No momento em que assistimos a essa coisa sinistra a que se resolveu dar o nome de debate sobre o estado da nação, não se tem a nítida sensação de que estão a gozar com a nossa cara (uns e outros)?

À melhor resposta, ofereço um café









"No dia seguinte ninguém morreu."

José Saramago - As Intermitências da Morte (grande, grande livro!)







"Acho que não há nenhum homem que, pelo menos uma vez na vida, não se tenha sentado esgotado num sofá e dito para si mesmo qualquer como "nunca mais quero saber de gajas". Eu já o fiz e mais do que uma vez, completamente convencido que nunca mais me ia chatear na vida por causa duma mulher que fosse. Enganei-me sempre."

Bagaço Amarelo (fonte: aqui)


Imagem do filme Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, de Pedro Almodóvar







A Nação ainda é o que era?

1. Há alguns dias fui convidado para assistir a um ensaio geral da peça «Contos em Viagem – Cabo Verde», uma etapa para a apresentação da mesma num festival no Rio de Janeiro. Esta peça é uma produção que a companhia de Lisboa Teatro Meridional estreou na cidade do Mindelo, no festival mindelact, há dois anos, numa daquelas noites memoráveis que nos fazem agradecer a todos os deuses e espíritos conspiradores o facto de a vida nos ter guiado por este caminho sinuoso das artes cénicas, o campo onde mais se mergulha nas entranhas da humanidade, de uma forma absolutamente arrebatadora e implacável.

2. A referida peça, construída a partir de textos de mais de uma dezena e meia de autores cabo-verdianos, é um hino à tão propalada cabo-verdianidade, mas a inquietação que no final me assaltou estava relacionada com uma dúvida premente e que justifica esta introdução teatral: ainda existe esta poesia no quotidiano do arquipélago cabo-verdiano? Ainda se pode cantar, chorar, contar histórias nas soleiras das portas, olhar para o céu e pedir a Deus que abençoe o nosso espectáculo ou a nossa vida, com uma confiança inusitada de que além há-de sempre existir algo de muito superior que vai proteger o destino deste abençoado país?

3. Estava com uma amiga cabo-verdiana que nunca tinha assistido a esta peça e não queria desperdiçar esta oportunidade única e no final comentamos este facto. Ela, que havia terminado o curso há alguns anos e se tinha fixado em Lisboa com um emprego fixo e estável, contou-me que durante as últimas férias que passara em Cabo Verde deixara na sua casa, em Portugal, as malas feitas para regressar definitivamente ao país. «Estava em dúvida. Pelo sim pelo não, deixei tudo pronto, não se desse o caso de querer ficar em Cabo Verde.» Depois de uma pausa suspirada e algo triste rematou: «como vês, não fiquei. Também me custa verificar que o meu país está a perder a sua poesia. Não me senti bem e resolvi regressar a Lisboa. E olha que não me arrependo.»

4. Que reflexão podemos retirar deste episódio? Pessoalmente, não vejo nesta atitude nenhuma patada ingrata, antes um sintoma de muitas coisas que ao longo dos últimos meses tenho procurado chamar atenção nestas crónicas e no blogue Café Margoso. Na minha área de referência, que é a arte e a cultura, o panorama continua a ser um imenso deserto de iniciativa e ideias novas, um desaproveitar de gente com vontade de fazer acontecer, um deixa andar que não se resolve com medidas avulsas, muito menos com fóruns hipócritas e enganadores que todos sabem à partida não resolver coisíssima nenhuma.

5. Uma das situações com que me confrontei várias vezes, a este propósito, foi a constatação do que chamei então, «o olhar de fora». Este reflecte o olhar de alguém que, não vivendo a realidade e o dia-a-dia de Cabo Verde, escreve sobre ele, ainda sob o domínio de um enganador fascínio resultante de uma visita pré-determinada para agradar, com itinerário certo e argumento definido. Geralmente, estamos na presença de alguém que aterra em Cabo Verde com uma imagem que mistura uma ideia mais ou menos romantizada de «África» (como se esta fosse uma entidade só) com cubatas e tubarões à mistura, com aquela certeza irredutível de que se vai cruzar com alguma dessas tragédias «africanas» que misturam fome, miséria, lixo, pobreza extrema e, claro, alguma doença misteriosa.

6. Claro que, partindo desses pressupostos, o visitante chega a Cabo Verde e fica agradavelmente surpreendido: os aeroportos internacionais são modernos e funcionais, as ligações entre estes e os hotéis são hoje feitas por estradas asfaltadas com razoável aspecto, há praças digitais espalhadas pelas principais cidades com dezenas de jovens com computadores portáteis acendendo gratuitamente à Internet e tirando aquela imagem de marca do cinzentismo do tijolo das casas inacabadas que domina mais de dois terços da paisagem das nossas ilhas, até que o balanço de uma visita destas acaba por ser positivo. E é mais ainda se o termo de comparação for a de alguns outros países africanos. Mas é daquelas coisas: justificar o nosso mal com o mal do vizinho é a mesma coisa que tapar o Sol com a peneira. Ou seja, nunca foi solução para nada.

