Mais uma sugestão, até porque tem estado «em escuta» muitas vezes:

Yo-Yo Ma, Bobby McFerrin - Hush (1992)


Yo-Yo Ma é um dos melhores violoncelistas de sempre, dotado também de uma dose razoável de bom humor. Bobby McFerrin tem um aparelho vocal capaz de tudo. Nem lhe posso chamar voz, porque não se trata só disso. Vai muito além.

Este disco Hush é uma maneira destes dois se divertirem e ainda nos convidam para a festa! Ali ao lado fica a Musette de J. S. Bach (com uma surpresa à Jimmy Hendrix), e depois o Vôo do Moscardo de Rimsky-Korsakov. Atenção, porque tudo o que se ouve é um violoncelo e a voz do Bobby McFerrin. Tudo o que ouvirem que não seja o violoncelo, mesmo que não pareça humano, é! Por alguma razão ele se auto-intitula Robot McFerrin. Impressionante! Um album absolutamente cinco estrelas.

Boa escuta!






          A bengala, as moedas, o chaveiro,
          A dócil fechadura, as tardias
          Notas que não lerão os poucos dias
          Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
          Um livro e em suas páginas a ofendida
          Violeta, monumento de uma tarde,
          De certo inesquecível e já esquecida,
          O rubro espelho ocidental em que arde
          Uma ilusória aurora.

          Quantas coisas,
          Limas, umbrais, atlas e taças, cravos,
          Nos servem como tácitos escravos,
          Cegas e estranhamente sigilosas!

          Durarão muito além de nosso olvido:
          E nunca saberão que havemos ido.


          Jorge Luis Borges



          Imagem: «Wrong» de Toyib





Porque é que os nossos políticos nunca
usam gravata nos comícios?



À melhor resposta, ofereço um café.





Porque sou amigo e admirador. Porque está nestes dias a passar por momentos muito difíceis. Porque é um bailarino e um coreógrafo de primeira linha, aqui deixo uma homenagem a

António Tavares, bailarino, coreógrafo ou autor, de projectos tais como «Fou-Naná», «SOBREtudo», «Danças de Câncer» ou «K'mê Deus».



Foi em Cabo Verde, mais exactamente em São Vicente que António Tavares iniciou o seu trabalho na área da dança, como bailarino do grupo Mindel Stars. Com este grupo faz a sua primeira digressão internacional em 1986, passando pela Holanda, Senegal, França e Macau. Em 1991 funda os grupos Crêtcheu e Compasso Pilon, desenvolvendo um trabalho de pesquisa sobre a dança africana e, principalmente, as danças tradicionais cabo-verdianas. Pouco depois, recebe uma bolsa de estudo do Atelier Mar e vem para Portugal, onde estuda na Escola Superior de Dança e na Escola de Artes e Ofícios do Espectáculo, onde acaba também por leccionar. Além de trabalhar com importantes coreógrafos portugueses - entre outros, com Olga Roriz, Aldara Bizarro, Francisco Camacho, Rui Nunes e José Laginha - desenvolve ao mesmo tempo os seus próprios trabalhos como coreógrafo e bailarino, seguindo uma linha de criação que se poderia designar por afro-contemporânea.

Imagens retiradas daqui




Fartura de Génios



Para ver melhor, clicar na figura





Um Dragão na garagem


1. Há alguns anos atrás ouvi uma história que me ficou gravada na memória. Esse pequeno conto foi-me relatado a propósito dos artistas «com aspas», ou dos «pseudo criadores», que não escolhem solo ou pátria para germinar: é a história do Dragão na garagem.

2. Dois amigos conversam um com o outro, e um deles tenta convencer o parceiro que tem instalado na sua garagem pessoal um imponente Dragão. Como é evidente, perante este acontecimento insólito, a reacção do interlocutor só podia ser de incredulidade. «Como é possível isso? Os Dragões não existem, e se existissem, com certeza que o último lugar que escolheriam para viver seria numa garagem escura e desagradável, ainda por cima numa cidade como esta. Não acredito nisso!»

3. Como nestas coisas o melhor é ver para crer, o indivíduo convidou o seu amigo a visitar a tal garagem para comprovar com os seus próprios olhos a estranha história do Dragão. Uma vez chegados lá, o amigo olhou e tornou a olhar e não viu nada. «Não vejo aqui nenhum Dragão, meu caro». A resposta não tardou: «Claro que não o vês. Nem poderias vê-lo, porque este Dragão é invisível

4. Desconfiado, o amigo ripostou: «Muito bem, se ele é invisível, arranja um pouco de tinta num spray, a gente espalha por aí, e se de facto o teu Dragão estiver dentro desta garagem, vamos poder localizá-lo. Assim poderemos tocar nele, sentir a sua forma pelo tacto.» Mais uma vez a resposta rápida: «Isso não vai ser possível, porque este Dragão que aqui está é incorpóreo, ou seja, não é constituído por matéria.»

