Ode a bicharada


Cães fantasmas
Ladram na esquina

Algazarra de primatas
Parlamento de hienas

Jericos na politica
O rebanho vai atrás


Tchalé Figueira



Num destes dias, estava a falar ao telefone com um jornalista crioulo, que vive neste momento no estrangeiro e ele dizia-me: "o que está acontecendo na blogosfera cabo-verdiana é fantástico. Hoje, os blogues são um dos principais focos de informação e de debate aberto de Cabo Verde, para e entre cabo-verdianos. O jornalismo devia acordar para esta realidade." A página que o semanário A Nação resolveu dedicar aos blogues cabo-verdianos são mais um sinal desta dinâmica.

Mas o que me irrita mesmo é que nestes últimos tempos quando se fala da blogosfera, muitos utilizam termos que já se transformaram em lugares comuns vazios de significado porque, na minha opinião, desligados da realidade. Fala-se demasiado de umbigos, de ciclos fechados e mutualistas, de masturbações individuais e colectivas, de palmadinhas nas costas. Porquê? É mesmo assim? Não, não é.

Sinceramente, não entendo. Quem quer ter um blogue pode tê-lo, quem tem vontade de comentar, pode fazê-lo. Quem se quiser juntar em correntes pode juntar-se. Quem quiser promover novas correntes, não tem nada nem ninguém que o impeça de fazer. Quem desejar lançar novos temas para o debate, fá-lo sem qualquer impedimento. Mas a verdade é que, apesar desta realidade, hoje não se pode referenciar ou elogiar nada nem ninguém: são "palmadinhas nas costas". Hoje não se pode falar de um outro blogueiro em termos elogiosos: são "masturbações colectivas". Hoje não se pode criticar de forma construtiva um texto ou acção de um outro blogueiro: é "sede de protagonismo e popularidade". Sinceramente, acho que isso não faz qualquer sentido.

Óbvio que os blogues são pessoais. Mais uma razão para se juntarem, se lhes apetecer. Qual é o problema? É que estamos perante um discurso contraditório. Se os blogues são pessoais, é porque são masturbações intelectuais, voltados para os umbigos respectivos, autistas, pseudo-intelectuais e não se sabe mais o quê. Se os blogues se juntam, como no caso do BlogJoint, é porque são masturbações colectivas, circuitos fechados e outros quejandos. Mas porquê? Digam-me. Alguém que se quis juntar foi impedido? Que eu saiba não!

Cada um tem o seu blogue por alguma motivação. Essa motivação pode ser pessoal, certamente. Mas acredito que a maioria o faz porque pensa sinceramente que pode contribuir, é um exercício de cidadania como qualquer outro. Porque há-de ser pior ou melhor do que ir para a rua protestar por alguma coisa? Ou fazer parte de algum movimento associativo? Ou fazer parte de um clube? Ou ser membro de uma juventude partidária? São tudo possibilidades que se tem de intervir no nosso meio e na nossa sociedade. Porque raio os blogues hão-de ser assim tão diferentes? Há quem os faça porque gosta de se ver ao espelho? Problema de quem o faz e de quem o visita. O universo blogueiro é totalmente livre, para o bem e para o mal.

Termino este desabafo citando o Marco Santos, do (excelente) blogue Bitaites, que comemora o seu 5º aniversário: "entendo por blogger generoso alguém que gasta horas não a coçar os seus poéticos tomates, mas a valorizar o espírito de partilha, a vontade de transmitir e receber conhecimento, dar e receber ideias, alguém que escreve pela música, pelo cinema, pela arte, pela ciência, por aquilo em que acredita, enfim, pelas pessoas. Enriquecem todos os dias este mundo da Grande Conversação, como lhe chamou o jornalista italiano Giuseppe Granieri. Muitos não têm um décimo do reconhecimento que merecem, mas são eles os responsáveis pelos verdadeiros blogues de topo, as referências da blogosfera. Podem ser culturais mas não são elitistas, políticos sem ser politiqueiros, polémicos mas sem usar a maledicência ou a calúnia."

A forma como se tem debatido, e apenas para citar os últimos exemplos, o Ensino Superior em Cabo Verde, a nomeação de Varela para o Supremo, o caso Murdeira, a política cultural do país ou as mentalidades reinantes e que urge combater, é a melhor prova de como a blogosfera cabo-verdiana está viva e aberta ao debate, cheia de saúde e que não merece as etiquetas que lhe tem sido colocadas, sabe-se lá com que motivações. Agora, se quiserem considerar este texto como mais uma masturbação individual, colectiva ou menage-a-trois, uma palmadinha na costa de alguém ou admiração do próprio umbigo, problema vosso. Eu sei ao que venho e porque estou aqui.


Ilustração de Pedro Madeira Pinto




«Por todo o lado cresce o deserto. O "império", o "capitalismo", o "biopoder", o "espectáculo" - os nomes para o descrever são tantos como as formas de resistência que se lhe opõem. Aos anos do neoliberalismo triunfante sucedem-se guerras infinitas e crises mundiais. A mudança de época é assinalada por momentos de conflito social e de subversão do quotidiano que tomam as ruas das grandes metrópoles, ocupam espaços e atravessam corpos, redescobrindo o prazer cúmplice do jogo e a partilha da desobediência. Chiapas, Seattle, Kabília, Génova, Buenos Aires, Paris, Barcelona, Atenas - o mapa do mundo enche-se de sinais que apontam a insurreição que vem.»


