Já sabemos que o Mindelo é uma cidade vocacionada para as artes cénicas. Quando menos se espera, uma peça teatral espreita na mais inesperada esquina. O tempo em que uma estreia era notícia e cabeçalho dos jornais já passou. Agora é uma quase normalidade. Tanto assim é que podem até acontecer estreias sem que demos por isso.

Foi o que aconteceu com a peça "Nada é Impossível", que estreou no auditório do Centro Cultural do Mindelo, ontem ao final da tarde. Tenho o bilhete mesmo aqui há minha frente, doutra forma não acreditava. Com o subtítulo "para aquele que crê em Deus" ou "também você pode ter a sua vida transformada" é um espectáculo que, ao que parece, conta com uma interacção muito intensa com o público e há quem diga que é uma comédia. Do meu ponto de vista, que não estive lá e só acreditei no que aconteceu porque pessoas próximas viram com os seus dois olhos que a terra há-de um dia engolir, esta foi mas é uma grande tragédia.

Não sei se já entenderam, mas o auditório do Centro Cultural do Mindelo, a mais importante e utilizada sala de espectáculos de S. Vicente, foi utilizada para um culto de uma igreja denominada Igreja Maná, que entre outras coisas cura ou ajuda a curar infertilidades, as mais diversas doenças, mesmo aquelas que a ciência jura serem incuráveis, como a Sida ou o Cancro, ajuda os mais incautos a prosperar nos negócios e alivia dores de coluna ou de cabeça, entre muitas outras atribuições e poderes, manifestados a troco sabe-se lá do quê. 

Ali mesmo ao lado do auditório decorria ainda a XXIV Feira do Livro e naquele mesmo auditório foi apresentado, 24 horas antes, um romance. Não se sabe se esta sessão foi marcada para aquela sala por causa da última peça estreada naquele espaço, que por ironia se chamava "No Inferno", mas o que se ficou a saber é que o maior centro cultural da ilha de S. Vicente,  uma estrutura do Estado, da responsabilidade do Ministério da Cultura de Cabo Verde, para sobreviver tem que se sujeitar a este tipo de negócio das almas. 

Imperdoável. Inadmissível. Batemos no fundo. 


  



"Eles comem tudo e não deixam nada."
José Afonso - Músico



Ler a notícia aqui





Um pai mexicano, protege o seu filho com uma máscara. A Organização Mundial da Saúde lançou o alerta nível 5 (na escala de 0 a 6). Acompanhem a evolução da situação em todo o mundo, sempre actualizado, aqui

Ficção científica? Não, está mesmo a acontecer.








Já devem estar cansados de receber este tipo de informação pela Internet, mas nunca é demais lembrar esta simples e precisa reflexão e cálculo enviados à CNN por um atento telespectador: 

O plano de resgate dos bancos com dinheiro dos contribuintes dos E.U.A. custará a desmedida cifra de 700 bilhões de dólares, mais os 500 bilhões que já se entregaram aos bancos, mais os bilhões que os governos da Europa entregarão aos bancos em crise nesse continente. Porém para tratar de dimensionar, só em parte, as cifras envolvidas, o telespectador fez o seguinte cálculo:

"O planeta tem 6,7 bilhões de habitantes. Se dividissem 'só' os 700 bilhões de dólares entre os 6,7 bilhões de pessoas que 
 habitam o planeta, equivaleria a entregar 104 milhões de dólares a cada um! Com isso, não só se erradica de imediato toda a pobreza do mundo, como automaticamente se transformam em milionários todos os habitantes do planeta." Ele conclui dizendo: "Parece que realmente há um pequeno problema na distribuição da riqueza!"

Fazendo um segundo pequeno cálculo, vamos examinar de perto e mais exactamente o caso dos espanhóis: O estado espanhol rega os bancos com 30 billhões de euros, que saem dos bolsos dos espanhóis. 
O Estado comprará 30 bilhões de euros de dívidas dos bancos para evitar o colapso financeiro. Ora, neste momento, a população de Espanha é de, segundo dados oficiais de 2008, 46.063.511 de habitantes. O cálculo é simples de fazer: 30 bilhões de euros divididos por 46.063.511 de habitantes dá a módica quantia de 652,18 milhões de euros para cada espanhol, aproximadamente. Seja qual for a sua idade, raça, credo religioso ou clube de futebol de que é adepto, cada espanhol é um potencial milionário.

Nós todos já sabemos que há muita coisa nesta crise que está mal explicada, mas cada vez mais faz sentido esta frase de David Rockefeller: "só precisamos da crise certa para que todas as Nações aceitem a Nova Ordem Mundial." Ou seja, somos todos podres de ricos, mas muito mais podres do que ricos.




"Sabes, muitas vezes, muitas mesmo, os colegas criticam, reenvindicam sempre nas costas do chefe e quando chega a hora de mostrar a sua indignação ou apelar à justiça ou aos direitos, calam-se de fininho e deixam os outros passarem por revolucionários, insolentes, entre outras coisas. Mas são lições que se tiram e é assim em muitos lados do mundo e aqui também, o cabo-verdiano não está para se chatear, prefere engolir o sapo, ganhar os seus 20 continhos e pronto."