5. Cada vez mais desconfiado, o sujeito volta a tentar: «Muito bem, se ele é invisível e incorpóreo, com certeza que poderemos localizá-lo pelo cheiro. Uma criatura tão grande e medonha como essa, tem que emitir algum odor que possamos identificar!» Sorridente e cada vez mais confiante, o dono da garagem não perde tempo para afirmar que «este Dragão, infelizmente, também não tem cheiro

6. Então aí o amigo dá a sua estocada final: «meu caro, qualquer coisa, viva ou não viva, animal ou vegetal, que é ao mesmo tempo, invisível, incorpórea e inodora, é uma coisa que não existe! O teu Dragão de garagem só existe na tua imaginação

7. O que representa esta história? No contexto em que me foi contada, tinha directamente a ver com casos de auto intitulados dramaturgos e escritores que o eram, apesar de nunca na vida terem publicado qualquer obra, ou escrito algo que se parecesse com uma peça que se pudesse reclamar a sua autoria. Nem sequer era certo se, de facto, já tinham escrito uma linha que fosse.

8. Tal como o dono da garagem, a resposta também é pronta: «eu tenho coisas escritas, só que estão numa gaveta; ainda não as mostrei a ninguém porque são projectos literários que ainda estão por amadurecer.» Faz-se aqui uma pausa teatral, e o indivíduo remata: «mas isso não me tira o direito de me considerar um escritor!» Com direito a convite especial para lançamento de livros ou para estreias de peças teatrais em noites de gala. As peças, ou as obras, existem, só que ainda ninguém as viu!

9. Esta tendência com que facilmente algumas personagens caricatas se transformam aos olhos da sociedade em artistas é de bradar aos céus, e é tanto mais visível quanto mais pequena for a comunidade onde estivermos inseridos. Em Cabo Verde, onde se cultiva a basofaria como um produto nacional de primeira necessidade, a tendência de vermos transformados em artistas indivíduos que nunca na vida fizeram nada que justificasse tal título é também aqui maior do que por ventura desejaríamos.

10. O termo artista está de tal forma banalizado entre nós que tudo parece ter perdido o sentido. Muitas vezes, o que é mais grave, é a própria sociedade que inventa os seus Dragões, inventa os seus artistas, nomeia-os e espeta-os nas páginas da imprensa escrita, na rádio ou na televisão, com benevolência e irresponsabilidade. Aí, quando a criatura, mesmo que inocente, é apaparicada desta forma, está logo o caldo entornado, porque depois de atingido o poleiro, já ninguém o tira de lá.

11. Coloca-se tudo no mesmo saco da classe artística e intelectual cabo-verdiana, onde palavras como formação, exigência, profissionalismo, história, currículo e talento têm pouca ou nenhuma importância. Também aqui em Cabo Verde, seja nas artes cénicas, na literatura, na música ou nas artes plásticas, temos espalhados Dragões que por serem invisíveis, incorpóreos e inodoros, não tem existência real, mas pavoneiam-se com o rei na barriga, dando lições a meio mundo, intitulando-se de artistas que estão apenas a dar «o seu contributo para o desenvolvimento sustentado da nossa cultura!»

12. Foi curioso, pois, observar as reacções quando um indivíduo sem papas na língua como Abraão Vicente, a quem dedico este desaforo, escreveu que «em Cabo Verde não temos um pensamento voltado para a arte». Foi vê-los, aos Dragões, saírem esbaforidos das suas garagens particulares, a clamarem por uma existência repentina!

13. Cá por mim, continuo a pensar que a obra faz o indivíduo, e aprendi desde os primeiros tempos de escola, que embora variando no tempo, conforme a espécie considerada e o local onde se encontra, o que amadurece demais acaba por apodrecer.


Mindelo, 30 de Janeiro de 2008







Qual dos Sete Pecados Capitais
é o mais genuinamente cabo-verdiano?


À melhor resposta, ofereço um café.




Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.

As lágrimas são minhas
Mas o choro não é meu.

António Gedeão


Imagem: «Tears from Sahara», Sue Anna Joe






Por sugestão de um cliente, abre-se esta nova secção do Café Margoso, para comentar albuns e gostos musicais.

A primeira sugestão só podia ser esta:

Keith Jarrett Koln Concert

Keith Jarrett é um daqueles músicos raros de encontrar. Esta constatação é bem simples de explicar: o pianista americano, nascido na Pensilvânia, conseguiu em 30 anos de carreira agradar os puristas do jazz e ao mesmo tempo os ouvintes de música clássica. O seu nome é garantia de uma interpretação sem igual e improvisação no limite máximo. Os seus concertos são maratonas de muita inspiração e suor numa dedicação sem igual.