Um post dedicado a Redy Wilson Lima, do blogue Ku Frontalidadi
(nota: não é uma palmadinha na costa, é um abraço mesmo!)


Para saber mais: http://www.radioleonor.org/
Fonte:
aqui


A nós bastam nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...

Mário Quintana

Imagem: "Cold and Empty" by Shace










Que legenda, para esta imagem?

À melhor legenda, ofereço um café


Thank God You're a Man




Comentários?




O Caso Murdeira

1. No sentido de dar mais alguns esclarecimentos sobre a questão da construção de uma Marina na Baía da Murdeira, recebi de uma fonte identificada uma série de informações que me parecem ser dignas partilhar, dado o calor, a curiosidade, a vontade de intervir que este assunto tem provocado neste estabelecimento, assim como no Bianda, do César Schofield.

2. Não deixa de ser curioso referir, como muito bem se escreveu no blogue Sanpadjud, que existe um sítio disponível com vasta informação sobre o Perfil Ambiental de Cabo Verde, com os estudos de impacto ambiental já levados a cabo, legislação nacional em vigor - muita coisa feita nos últimos anos em matéria de Ambiente e Pescas - convenções internacionais ratificadas por Cabo Verde. Tudo à distância de um clique. Um sítio que já conta, como foi referido no Sanpadjud, com mais de 800 mil visitas. (aqui).

3. Comecemos pelo princípio: quando um empreendimento é, segundo a lei, passivel de Avaliação de Impacte Ambiental, o promotor do empreendimento deve apresentar junto das autoridades, neste caso o Ministério do Ambiente, um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para ser avaliado.

4. Para avaliação desse estudo, é constituido uma Comissão de Avaliação de Impacto Ambiental. Essa comissão é formada por técnicos de várias áreas da Direcção Geral do Ambiente e de outras instituições públicas com intervenção no sector. Para além disso, a Autoridade Ambiental (Direcção Geral do Ambiente) pode solicitar pareceres técnicos de especialistas, se assim o entender.

5. Para além disso, o EIA fica disponivel para Consulta Pública durante 30 dias, para que os cidadãos possam dizer da sua justiça. Findo este prazo a Comissão da AIA reúne-se e desloca-se ao local onde o empreendimento vai ser construído para fins de avaliação. Após essa fase, é produzido um relatório final desta comissão, com a recomendação sobre a decisão que pode ser Favorável, Favorável Condicionado ou Desfavorável.

6. No Relatório da AIA colocam-se todas as informações dos impactos e das medidas de mitigação que cada acção vai provocar, bem como informações sobre a consulta pública. Se esta comissão for da opinião que o Estudo de Impacto Ambiental tem tudo o que é necessário, o parecer é Favorável, caso contrario é Desfavorável.

7. Após a elaboração do Relatório da AIA, o mesmo é enviado ao Ministro para homologação. O ministro é que decide se homologa ou não. Uma vez concluída a fase de homologação, o Relatório da AIA é enviado ao Promotor. Ora, no caso da Murdeira a decisão desta Comissão foi Desfavorável.

8. No caso das Áreas Protegidas há que entender o seguinte: uma área protegida não é uma área proibida. É possivel a realização de actividades nas mesmas, desde que se respeitem os tipos de uso. No caso da Murdeira, segundo se pode ler no Relatório da AIA, o uso de uma Marina não é compativel com o objecto de protecção dessa área.

9. Facto. Temos, neste momento, dois relatórios neste processo: um é o relatório de AIA - elaborado pela Direcção Geral do Ambiente e o outro é uma Revisão do Estudo de Impacto Ambiental inicial - que foi elaborado por uma comissão holandesa especializada em Avaliação Estratégica de Impacte Ambiental, por solicitação do próprio ministério.

10. Consultei os dois relatórios. Os dois estão disponíveis online no sítio referido e podem ser consultados neste link. Do que se pode concluir de ambos é que o impacto que a construção e a manutenção de uma Marina naquela Baia é inrrversivel para o que se pretende proteger, mas que mais estudos são necessários para se procurar alternativas.

11. No entanto, o relatório da equipa holandesa é bastante crítico em relação ao Estudo de Impacto Ambiental. Lá se pode ler que o EIA não explica a abordagem utilizada e não são indicados os métodos de previsão utilizados para avaliar os impactes, que são abordados com superficialidade. O EIA, segundo os especialistas, não faz distinção entre impactes directos e indirectos e não analisa impactes cumulativos, não apresentando qualquer alternativa.

12. As críticas não se ficam por aqui. Não são analisados os impactes do uso de explosivos, das dragagens e dos movimentos de terras. O EIA não analisa o impacte das eventuais instalações luminosas a serem instaladas na marina e sua proximidade nas suas fases de construção e operação. A luz pode impedir, por exemplo, as tartarugas de nidificar e desorientar as suas crias.

13. Por outro lado, o estudo sublinha as suas dúvidas sobre a avaliação dos impactes positivos ao nível da criação de postos de trabalho e do efeito multiplicador pelo aumento do rendimento disponível. A tal componente sociológica de que já se falou na discussão deste tema. O EIA não especifica a quantidade, tipologia de empregos gerados e a proporção de emprego a criar para a população local, por exemplo.