Comentador Anónimo






Hoje, 29 de Abril, é

Dia Mundial da Dança


"Eu só acreditaria num Deus que soubesse dançar!"

Friedrich Nietzsche




"O novo Ã¡lbum de Mayra Andrade 
está quase pronto e já tem nome:  Stória Stória. 
Que venha depressa."





Depois do concerto de Tito Paris com a Orquestra Metropolitana de Lisboa falou-se da possibilidade de Cabo Verde iniciar um trabalho de base para poder vir a ter a sua própria orquestra sinfónica. Exemplos de programas sociais ligados ao campo musical há vários, um pouco por todo o mundo, mas talvez o exemplo da Venezuela seja um dos mais exemplares. O Arco da Velha deu o mote e aqui fica a sugestão: ver o documentário "The Promise of Music" realizado por Enrique Sánchez Lansch, que revela os bastidores de uma ideia de sucesso: a Orquestra Sinfónica Simón Bolívar.

A ideia foi lançada nos anos 70 por José António Abreu, um professor de Economia e músico amador, propondo este um projecto simultaneamente musical e de apoio social. "El Sistema" (abreviação popular para Fundación del Estado para el Sistema Nacional de las Orquestras Juveniles e Infantiles de Venezuela) é um programa que, desde então, procura auxiliar jovens nascidos em famílias com dificuldades económicas extremas. A ajuda chega na forma de um programa gratuito de ensino musical, a cada jovem atribuindo um instrumento e, desde logo, um lugar numa orquestra. Os mais novos iniciam o seu percurso de aprendizagem em orquestras infantis, evoluindo (com a idade e a técnica) para orquestras juvenis. Escolhidos entre os melhores das diversas orquestras espalhadas pelo país, os músicos da Orquestra Sinfónica Simón Bolívar representam o topo deste "sistema" de ensino. Alguns destes músicos tocam hoje nas principais orquestras mundiais.

El Sistema envolve hoje cem mil jovens venezuelanos, divididos entre perto de 200 orquestras infantis e juvenis. A vontade de fazer o filme surgiu quando o realizador conheceu Edicson Ruiz, que recentemente havia sido contratado pela Filarmónica de Berlim. As histórias do "sistema" e da Simón Bolívar, que o contrabaixista lhe contou, pediam que alguém as revelasse ao mundo.

E foi isso o que Enrique Sánchez Lansch fez. Partiu para a Venezuela, começando por visitar o Centro, num bairro pobre de Caracas, que é sede de trabalhos, partindo depois para cidades de província, para conhecer as orquestras na base de todo este projecto. Com mais curiosidade pelas histórias de vida dos músicos que encontra, que pelas obras que interpretam, o filme apresenta-nos casos de jovens que encontraram na música uma profissão que nunca haviam imaginado antes de lhes ser entregue um primeiro instrumento. The Promise of Music acompanha ainda a orquestra numa viagem à Europa, para uma actuação em Bona, na Beethoven-Halle.

Já agora, quem conseguir mandar-me o filme, adorava tê-lo para mostrar ao maior número possível de pessoas. Depois da montagem de peças de Shakespeare nas cadeias (revelado aqui), chega a Orquestra dos pobres, mostrando que há sempre lugar para a educação artística. Haja quem queira apostar, promover e investir numa área cada vez mais essencial.

Fonte: aqui





Até que ponto a defesa de postos de trabalho 
justifica o nosso silêncio?


À melhor resposta, ofereço um café








Esta vai para o comentador do Café Margoso que assina com as iniciais RB, pela poesia que trás com tudo o que diz (no sentido literal do termo). Não deixes de cá vir, pois dás um tom especial ao estabelecimento. Espero que gostes do tema que escolhi. Aquele abraço!




Fotografia de Dmitry Popov




Muito se fala na questão da equidade. Em Cabo Verde a palavra, que poucos sabem o que significa, tem até direito a um Ministério próprio. Ora, a Islândia está a um passo de fazer jurisprudência, já que as mulheres estão a acusar, sem papas na língua, os homens pela crise financeira que colocou o país na banca rota. Procuram agora por uma solução feminina para colocar o país de pé e a primeira-ministra interina, Johanna Sigurdardottir, tem boas possibilidades de ganhar as próximas eleições.

Num artigo elucidativo da revista Der Spiegle pode-se ler: "Esta é uma crise feita por homens", clama Halla, uma das poucas banqueiras mulheres do país. "São sempre os mesmos tipos. Noventa e nove por cento andou na mesma escola, conduz os mesmos carros, ouve a mesma música e tem as mesmas atitudes. Eles é que nos colocaram nesta situação e, pior de tudo, parece que se divertiram ao fazê-lo." Halla crítica o sistema que se foca de maneira agressiva e indiscriminada na maximização dos lucros a curto prazo, um comportamento "tipicamente masculino. É como uma competição de pénis, a ver quem é que o tem maior."

