Crónica Desaforada

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Sonhos Mindelenses

Sonho 1

Um espaço enorme e afastado da cidade do Mindelo, que um dia foi pensado para ser centro industrial, e que já se encontrava equipado com estradas alcatroadas, luz e ligação para água e esgoto, é hoje um importante Centro Tecnológico, inicialmente previsto para a capital do país, mas que posteriormente se entendeu poder ser concretizado na ilha de S. Vicente como forma de aproveitar, ou melhor, reaproveitar, uma infra-estrutura que custou muito dinheiro ao Estado e que desbaratou um potencial de esperança dos habitantes da ilha, já que nunca teve utilização que fizesse justificar a avultada verba ali aplicada. Este Centro Tecnológico contempla, além de locais próprios para a investigação e elaboração de programas com vista a melhorar a aplicação prática da governação electrónica, um conjunto de estruturas direccionadas para a formação, incentivo à utilização das novas tecnologias, espaço de exposição permanente com as últimas novidades, com circuito directo e aberto para todos as escolas do básico, liceu e pólos universitários da região Norte, que fazem desse espaço um local privilegiado de contacto, primário ou não, das novas tecnologias. Parte do pessoal da NOSI foi transferido para esta ilha, uma outra parte do pessoal deste centro foi garantido com mão-de-obra local. Muitos outros estudantes ali se formam, sendo que o curso superior de programação do actual pólo da UNI-CV tem feito deste espaço local um espaço privilegiado de aplicação prática de matérias e investigação universitária, a nível de mestrados e doutoramentos.


Sonho 2

O espaço que se consignou chamar de Museu de Arte Tradicional, volta ao seu nome anterior de Centro Nacional de Artesanato e torna-se um local vivo, com a presença de artistas e artesãos produzindo, com uma mostra de artesanato nacional que tira proveito de um trabalho pioneiro de recolha e investigação feito nos primeiros anos de Independência e que tem sido desbaratado como se fosse possível ter o produto de uma valiosa colecção escondida num armário poeirento, como se alguém tivesse vergonha do seu próprio passado, colecção essa que se retira dos baús apenas em ocasiões especiais e visitas de Estado. O local, situado na principal praça da cidade, está agora, e finalmente, cheio de vida. Com uma exposição permanente, representativa da história e evolução do artesanato nacional em todas as ilhas do país e guias qualificados que a podem explicar a estudantes e turistas; com ateliers de artistas e artesãos que ali encontraram um centro de produção para fazer, mostrar como se faz e vender os seus produtos; com espaços de formação profissional em áreas como a tapeçaria, batik ou pintura; com ateliers de ocupação dos tempos livres para crianças, transformando o espaço em mais um pólo de educação artística; com exposições temporárias de menor dimensão e encontros de reflexão sobre o nosso percurso artístico. O local é hoje uma referência nacional de como se pode dignificar não apenas um espaço físico, mas toda uma herança que em muito contribuiu para a paisagem visual que hoje encontramos nas artes cabo-verdianas.


Sonho 3

No espaço em frente ao mercado de peixe, enorme e que ocupa todo um quarteirão – tendo o outro lado voltado para a Praça da Estrela – foi projectado e concebido num prazo extraordinário uma estrutura baptizada de Espaço Carnaval, e que contempla oficinas para os criadores; espaços de formação em áreas como costura, desenho artístico ou percussão; espaço museológico para as peças mais valiosas e belas de cada desfile; escritórios para os diferentes grupos de Carnaval existentes de forma a se poder projectar cada Carnaval com a antecedência que uma actividade como esta, geradora de imensa riqueza para a ilha, sem dúvida merece. Este espaço encontra-se directamente ligado à M-EIA, Escola Internacional de Artes do Mindelo, onde os artistas e criadores dos grupos tem a possibilidade de obter uma formação em exercício permanente, com aulas não apenas relacionadas com a concepção de andores e trajes, mas também de desenho, geometria, história da arte, entre outras. Desde a concretização deste espaço emblemático da cidade, e que contou com o apoio dos principais beneficiários do Carnaval mindelense, como a Câmara Municipal, o Governo e algumas das principais empresas sediadas na cidade, o Carnaval do Mindelo deu um salto qualitativo inigualável.