7. Esta perspectiva que tenho agora é diferente de todas essas: é um pouco com a dessa amiga cabo-verdiana que decide que ainda não é hora de regressar. Estou longe há alguns meses, mas acompanho diariamente a realidade com um olhar de quem viveu efectivamente durante mais de 15 anos a realidade arquipelágica, principalmente da cidade do Mindelo, sentindo na pele os seus sabores e dissabores. Tenho a pretensão de saber quando me estão a tentar enganar e quando a realidade vai um pouco além das estatísticas ou de um lugar honroso nalgum ranking definido por instituição internacional.

8. Cabo Verde está numa encruzilhada, isso parece-me claro como a água das praias da Boavista. Sei que é banal e fútil fazer tal afirmação, é como quem descobre a pólvora, mas a verdade é que este parece ser o tempo que vai definir muito do futuro do arquipélago. Não se sabe ainda, nem se entende bem, se este é o país dos anúncios bombásticos de centros internacionais disto ou daquilo, sem os quais o planeta Terra nunca será mais o mesmo, ou o país onde um mosquito ataca uma percentagem assustadora da população, incluindo o chefe do Governo. Foram anunciados na altura planos estratégicos de remoção de resíduos sólidos e líquidos, acordos com os municípios, mas onde estão os planos de aterros sanitários, de estações de resíduos sólidos, em suma, da mudança radical de tratamento do nosso lixo, anunciado com tanta pompa à pouco menos de um ano atrás?

9. Em tempo de campanha eleitoral, preparem-se, certamente veremos sempre os dois lados da mesma moeda: amarelo de um lado, verde do outro. E é em tempos de campanha eleitoral que mais se nota aquele que me parece ser um dos maiores cancros sociais de Cabo Verde, aquele que mais trava e menos contribui para um futuro risonho que é certamente o desejo sincero de todos: a extrema partidarização da sociedade. A guerra aberta que se instala nos dois lados da barricada, que nos anos mais pacatos se resume ao triste espectáculo que nos é ofertado pelas sessões da Assembleia Nacional e ao mundo obsceno e sujo dos comentários nos fóruns da Internet, invade-nos por todo lado nesta época: nos jornais, na televisão, nas ruas, nos táxis, nas conversas de café.

10. As convicções políticas deixam de ser políticas e passam a convicções partidárias. E estas resumem-se, tantas e demasiadas vezes, em saber quais os galos que vão ocupar os muitos poleiros que o Estado vai colocando à disposição dos seus supostos servidores. Portanto, ideias novas, nem pensar. A possibilidade de uma dialéctica construtiva transforma-se aos olhos mais atentos numa utopia absurda. Ficamos confusos, apreensivos, obrigados a escolher o mal menor, ou a encolher os ombros e pura e simplesmente concluirmos que o melhor é nem participar nesta discussão incongruente.

11. Devemos orgulhar-nos do país que temos? Com certeza. Mas isso já não basta. Quem se consegue manter com o nariz fora do lodaçal em que se transformou a disputa política, deve poder dar um murro na mesa, fazer alguma coisa, activamente, agir, falar, de forma livre e descomprometida. Claro que é bom, por exemplo, verificar quanto o nosso teatro evoluiu nestes anos, seja por causa dos grupos de teatro, das acções de formação promovidas, dos festivais internacionais que nos abrem portas e nos dão referências, incluindo aquele que temos no Mindelo. Mas talvez seja mais importante, nesta altura do campeonato, pensarmos que este enorme avanço conquistado está a ser muito mal aproveitado e continuamos a navegar por águas incertas, desnorteadas e sem qualquer tipo de rumo definido. Talvez seja bom, por uma vez, acordar para a realidade real. E quem sabe recuperar a poesia perdida nestas águas agitadas dos tempos modernos.


Mindelo, 29 de Julho de 2010







Avisa-se a clientela que o Café Margoso vai hibernar durante uma semana. Para recuperar energias e voltar, com a mesma vontade de partilha de sempre.

Abraço e portem-se mal.

A gerência








Numa altura em que, sem saber porquê, César Schofield Cardoso resolveu mandar uns certos  tipos àquela parte e apagou, até ver, todo o passado do seu Bianda, achei que serei uma boa altura para publicar aqui a conversa que tivemos os dois a propósito de arte e criação.

O César, que gosta de se intitular artista visual, porque é aquele que vê com olhos de ver, explica o que quer isso dizer e como se sente umas das pessoas que mais contesta o estado de coisas do seu país, nomeadamente na área cultural. Já o disse várias vezes: é uma voz que merece ser ouvida.

Não tens a sensação, várias vezes, de estares a pregar no deserto?

César Schofield Cardoso: Frequentemente.

Porquê?