Está-se mesmo a ver: quando a crise atingir Cabo Verde a sério, só espero que as nossas mulheres políticas, entre as quais se destacam Cristina Duarte, Cristina Fontes ou Isaura Gomes, assumam a luta e digam de sua justiça. A culpa desta crise é mesmo dos homens?

Via: Notas ao Café





Esta semana a escolha recai para um outro café, o Café dos Loucos. Um blogue com uma selecção de textos e imagens que valem uma visita de tempos em tempos. Segundo o autor «aqui estou fora das coisas cívis e na pura região da arte», e eu concordo com ele. Fica a sugestão para esta semana.






"Assim vão destruindo a nossa ilha. Ninguém mexe uma palha."

Tchalê Figueira - artista cabo-verdiano




Por ocasião do Fesquintal de Jazz, memorável acontecimento que teve lugar em 2002 na Praia, participei num programa da televisão de Cabo Verde sobre o evento. A componente musical esteve a cargo de uma menina chamada Isa Pereira, que não conhecia e nunca tinha ouvido cantar. E devo dizer que fiquei encantado. Maravilhado, mesmo. Com o timbre, com a afinação, com a criatividade colocada na interpretação, com a postura. Ali estava uma cantora com tudo para ser estrela. Não dessas estrelas (de)cadentes que nos aparecem todas as semanas com etiqueta de artista colada na testa e de tamanho inversamente proporcional aos inexistentes currículos pessoais, mas uma daquelas estrelas que justifica a projecção que a música de Cabo Verde continua a dar ao país.

Sete anos depois, Isa Pereira lança o seu primeiro trabalho discográfico. E revela, à partida, inteligência no que podemos chamar de "gestão de carreira" por duas razões fundamentais: primeiro, não teve pressa em lançar o seu disco, esperou, amadureceu, melhorou e enriqueceu o imenso potencial que revelara a cada actuação ao vivo; em segundo lugar, convidou Hernani Almeida para produtor discográfico do seu primeiro trabalho, uma boa decisão, não só pela qualidade inata do músico em causa, mas por ser alguém que consegue tirar dos intérpretes o melhor em cada tema apresentado.

Ainda não ouvi o disco em causa, mas fui ao concerto de apresentação, Sábado passado no Mindelo. Fiquei conquistado, claro. Está ali uma estrela poderosa que pode muito bem marcar a música de Cabo Verde, fazendo o seu caminho, conquistando o seu espaço e deixando espantados os especialistas do chamado mundo da world music. Destaca-se a enorme qualidade dos músicos que a acompanharam, com destaque para o irmão da cantora, Valdo Pereira. Depois de muito aplaudida, Isa Pereira acabou voltando para o palco para cantar a música "Santiago", de Mário Lúcio, e acabo lamentando que esta versão (linda, linda, linda!) não faça parte do primeiro trabalho discográfico da artista. Mas vou cobrar, sempre que a voltar a ver, para que faça parte do próximo.


P.S. A imagem foi retirada do sítio do jornal A Semana, na rubrica "Artista da Semana". Devo dizer que me espanta que um fórum moderado, e possivelmente o que tem maior audiência entre os cabo-verdianos, permita o tipo de comentários levianos e mentecaptos que se escreveram a propósito desta (excelente) entrevista. Não há liberdade de expressão que justifique certo tipo de vómito cibernético.



Mais do que nunca, cuidado com os porcos (ou porcas) que dormem nas vossas camas...









Bom fim-de-semana







"A rádio vira o disco e toca o mesmo"

Carlos Santos - Jornalista


Ler entrevista completa, aqui







Se eu nada fizer, isto nunca vai mudar


1. Em tempos de ditadura ou em períodos de grandes dificuldades económicas e sociais, a música sempre foi um veículo poderoso de transmissão de mensagens. 

2. Quem não se lembra nos últimos anos da governação portuguesa de Cavaco Silva, a forma como uma música de Pedro Abrunhosa se tornou um hino da luta e sintoma da mudança que se confirmaria pouco tempo depois. 

3. Passados todos estes anos, vive-se hoje em Portugal um fenómeno semelhante, com uma música dos Xutos & Pontapés, intitulada "Sem Eira Nem Beira", que se está a transformar numa cantiga de protesto contra o estado de coisas actuais, mais especificamente contra o governo de José Sócrates. 

4. A música é poderosa, fica no ouvido e a letra... bem, a letra serve como uma luva aos tempos que correm (ouvir a música, aqui):

      Anda tudo do avesso
      esta rua que atravesso
      dão milhões a quem os tem
      aos outros um passou bem
      Não consigo perceber
      quem é que nos quer tramar
      enganar
      despedir
      e ainda se ficam a rir

      Eu quero acreditar
      que esta merda vai mudar
      e espero vir a ter
      uma vida melhor
      Mas se eu nada fizer
      isto nunca vai mudar

      conseguir
      encontrar
      mais força para lutar…

      Senhor engenheiro
      dê-me um pouco de atenção
      há dez anos que estou preso
      há trinta que sou ladrão
      não tenho eira nem beira
      mas ainda consigo ver
      quem anda na roubalheira
      e quem me anda a comer

      É difícil ser honesto
      é difícil de engolir
      quem não tem nada vai preso
      quem tem muito fica a rir
      Ainda espero ver alguém
      assumir que já andou
      a roubar
      a enganar
      o povo que acreditou.