Sonho 4

Ainda na principal praça da cidade e depois de muita luta, conseguiu-se que o Governo, em parceria estratégica com a Câmara Municipal da ilha, adquirisse o edifício do Éden-Park, que desde que foi classificado com património nacional pela Assembleia Nacional, deixou de poder ser destruído para nele se construir um edifício de vinte e tal andares como inicialmente previsto. Hoje, ali está sediado o Palácio da Cultura Éden-Park do Mindelo, com duas pequenas salas de cinema, um auditório para espectáculos de teatro e música e espaços para ensaios e aulas de teatro. Também aqui, tal como no espaço ali ao lado do Centro Nacional de Artesanato, este local se transformou num centro activo de formação artística, formal e informal, vocacionada para as artes do espectáculo. A Praça Nova, com a atribuição a privados, por concurso, dos espaços contíguos frontais ao edifício, ganhou nova animação, e não poucas vezes a população da cidade é confrontada com exercícios de teatro de rua dos alunos dos cursos ali ministrados ou com as filas de gente querendo ver a última novidade cinematográfica, neste último caso, um filme todo ele rodado em Cabo Verde e interpretado por actores e actrizes locais.


A realidade

Acordei. O imenso espaço ali do lado direito da estrada de S. Pedro, continua inexplicavelmente vazio. Em frente ao mercado, num edifício semi-abandonado, ouve-se a batucada de um ensaio de carnaval, intenso, pois o tempo não é muito, já que não houve programação atempada. Na Praça Nova um espaço que se chama a si mesmo de museu faz o que pode para justificar essa designação, enquanto ali mesmo ao lado, a mais emblemática sala de espectáculos do país, continua apodrecendo aos olhos de todos. Abro o jornal. Mindelo está com uma taxa de desemprego de 27%. Ao longe, ouvem-se os sons dos muitos bailes de máscaras. Mindelo está em festa. Sabe pa cagá.

Crónica Publicada no Jornal A Nação

Foto de felix.h




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15 comentários:

Unknown disse...

O que prova que mesmo sonhar é dificil...

Toninha V disse...

Boa Boa João! ganda Sonho meu, assim vais longe! A sonhar a sonhar...quanto ao snho num.3 não creio que qualquer coisa directamnete ligado M-eia possa ter espaço, temp e vez para outro(s) artista(s) que não o senhor reverendissimo Leão lopes...mas keep dreaming! holala que belos sonhos João branco...uraaaa uraa oxalá se concretizem...sim sim..

Unknown disse...

Toninha, o sonho comanda a vida. (mas gostei do teu comentário orgásmico)

Anónimo disse...

MDJOR post q jà puseste no blog:
sE ESSES sonhos se tornassem realidade eu iria finalmente vivier em São Vicente.
Deviam colocar-te comõ ministro da cultura!
Nôs terra ê sabe mas ainda há mtas lacunas. Ciõisas q não há e q me recuso a viver sem: cinema e teatro.
Continuação de boa tarde
Maria (caboverdeana a vivier na estrangeiro)

Unknown disse...

Maria, obrigado pela parte que me toca, mas nada de me rogar pragas!

Anónimo disse...

" Sonho meu, sonho meu, vai buscar quem mora longe, sonho meu, vai buscar a felicidade, sonho meu..."


É caso para se dizer que nesse caso o pesadelo é acordar!

Pimintinha

Anónimo disse...

Tim, tim, tim, tim, tim, triimmmmm, trimmmmmmmm

Som do relógio a despertar !

Anónimo disse...

Olha um sonho que eu acho que era capaz de concretizar bem mais depressa:

Aparece um novo Amilcar Cabral. Este consegue mobilizar gente para fazer a luta e muitos anos depois é declarado a indepedência de S.Vicente.
Isso sim é um sonho concretizável. Os outros parecem-me que são utopias.

Unknown disse...

Pss, eu ainda sonho, mas no teu caso quer parecer-me que já entraste na fase do delírio absoluto... Será do Carnaval?

Anónimo disse...