Porque parece que o esforço empreendido para estudar, saber, procurar, tentar perceber o que posso fazer para ser diferente não se traduz em impacto esperado. E isso causa-me internamente muitas vezes uma grande insegurança, como se estivesse a trilhar o caminho errado.

Mas quando fazes as críticas que fazes e da forma que fazes, estás a pensar nesse tal «impacto esperado» ou fazes apenas porque isso é também uma forma de desabafo público?

Mais a segunda opção. Tenho por mim que a única coisa que pode causar impacto é o trabalho. As críticas são mais desabafo. Tento alinhar as críticas à produção. Se criticas, tens de ter exemplos a dar.

Cá está um aspecto que me interessa especialmente, nomeadamente no campo da criação artística. Consideras que os artistas reflectem e pensam sobre as suas próprias obras?

O problema entre nós é o conceito de produção artística: é uma forma de entretenimento ou é uma acção?

E qual é o teu conceito?

O meu é acção.

E a reflexão sobre essa mesma acção, onde fica?

Pois, se tem ideia que combato veementemente e que está de forma abundante no discurso político é a ideia da arte-entertenimento. A arte é uma coisa muito séria para ser tratada como mera diversão-decoração

E pegando nas tuas próprias palavras, pergunto: Cabo Verde leva a sério a sua própria Arte?

Terminantemente, não. Ainda não (re)encontramos a boa ligação entre a Arte e a Sociedade. Talvez ela tenha existido no tempo da Claridade. Talvez ela tenha existido durante a luta de libertação. Hoje, precisamos de novas causas.

Entretanto passaram-se décadas. O que falta para que o pensamento voltado para a arte, a conceptualização dos próprios criadores seja tão importante quanto a criação em si? Não sentes que há um enorme vácuo?

Sinto que já não podemos continuar no impulso. Fazer arte por paixão somente. Precisamos de produção intelectual, de forma integrada, que possa influenciar a produção artística. A meu ver isso passa, primeiro, por ensino e, depois, por crítica.

Mas o que podemos fazer se os próprios artistas não estão disponíveis para essa reflexão? Parece que te é proibido falar do teu próprio campo de concepção criadora, porque se és músico e reflectes sobre a música que se faz hoje, a discussão extravasa logo para questões menores e até pessoais sobre quem é mais importante e quem fez mais em determinadas alturas...

Por isso mesmo defendo uma certa "institucionalização" da arte. Como disse a Ministra da Cultura, temos que diminuir o achismo. O drama do artista cabo-verdiano, é que ele é, na sua maioria, de formação autodidacta, um tipo de formação francamente desvalorizada. Precisamos que validem o nosso conhecimento.

Isso é um pouco assustador. A cultura não se institucionaliza, é contra a sua própria natureza...

Sei que percebeste o que quis dizer. O que é a escola senão uma instituição? Então vamos defender aqui que não é preciso escola para a Arte?

Depende do conceito que estás a dar ao termo «escola». Se for para nos por a pensar todos a mesma coisa a partir de receitas pré-concebidas, não vale a pena...

Aí vem a segunda fase, a crítica. Eu adoro a crítica. Contrariando muita gente, tenho um enorme respeito pelos críticos. Sigo diariamente a crítica do cinema, por exemplo, e mesmo se de vez em quando estou diametralmente contra uma determinada crítica, foi preciso ela ter existido para que eu pudesse ter uma opinião diametralmente oposta. Para mim a crítica é a parte que nos vai tirar do academismo, para nos levar a produzir coisas novas de verdade. A Arte só existe quando há criação.

Porque se critica tão pouco em Cabo Verde nos palcos, mas se critica muito nos bastidores?

Fundamentalmente, porque a crítica tem que ser estruturada, e isso dá muito trabalho. E feita por gente preparada, por historiadores da arte, por sociólogos, por antropólogos. Em Cabo Verde a crítica vai continuar a ser feita nos bastidores porque não temos a certeza das coisas que tiramos da boca. Mas isso não é fazer crítica. Vamos lá alinhar as definições. Isso é mal-dizer. Aqui estamos a falar de crítica-análise.

Pelo teu discurso e a tua postura, parece-me claro que concordas com a junção dos Ministérios da Cultura ao Ensino Superior, porque muito do que dizes junta a questão e a problemática da formação à da criação artística...

Sou a favor que esses campos de actuação (Ensino e Cultura) sejam vistas juntas mas não defendo uma única orgânica para os dois. Aliás, falando da entrevista da Ministra, ficou-me claro que a Cultura vai continuar na berlinda.

Isso é bom ou mau? Estar na berlinda costuma ser visto como algo positivo.

Bem, o que quis dizer é que a Cultura vai continuar sem uma orientação forte.

À deriva?

A deriva é um movimento. Nem isso, atracada no porto. A nossa cultura ainda está à espera de rotas. Do tal "Planeamento Estratégico da Cultura".

Se te convidassem para integrares os quadros do Ministério da Cultura e tentar aplicar muito do que defendes, aceitarias?