5. Hoje, 25 de Abril, é uma boa altura para nos questionarmos porque é que num país musical como Cabo Verde a chamada canção de intervenção ou de protesto anda arredada das preocupações dos nossos compositores, grupos e intérpretes. Afinal, não se passa nada?

6. Aliás, como se sabe, a música de intervenção têm uma longa tradição na música cabo-verdiana, directamente ligada à luta anticolonial e à posterior afirmação de uma nova Nação independente. 

7. Posso estar enganado, mas parece-me que desde essa época, a canção de protesto praticamente desapareceu do panorama musical crioulo e talvez a única excepção seja algum do movimento hip-hop cabo-verdiano, mas que tem pouca expressão social.

8. Rui Machado que organizou a colectânea Música de intervenção cabo-verdiana escreveu que surgiram outras músicas após a independência "criticando o regime de partido único e as inerentes limitações democráticas, mas mesmo em situação de eleições livres continua a haver motivos de desagrado que levam alguns poetas e músicos a exteriorizar através dessa forma de arte, a revolta que sentem perante certas e determinadas situações."

9. Pode até ser assim, mas tendo em conta a importância que a música tem no país parece-me que em certas situações a música de intervenção e a canção de protesto deveria ter um peso muito maior no conjunto da música que se ouve todos os dias nas rádios nacionais.


Mindelo, 25 de Abril de 2009





Solte-me, por favor

Uma história contada por quem a testemunhou e que é hoje aqui publicada por inspiração deste post do Bianda

Numa bela noite estrelada, na pacata ilha das dunas - antes, muito antes daquele território se ter transformado num pedaço de Itália - um indivíduo do sexo masculino, já alcoolizado, começou a perturbar toda a gente que se encontrava no bar, o único da vila. Chamadas as autoridades, o polícia de serviço, o único existente, fez o que lhe competia: fechou o homem no chilindró, a ver se o acalmava. Nada como uma noite de solidão, para se pensar na vida e tomar um pouco de juízo, disse para si mesmo.

No dia seguinte, o homem acordou espantado dentro da prisão. Não se lembrava de quase nada, muito menos de como teria ido parar naquele lugar sinistro, a única cela da única esquadra existente na ilha. Gritou, oh da casa!, mas ninguém o acudiu. A esquadra de uma cela só estava deserta. Quando verificou que a porta estava aberta, compreendeu de imediato qual era a sua situação e sorriu. Calmamente saiu do local e foi para o mesmo bar de sempre. Lá estava sentado o único polícia a jogar uril, afinal estava um Domingo solarengo, não era dia para se passar enfiado no cubículo escuro e desconfortável que era o seu local de trabalho, muito menos por causa de um irresponsável que bebera para além da conta.

O homem chegou perto do polícia e com toda a calma do mundo, sem deixar escapar um tom de reprovação disse:

"O senhor polícia faça-me o favor de me ir soltar da cadeia, que eu tenho mais do que fazer."

E voltou para a cela, onde esperou, tranquilamente, que o único polícia da vila o fosse soltar, não sem antes o encher de recomendações para que da próxima vez se comportasse como um homem e não como um adolescente imaturo. Interromper o seu jogo num Domingo, onde é que já se viu?




   



"Quando o assunto é sexo, todos mentem."

Jerry Seinfeld - Humorista norte-americano





Tendo em conta os horários do futebol, das novelas e os hábitos crioulos mais enraizados, qual a melhor hora para se convocar uma revolução?


À melhor resposta, ofereço um café


Pergunta cafeana inspirada aqui




Há quem diga que o amor é um rapazinho,
E quem diga que ele é um pássaro;
Há quem diga que faz o mundo girar,
E quem diga que é um absurdo,
E quando perguntei ao meu vizinho,
Que tinha ar de quem sabia,
A sua mulher zangou-se mesmo muito,
E disse que isso não servia para nada.

Será parecido com uns pijamas,
Ou com o presunto num hotel de abstinência?
O seu odor faz lembrar o dos lamas,
Ou tem um cheiro agradável?
É áspero ao tacto como uma sebe espinhosa
Ou é fofo como um edredão de penas?
É cortante ou muito polido nos seus bordos?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Os nossos livros de história fazem-lhe referências
Em curtas notas crípticas,
É um assunto de conversa muito vulgar
Nos transatlânticos;
Descobri que o assunto era mencionado
Em relatos de suicidas,
E até o vi escrevinhado
Nas costas dos guias ferroviários.

