqueles filmes que arrebatou a minha inocência e obrigou-me a crescer para uma outra forma de ver. O autor do dito, é um certo senhor de nome John Ford. Um filme com o qual eu não tinha nada em comum até ao dia em que o vi. Foi o meu encontro imediato do 3º grau, a minha estrada de Damasco, o meu mergulho no Ganges (tal como esse filme, também há um livro, e também uma música; 3 momentos que mudaram definitivamente a minha vida).
É um filme de cowboys, e que me recorde, é o único em que o herói não usa uma arma nem dispara um único tiro. Está apenas armado de livros, de boa educação, e daquela candura, daquela fragilidade, daquela inocência, que só o James Stewart sabe ter no ecran. Um dos 'preto e branco' mais coloridos que já vi.
Qual é o filme?
Depois conto.
ZCunha

Unknown disse...

Ficamos à espera, ZCunha. Abr.

Alex disse...

Já vi que a malta não está para desafios. Esquece!

Filme da minha vida: "O Homem que matou Liberty Valence" John Ford;
Livro: "Os Justos", do Camus
Música: a canção "Ribeira", dos JáFumega (a banda do Porto já acabou. 'Morrem' cedo os que os deuses amam!?)

Cada uma destas obras, representam marcos que mudaram a minha vida, e por isso cada um deles tem a sua história, perdão, tem a minha história.
Ab
ZCunha

Unknown disse...

ZCunha, agora falo eu. Há um filme, que certamente conheces, mitico por ter sido centenas de vezes referenciado pela pessoa que melhor escreve sobre cinema em lingua portuguesa - João Benard da Costa - e que será um dos melhores, também. Falo, obviamente, de Jonhy Guitar, de Nicolas Ray. Oh pá, que grande filme! «A ponta é uma passagem, prá outra margem!»