14. A conclusão final deste relatório é demolidora para o Estudo de Impacto Ambiental: "A informação apresentada é de carácter genérico, indeterminado e incompleto, de modo que falta informação sobre indicadores a serem monitorizados, bem como a frequência e as locais de monitorização."

15. Ou seja, foi feito um estudo de impacto ambiental para o projecto da Marina da Murdeira; este foi chumbado pela Comissão de Avaliação de Impacto Ambiental; posteriormente, o mesmo EIA, é avaliado por uma comissão de especialistas holandeses que, igualmente, chumba o estudo de impacto ambiental.

16. Concluindo - e este dados são inequívocos: a empresa promotora fez um Estudo de Impacto Ambiental, como manda a Lei. Esse estudo teve um parecer desfavorável da comissão de avaliação da Direcção Geral do Ambiente. Mesmo assim, foi solicitado um segundo parecer, de uma equipa de especialistas holandeses, que reforça as críticas ao EIA. Neste enquadramento, não se entende que esta obra tenha sido homologada pelo titular da pasta do ambiente. Ou então, não entendi mesmo nada do que estive a ler durante estas últimas horas.

Mindelo, 30 de Janeiro de 2009


Justiça Arcaica








Não devíamos já ter passado esta fase infantil de
"o meu feriado é melhor que o teu"?


À melhor resposta, ofereço um café



"Precisamos urgentemente de um mediador. Um mediador entre nós e os nossos egos, entre a banalidade e a arte, entre a mediocridade e a excelência. Precisamos de um mediador para acalmar os ânimos e separar o pretensioso da medida certa. Precisámos de alguém que diga um “não” firme, que diga “isto” e seja, que ponha ordem na contagem e abra espaço à ambição de sermos melhores. Carecemos desesperadamente de um mediador nas artes plásticas, na música, no teatro, na literatura, no cinema (pelo menos no que se tenta fazer), para que não se ergam entre nós fraudes nauseabundas, pequenos feudos e impérios ilegítimos. Precisamos urgentemente de mediadores que nos cure os males da cegueira e nos livre os vícios do ego. Alguém que nos arrume em cantos distintos da mesma sala e nos ensine as nossas diferenças. Já não me satisfaz os opinions makers nas artes plásticas, na literatura, no teatro, no cinema. Tem que haver uma separação clara entre quem faz e quem analisa, quem cria e quem critica. Tem que haver paciência para esperar que a consagração chegue pelo valor da obra e não pela força das palavras dos críticos amigos. Há que respeitar o sentido de se fazer arte e o valor do tempo no amadurecer de cada percurso, de cada obra."

Abraão Vicente - Ala Marginal



Comentário Cafeano: há textos, como este, que faço questão de colocar aqui. Faz(-me) falta essas vozes que observam e analisam com olhar crítico, inteligente, referencial, sem complexos nem ligações perigosas ou afectivas que possam provocar desvios de objectividade, que apontem caminhos ao identificar deficiências, excessos, falta de profundidade criativa, desleixo. Que questionem e nos façam pensar, sobretudo. Nos últimos Cursos de Iniciação Teatral tenho obrigado os alunos a escrever sobre tudo o que vêm, no âmbito da formação: peças de teatro, bailados, documentários, exposições. Há gente com talento. Precisam de estudar mais, conhecer mais e de se prepararem, intelectual, moral e espiritualmente para o que há-de vir. Fazer crítica em Cabo Verde é um desporto radical e isso não é para todos.

Ilustração "Dali" de Victorian Grey


    Eu Sobrevivi...





Via: Jumento



A propósito da última Pergunta Cafeana dos doutores e engenheiros, é importante que se diga que a Universidade de Cabo Verde está em fase de implementação de um projecto piloto na vertente de formação profissional que pode vir a ser estruturante para o tecido produtivo do arquipélago.

Neste sentido, a Uni-CV avançou para a criação de formações pós-secundárias curtas integradas no ensino superior e assume-as como uma das medidas estratégicas constantes do projecto de instalação e desenvolvimento da Uni-CV. Esta ideia, segundo se pode ler no sítio oficial, tem em conta "a pressão sobre o ensino superior e a tendência para a massificação do seu acesso. Estes dois aspectos, associados à necessidade de promover a empregabilidade e a competitividade, ditam a criação de um subsistema de formação pós-secundária curta que seja diversificado e dirigido a múltiplos públicos." (ver aqui)

São criados os Cursos Superiores Profissionalizantes que conferem um diploma correspondente, intitulado Diploma de Especialização Tecnológica. As primeiras ofertas formativas incluem cursos de Condução de Obras, Desenho Assistido por Computador e Topografia, Manutenção de Equipamentos Hospitalares e Técnicas de Contabilidade.

Aplausos, pois!



Bela imagem, da bela baía do Porto Grande...




Foto de Pedro Madeira Pinto (Papel com Tinta)
 


Uma excelente ideia do sítio PolitiFact: criou um Obamómetro para seguir, a par e passo, o cumprimento - ou não - das cerca de 500 promessas eleitorais que Barack Obama foi fazendo durante a longa campanha eleitoral que culminou com a sua eleição para a Casa Branca. Para já, não está nada mal: seja pelas questões dos direitos humanos, pelo anúncio das medidas a favor do ambiente, pelo facto da sua primeira entrevista ter sido dada a um canal muçulmano apelando ao diálogo multicultural, pelo congelamento das últimas atrocidades legais da anterior administração, etc.

