Declaração Cafeana

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Se vivesse nos Estados Unidos, onde ter consultas de psiquiatra é tão natural como ir ao dentista, eu seria cliente pela certa. Enervo-me com demasiada facilidade, sou tão susceptível ao elogio quanto à crítica, mesmo quando sinceros e bem intencionados, e sou incapaz de, numa primeira reacção, rir-me do insulto gratuito de fantasmas psicóticos com nicknames terroristas. Por isso digo também que o tempo, esse que faz com que depois de um segundo venha o outro é, de longe, o meu maior aliado, em todos os sentidos. 

A reacção de amigos ou conhecidos à última crónica desaforada provocou-me toda uma tempestade de emoções. Primeiro fiquei algo revoltado. Há pessoal que não consegue viver sem dar e receber à bruta. "Já sabes como eles são, porra!" Pois! Tentei escrever uma declaração logo pela manhã, depois outra à tarde, mas felizmente tomei a decisão de esperar e deixar o tempo fazer-me encontrar o bom senso que tantas vezes me falta em cima do acontecimento. A verdade é que nada disto tem muita importância. Considero que está tudo tão claro no que escrevi e tenho escrito, agora e no passado recente, sobre o actual estado da política cultural em Cabo Verde,  que nem vale a pena estar a ripostar arrojos grosseiros com citações de frases e ideias que qualquer um pode ler, dois post's abaixo.

Tenham lá calma, curtam o fim-de-semana que Deus falha mas não tarda, ou no mínimo, escreve direito por linhas tortas, o que é o mesmo que dizer, para quem acha que Deus não tem nada a ver com este enredo, que há que manter a esperança, que por natureza é a última a morrer. Esperança de que havemos de ter a língua nacional cabo-verdiana oficializada, as crianças aprendendo a ler e a escrever na escola as mesmas primeiras palavras que aprenderam em casa, uma política cultural decente, corajosa, arrojada, forte e coerente com os pergaminhos de quem faz da arte e da cultura uma forma de vida e que, se todos quisermos, Cabo Verde será amanhã um país melhor do que é hoje. No dia em que deixar de acreditar nisso, deixo de lutar e passarei a gastar o tempo que me resta a produzir pouco em muito tempo, e o muito tempo que certamente me irá restar, será gasto a maldizer aqueles que com pouco, muito conseguem fazer. 

Fotografia: Jim Fiscus




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3 comentários:

ora et labora disse...

exacto, apoiado!
;->>>

Tina disse...

Hoje não ia escrever nada, de tanto cansaço... Mas li o teu texto e não poderia deixar de dizer que é uma pena que as pessoas agridam anonimamente, cobardemente e sem se assumir como gente.
Tens aqui um blogue de muita qualidade, João, não só no conteúdo como na expressão da tua maneira correcta de estar no mundo. Nem sei como publicas os comentários anónimos e de baixo nível...

Unknown disse...

Creio que, por vezes, não se perde
muito em deixar "saltar a tampa",
muito embora seja, quáse sempre,
recomendável "contar até dez"...
Só que, não raro, não chega contar
até mil e, "quem não se sente não
é filho de boa gente". Haja muita
paciencia...
Já agora, você estar a glosar a coisa ou "Deus tarda mas não falha"?
Zito Azevedo