Este álbum, gravado na Alemanha, em 1975, é o seu maior momento ao vivo registado em disco e o mais vendido de sempre. Jarrett está sozinho, sem acompanhamento, interpretando quatro faixas, as mesmas deste duplo vinil. O pianista cria uma atmosfera entre ele e o instrumento que transcende a relação 'normal' entre ambos. Por mais de uma hora, ele transmite ao público todo o seu domínio e criatividade. É impressionante o talento improvisador de Jarrett. Com a mão esquerda ele marca o ritmo e com a direita tira melodias que impressionam. Desde o lançamento do disco, as apresentações de Jarrett são muito concorridas nos maiores festivais de jazz do mundo. Outros discos só de piano e ao vivo vieram depois como os gravados em Paris e Viena.

Vale a pena comentar que o músico tocou dois anos com Miles Davis (em 69 e 71) e tem em Bill Evans a sua maior influência.

Boa escuta!





Digam lá, depois de um certo tempo de convívio, qual o vosso Margoso favorito?

As opções são as seguintes:

1. Perguntas
2. Desaforos
3. Bocas
4. Cafeína
5. Aspecto Gráfico
6. O conjunto
7. Elogios? Bo tá dod!

Vamos lá a votar! Daqui a duas semanas, os resultados serão anunciados!



Eis os resultados da segunda sondagem do Café Margoso

Pergunta: Para que serve um blogue?

Número total de votantes: 58

Resultados:

Para rigorosamente nada - 0 (0%)
Masturbação mental do autor - 19 (32%)
Importante eco social - 30 (51%)
Puro Passatempo - 7 (12%)
Nunca pensei ninsso - 2 (3%)

Bem, pelo nosso universo, o partido do «eco social» ganha com maioria absoluta, mas não deixa de ser surpreendente a votação dessa pujante força blogária, que é o movimento da «masturbação autoral», que tem uns muito razoáveis 32% dos votos. Algum comentário?






Serei o único a considerar que o estilo de dança
do Jorge Neto vale bem uma candidatura a
Património da Humanidade?



À melhor resposta, ofereço um café.




Arménio Vieira

"Não gosto do poder. E mais, não gosto de pessoas que representam o poder - isso ainda chateia mais. O poder já não é platónico, não é aquilo que a gente vê. (...) Fulano assume o poder e torna-se arrogante, pensa que tem conhecimentos quando, afinal, às vez não tem - tem poucos

Por certo
nenhum país era o teu
Cada fragmento de terra
rua ou caminho
era-te degredo e lugar de contenda

Viajante sem passaporte
buscavas a pátria
na morte

Frase e poema inclusa na entrevista a Michel Laban, in «Encontro com Escritores»




Obrigado Eileen Barbosa pelo duplo aniversário do blog espaço Soncent, quase sempre um espaço que marca pela pertinência do que lá vem escrito, revelador da inteligência da sua autora.

Não ficou demasiado «intchada» com os prémios que já ganhou, que a fez entrar directamente e sem mais etapas na galeria das «mulheres escritoras» e esperamos, por aqui, que nos traga mais obras interessantes para ler, criticar e apreciar.

Gosto muito de conversar com a Eileen, porque o espectro de temas vai um pouco mais longe do que o habitual na maioria da população jovem, e é precisamente aqui que termino: penso que a massa cinzenta desta menina-mulher deveria apostar em fazer um pouco mais uma análise da sua própria geração (e das imediatamente anteriores), porque me parece que aqui reside um dos maiores desafios e/ou problemas do futuro do nosso país, e que se resume numa só palavra:

mentalidade.

P.S. Não gosto muito desta foto, mas foi o que consegui arranjar!





«A coisa mais injusta da vida é a maneira como ela termina. Está tudo ao contrário. Acreditem que o verdadeiro ciclo da vida está de pernas para o ar. Devíamos primeiro viver num asilo, até nos expulsarem por sermos demasiado novos. Ganhávamos um relógio de ouro e íamos trabalhar. Depois estávamos 40 anos num ou vários empregos até ficarmos suficientemente novos para podermos aproveitar a reforma. Era uma curtição. Podia-se fumar à vontade, beber muito álcool, ter muitas namoradas ou esposas e fazer muitas festas. No fim deste período, preparamos a entrada na universidade. Depois entramos num colégio, também com várias namoradas, mas mais novinhas. Algum tempo depois ficávamos criança. Sem nenhuma responsabilidade, hem? Depois, passa-se à fase do bebézinho amoroso, de colo. Esta parte passa depressa e rapidamente se regressa ao útero materno. Os últimos nove meses de vida são passados a flutuar e a dar pontapés. Tudo termina com um grande e fantástico orgasmo! Não seria perfeito?»