Não teria o perfil para nenhuma posição no Ministério da Cultura. Profissionalmente desenvolvo Sistemas de Informação e por aí já vou tendo uma carreira de que me orgulho. Na Cultura posiciono-me como um produtor e, confesso, gostaria que a minha profissão fosse essa. Até porque o Ministério da Cultura não faz a Cultura, facilita-a.

Num dos teus últimos textos intitulas-te de «artista visual». O que quer isso dizer?

É o artista que tem olhos. Literalmente.

Olhos para...

Ver

Ver o quê e como?

A maioria das pessoas olha, o artista visual vê. Treina-se para isso.

E como é feito o teu treino? É diário? É mais introspectivo, mais reflexivo? Como decorre o teu processo de criação, seja com a câmara fotográfica, seja com o vídeo?

Inicialmente, era muito físico. Sempre gostei imenso de composição. Mas hoje, com um pouco mais de experiência, é muito introspectivo. Passo metade do ano a fotografar e a filmar dentro da cabeça e a outra metade a fazê-lo com a câmara. Leio muito e um pouco de tudo. E a cada leitura acabo por criar imagens na cabeça.

Não corres o risco de, por tanto reflectires, as pessoas dizerem todas que és um grande chato, e seres reconhecido antes por isso do que pela tua própria obra artística?

Sim, corro esse risco. Mas a minha prática tem confirmado esse caminho. Importante é fazer. A produção é a única confirmação dessa conversa fiada.

Qual é a tua relação, enquanto aquele que vê no seu acto de criação, com o facto de seres um menino de Soncent e amares profundamente a Praia, que é a tua base inspiradora? Por vezes, não tens sentimentos contraditórios, quanto mais não seja por causa do nosso DNA, um pouco bairrista por natureza?

Mindelo é um lugar que nasceu já sendo cidade. É cosmopolita por natureza e isso reflecte-se sem dúvida na minha maneira de ver as coisas. Praia, aliás, Santiago representa uma tremenda experiência telúrica. Aqui a Cultura significa Terra-Natureza-Homem. Considero-me muito mais rico depois de ter permitido essas coisas coabitarem dentro de mim. Sou menos conservador que o badiu e mais telúrico que o sanpadjudu de Mindelo.





Se ainda não provaram a famosa sandes de atum do Café Portugal, na cidade do Mindelo, ao som de “Caalma”, o novo Cd de Hernani Almeida, podem visitar sem mais demora  www.myspace.com/hernani1978 ou www.hernanicv.com e fique a saber mais sobre este o último trabalho discográfico deste virtuoso da guitarra.

Sucessos para Hernani !








«Adesão de Cabo Verde ao FODETE 
está mais ou menos assente.»

Eu já fazia alguma ideia que estávamos fodidos e mal pagos, mas depois desta notícia, tive definitivamente a certeza dessa triste realidade! Não podiam ter arranjado outro nome para esta coisa?











Quando já não havia outra tinta no mundo 
o poeta usou do seu próprio sangue.
Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo.
Assim, nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado.
Como o sangue: sem voz nem nascente.



A imagem é de Gregory Colbert, a música de René Aubry, o texto de Mia Couto. E agora, alguém tem a coragem de dizer que a vida não é uma coisa espantosamente bela?








O trono da vida & a volta à pedra

Era uma vez. É assim que tudo começa. Era uma vez uma mulher. Que foi muitas outras coisas. Que foi rainha criadora. Que foi actriz reconhecida. Que teve na alma & no corpo o poder de ser & morrer camaleão, prostituta, santa, ladrão de enterros, pregador.

Ela está só. Com as suas memórias & as suas jóias de valor duvidoso. Com a sua brancura & a sua palidez densa, inquestionável. Ela só tem existência no trono construído sob as ruínas do seu próprio passado e fala para os outros da mesma forma que fala para o vazio. Não está ninguém ali. Talvez. Não se sabe. Ela pensa: «aqui não está ninguém, mas aquela cadeira está mais vazia do que as outras, porque lá devia estar sentado o meu amor.»

Ela está só. Como estamos todos quando a morte nos bate à porta. Mas duvida que seja esse o caso. Acredita, num último & derradeiro sopro, que o seu final não está desenhado assim. Afinal de contas não se vestiu de branco para festejar o seu próprio enterro. Aí descobre o caminho sem nunca se desligar do sangrento cordão umbilical das suas venturosas reminiscências. E ela pensa: «enquanto tiver as minhas memórias, a morte não me virá buscar. Quando muito vou eu ao encontro dela. E sairei vitoriosa.»

Ela está só. Mesmo quando descobre o caminho & o seu amor de pedra. Mesmo quando deixa de poder lutar e só lhe resta a sublime contemplação. Encontra o seu centro num círculo laranja & na quietude de uma estátua. A felicidade está em voltar ao estado de pedra. O segredo está em caminhar para o abismo com a carga emocional de uma via-sacra. Da terra vieste, à terra voltarás. Mas passarás em primeiro lugar pela fria pedra que te alimentará e te dará um pequeno sopro de imaginária eternidade.