Uiva como um cão de Alsácia esfomeado,
Ou ribomba como uma banda militar?
Poderá alguém fazer uma imitação perfeita
Com um serrote ou um Steinway de concerto?
O seu canto é estrondoso nas festas?
Ou gosta apenas de música clássica?
Interrompe-se quando queremos estar sossegados?
Ah! diz-me a verdade acerca do amor.

Espreitei a casa de verão,
E não estava lá,
Tentei o Tamisa em Maidenhead
E o ar tonificante de Brighton,
Não sei o que cantava o melro,
Ou o que a tulipa dizia;
Mas não estava na capoeira,
Nem debaixo da cama.

Fará esgares extraordinários?
Enjoa sempre num baloiço?
Passa todo o seu tempo nas corridas?
Ou a tocar violino em pedaços de cordel?
Tem ideias próprias sobre o dinheiro?
Pensa ser o patriotismo suficiente?
As suas histórias são vulgares mas divertidas?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Chega sem avisar no instante
Em que meto o dedo no nariz?
Virá bater-me à porta de manhã,
Ou pisar-me os pés no autocarro?
Virá como uma súbita mudança de tempo?
O seu acolhimento será rude ou delicado?
Virá alterar toda a minha vida?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.


W.H. Auden, em "Diz-me a verdade acerca do amor"

Imagem: beijo de Ingrid Bergman e Cary Grant em "Notorious", de Hitchcock





Segundo foi anunciado ontem na comunicação social, o Festival da Gamboa, que terá lugar nos próximos dias 22 e 23 de Maio, vai custar cerca de 40 mil contos (ler notícia aqui), sendo que dessa verba, 15 mil contos sairá directamente dos cofres do executivo camarário e o restante será assegurado por patrocínios. Não deixa de ser espantoso que num ano de crise global, a maior crise económica dos últimos 50 anos, e num país com tantas dificuldades estruturais como Cabo Verde, se gaste tanto dinheiro numa festa musical de dois dias, por muito popular que possa ser.

Não é de hoje que contesto este modelo de implementação de uma política cultural municipal. Porque como sabemos não é só Gamboa. É Baía, é Santa Maria, Tarrafal, Boavista, Santa Cruz, S. Filipe, enfim, hoje não há município que se preze que não tenha o seu festival de música, com as vedetas habituais, e onde se estoura em poucos dias o curto orçamento das câmaras municipais para actividades culturais. Depois não sobra dinheiro para mais nada. Assim não há lugar nem dinheiro, para a promoção de actividades outras, ou para uma aposta na infra-estruturação cultural, nunca sendo demais lembrar que, tirando o caso da Praia e do Mindelo (e oxalá), nenhum outro município tem um centro cultural digno desse nome, com auditório minimamente equipado incluído. 

Bem que podem dizer que a grande maioria dos orçamentos destes eventos são cobertos pelos patrocínios, o que nem é verdade em muitos casos. Mas esses patrocínios são dados a troco do quê? De visibilidade, certamente. Mas não só. As câmaras municipais tem poderes e possibilidades de dar contrapartidas que nenhum produtor ou associação cultural independente pode almejar, e portanto estamos aqui perante um esquema de concorrência desleal no acesso ao patrocínio, porque esse produtor ou associação cultural não tem outro produto para oferecer que não seja a actividade que organiza e a visibilidade que esta consegue na comunicação social. É que depois, os produtores ou associações culturais vão bater na porta desse patrocinador e a resposta é indubitavelmente a mesma: o orçamento para os patrocínios já foi gasto. Onde? Claro, nos grandes festivais de música, organizados pelas câmaras municipais.

Quando se fala em mudanças de paradigmas não seria mau pensarmos um pouco nisto. Este modelo de festival está esgotado? Não está? Há que rever tudo, como parece que querem fazer na ilha do Sal? Não sou contra os festivais de música, mas defendo que há que reflectir sobre esta realidade. Se em tempos de crise como a que vivemos se gasta tanto dinheiro num festival de dois dias, depois não nos podemos admirar que não haja dinheiro para organizar uma exposição de artes plásticas, para um espectáculo de dança ou teatro, ou para apoiar os grupos e associações locais. Se há algo que sabemos de cor, e não foi preciso a crise para nos lembrar, é que o dinheiro não nasce do nada.





"É preciso ter já aprendido muitas coisas 
para saber perguntar aquilo que se não sabe."

Jean-Jacques Rousseau, filósofo francês




Quando li o livro O Senhor das Ilhas, de Maria Isabel Barreno, fiquei encantado. Um romance histórico que narra a fantástica história daquele que terá sido não só o primeiro Martins a chegar a Cabo Verde, um antepassado da autora, mas também uma das primeiras pessoas a habitar as ilhas do Maio e do Sal. Aliás, terá sido Manuel António Martins, esse é o seu nome, o mandante da construção do famoso túnel das Salinas, na ilha do Sal. 