Charles Chaplin





          Heliofante: filho de um deus
          chamado Sol. Gosta do arco-íris
          e do girassol. Quando fode,
          é por foder. Nunca come.
          Para quê? Basta um raio
          para lhe carregar a pilha.

          Helifante: tem um hélice na cauda,
          e caso quisesse poderia voar.
          Mas não. Cada um é o que é:
          o condor sente-se feliz lá em cima,
          porém o sapo coaxa contente no charco.

          Leofante: tem o seu quê de leão,
          mas não quer ser rei. Às vezes
          sente raiva e um nó na garganta.
          Porém controla-se e vai embora.

          Olifante: tem chifres enormes,
          mas é mole de pila. Dão-lhe
          com os pés as damas, mas ele
          não se zanga, pois sabe
          que o amor para durar
          só pode ser o amor
          de que falava Platão.

          Polifonte: não tem pátria, por opção.
          Tanto se lhe dá que faça sol
          ou caia neve, nada o aquece
          ou arrefece. Até gosta de Pasárgada,
          que, entre outras coisas,
          é o melhor sítio do mundo
          para se andar de burro.

          Plurifante, Mitofante, Necrofante,
          Ornifante, Putifante, Androfante,
          Fenolofante e assim por diante.

          Elefante não, porque já existe


          Arménio Vieira




Desejo Realizado



Para ver melhor, clicar na figura




Está na moda dar designações «in» a profissões que há bem pouco tempo, tinham nomes comuns que todos identificavamos sem problemas. Hoje, isso já não é possível. Eis alguns exemplos:

Supervisora Geral de Bem-Estar, Higiene e Saúde
(mulher da limpeza)

Coordenador de Fluxos de Entradas e Saídas
(porteiro)

Coordenador de Movimentações e Vigilância Nocturna
(segurança)

Distribuidor de Recursos Humanos
(motorista de autocarro)

Especialista em Logística de Combustíveis
(empregado da bomba de gasolina)

Consultor Especialista em Logística Alimentar
(empregado de mesa)

Técnico de Limpeza e Saneamento de Vias Públicas
(varredor)

Especialista em Logística de Produtos Químico-Farmacêuticos
(traficante de droga)

Técnico de Marketing Direccionado
(vigarista)

Técnica Especialista em Terapia Masculina
(prostituta)

Técnico Superior de Distribuição de Artigos Pessoais
(carteirista)

Técnico Superior Especialista de Assuntos Específicos Não Especializados
(político)


Alguém quer propor novas categorias profissionais?




Foi ontem e foi ao mesmo tempo assustador e fenomenal. Uma chuva de trovões e relâmpagos abateu-se sobre os céus de Soncent. Nunca tinha vivido uma dessas, pelo menos com essa intensidade. Os Deuses estavam loucos.





Um mindelense com uns copos a mais
fala mesmo inglês ou isso é apenas um
mito urbano de trazer por casa?


À melhor resposta, ofereço um café.



Se eu fosse Capa de Revista 02


Imaginem o pessoal da Rolling Stones a vir cá fazer uma reportagem sobre a minha carreira artística, ou algo do género. Que tal? E eu que de música entendo muito pouco! Adê, faz bem ao ego...

Bô podê fazê bos kapas lissim




«(...) a finalidade do Estado não é fazer os homens passarem da condição de seres razoáveis à de animais brutos ou de autómatos, mas, pelo contrário, é instituído para que a sua alma e o seu corpo se desobriguem com segurança de todas as suas funções, para que eles próprios usem uma Razão livre, para que não lutem mais por ódio, cólera ou artifício, para que se suportem sem animosidade uns aos outros. A finalidade do Estado é portanto, na realidade, a liberdade

Baruch Espinoza, in «Tratado Teológico-Político»


Imagem: pintura «Jaqueline» de Pablo Picasso



A Eileen pediu-me uma lista dos livros-da-minha-vida. Fiz a minha lista, absolutamente certo de me ter esquecido de alguns títulos essenciais (o que torna o esquecimento ainda mais imperdoável). Não vou colocar a lista aqui, mas apenas dizer que no topo estava este livro

porque no início, dizia assim:

«Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lembrava-lhe sempre o destino dos amores contrariados

Agora, digam-me: é ou não é a mais extraordinária primeira frase que algum dia foi escrita num romance? Eu acho que é.




Na hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas
Meu espírito te sentiu.
Ele te sentiu imensamente triste
Imensamente sem Deus
Na tragédia da carne desfeita.

Ele te quis, hora sem tempo
porque tu eras a sua imagem, sem Deus e sem tempo.

Ele te amou
E te plasmou na visão da manhã e do dia
Na visão de todas as horas
Ó hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas.

Vinícius de Moraes


Imagem: excerto de foto de João Barbosa, da peça «Saudades d'Água»





A crítica literária Marta Lança que já esteve entre nós quando do lançamento do projecto da revista Dá Fala, escreveu um longo comentário, a propósito do livro de António Tomás, que vale, certamente, um post à parte.