Ainda com muito pouco tempo no cargo, Obama já regista, segundo o Obameter, 5 promessas totalmente compridas, 17 em andamento, faltando-lhe apenas 485 mais para se poder considerar um homem de plena palavra.

È só ir acompanhando, aqui.


Comentário Cafeano: desafio já o pessoal do BlogJoint a ficar particularmente atento, e no próximo acto eleitoral promover um Primeiroministrómetro, para ir controlando as promessas crioulas. Um belo precedente, não acham?

(Obrigado Amilcar Tavares, pela dica)



Não fazia sentido, depois de todo o alarido aqui provocado pelo aplauso colectivo dedicado ao Procurador Vital Moeda, não se dar conta daquela que parece ser a sua batalha mais recente: a questão da Murdeira, e a construção da Marina numa área considerada por lei como reserva natural.

Não conheço os contornos da obra, a não ser por algumas mensagens e comentários que recebi sobre o assunto, e através de uma carta enviada pelo magistrado às autoridade, tornada pública pelo Liberal que não deixa margem para grandes dúvidas: Vital Moeda avisou que irá lançar mão de "todos os meios legais e constitucionais ao seu dispor para travar tal medida de forma a repor a legalidade (caso infringida), defender os direitos dos cidadãos e o interesse público – maxime o Ambiente”.

E relembra as razões que fizeram com que aquela zona tivesse sido declarada reserva natural: a necessidade de uma “concreta e efectiva protecção da reserva natural marítima da Murdeira”, “o espaço de excepcional riqueza dos seus ecossistemas submarinos, com uma elevada proporção de elementos endémicos e singulares; assim como das praias de alimentação e nidificação de algumas espécies de tartarugas marinhas (em risco sério de extinção) e por constituir parte do habitat de algumas aves marinhas singulares, tais como guinchos e rabijuncos (Phaeton aethereus), pela presença estacional das baleias rorqual (Megaptera novaeangliae), espécie ameaçada, cuja conservação reveste uma grande importância a nível mundial”.

A discussão no fórum do Liberal é grande. A maioria defende a posição do magistrado. Apesar do volume do investimento, de 80 milhões de euros e do impacto que poderá ter na economia local, a verdade é que anda muita gente furiosa com a aprovação deste projecto. Alguns referem que esta terá sido uma das causas que motivou a saída da anterior Ministra do Ambiente, que se opôs à construção. "Basta perguntar a qualquer técnico ou biólogo para ver a catástrofe que será caso Moeda não impedir tal coisa", escreve uma participante, que garante, "quem o conhece sabe que não vai haver obra nenhuma. Podem crer". A revolta é grande, embora por vezes, como quase sempre acontece nestes casos, a discussão caia numa partidarização primária.

A verdade é que convinha esclarecer este caso. Se a população tem dúvidas, cabe ao Governo esclarecer. Se o Procurador acha que a lei não está a ser respeitada, cabe a ele agir. Se a empresa promotora acha que está a fazer um investimento dentro da legalidade, cabe-lhe defender o seu ponto de vista junto das autoridades e da opinião pública. O pior que se pode fazer nestes casos é optar pelo silêncio e meter a cabeça na areia, porque aí a especulação, a riola política e o aproveitamento demagógico toma conta da situação e mais ninguém se entende. E no fim, como diz o povo, quem se lixa é o mexilhão.

Ver a notícia completa, aqui




Por decisão da última Assembleia-Geral da Associação Mindelact, o Prémio de Mérito Teatral 2009 será atribuído ao actor César Lélis, do Grupo Juventude em Marcha. Esta é a primeira vez que o prémio, atribuído desde 1999, é direccionado para a área da interpretação. 

Confesso que estive lá e defendi, com unhas e dentes, esta escolha. A discussão foi aberta, quente, feita olhos nos olhos, e todos saíram desta reunião com uma mesma sensação: quando se debate desta forma, todos saem a ganhar. Os principais argumentos que foram apresentados para justificar esta homenagem foram: a carreira de mais de 30 anos a fazer teatro, a influência decisiva que este actor tem no sucesso do grupo de Porto Novo, a sua versatilidade enquanto actor e o facto de a sua enorme popularidade - é certamente o actor mais popular da história do nosso teatro - arrastar multidões para as salas de espectáculos, recintos, cutelos ou salas improvisadas, motivadas para o ver. 

O prémio será atribuído em cerimónia a organizar no próximo dia 27 de Março, dia mundial do Teatro. 

Parabéns, César Lélis. 





1. Assim como regressou, mais depressa se apaga, por falta de tempo. "My Mistaque", confessa Kamia, a gerente do blogue Sopafla, que foi definitivamente encerrado. Uma pena.

2. Mas isto dos blogues cabo-verdianos tem uma dinâmica quase demográfica. Uns morrem, outros nascem. E por estes dias damos conta de dois blogues novos, com particularidades muito próprias. Por um lado, o blogue Própero Crioulo, um espaço dos novos alunos de teatro do Mindelo, dedicado, imaginem, à análise crítica de espectáculos e documentários. Eles prometem que vêm para ficar, para analisar, apontar méritos e defeitos, sem complexos. Assim seja. O outro blogue acabado de nascer é o blogue Limárias, com um lugar especial para os cartoons crioulos. Crítica e Humor, dois campos ainda pouco explorados. Nada mau.