Pode ser também, como nos disse Francisco Camacho, um relato de gestos & sombras, sobre o poder. O poder de ser-se muita coisa & muita gente, pão & estrelas, mártir & cantador. E a posição em pedestal, que é uma espécie de trono, pode ser também prisão. Mas o poder da criação, mesmo que não a divina, mesmo que apenas e só a artística, representa a liberdade de ser-se generoso perante os outros & a vida, uma dádiva & um sacrifício.

Este texto de António Pedro, nascido em Cabo Verde, este fantástico pedaço de prosa surrealista tem muito por onde se lhe pegar. E se lhe peguei assim – e enquanto encenador escrevo agora na primeira pessoa – foi porque tive nesta jornada uma actriz corajosa & destemida que aceitou, sem pestanejar, entrar numa proposta estranha & invulgar, sustentada numa embrenhada narrativa, cheia de nós, sem lógica aparente, mas que nos pareceu, em primeiro lugar, uma bela homenagem ao ofício da criação de actores e actrizes, de teatro principalmente. Do teatro.

Aproveitamos para deixar um agradecimento muito sincero a todos quantos nos ajudaram na realização deste trabalho, principalmente ao António Santos, que com a sua imensa alegria de viver e generosidade, continua a ser um exemplo para nós que queremos preservar.

Nota: texto integrante do programa da peça «De Profundis», que estreia hoje, na Escola Superior de Teatro e Cinema.






«Zabriskie Point», de Michelangelo Antonioni (1970)







«A Guiné Equatorial está para entrar na CPLP. É uma ditadura onde não se fala português. Mas tem petróleo. Se a comunidade é "a qualidade do que é comum", só há duas formas de encarar o anúncio de que a Guiné Equatorial pode ser membro de pleno direito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ainda este mês: ou é uma anedota; ou é mais uma prova de que os princípios e os valores não contam na política externa.

(...)

Todos os dias a agonia desses princípios se faz em negociações debaixo da mesa. Na CPLP, com o empenho de Lisboa e de Brasília, essa desavergonhada troca de ética política por dinheiro do petróleo está para ser feita à vista de todos. Sem arrependimento nem vergonha.»

Editorial do jornal Público, 10/07/2010


Comentário: o principal jornal diário português dedica três páginas a esta aberração. Vale a pena ler sobre "as reformas prometidas pelo ditador", aqui; entender porque é que a Amnistia Internacional diz que este país "é tão rico em recursos minerais como em violações dos direitos humanos", aqui; ler o retrato deste "novo Kuwait africano", aqui; ou o artigo de opinião do especialista em assuntos africanos Gerhard Seibert sobre "A ditadura de Obiang", aqui. E agora, sempre podemos pensar, pesarosos e conformados: «se o Brasil e Portugal podem, porque é que Cabo Verde, muito mais frágil e dependente, não há de poder também dobrar a espinha perante o peso do petróleo?» Acredito que um estadista como Amílcar Cabral, por exemplo, teria uma boa resposta para esta questão. 




Soncent está a evoluir! Agora é mesmo tudo às claras, desenvolvimento turístico a isso obriga. Mas falando de design não haverá por aí nenhuma alma bondosa que faça um cartaz um pouco mais imaginativo? O tema até ajuda! E com menos pontapés na gramática, já agora...



Fonte: Boca de Tubarão





Bem recentemente esteve nas bocas do mundo ao dirigir uma ambiciosa e ousada ópera no mais importante centro cultural de Lisboa. O que fica depois de uma gigantesca criação como essa? Foi o que tentamos saber nesta curta conversa a dois.

Qual foi a sensação para este rapaz de S. Vicente ter montado uma ópera num espaço como o Centro Cultural de Belém?

Tó Tavares: (risos) Antes de mais foi uma espécie de ocupação, no sentido de ocupar mesmo, porque no fundo houve ali essa ideia da ópera enquanto ocupação, nós éramos uns forasteiros que chegamos ali e ocupamos um espaço, o espaço ópera, que à priori não era o nosso, pois esta tem uma identidade sobretudo europeia.

O próprio espaço do grande auditório do Centro Cultural de Belém também é um lugar onde raramente há lugar para eventos ligados a algum país africano…

Há um jogo, uma dualidade. Um espelho. O que tu és, não és. O que o espelho te dá, é que parece que é. No fundo, foi esse jogo que fizemos. E graças às condições que tivemos as pessoas acabaram por aderir.

Estávamos perante uma ópera cabo-verdiana, pode-se dizer isso?

Será que existe uma ópera cabo-verdiana? Será que há possibilidade de se fazer uma ópera cabo-verdiana? Todas estas questões estavam inerentes à própria temática crítica da nossa própria forma de ver a construção dos nossos trabalhos. No fundo, o que nós dizemos é que se há um world music Norte – Sul, também há um world music Sul – Norte.