Por isso, aqui vai (sublinhados meus):

«Li e recomendo vivamente! estou ansiosa para saber a opinião dos cabo-verdianos sobre este livro que vos dirá tanto! Aqui vao umas dicas sobre o António Tomás que escrevi para um jornal angolano.

Perante uma plateia pan-africana Agualusa apresentava em Lisboa um novo escritor e o livro que tem feito saltitar a crítica por ser um africano a escrever com propriedade sobre estas coisas, “numa linguagem jornalística, apoiada numa investigação rigorosa,” e inaugural no discurso de dentro, pois dá “a ver um pensador e combatente africano numa perspectiva africana.” António Tomás acolhia os elogios com o seu ar calmo e ponderado, nesse momento de grande realização pessoal depois de tanta luta e sacrifício para um livro exigente como este dar à estampa. Nós, o público-leitor, queremos perceber a história dos nacionalistas africanos e agradecemos a António Tomás o resultado do seu esforço.

Foi ainda português que nasceu na Luanda de 1973, ano da guerra árabe-israelita, de Allende, do boom dos preços do petróleo, dos máximos níveis de produção de café e algodão em Angola e do assassinato de Amílcar Cabral, oito meses antes da declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau. António, o mais velho dos rapazes lá de casa entre cinco irmãos, pai de Malange e origens de S. Tomé e mãe de Luanda, passaria a infância numa Angola socialista com filas para o pão e cartões de abastecimento onde se apontava os dois quilos de açúcar e de arroz, mas sem grandes discrepâncias sociais.

“A minha mãe era muito católica e queria-nos fora da política. Então quando os meninos da minha idade iam para os desfiles do 1º de Maio ouvir discursos do presidente, nós íamos para a Igreja. Em Angola na igreja exercitava-se democracia.” Foi lá que teve a primeira experiência jornalística num jornal de parede e onde organizou uma biblioteca. A vontade de ler começa com os despojos do colonialismo, devorando os livros deixados por portugueses. Na casa do vizinho, uma dessas casas abandonadas pelos colonos, descobre os policiais e a sua precisão.Na biblioteca do comissariado de Luanda, descobre os americanos: Hemingway e Faulkner. Mas é Sartre e o existencialismo a primeira marca funda da literatura.

(...)

É em 2007 que a editora Tinta-da-China, cujo catálogo exala vitalidade e qualidade, pega na fabulosa biografia que António Tomás lhes entrega, um “golpe de sorte” como diz a editora, para a tornar neste livro, pronto para as leituras devotadas. E assim nos chega O Fazedor de Utopias - Uma Biografia de Amílcar Cabral que tantos dados nos dá sobre um dos idealistas mais importantes da história recente do continente africano. Depois de tudo, Tomás diz que o mais importante legado de Cabral é “a humanidade, a sentimentalidade, a crença num futuro melhor” deste nacionalista que teve, como outros, que resolver a crise enraizada na sua própria identidade, de ser português e africano ao mesmo tempo, resolução que passava pela auto-determinação do seu povo num movimento alargado. Na descrição das práticas e conceitos da “guerra anti-colonialista”, percebemos a tentativa deste homem, que se dizia humanista, para fundar “um meio termo entre o ideal comunista de Mão Tsé Tung – o poder da classe camponesa – e de Ernesto Che Guevara – o poder da revolução de quadros”. Revela-nos o seu “sonho irrealista de defender a unidade entre guineenses e cabo-verdianos”, o lado prático do estratega e as qualidades éticas de pensador.

O livro irá ser lançado numa edição cabo-verdiana, na terra que tanto fez sonhar Amílcar Cabral. António Tomás passará o ano de 2008 em Angola a fazer trabalho de campo para a sua tese cuja escrita retomará nos EUA. A disciplina e a exigência consigo mesmo fizeram-no chegar até aqui, com a persistência de quem acredita, tal como Cabral, que o conhecimento e a cultura são formas eficazes de evolução das sociedades.»




Basofaria património cultural?


1. Jaques Copeau escreveu: se o actor é um artista, ele é de todos os artistas o que em maior grau sacrifica a sua pessoa ao ministério que exerce. Ele não pode dar nada se não se dá a si mesmo, não em efígie, mas de corpo e alma, e sem intermediário. Tanto sujeito quanto objecto, causa e fim, matéria e instrumento, a sua criação é ele mesmo. É aí que habita o mistério: que um ser humano possa pensar e tratar a si mesmo como matéria de sua arte, agir sobre si mesmo como sobre um instrumento ao qual ele deve identificar-se sem deixar de distinguir-se, agir e ser o que age ao mesmo tempo, homem natural e marioneta...”