Quinze anos depois a autora "regressa" a Cabo Verde com Vozes do Vento, onde prolonga a narrativa familiar sob o pano de fundo da colonização portuguesa. Eis um cheiro da nova intriga:  "morto Manuel António Martins em 1845, a relação de forças muda com a chegada do novo comandante militar da ilha do Sal, um tal Gromicho Couceiro, odiado pelos negros e adversário declarado da Casa Martins, «um Estado dentro do Estado». Daí a revolta de 1846, que alguns consideram mero afrontamento entre as partes. João António Martins, o novo chefe da Casa, trocara a ilha do Sal pela de São Vicente, instalando-se no Mindelo, de onde fora banida a condição escrava e para onde seu pai projectara o porto que ligaria Cabo Verde ao vasto mundo."

Dá vontade de ler. 



Hoje é 

Dia Mundial do Livro





E tu, ainda te lembras do último livro que leste? 




"Hoje os meus olhos começaram a arder de um momento para o outro e deixei de ver durante largos minutos. Estava na estação de Campanhã, no Porto, e senti-me imediatamente perdido. Um homem deu-me o braço para me conduzir até à farmácia mais próxima, não muito longe dali mas difícil de atingir quando não se vê nada. A sensação de desconforto e desamparo é enorme quando as coisas surgem assim sem aviso, mas bastou-me ouvir uma voz com disponibilidade para me ajudar que me senti logo mais calmo. Acho que há qualquer coisa disto no amor entre duas pessoas. Tentamos ter alguém para não nos sentirmos assim perdidos. O amor não é inútil."

Bagaço Amarelo, Ensaio sobre a Cegueira (aqui)


Ilustração de Delilah





Imagem da National Gallery of Art de Washington, de 1929, "Under the Eiffel Tower," do fotógrafo húngaro Andre Kertesz.






Basta clicar no endereço www.wdl.org, e tem-se, desde o dia de ontem, acesso gratuito à Biblioteca Digital Mundial, um novo programa de informação e divulgação cultural que acaba de ser posto em linha numa iniciativa conjunta da UNESCO, da Biblioteca do Congresso Americano e da Biblioteca de Alexandria. É uma viagem!

O principal responsável por este projecto é James H. Billington, director da Biblioteca do Congresso Americano e ex-professor de História em Harvard. Foi ele que, em 2005, o propôs à UNESCO, assegurando que o espírito da nova biblioteca digital universal não seria “competir” mas complementar dois outros programas congéneres já existentes: o Google Book Search, também lançado em 2005 e que actualmente tem sete milhões de obras acessíveis ao publico; e a Europeana, uma biblioteca criada em Novembro do ano passado, que conheceu também um êxito inesperado e já disponibiliza 4,6 milhões de documentos – esperando chegar aos 10 milhões até 2010.

Na imagem, pode-se ver o início do texto, assinado pelo presidente Abraham Lincoln que declarava que os escravos passariam a ser livres a partir de 1 de janeiro de 1862. "Todas as pessoas retidas como escravos", dentro das regiões em rebelião, "são, e doravante serão, livres".




A 17ª edição do Festival Internacional de Música da da Praia da Gambôa deste ano realiza–se durante os dias 22 e 23 de Maio e terá um orçamento de

  40 mil contos 

repartidos pela Câmara Municipal da Praia e por vários patrocinadores. Crise? Qual crise?





"O discurso eleito neste momento é o da crise e com essa desculpa vem-se fazendo com que todo o trabalho da Direcção Geral do Ambiente seja colocado em segundo plano, pois afinal, desde quando que Desenvolvimento rimou com Protecção Ambiental?"

Mail recebido de uma funcionária da DGA


Hoje, dia 22 de Abril, é o Dia Mundial da Terra. É suposto ser o dia em que todos falamos, com ar muito compenetrado, da poluição, das energias renováveis, da seca, do aumento global da temperatura, enfim, esses temas chatos que temos que considerar de tempos em tempos só porque há uns tipos que não tem mais nada do que fazer do que inventar dias especiais disto ou daquilo. Foi também o pretexto que se arranjou aqui para publicar excertos de uma mensagem arrepiante recebida na caixa do correio do Café Margoso, relacionada com questões ambientais nas nossas ilhas, principalmente, nas ilhas ditas "mais turísticas".

"Estejam atentos", solicita a autora, que pediu para ficar no anonimato. E o rol de apelos continua: "Toda a gente sabe o que se passa na Boavista e ninguém faz nada. Os interesses estabelecidos são enormes. Os correspondentes dos órgãos de comunicação social sabem, mas não dizem nada. Estejam atentos aos estudos publicados no sítio da Direcção Geral do Ambiente. Está em consulta publica um Estudo de Impacto Ambiental relativo ao Porto da Murdeira, que é um atentado grave à ilha do Sal, assim como a Marina de Cotton Bay. Nós aqui já estamos à espera que o nosso parecer venha a ser "ignorado" à semelhança do que aconteceu com a Marina da Murdeira. Isso devido à "crise". Mas isso tem de parar. Só a voz do cidadão, que é também eleitor, será capaz de fazer esse Governo tomar algum tino." Esta mensagem termina com um "desculpa, só queria desabafar. É frustrante ver o trabalho de anos, ir assim pelo cano abaixo."