Há dias vendo um comentador a comentar a libertação de Mandela em 1990 ele dizia isto : "ninguém previa que o Apartheid tivesse o desfecho que teve". Podemos comparar Cabo Verde ao Sistema de Apartheid ? Quem sabe. No entanto há sonhos impossíveis de serem concretizados que são aqueles que tu enunciaste. S.Vicente na cabeça de quem manda em Cabo Verde serve para ser "Sab pa cagá" ! E má nada. Quem quer viver num lugar "Sab pa cagá" vai para S.Vicente. Quem quer viver num lugar "sab pa vivê" vai para Praia.
Ou seja os teus sonhos são meras utopias enquanto S.vicente não tiver gente a pensar no desevolvimento de S.Vicente. Ou seja enquanto não estivermos preparados e com gente capaz de procurar percorrer o nosso próprio caminho. Enquanto estivermos a espera de migalhas e esmolinhas que caem do banquete que se está a ter na Capital e arredores nada feito. E atenção que isso nada tem a ver com bairrismos. Ou seja há e sempre houve e sempre haverá ministros de estado com poder de influenciar o rumo das coisas. Porque é que isso não é feito ? Razão: Soncent e sab pa cagá. Lembro de um dos cronistas do A Semana chamado Ludjero Correia (um dos tipos que cuspia os seus insultos bairristas do piorio contra S.Vicente) uma vez esscreveu isto : "S.Vicente não precisa de mais nada a não ser um Sambodromo.
É a própria natureza do governo centralista que herdamos dos portugueses. E o engraçado é que no tempo colonial estavamos melhor. E porquê ? Porque como a "capital" estava muito mais longe (em lisboa) e estavamos abandonados a nossa sorte, cada ilha teve que "Dá sê expediente". E esta foi a única fase que crescemos: Companhias de Carvão, Empresa que explorava o cabo submarino são pequenos exemplos. Portanto o único caminho viável para S.Vicente é desenvolver com projectos forjados aqui, trabalhados aqui, financiados aqui. Não esperemos que nos caia do céu alguma coisa de jeito(como cai garrafões de óleo e sacos de arrroz nos campos de refugiados em África).

Anónimo disse...

E é claro como é carnaval posso comparar o Sistema Apartheid com a Democracia caboverdeana que ninguém leva a mal.Quais são os termos de comparação ? Não sei ... olha no apartheid havia sitios para pretos viverem que era chamados de bantustões. Esses sitios é claro que nada tinham a ver com as reluzentes cidades de Cabo, Port Elizabeth, Pretoria. Olha o termo de compração pode ser este: Praia é Pretória e Mindelo é "Bantustão do Norte".

Tchale Figueira disse...

Sem utopia o mundo seria um caixote de lixo João. Mas aos politicos tontos não podemos dar-lhes trégua...

Anónimo disse...

"I have a dream" que um dia S. Vicente ficará livre das amarras da capital e poderá então dizer, sem medo "Isto não é sonho vamos cuidar desta ilha como ela merece".

Anónimo disse...

Pessoal Pessoal... Mais uma vez voçes a fazerem pepel de tontinhos e cheio de garganta.

Bom... Vamos por partes:

1. São Vicente tem o maior parque industrial do pais, visto!

2. São Vicente tem o maior Porto do Pais, visto!

3. A sede da Shell, Enacol, Enapor, onde fica? São Vicente, visto!

4. Apesar de falida, o maior centro de pescas de Cabo Verde, a Interbase, onde fica? São Vicente, visto!

5. O recente Aeroporto Internacional de CV fica aonde? visto!

6. O primeiro Liceu, Escola Técnica, o Isecmar onde fica?
De Escolas Superiores Mindelo não tem falta.

7. A maior parte dos membros do Governo são de que região do Pais?
É só fazer uma pesquisa para chegar a conclusão que são do Barlavento.


Concluindo, São Vicente tem todos os instrumentos para o desenvolvimento.

Eu pergunto, então porque ainda continuam no marasmo?

Os politicos da terra que estão no Governo não fazem nada pela sua ilha? Ou será que quando vêm a cor do dinheiro e poder esquecem do berço?

Porque a diaspora da ilha não investe na terra que os viu parir?

Porque reclama São Vicente, se ilhas como a Brava não têm nada?! Eles sim têm direito a reclamar!

Os Sãovicentinos deviam arregaçar as mangas e trabalhar no duro para ver a sua ilha a ir para frente,
ao invés de pensar só em carnaval má passá sábe!

Isso sim é o vosso grande problema, só querem sabura e não querem trabalhar!


Cumprimentos

Anónimo disse...

Vão mais é trabalhar, seus sambadjudos complexados!

Na Praia nem lembramos que voçes existem!

Querem tomar independencia? É pá estejam avontade!