2. Muitas vezes existe a ideia de que basta «ter jeito», como se costuma dizer. Somos todos artistas, a arte nasce de geração espontânea, semeada pelo vento. Lembro-me dum episódio que me aconteceu quando Flora Gomes estava a rodar o filme «Nha Fala» no Mindelo: um transeunte parou-me no meio da rua, a perguntar como poderia participar. Disse-lhe que embora não estivesse a trabalhar nas filmagens, que lhe poderia informar onde se deslocar, com quem falar, enfim, as respostas de circunstância. Para logo depois, ele rematar sem hesitação: “é que não sei se sabe, mas eu sou extremamente dotado para a representação.” Nem mais nem menos. Foi directamente e sem hesitações para o extremo do “extremamente dotado”. Um fora de série, portanto.

3. Germano Almeida disse-o muitas vezes: a basofaria nacional é um património que muito tem contribuído para a nossa própria sobrevivência enquanto Nação. Mesmo conhecendo a ironia corrosiva do escritor, esta afirmação, várias vezes e publicamente assumida sem problemas de maior, é dita com tal seriedade, que somos levados a concluir que é mesmo para levar a sério.

4. Podemos até concordar, ou não, e mesmo neste último caso, compreender o que o leva a defender essa tese do valor cultural da basofaria cabo-verdiana. Mas quando se fala de teatro e do trabalho do actor, devemos ter mais cuidado na aceitação sem reservas de atitudes narcisistas.

5. E aqui é que penso ser o cerne da questão. A humildade é um instrumento indispensável para alguém que encara a arte de representar com o mínimo de seriedade. E humildade quer dizer, em termos práticos, que os fazedores do teatro nacional, devem ter consciência da sua grandeza, mas sobretudo da sua pequenez. Que devemos saber medir o caminho e os progressos ou recuos de um percurso teatral sempre com a plena consciência que aquilo que eventualmente tenhamos atingido é uma gota no oceano, ou um grão de areia, se comparado com o que ainda temos para aprender e viver.

6. Humildade quer dizer que cada papel, cada peça, cada cenografia, cada encenação, cada actuação, deve ser encarada como um novo desafio onde se tem que começar tudo de novo. Trazendo no corpo e na alma as marcas das experiências passadas, é certo, mas nunca se deixando cegar por elas. Humildade no trabalho do actor é vencer a terrível luta interior entre o nosso ego e a noção de que é fundamental fazer melhor no trabalho seguinte.

7. Sabe muito bem ouvir os elogios sobre determinada peça ou trabalho teatral. Mas não nos podemos deixar iludir. Ainda temos tudo por fazer. Humildade no trabalho do actor não é sinónimo de menosprezo do que já foi alcançado. Antes pelo contrário, é saber que se o nosso último trabalho foi bom, foi elogiado e teve a qualidade ambicionada, o esforço exigido para que o trabalho seguinte não defraude as expectativas terá que ser ainda maior.

8. Nesta estrada da caminhada do artista / actor, o declive vai aumentando à medida que vamos subindo, o que é o mesmo que dizer que quando mais subimos, mais bem preparados temos que estar para não dar um terrível trambolhão e então, aí sim, “cair na real”, como dizem os brasileiros.

9. Humildade é ainda ter-se a noção da importância da aprendizagem contínua, seja em regime autodidacta, seja aproveitando acções de formação. E nesse aspecto, os amantes do teatro residentes no Mindelo são até bastante privilegiados, porque este tipo de actividade formativa tem tido uma constância e variedade nada desprezível.

10. Mas muitas vezes a sensação que se tem é que o pensamento comum é que o número de vezes que se pisa um palco é inversamente proporcional à necessidade de reciclagem ou ampliação de conhecimentos na arte de representar. Este aparente sentimento de superioridade artística é perigoso e redutor. Devemos, obviamente, sentirmo-nos orgulhosos do nível que o nosso teatro logrou alcançar. Mas nunca devemos esquecer a máxima que nos diz que quanto maior a ascensão maior o tombo.

11. A formação é um pilar fundamental para quem começa a experimentar a arte, qualquer que ela seja, mas é-o ainda mais para quem já apresenta um percurso artístico que deveria andar sempre ligado com a noção crucial de que a aprendizagem contínua é a melhor forma de manter e ampliar tudo o que já foi alcançado.

Mindelo, 24 de Janeiro de 2008


Imagem: pintura «O Narciso», de Caravaggio





Não suportar o cheiro das lojas dos chineses
é um sintoma de xenofobia?



À melhor resposta, ofereço um café.



O escritor e investigador António Tomás
vai estar por aqui na sexta-feira, dia 25 de Janeiro
a apresentar e lançar o seu livro.

A não perder!


«O Fazedor de Utopias -
uma biografia de Amilcar Cabral»


Vamos ver, ouvir & comentar!