Como é que se pode ter a ambição de ter uma ópera cabo-verdiana se, por exemplo, não temos escolas de música que ensine as nossas crianças a tocar instrumentos sinfónicos, se ainda vivemos num país onde só se houve música clássica na rádio quando morre alguém importante? Não há aqui uma questão básica que nos diz que não podemos ter a ambição de ter uma ópera crioula ou música erudita cabo-verdiana se não nos preocuparmos com a educação de base?

Há dois vectores ligados a essa questão. Sendo uma obra de autor, isso trás com ela uma identificação clara. Um romance de um autor português, cabo-verdiano ou chinês, é sempre um romance. Assim, desde que tu te apropries da estrutura, a universalidade é tida em conta e acaba por se manifestar. No caso da música, Cabo Verde tem um pouco uma vivência estranha com ela. É a nossa maior riqueza, mas ainda passa de uma forma demasiado artesanal. A música não é escrita, é incorporada de uma forma quase física. As pessoas ouvem, repetem, tocam. Isso não quer dizer que não haja reflexão. A ópera, por exemplo, é tida como a obra de arte total, que inclui todas as outras, música, teatro, artes plásticas. O que fizemos aqui foi uma apropriação da ideia de ópera como uma possibilidade de demonstrar que, sendo uma obra de arte total, nós estamos em condições, também, de a concretizar. Yes we can.

Não te entristece que não possas mostrar essa obra em Cabo Verde?

Cabo Verde precisa urgentemente de um espírito de agenciamento. Uma agência que faça com que as obras, os trabalhadores da cultura, os criadores estejam em contacto com o mundo. Agenciar para que as obras possam estar nos sítios certos, nos momentos certos. Isto é fundamental. É fundamental que a política pública cabo-verdiana faço por isto. Cabo Verde tem que encontrar o seu próprio modelo para fazer circular as coisas.

Há uma questão relacionada com a circulação, mas há uma questão provavelmente mais básica ainda que está relacionada com a educação artística. Desta vivência que tens do trabalho desenvolvido em vários países da Europa, que tipo de modelo é que achas que poderia ser implementado no país, no que diz respeito à componente da educação artística?

Isso tem muito a ver com a nossa história cultural que por sua vez está ligada de forma umbilical a Portugal. O nosso maior problema é que nós não acreditamos nos cientistas. Ainda desconfiamos disso. A mais-valia de Cabo Verde é o Homem cabo-verdiano, mas quando há essa desconfiança acaba-se por aniquilar uma série de outras coisas. Estamos agora a chegar a um primeiro estado, ao estado da tese, substanciado com o aparecimento da universidade em Cabo Verde. Podemos colocar tudo em causa, mas com sustentabilidade científica. Temos que deixar de ser um Estado dos buldognhes, onde todos falam e acham que têm sempre opinião. Não há respeito por quem estuda e investiga. Quando sou recebido na Dinamarca, sinto que levam em conta o teu percurso e tu sentes isso. És ouvido e tu sabes que há espaço. Nos EUA, por outro lado, o que me fascinou foi a acção directa, chegar fazer. Aqui ainda estamos muito agarrados à folha de 25 linhas.

Vivemos ainda no universo da sinopse?

Exactamente.

Quando foi a última vez que estiveste em Cabo Verde, em criação?

Em 2002 e 2003 estive nas ilhas para reflectir sobre uma outra maneira de estar. Questionava-me se Cabo Verde permitiria alguma vez que se pense a transnacionalidade, onde por exemplo se poderia estar por aí durante uns três meses, criar uma peça e depois sair com esse trabalho por três meses e depois regressar, para mais formação, criação, debates, aulas abertas, essa tal ideia da acção directa, onde se poderia entender outras dimensões de Cabo Verde. Acabei por entender que se nós largarmos alguns complexos que nós temos, poderíamos ir muito mais longe. Não se compreende que não haja um centro cultural cabo-verdiano em Lisboa, por exemplo, que é a cidade no mundo onde há mais cabo-verdianos!

Quando falas em complexos estás a referir-te a que aspectos, em particular? Como cabo-verdiano que tem um olhar de fora, como avalias essas pedras que se encontram no caminho e impedem essa tal circulação de obras e conhecimento artístico? Porque é que ainda não conseguimos entrar nesse círculo de criação que podia ser tão benéfico para o país?

Lembro-me de ter conversado com o Tchalé onde ele dizia: tu podes sair para o mundo, expor nos maiores museus do mundo, mas chegas aqui e parece que não aconteceu nada. É aquele raciocínio que nos diz que aquele que mora ao nosso lado não pensa noutra coisa a não ser no baile do próximo fim-de-semana ou em qual cueca que tem que usar nesse dia. Cabo Verde não é um espaço isolado. Cabo Verde está aqui em Lisboa, está em Luanda, está em todo o lado. Nós, os artistas, que há muito tempo perdemos as fronteiras, facilmente nos apercebemos dessas ligações, encontramos gente nos lugares mais variados que estão a tentar dizer as mesmas coisas que nós. O problema é que ainda continuamos a achar que estes gajos, os artistas, são uma espécie de bandeira. Há baile, mandamos colocar a bandeira para assinalar que vai haver baile. Acaba o baile, tira a bandeira e joga para um canto. Ninguém nos leva muito a sério. O pensamento geral é que não fazemos nada de especial, qualquer um pode fazer. Isso é muito perturbador.