3. Dois aniversários a destacar durante esta semana. O blogue da Eileen Soncent completou a bonita idade de 3 anos e o blogue Caboverdiano, apagou a sua primeira vela. Vão lá fazer uma visita e deixar registados os respectivos parabéns!

4. Finalmente, o Blog Joint arrancou em grande estilo com o tema do Ensino Superior em Cabo Verde. Há muito para ler, discutir, reflectir. Que venham mais temas pertinentes!






No dia em que formos todos doutores e engenheiros, quem vai tratar das canalizações ou das ligações eléctricas na casa de cada qual?


À melhor resposta, ofereço um café




1. Cuidado mulheres, com os decotes denunciados e as minissaias, já que segundo o arcebispo de Santo Domingo, no México, estes e estas andam "provocando o homem", e dessa forma as mulheres "expõem-se a violações". Isso mesmo foi afirmado por vários religiosos católicos no 6º Encontro Mundial das Famílias, onde se conclui também que a mulher é a responsável por sofrer ataques tanto físicos como verbais, pois devem ser recatadas em sua forma de vestir e não provocar as demais pessoas. Mais um pouco, e espera-se que o Vaticano promova uma empresa de vestuário para as "mulheres de bem", inspiradas nas famosas burcas muçulmanas. Já faltou mais. (fonte: aqui)

2. Entretanto, na cidade de Verona, Itália, dezenas de ex-alunos surdos-mudos de um internato local, hoje com idades compreendidas entre os 41 e os 70 anos, juntaram-se para denunciar abusos sexuais sofridos durante mais de 30 anos, pelos religiosos do centro. Esta notícia, publicada na última edição da revista italiana L'Espresso, viu a luz do dia porque as vítimas resolveram falar ao comprovar que alguns dos sacerdotes acusados seguem trabalhando no referido internato e para evitar que a sua "horrível experiência" possa suceder com outros. Os pormenores da notícia são macabros, mas certamente que ainda se arranjará forma de dizer que os rapazes não tinham nada que andar por ali de calções a provocar pobres inocentes. (fonte: aqui)


Mais palavras, para quê?


Fui recentemente convidado por um professor para ir falar, numa disciplina específica, numa das Universidades privadas existentes no Mindelo, sobre a minha experiência profissional. Aceitei, como habitualmente, o desafio. Preparei uma apresentação em Power Point e lá fui eu, todo basofo, dar a minha palestra. Nunca tive problemas em falar em público, e portanto, sentia-me perfeitamente à vontade. O curso em causa tinha um horário nocturno, pós-laboral.

Quando entrei na sala, fiquei um pouco apreensivo, e essa preocupação acabou por se justificar. Resumindo, e para não entrar em detalhes, devo dizer que a sensação que dava era que aqueles alunos - os que estavam no início e os que foram chegando ao longo da hora e meia de conversa, como se não houvesse algo chamado horário e relógios - estavam ali a fazer alguém um favor, a quem não se sabe. A fazer um frete. Enfim, um aborrecimento. Com uma ou duas excepções, a maior vontade daquele pessoal era ir para casa o mais depressa possível.

Agradeço aos poucos que souberam ou quiseram tirar daquele encontro alguma mais valia. E logo pensei que a culpa da situação só podia ser minha e do tema proposto, que por acaso até estava relacionado com a disciplina em causa. Mas na semana seguinte, foi uma outra pessoa, levar a sua experiência. E o ambiente era mais ou menos o mesmo. Malta a comer pipocas, a conversar como se ali não se estivesse a passar nada, como se não estivessem a receber um convidado, que de livre e expontânea vontade, foi ali partilhar um pouco da sua vida e experiência.

Muito provavelmente, alguém vai ler isto e vai identificar a situação. Vão imprimir o texto e fazer cópias para os colegas, e uma onda de indignação vai-se levantar. Da parte que me toca, peço que pensem um bocado antes de gritar aos sete ventos a fúria perante este atrevimento. Pensem o que é o ensino superior, o que faz, o que implica, o que deve exigir dos alunos, dos professores, dos gestores, dos decisores, dos políticos. Pensem no que andam ali a fazer. Pensem que é uma oportunidade incrível que vos está sendo dada de crescerem enquanto seres humanos, essa de ter acesso a uma aprendizagem de um nível elevado, e que se o vosso estabelecimento de ensino ou os vossos professores não estiverem a corresponder às vossas expectativas, protestem, contestem, reúnam, organizem-se, promovam associações de estudantes, exijam, mexam-se, façam baruuuulho, como se costuma dizer nos concertos e manifestações populares.

Isto para dizer muito simplesmente que a tarefa de edificação de um Ensino Superior digno, de qualidade, prometedor e capaz de dar resposta aos desafios de qualificação dos recursos humanos em Cabo Verde, passa por um exercício de cidadania de todos os envolvidos, e nunca se conseguirá apenas por decretos ou medidas políticas. Aplaudo com entusiasmo o aparecimento da Universidade Pública de Cabo Verde. Acredito que o caminho se está fazendo, mas parece-me que neste, como em outros campos, o maior problema está na regulação. Regule-se mais, controle-se melhor, exija-se o que é exigível a uma instituição do Ensino Superior. E essa exigência, a vários níveis, deve começar pelos próprios alunos.