Horário: às 18:30
Local: Biblioteca do Centro Cultural Português - IC, em S.Vicente




Se eu fosse Capa de Revista 01


Imaginem o pessoal do National Geographic a vir cá fazer uma reportagem sobre o Mindelact, ou algo do género. Que tal? É engraçado, e faz umas cócegas no ego. Porque não?

Ideia retirada daqui.
Bô podê fazê bos kapas lissim




A Cada cabeça, sua sondagem




Para ver melhor, clicar na figura





«(...) «Vive o instante que passa. Vive-o intensamente até à última gota de sangue. É um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E no entanto ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro. Porque nunca mais ele será o mesmo nem tu que o estás vivendo. Absorve-o todo em ti, impregna-te dele e que ele não seja pois em vão no dar-se-te todo a ti. Olha o sol difícil entre as nuvens, respira à profundidade de ti, ouve o vento. Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa que és. Assim o dom estúpido e miraculoso da vida não será a estupidez maior de o não teres cumprido integralmente, de o teres desperdiçado numa vida que terá fim.»

Vergílio Ferreira, in «Conta-Corrente IV»


Imagem: pintura de Jackson Pollock





Estou confuso: Soncent é sabe pa cagá
ou Un vez Soncent era sabe?


À melhor resposta, ofereço um café.



Porque hoje é dia do município de S. Vicente, Mindelo,
a cidade dos dois corações, nos anos 40:



Rua de Lisboa (o coração diurno)



Praça Nova (o coração nocturno)




Foi publicado num comentário, mas merece um «post» à parte. O meu amigo Gilson, rapper crioulo por convicção, escreveu a propósito do Vinte de Janeiro:


Nô t'usá esh t-shirt de Cabral
Ma sê legado no que t'usal

Nôs gratidão podia ser mas forte
ma no te comemorá ê sô sê morte

D'20 d'janer no te lembrá sempre
ma no que t'conchê 12 de Setembro

Já nô pol num cont moda um mobilia
esuecid kel derramá sangue pish dez ilha

"Se alguém um dia f'zem mal, é quem te li entre nós"
Sê frase te continuá actual tê dia d'hoje

A letra já está, venha a música!






O que aconteceria à lenda,
se Narciso aprendesse a nadar (yooou)?


À melhor resposta, ofereço um café.




Para entrar na semana com um sorriso nos lábios.

Arte com Pêras ou como se podem fazer esculturas
criativas & actuais com esta fruta...


«Michael Jackson: antes e agora»



«Mike Tyson e Avander Holyfiel (após o combate)»



«Bill e Mónica, sem mais comentários...»





(...) Influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O indivíduo deixa de pensar com os seus próprios pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o actor de um papel que não foi escrito para ele. O objectivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesma. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas. A coragem desapareceu da nossa raça e se calhar nunca tivemos realmente.(...)

Oscar Wilde - em «The picture of Dorian Gray»

Imagem do filme «Juventude em Marcha», de Pedro Costa





Amílcar Cabral
(naturalmente)

(1924-1973)


"Ao serviço da causa da humanidade, para dar a minha contribuição, na medida do possível, para a vida do homem se tornar melhor no mundo.

Este é que é o meu trabalho.”

Amílcar Cabral morreu, assassinado, no dia 20 de Janeiro de 1973.





Tu vives — mãe adormecida —
nua e esquecida,
seca,
fustigada pelos ventos,
ao som de músicas sem música
das águas que nos prendem…

Ilha:
teus montes e teus vales
não sentiram passar os tempos
e ficaram no mundo dos teus sonhos
— os sonhos dos teus filhos —
a clamar aos ventos que passam,
e às aves que voam, livres,
as tuas ânsias!

Ilha:
colina sem fim de terra vermelha
— terra dura —
rochas escarpadas tapando os horizontes,
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!


Amílcar Cabral - Praia, Cabo Verde, 1945


Imagem: foto de João Barbosa, peça «Tertúlia», X Curso de Iniciação Teatral CCP






A basofaria é-nos inata ou
adquire-se após uma certa idade?


À melhor resposta, ofereço um café.



Tartaruga Emigrante




Para ver melhor, clicar na figura




O bailarino e coreógrafo Mano Preto faz manchete na última edição do jornal Artiletra, e no seu interior podemos ler uma longa entrevista, onde fala de si, da sua obra, das suas aspirações, dos seus sonhos, das suas mágoas.