É preciso dizer mais? Hoje é Dia Mundial da Terra. O dia ideal para viajar para fora - dos nossos problemas pessoais, das nossas preocupações mundanas, dos nossos planos consumistas imediatos -, cá dentro - estando atentos para o que está acontecendo à nossa volta, questionando, divulgando, e sobretudo, não calando. Algum voluntário?


Eis uma excelente ocasião para se rever aquele que foi um dos mais marcantes grupos musicais da historiografia musical cabo-verdiana:


Simentera

No âmbito de uma acção de solidariedade para com o instrumentista Lela Violão, que se encontra gravemente doente, os elementos que compunham os Simentera vão juntar-se para um concerto único no auditório da Assembleia Nacional. Uma oportunidade para ver, rever e ouvir momentos únicos da nossa música, sendo solidários para com um nosso semelhante.


Onde & Quando

Auditório da Assembleia Nacional - Praia
Dia 23 de Abril, pelas 21 horas
Entrada: 1000$00





Um intelectual que se preze não gosta de futebol,
gajas boas e filmes americanos?


À melhor resposta, ofereço um café





Toma este beijo sobre a têmpora
e, partindo de ti agora,
muito a dizer nesta franca hora
Tu não estás errado, quem diria
que os meus sonhos têm sido o dia;
Ainda se a esperança fosse um açoite
num dia ou numa noite,
numa visão ou em ninguém
É isso então o que está aquém?
Tudo o que vejo, tudo o que suponho
É só um sonho dentro de um sonho.

As ondas quebram e fico ao meio
de uma praia atormentada
e eu seguro nas minhas mãos
uns grãos de areia dourada -
Quão poucos! E como se vão
Pelos meus dedos para o nada,
enquanto eu choro, enquanto eu choro!
Ó Deus! Eu Vos imploro:
Não posso mantê-los em minha teia?
Ó Deus! Posso eu proteger
das duras ondas um grão de areia?
Será que tudo o que vejo e suponho
É só um sonho dentro de um sonho?

Edgar Allan Poe


Um local curioso. Basta colocar o nome, apelido e o país a que se refere o passaporte. Somos de imediato levados para uma base de dados ultra-fronteiriça e passados alguns segundos vemos a página principal do nosso passaporte no ecrã do computador, com fotografia e tudo. E não é que o mundo está cada vez mais global?

Verifiquem esta maravilha (um pouco assustadora), aqui





Barack Obama completou recentemente 100 dias de governação e houve pelo menos uma importante promessa eleitoral que ficou por cumprir: aquela em que ele garantiu conseguir fechar Guantánamo nesse período. A verdade é que nos primeiros dias de Janeiro já admitia que “é mais difícil do que a maioria das pessoas possa pensar”. Continuamos à espera que Obama mande encerrar aquela aberração, humanitária e jurídica.

Numa outra medida recente e inédita, o Departamento de Justiça dos EUA tornou públicos os documentos que descrevem as técnicas de tortura utilizados pela CIA. Em dezenas de páginas estão descritos, de uma forma crua, os métodos aprovados pela administração Bush para extrair informações de suspeitos de terrorismo internacional. Esta foi uma medida importante, por muito que o ex-diretor da CIA Michael Hayden venha agora acusar Obama de comprometer a segurança nacional dos EUA, considerando que a publicação dos relatórios sobre as torturas "encoraja grupos terroristas". É preciso ter lata!

Mas o pior é que o presidente Obama, tirando com uma mão o que deu com outra, já assegurou que os agentes da CIA envolvidos não seriam acusados, vá-se lá saber porquê. Algo que não agradou a muitos comentadores que consideram que a justiça deve seguir o seu curso. Um deles, o influente Keith Olberman, louva o presidente Obama pela sua decisão de divulgar os documentos (e por outras actos da sua presidência), mas ao mesmo tempo afirma que não querer levar por diante qualquer tipo de acusação é um erro e abre um grave precedente para o futuro. Para mim, é muito simples: cometeram crimes tem que ser julgados e condenados, se for caso disso.

Ah, falta dizer que uma das promessas compridas de Obama foi ter mesmo arranjado um cão para as filhas. Chama-se Bo, o que segundo o Radar do jornal A Semana é um nome crioulo. Mais uma costela para a colecção.





O blogue escolhido como Café da Semana vai para o espaço do jornalista e escritor Manuel Jorge Marmelo, grande admirador de Cabo Verde, e autor de um romance que é, ao seu jeito, uma homenagem às mulheres cabo-verdianas, "Sereias do Mindelo". Teatro Anatómico, é o nome do blogue, com textos acutilantes, de fina ironia e inegável qualidade literária, por muito que o seu autor diga que não. Só lamento não permitir comentários dos leitores. Vale a pena a visita.