    O poeta não disse nada, sorriu apenas. Retribui o sorriso e perguntei:

    - E você, o que é que anda a escrever, poesia?
    - Não, pagaram-me para escreve em prosa.
    - Mas...
    - Trago tudo nesta pasta. Quer ver? Ah, finda a leitura...
    - Finda a leitura...



    - Queime tudo.


Arménio Vieira in No Inferno


Ilustração série Romper o Silêncio, de Abraão Vicente





Nome:Freida Pinto
Nacionalidade: Índia




Existe um portal, organizado e promovido pelo Governo Federal do Brasil, onde temos à distância de um clique obras em língua portuguesa, de Shakespeare, Kafka, Oscar Wilde, Julio Verne, Fernando Pessoa, Camões ou Machado de Assis.

São 1.997 obras universais disponíveis para todos. Vale a pena lá ir!

Portal Domínio Público: aqui
Lista das Principais obras: aqui




Pintura "Sonho de Poeta", de Tchalé Figueira


          Isto!
E perguntam-nos:
          - sois homens?
Respondemos:
          - animais de capoeira.
Dizem-nos:
          - bom dia.
Pensamos:
          lá fora...
Isto é que fazem de nós
quando nos inquirem:
          - estais vivos?
E em nós
as galinhas respondem:
          - dormimos.


Arménio Vieira


O actor Diogo Infante, novo director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, - tutelado pelo Ministério da Cultura de Portugal - tomou ontem posse, e anunciando em conferência de imprensa as prioridades e filosofia do seu mandato, informou que o mesmo possui para 2009 um orçamento de um milhão e quinhentos mil euros, mesmo assim considerado insuficiente para as ambições do projecto do Teatro Nacional. Assim, em dinheiro de Cabo Verde, dá qualquer coisa como 165 mil contos cabo-verdianos.

Mesmo salvaguardando as dividas distâncias e orçamentos, mas constatando as opções do Ministério da Cultura de Cabo Verde para o único Auditório (dito) Nacional, situado na capital do país, e cuja gestão foi privatizada, só se pode constatar que andamos mesmo a brincar aos teatrinhos. Sinceramente, há certas medidas (políticas) que me custam muito a engolir e entender. Esta é uma delas.



Cá está: mea culpa. Segundo me foi dado a saber, os projectos do PAICV e do MpD para a Revisão Constitucional também estão online e à disposição de todos.

Para quem quiser consultar o projecto do PAICV, aqui.
Para quem quiser consultar o projecto do MpD, aqui.

Vou agora ler com calma tudo isto e preparar uma opinião minimamente fundamentada. Agradeço, desde já, as informações e peço desculpa pela omissão inicial.

A Gerência




A propósito do Café Curto publicado sobre a iniciativa do deputado do MpD Humberto Cardoso em colocar online a sua proposta para a Revisão Constitucional, foi feito o seguinte comentário:

"Não é primeira vez que atitudes desta vêm sido tomadas pelo Governo. O último Orçamento de Estado (0E209) esteve online durante todos os meses em que estava a ser preparado e os cidadãos podiam entrar e opinar e todas as manhãs era respondido por alguns staff do Ministério das Finanças inclusive pelo Director-Geral do Orçamento, mas se calhar não foi muito bem divulgado. Estas atitudes fazem parte do objectivo de tornar mais claro aos cidadãos sobre o que o governo tem feito e deixar intervir estes mais nas decisões.

Consulta o site http://www.minfin.gov.cv/ e verás muitos outros artigos como as contas de Estado dos anos anteriores."

Comentário Cafeano: esta pertinente chamada de atenção vem mostrar dois aspectos que me parecem claros: por um lado, há que reconhecer um esforço enorme deste Governo em tornar todo o processo de governação mais eficaz e transparente, através da utilização das novas tecnologias. Na discussão que tivemos aqui sobre o NOSI, ficou claro o trabalho fantástico feito pelo Estado a este nível, que tem feito de Cabo Verde um study case do sector. Por outro lado, reflecte também a necessidade deste Governo em melhorar substancialmente a forma como comunica, revendo os seus canais de ligação com a sociedade civil. De que servem os instrumentos de participação cívica se quase ninguém os conhece nem os sabe utilizar?




A série televisiva 24 horas, que já vai na sua sétima temporada, teve um sucesso estrondoso em todo o mundo e, no que me diz respeito, marcou-me de uma forma positiva e negativa em dois aspectos. Pela positiva, por ter quase que "adivinhado" a possibilidade de ter um afro-americano na Casa Branca, quando na primeira temporada surge com o senador e principal candidato presidencial David Palmer, que na temporada seguinte não só é Presidente, como é um excelente Presidente. A ligação deste personagem com a actualidade é inevitável. Mas a série também marcou negativamente porque de alguma forma funcionou como um instrumento da banalização da tortura, já que o seu personagem principal, o agente Jack Bauer, nunca hesitou em utilizar métodos violentos e coercivos nos seus interrogatórios, secretos e ilegais, por estarem em causa assuntos de "máxima segurança nacional".