Aqui ficam algumas frases que dão que pensar:

«Em Cabo Verde dança-se muito a mentira. A maior parte das danças que se fazem em Cabo Verde é tudo mentira, porque não é uma dança genuína, não é uma dança nossa, não é uma dança orgânica. (...) Dançar o zouk é mentira, dançar a morna com uma pessoa que está apaixonada, ao som de um violino, isso é verdadeiro

«O nível intelectual dos cabo-verdianos é muito baixo. É um povo que ouve 90% de música sem qualidade, que lê pouco e que não está à altura de perceber coisas mais abstractas e universais. E basta ver o nível do nosso ensino, o nível de uma pessoa com o 12º ano, fala e escreve mal o português. Dificilmente consegue perceber um grupo que está há 20 anos a dançar.»

«No processo de criaçao há mais angústia do que gozo

«Temos que ter a humildade de perceber que apesar do sucesso que o grupo tem tido, é preciso ainda aprender muito e entender que quase não sabes nada. É só percebendo isso que vais evoluindo.»

«É preciso saber aproveitar este ritmo que o cabo-verdiano tem para transformá-lo em algo de qualidade. E não se pode pensar que não se deve trabalhar. Muitos pensam que como Cabo Verde é um país de música, basta colocar um guitarra às costas e já se é músico. Quanto mais ritmo tiveres, mais precisas trabalhar esse ritmo.»

Aplausos, Mano!



O artista plástico Mito vai estar hoje,
a mostrar do que é feita a sua arte.

A não perder!


Sonora, fonética & virtuália, & outras formas de ver e ouvir, sob o mantra de FishBonEye

Vamos ver, ouvir & comentar!


Horário: às 18:00
Local: Salão Nobre da Câmara Municipal de S.Vicente




Sabiam que hoje, dia 18 de Janeiro, é
Dia Mundial do Riso?




Nô proveitá p'andá tud dia de dent kaskôde!

Ayan!

Imagem: foto da peça «Cloun Creolus Dei», do Grupo de Teatro do CCP





A propósito da «Pergunta Cafeana» do K, o poeta José Luiz Tavares escreveu o seguinte comentário e que, com a devida vénia, passo a transcrever (sublinhados meus):

«Foi uma bela surpresa para mim, este teu blog, João. Da única vez que nos vimos (em setembro de 2004, lembras-te?), tivemos um arranca-rabo civilizado sobre a questão do crioulo.

Como sabemos a questão não é o K, né?

Eu dividiria em três grupos as pessoas que manifestam reservas em relação ao ALUPEC: os prudentes, os de má-fé e os desconhecedores.

Se as pessoas estudassem um pouco mais (mas aprender dá trabalho, não é?) não diriam tantas asneiras como tenho visto por aí (por exemplo, saberiam qual o estatuto das siglas, como ALUPEC, nomes próprios, etc),isso independentemente de serem a favor ou contra o ALUPEC. Acredita que os asneirentos não estão apenas de um lado.

É certo que o K (uma das mais esbeltas letras do alfabeto!) torna a escrita um bocado monótona, mas convenção por convenção...

Em todo o caso, já não se pode usar o argumento (usado não há muito por alguns) que os defensores do crioulo eram umas bestas na escrita em português, porque alguns deles têm obra literária num português que causa espanto até na metrópole, se assim se pode dizer.

Aos interessados recomendo o livro «Proposta de bases do alfabeto unificado para a escrita do cabo-verdiano», da autoria do «Grupo para a Padronização do Alfabeto», editado em 2006 pelo Instituto de Investigação e Património Culturais. Talvez assim se digam menos disparates, e possamos falar com conhecimento de causa, ainda que divergindo.

Um abraço de um admirador do teu trabalho

José Luiz Tavares»

Eu tomei a liberdade de dizer qualquer coisa mais a este respeito. E foi assim:

«Obrigado pelo comentário. Como disse acerca de uma outra «pergunta cafeana», isto não será para levar muito a sério, mas apenas para, tendo a ironia (minha figura de estilo predilecta) como força motriz, irmos conversando sobre algumas coisas, desmistificando, brincando, partilhando e fundamentalmente, nos aproximando uns dos outros.

Não sou linguísta e adoro a letra Kapa. Já fiz duas traduções de peças de Shakespeare para o nosso crioulo e o kapa lá está, imponente. Tenho pena é que o Cê também não esteja. Há simplesmente palavras que me custa abdicar do tradicional «cê de cão». É uma convenção, como dizes, e nada que o hábito não nos consiga tornar monges, mais tarde ou mais cedo.

Aliás, não tenho qualquer dúvida que os teóricos e linguístas que estão na origem da proposta do ALUPEC fizeram um trabalho cientificamente sustentado, rigoroso, empenhado. Isso nunca esteve em dúvida.

Agora, não é a mesma coisa ler as poesias do Sérgio Frusoni tal como ele as escreveu, ou passá-las para um «ALUPEC» puro.

Digo eu.

Aceita este abraço, aqui do Norte!
João Branco»





Um Starlet é uma manifestação exterior de pobreza?


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Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.

Pablo Neruda

Imagem: «Water serpents I» de Gustav Klimt