Declaração Cafeana

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Assisti na passada sexta-feira à apresentação pública dos resultados da terceira edição do programa CulturArte, onde dezenas de jovens oriundos de várias ilhas entre os 15 e os 18 anos tiveram a oportunidade de mostrar um pouco do que sabem e do que aprenderam em várias áreas artísticas, como a música, a dança, o teatro, o canto e as artes plásticas. Promovida pela Direcção-Geral da Juventude, esta jornada de "arte e cultura" tem como objectivo, segundo o programa oficial, "formar e capacitar jovens estudantes em diversas áreas artísticas."

A ideia é excelente e nada como passar duas semanas com professores capacitados, aprender um pouco mais e fazer a festa no fim, sonhando com altas carreiras no mundo artístico. Os resultados apresentados, até pelo pouco tempo de formação, também foram interessantes, com alguns momentos que nos faziam esquecer que no palco estavam jovens cabo-verdianos que, na maioria, estavam tendo as suas primeiras experiências formativas relacionadas com expressão artística.

Por isso, no meio de grande excitação dos jovens que terminavam ali um desafio importante, fiquei com um sentimento ambíguo, porque se por um lado foi tocante ver tanta promessa de talento junto, por outro não deixei de pensar que conseguindo este resultado em duas semanas de formação, que país poderíamos ser hoje se houvesse uma aposta sustentada, programada, coerente, forte, corajosa e consequente no ensino artístico em Cabo Verde? Se o que vimos foi o resultado de duas semanas de trabalho com apenas 4 professores e 4 monitores, o que se poderia conseguir com a introdução de um ensino artístico no Ensino Secundário onde estes e muitos outros jovens, tantos outros!, poderiam ter a oportunidade de ter não duas semanas, mas meses de um ensino artístico pedagogicamente competente e resultante de uma aposta assumida ao mais alto nível?

Sabemos, por outro lado, que está em curso a introdução do Ensino Artístico na Reforma Curricular em curso, e não poderia estar mais de acordo. Mas cabe perguntar: quem vai dar essas aulas? Quantas pessoas existem hoje em Cabo Verde, disponíveis, formadas e competentes para ministrar este ensino artístico? A resposta é fácil: muito poucas. E uma das razões é fácil de identificar: não se apostou na formação superior nesta área. Em mais de 30 anos de Independência quantos bolseiros do Estado houve para as áreas das artes plásticas, do cinema, das artes cénicas, do design, da dança? Poucos, para não dizer nenhuns. Daí que o trabalho pioneiro da M-EIA (Mindelo Escola Internacional de Artes) deve ser realçado e valorizado. Daí que a preocupação já manifestada pela Universidade de Cabo Verde na criação de um Departamento de Artes na maior instituição de ensino superior do país, não seja apenas uma medida necessária, mas sim um desígnio nacional. Mais vale tarde do que nunca, mas o futuro não pode esperar mais.



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3 comentários:

Unknown disse...

Desejo, sinceramente, que se façam coisas, que nunca serão demais para uma evolução atistica sustentada...Eu sou dos que acreditam que a arte, em todos os seus domínios, é um parâmetro insubstituível na aferição da cultura, seja de que sociedade
fôr.
Zito Azevedo

Unknown disse...

Zito, tenho que confessar que o silêncio generalizado da clientela do Margoso a esta declaração foi-me um pouco ensurdecedor. Pensei que este "desígnio nacional" tivesse mais interesse geral. Pelos vistos, enganei-me.

Unknown disse...

Meu caro: por vezes, as pessoas estão mais interessadas e, até, preocupadas, com os seus próprios "desígnios"...
Zito Azevedo