Os artistas ainda são vistos como parasitas?

Olha, quando vamos ao dentista, esperamos que a pessoa que lá está com aquelas maquinetas todas a mexer-nos na boca, seja de facto, um dentista preparado. Tu vais, sais com a cara inchada e pagas sem perguntar nada. Em relação a nós, as pessoas vão ver o trabalho e fica tudo a dar-te conselhos, a dizer-te que devias ter feito assim e não assado, porque «fica mais giro, se for o Manuel em cima da Maria e não o contrário». Somos uma troupe de opinadores.

E como lutar contra isso?

Por exemplo, a música da Cesária Évora tem a dimensão que tem e a repercussão no mundo que tem, mas é estranho chegar em S. Vicente e não ter um espaço Cesária. O museu da Cesária está na casa da Cesária. Chegas na sala dela e estão lá os grammys e os prémios todos. Mas aquilo é também um património daquela cidade, daquele país. Ninguém pensa o quanto o país poderia ganhar se as coisas fossem feitas de uma outra forma. Com merchandising, com divulgação. Até para as pessoas saberem que o que a Cesária canta começou com um senhor chamado B’Leza, que nos anos 30 começou a compor músicas com esta sublime universalidade. O Manoel de Oliveira, quando soube que eu era de Cabo Verde, veio logo dizer-me que o fado tinha vindo de Cabo Verde e ficou em Lisboa! Está mais que comprovado que o único património que existe no arquipélago é o Homem. Qual o país que se pode gabar disso mesmo? A palavra pobre devia ser retirada do nosso dicionário. Essa e a palavra morabeza.

Morabeza, porquê?

Porque é um bluff. Nós somos kool. Qual kool! Nós temos é uma forma de estar peculiar, somos humildades – ou éramos, até uma determinada altura – porque passamos por grandes dificuldades. O nosso slogan devia ser Pequeno País, Grandes Ideias.



Esta tem piada:








Esta notícia aqui é muito curiosa: ao que parece a Ilha Brava vai ser palco de um exercício militar conjunto Cabo Verde /Portugal, mais concretamente, um exercício militar de desembarque naval. Ou é alguma ironia ou está-se já a pensar em dar algumas formações especiais aos cidadãos daquela ilha que estão encravados sem barco nem avião que os tirem de lá, isolados e sem qualquer tipo de transporte que os possa colocar em contacto, já nem digo com o mundo, quanto mais não seja com a vizinha ilha do Fogo.

Não sei se vai acontecer realmente, mas sugiro já um nome: para esta abençoada acção de formação «Atelier Prático: como sair da ilha da Brava sem um sistema de transportes mínimo, em 2 lições. Versão nocturna e diurna.»










Texto de António Pedro, dito por João Branco, para o exercício cénico De Profundis






DE PROFUNDIS
A partir de Apenas Uma Narrativa, de António Pedro

EXERCÍCIO DO MESTRADO EM TEATRO I ESPECIALIZAÇÕES EM ENCENAÇÃO
E ARTES PERFORMATIVAS I INTERPRETAÇÃO

13 Julho.21h00
Estúdio de Teatro João Mota

Reserva obrigatória no Gabinete de Produção
Tel.: 214989452 I gab.producao.teatro@estc.ipl.pt


Encenação / Direcção Artística / Dramaturgia
João Branco

Interpretação / Co-Criação
Francisca Lima
António Santos (convidado)

Figurinos
Colectivo

Lay Out Gráfico
Mito Elias - OTIMarte 






Para ter uma boa noite de sexo esporádica convém ser com alguém que se conheça muito bem, com alguém que não se conheça de todo ou pode ser com alguém que se conheça mais ou menos?

À melhor resposta, ofereço um café


Pergunta inspirada aqui






«Estamos a tornar-nos mais estúpidos porque vivemos numa sociedade na qual temos de ser consumidores para que essa sociedade sobreviva. E para ser consumidor, é preciso ser estúpido, porque uma pessoa inteligente nunca gastaria 300 euros num par de calças de ganga rasgadas. É preciso ser mesmo estúpido para isso. Essa educação da estupidez faz-se desde muito cedo, desde o jardim de infância. É preciso um esforço muito grande para diluir a inteligência das crianças, mas estamos a fazê-lo muito bem. Estamos a conseguir destruir aos poucos os sistemas educativos, éticos e morais, o valor do acto intelectual.»