Toda a estrutura das várias temporadas, com a psicose do terrorismo e a forma de o combater a dominar os acontecimentos, só teria sido possível com o ambiente, as chantagens, psicoses e legislação criados durante os mandatos de George W. Bush nos Estados Unidos.  Este bem que pode merecer o aplauso da página 7 do jornal A Semana, mas Bush e a sua administração, com o sinistro vice Dick Cheney à cabeça,  foi o principal responsável por muitas das violações dos direitos humanos ocorridas durante os últimos anos, inclusive dentro do seu próprio território nacional. 

Ora, Barack Obama ainda nem teve tempo para aquecer a cadeira da sala oval da Casa Branca mas parece querer dar a volta a esta realidade o mais depressa possível. Senão vejamos o que o novo presidente conseguiu, durante o dia que passou: 

1. Ordenou o encerramento, o mais depressa possível, dos centros de detenção que a CIA mantém actualmente no estrangeiro para os suspeitos de terrorismo;
2. Decretou igualmente que os Estados Unidos da América ajam em conformidade com as convenções de Genebra no modo de actuação para com os prisioneiros de guerra. Essas convenções, e a sua aplicação aos suspeitos de terrorismo, eram contestadas pela Administração Bush. Esta medida é claramente um afastamento das técnicas de interrogatório empregadas até ao momento pela CIA, denunciadas em variadíssimas ocasiões como actos de tortura;
3. Decretou o encerramento do centro de detenção de Guantánamo, Cuba, dentro de um ano, marcando definitivamente uma ruptura com a anterior política de luta antiterrorista de Bush. Obama assinou o decreto que põe fim a Guantánamo na Sala Oval, rodeado de militares na reserva, dando maior simbolismo ao acto. (Fonte: Público)

Está-se mesmo a ver que os homens que inventam os argumentos para séries televisivas como o 24 horas, tem que mudar a direcção das suas bússolas ideológicas. Como está escrito, com uma certa piada, no blogue Notas ao Café, "a Sala Oval tem agora um presidente que faz questão em cumprir promessas. O presidente Obama arrisca-se a criar um grave precedente para todos os políticos, e não só americanos." Estranho não é? Em menos de 24 horas e já anda por aí a cumprir promessas. Apenas um bom começo ou vem mesmo aí uma nova era?



Se há coisas que podemos aprender da fantástica campanha eleitoral de Barack Obama é que a Internet pode fazer toda a diferença. Neste momento Cabo Verde vai entrar num processo que poderá determinar, em muito, o futuro do País. Falo do processo de Revisão Constitucional, sobre a qual me pronunciarei com mais pormenor num próximo dia.

Para já, apenas para destacar a iniciativa do deputado Humberto Cardoso, que depois de ter apresentado uma proposta autónoma de Revisão Constitucional, a coloca à disposição de todos na Internet, num sitio concebido para o efeito. Uma demonstração sadia de real preocupação na construção de uma ponte entre a política e o cidadão. Só por isso, merece aplausos. Não seria mau se os grupos parlamentares dos dois maiores partidos seguissem este exemplo.

Proposta de Revisão Constitucional de Humberto Cardoso: aqui




"Nada nem ninguém, nem sequer organizações internacionais que teriam essa obrigação, como é o caso da ONU, conseguiram, até hoje, travar as acções mais do que repressivas, criminosas, dos sucessivos governos de Israel e das suas forças armadas contra o povo palestino. Visto o que se passou em Gaza, não parece que a situação tenda a melhorar. Pelo contrário. Enfrentados à heróica resistência palestina, os governos israelitas modificaram certas estratégias iniciais suas, passando a considerar que todos os meios podem e devem ser utilizados, mesmo os mais cruéis, mesmo os mais arbitrários, desde os assassinatos selectivos aos bombardeamentos indiscriminados, para dobrar e humilhar a já lendária coragem do povo palestino, que todos os dias vai juntando parcelas à interminável soma dos seus mortos e todos os dias os ressuscita na pronta resposta dos que continuam vivos."

José Saramago, aqui




Foram revelados os nomeados para as estatuetas douradas do cinema americano para este ano 2009. O filme The Curious Case Of Benjamin Button é o filme com um maior número de nomeações. Algumas curiosidades destas nomeações:



1. O casal mais mediático do planeta, logo a seguir ao casal Obama - Michelle, pode levar um par de estatuetas, já que ambos estão nomeados para a categoria de melhor actor (Brad Pitt) e melhor actriz (Angelina Jolie);


2. Um dos mais fantásticos actores americanos da sua geração, e já vencedor de um óscar da categoria, Sean Penn, volta a ser nomeado, e com grandes possibilidades de vencer, dada a sua espantosa interpretação em Milk (diz que viu, claro!);


3. Um actor dado como quase-morto e um que não está mesmo no mundo dos vivos, são nomeados e tanto uma como a outra nomeação estão carregadas de simbolismo. Falamos do actor Mickey Rourke, no filme "The Wrestler", desaparecido há praticamente vinte anos, mais concretamente, desde o emblemático filme "9 semanas e 1/2"; e Heath Ledger, na categoria de actor secundário, no jocker que interpretou para o último filme da série Batman;


4. Merly Streep, em grande forma, volta a ser nomeada para melhor actriz principal, no filme "Doubt", e não deixa de ser espantoso que apenas uma actriz consiga obter a sua 14ª nomeação para os óscares, tendo ganho pela última vez em 1982, com o filme "A Escolha de Sofia", na categoria principal. Depois disso, voltaria a ser nomeada mais 10 vezes, 8 delas para actriz principal. Notável.