"Eu escolho as pessoas a dedo. 
Tá, tudo bem que é com o dedo médio, mas ainda assim é a dedo."

Twitter do Jack Sk.







Na última edição do jornal A Semana destaca-se a excelente entrevista de Manuel Inocêncio Sousa, Ministro das Infra-estruturas e Transportes. De facto, estamos perante um dos mais destacados membros do actual executivo e, do meu ponto de vista, um dos mais bem preparados. Mesmo na defesa de um dossier tão complexo como o dos TACV, o Ministro defendeu "a sua dama" com notável segurança. Isto numa altura em que se anuncia a inauguração da estrada Porto Novo / Janela (com os seus dois túneis que certamente darão que falar) e se anuncia o início da construção do nó rodoviário da ilha do Fogo, a maior estrada do país, prevista para ter 80 quilómetros. Fossem todos assim...










Nome: Sara Tavares
Nacionalidade: Portugal / Cabo Verde


E Deus criou a mulher...


Comentário Cafeano: eis aquela que é, provavelmente, uma das mulheres mais sweet's do Planeta. Única e com grande personalidade.










Imagem: "Coffe 4" de DeadRoseAn


Bom fim-de-semana





Podemos dar as voltas que dermos, mas o mundo acaba sempre por nos surpreender de alguma forma. Há alguns meses atrás perguntei aqui se a beleza seria mesmo fundamental. Entretanto, nos Jogos Olímpicos de Pequim, uma bela criança chinesa sem muito jeito para cantar fez o playback na cerimónia de abertura de uma outra criança chinesa menos "perfeita" esteticamente, mas com uma voz do outro mundo. A marosca foi descoberta e a organização corou de vergonha.

Nesta semana que passou, no programa Britains Got Talent 2009, um reality show para encontrar talentos na música, Susan Boyle, uma escocesa, senhora de 47 anos, com poucos ou nenhuns atributos físicos, que nunca namorou, nunca foi beijada e vive sozinha com um gato, surpreendeu tudo e todos quando começou a cantar. O júri, que neste tipo de programas tem que ser implacável, arrogante e sádico, ficou envergonhado pela risota que antecedeu a actuação e levou uma lição. Eles e o público. Mas não foram só eles. Fomos todos nós.

Quando Vinícios de Moraes disse: “Desculpem-me as feias, mas a beleza é fundamental”, estava certo? Certíssimo. Susan Boyle é uma mulher linda, espantosa, única. Porque trás com ela um ensinamento que nos dias de hoje é crucial para a própria sobrevivência do pouco humanismo que ainda nos resta: não julguemos as pessoas pela sua aparência, pode ser que o interior nos possa vir a surpreender.

Vejam (e revejam) o vídeo, numa versão com legendas em português, aqui. Eu, escusado será dizer, chorei que nem um perdido.









“Convencer cada um de que ninguém pode saber sem aprender e que a pessoa mais ignorante é aquela que sabe sem ter aprendido. Aprender na vida, aprender junto do nosso povo, aprender nos livros e na experiência dos outros. Aprender sempre.”

Amílcar Cabral


(Imagens sacadas do Terra Longe)





Como a grande maioria dos cabo-verdianos segue com (muito) mais entusiasmo o futebol português, a nível de clubes, do que o que se joga por aqui, publico um exemplo que explica porque é que nos inúmeros programas de televisão lusa em que se discute o tema, dois terços do tempo é para falar das arbitragens (destaques meus):

«O jogador da equipa visitada, Micolli, desmandou-se em velocidade tentando desobstruir-se no intuito de desfeitear o guarda-redes visitante. Um adversário à ilharga procurou desisolá-lo, desacelerando-o com auxílio à utilização indevida dos membros superiores, o que conseguiu. O jogador Micolli procurou destravar-se com recurso a movimentos tendentes à prosecução de uma situação de desaperto mas o adversário não o desagarrava. Quando finalmente atingiu o desimpedimento desenlargando-se, destemperou-se e tentou tirar desforço, amandando-lhe o membro superior direito à zona do externo, felizmente desacertando-lhe. Derivado a esta atitude, demonstrei-lhe a cartolina correspectiva.»

[Extracto do relatório do árbitro português Carlos Xistra relativo à apresentação do cartão amarelo ao jogador Micolli, encontrado aqui]


Comentário Cafeano: e depois admiram-se de os árbitros serem tão maus! É que como os homens desacertam tanto, a gente tem só vontade de amandar-lhes àquela parte, porque ficamos todos destemperando-nos e assim não há nada que desisóle a arbitragem do lodaçal em que está atolada. É preciso destravar este estado de coisas!



"A corrupção combate-se com transparência nas decisões dos altos cargos do Estado e para isso é necessário acabar de vez com a nomeação dos incompetentes e mais servis, dando lugar a um Estado gerido por gente capaz, honesta e que esteja ao serviço da coisa pública, algo que tem sido esquecido nas reformas da Administração Pública, dando lugar a um Estado de borregos."

Jumento