«A escola não tem culpa, é a nossa sociedade que é culpada. A escola, a universidade, deveriam ser o lugar onde a imaginação tem campo livre, onde se aprende a pensar, a reflectir, sem qualquer meta. Mas isso é algo que estamos a eliminar em todo o mundo. Estamos a transformar os centros de ensino em centros de treino. Estamos a criar escravos. Somos a primeira sociedade que entrega os seus filhos à escravidão, sem qualquer sentimento de culpa. Nesses centros de aprendizagem, estamos a criar seres humanos que não confiam nas suas próprias capacidades e que começam a acreditar que o seu único objectivo na vida é arranjar trabalho para conseguir sobreviver até chegar à reforma – que também já lhes estão a tirar. O que estamos a fazer é horrível. Não tem nada a ver com os valores da Internet, com a competência do professor, faz tudo parte de um conjunto. Somos culpados enquanto sociedade.»

Alberto Manguel - escritor


Dá que pensar, não dá? Ver entrevista completa, aqui




Muito se tem falado aqui de livros e de como lemos pouco. Pois bem, pode ser que este genial filme ajude um pouco. Aliás, nem tenho por hábito colocar filmes aqui no Café Margoso, mas este é uma excepção que se justifica perfeitamente. Brilhante.










O debate a que estamos a assistir na blogosfera cabo-verdiana sobre a logomarca Cabo Verde é muito interessante, mas seria bom aproveitarmos esta ocasião para ir um pouco mais fundo no cerne da questão. Se este trabalho foi, como parece ter sido mesmo que não o tenha, resultado de uma cópia mais ou menos descarada, e se isto foi um concurso público, há que se fazer um rigoroso inquérito e apurar a verdade dos factos, decidindo o que fazer conforme o que se apurar.

Mas desconfio que aqui, como em muitos outros casos, a culpa vai morrer solteira, se existir alguma culpa a atribuir a alguém. Em primeiro lugar, seria bom o autor da proposta vir a terreiro dar as suas explicações para elucidar sobre as muitas "coincidências" que ensombram o logo vencedor do concurso, até porque quem não deve não teme.

Mais do que isso devíamos, na minha opinião pessoal, aproveitar este episódio para aprofundar duas questões centrais:

1. O estado geral do design em Cabo Verde: basta ver as propostas de publicidades em revistas e jornais, o próprio design dos órgãos de comunicação social escrita, de outdoors, de cartazes dos mais variados eventos, para ter claro que estamos muito mal servidos neste domínio. Falta criatividade, ousadia e competência, onde impera a lei do menor esforço. Como observador falo.

2. A forma como se copia, descaradamente, sem que ninguém seja chamado à responsabilidade: vivemos no reino do plágio, onde ideias e propostas que se vêm noutros locais, sejam leis, logos, medidas de intervenção, canções, estilos, modas já existentes depois se tornam em pseudo-inovações resultantes do trabalho e labor criativo de génios fenomenais nascidos de geração espontânea.

Imagem criada por Hedy Cardoso, no novo blçgue design cabo verde, aqui


Adenda: entretanto, o autor do logo vencedor, o arquitecto Rafael Fernandes reagiu, como poderão ver nos comentários. E não se limitou a comentar aqui no Café Margoso: criou um blogue onde explica tudo e diz de sua justiça. Considero que foi uma atitude digna e corajosa. Agora tenhamos nós a inteligência de, mesmo sem concordar com o logo ou com a memória descritiva que o sustenta, para debater de forma elevada e séria este tema e as outras questões que levantei nesta declaração.

Para mais informações sobre a logomarca CV, consultar: aqui






Cada dia é mais evidente que partimos
Sem nenhum possível regresso no que fomos,
Cada dia as horas se despem mais do alimento:
Não há saudades nem terror que baste.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Imagem; nude woman a sleep de William Etty 








Dois anos sem fumar. Parabéns para mim. 
(E não custou nada. Nadinha. Nem foram necessários adesivos ou livros de auto-ajuda.)







Quando foi anunciado que estava a ser preparada uma logo marca Cabo Verde, para a promoção do arquipélago cabo-verdiano, confesso que temi o pior. Basta olhar para os anúncios, outdoors, revistas, sítios na Internet ou jornais crioulos para verificar que, no que diz respeito ao nosso design criativo, ainda estamos na pré-história. Pior ainda, numa pré-história de inusitado mau-gosto. Ainda hoje o que mais se vê, por exemplo, são páginas de jornal de produtos ou serviços inacreditavelmente primários ou folhas de papel que continuam a colocar na montra dos TACV com anúncios de promoção ranhosos feitos em word com aquelas letrinhas pavorosas.

Portanto, só posso dizer que fiquei bastante agradado com o desenho escolhido. Fica bem em qualquer lado, gosto da variedade das cores e da forma criativa como as ilhas estão representadas. Só o facto de não terem escolhido algo que nos fizesse mais lembrar a União Europeia, com estrelinhas amarelas etc e tal, já foi um grande, grande avanço.