5. A nível da realização, destaca-se Gus Van Sant, por ser um homem para um cinema mais experimental, o que faz com que a sua possibilidade de nomeação seja bastante menor. Mas o facto é que esta é a segunda vez em que isso acontece. Destaca-se a primeira nomeação do notável realizador David Fincher, com o filme "The Curious Case Of Benjamin Button", o mesmo homem que realizou obras como "Clube de Combate", "Sete Pecados Capitais" e "Zodiac";


6. Na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, destaco duas nomeações: "A Turma", filme francês de Laurent Cantet; e "A Valsa com Bashir", um muito premiado e elogiado filme experimental, quase documental, em animação, e que vindo de Israel e realizado por Ari Folman, fala do conflito no Médio Oriente, e não podia ser mais actual. É um dos fortes candidatos à vitoria neste categoria.


E agora é esperar pelo próximo dia 22 de Fevereiro para se saber quem serão os vencedores dos mais importantes prémios do cinema mundial. E como quem não chora não mama, cá está mais uma vez a frase habitual: e nós sem um cinema no Mindelo...





Está tudo explicado (ou quase)

Deus já havia terminado de criar o universo, mas ainda restavam um par de coisas a fazer, de modo que decidiu falar com Adão e Eva. Disse que uma das coisas que ainda restava resolver era algo que permitiria, a quem o tivesse, fazer xixi de pé.

- Realmente é algo muito útil - disse Deus - e estava pensando se interessaria a algum de vocês.

Adão começou a dar saltos e rogou:

- Eu quero isso! Dá para mim... eu sei como usar! Dá para mim... Por favor, eu quero!

E seguiu assim implorando, enquanto agarrava e puxava uma das mangas da túnica branca de Deus. Eva sorriu ao ver a cena e disse a Deus que se Adão desejava tanto aquilo, ele poderia ficar com ele. Deus concordou e deu a Adão a coisa que lhe permitiria fazer xixi de pé, e que o tinha deixado tão emocionado. Adão mal recebeu a coisa, foi logo correndo para experimentar numa árvore, e depois, balançando o rabo gordo, escreveu o seu nome na areia, enquanto gargalhava encantado com o que podia fazer com seu presente.

Deus e Eva ficaram olhando aquela cena por um momento, e então Deus disse a Eva:

- Bem, aqui tem outra coisa que tenho para repartir, e acho que te pertence já que dei a coisa de fazer xixi de pé para Adão.

- E como se chama? - perguntou Eva.

- Cérebro, respondeu Deus.

Ilustração: Adão e Eva de Gonçalo Martins
Recebido por mail




Nunca tive problemas em ser canhoto nem nunca senti qualquer tipo de restrições na infância ou na escola por esse facto. É verdade que o mundo, os objectos, as ruas, as regras, enfim, tudo o que implica uma pessoa deslocar-se ou utilizar objectos, está feito e pensado para pessoas que não são canhotas. Talvez por isso também, os canhotos estão mais preparados para as dificuldades da vida do que as "pessoas normais". Já estão habituados. E nunca viram nenhum canhoto queixar-se publicamente de forma mais veemente, apesar de os canhotos serem, muito provavelmente, os seres humanos mais descriminados da história da Humanidade!

Há lendas que ligam os canhotos às bruxas, e em certos períodos, mulheres canhotas eram mesmo perseguidas e até queimadas na fogueira. Vem dessa crença a expressão, que nunca uso, de "cruzes canhoto", para esconjurar algum mal. Mas também há estudos que comprovam um coeficiente de inteligência maior nos canhotos do que nos destros, e olhando para os nomes de alguns dos mais famosos canhotos da história, talvez não seja assim uma ideia tão disparatada. Einstein, Angelina Jolie, Ayrton Senna, Bill Clinton, Bill Gates, Bob Dylan, Charlie Chaplin, Maradona, Isaac Newton, Leonardo da Vinci, Marilyn Monroe, Monica Seles, Oprah Winfrey, Picasso, Goethe, Gandhi, Ivan Pavlov, Toulose-Lautrec, Robert de Niro, Franz Kafka, Mark Twain, Mozart, Niccolo Paganini, Maurice Ravel, Robert Schumann, Paul Klee ou Edvard Munch. Tudo canhoto. E, claro, Barack Obama.

As únicas vezes em que me sentia estranho na condição de canhoto, era quando tinha que escrever em público. Escrevia de forma "esquisita", era o que ouvia vezes sem conta. E de facto, vendo por fora, alguns canhotos, como eu, tem uma forma de escrever em que entortam totalmente a mão e ficam um pouco estranhos. Mas quando vi que o homem mais importante do planeta e a maior esperança para a Humanidade hoje, assina e escreve ao vivo e perante biliões de espectadores, com essa "quase deficiência", não deixei de sentir uma pontinha de orgulho nessa forma acrobática que alguns canhotos usam para escrever. Parece uma parvoíce pegada. E é mesmo. Mas pronto. Pelo menos compensa a estatística que diz que os canhotos, apesar de comprovadamente mais inteligentes, tem tendência para morrer mais cedo.


A sexta crónica da série Conversas de Café, publicada no semanário A Nação, com o título "Os sítios da Cultura II" já está disponível, aqui.

Boa leitura, se for caso disso.