Declaração Cafeana

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Foi uma cerimónia emocionante. E geralmente é assim quando alguém que fez teatro em Cabo Verde resolve deixar o seu testemunho, mais a mais, em forma de livro. Lançado no passado Sábado em Lisboa, na muito simpática Associação dos Antigos Alunos Liceais de Cabo Verde, o livro de Valdemar Pereira intitulado «O teatro é uma paixão, a vida é uma emoção» provoca diversas perplexidades e convoca múltiplos estados emocionais. 

Em parte substancial desta obra, um documento precioso, o autor relata a criação do Conjunto Cénico Castilhano, criado com o objectivo de reactivar o futebol do Grémio Sportivo Castilho, que pela primeira vez no seu historial associativo, se viu metido em tais andanças teatrais, tendo sido percursor neste género de actividades. Depois do Castilho, seguir-se-iam o Amarante, a Académica, o Mindelense, a desenvolver actividades cénicas ligadas aos clubes desportivos, uma realidade que marcou décadas do teatro Sanvicentino e originou um novo tipo de comédia popular crioula (e em crioulo).

O livro foi apresentado por Joaquim Saial, numa sede pequena para tanta gente, de várias gerações. Associados, familiares e amigos assistiram com emoção a mais este evento, e homenageram o autor Valdemar, grande percursor e dinamizador deste teatro popular.

Aliás, como sabemos, o teatro vive da sua própria natureza, ou seja, do contacto directo  entre quem vê e quem faz, e como arte do efémero, tem a sua historia dependente de testemunhos e documentos. Mais ainda se considerarmos o teatro de tempos idos, quando não havia forma de fotografar, filmar, enfim, registar, em forma de documento testemunhal, o objecto cénico. 

Essa será a principal razão porque este testemunho de Valdemar Pereira é absolutamente precioso. Explica o autor: «recorrendo ao pouco que restava nas abissais da memoria e com a ajuda de alguns amigos, consegui consagrar numa pequena brochura elementos que vos transportarão aos primeiros teatros do Grémio Castilho.» Modéstia do Valdemar, digo-vos. Isto que nos foi apresentado no passado Sábado é muito mais do que «uma pequena brochura», é uma peça nuclear para se entender o extenso e fascinante puzzle que constitui a história do teatro cabo-verdiano. Em Setembro, esperamos ter o autor no nosso festival Mindelact, para apresentar a obra e dar-lhe todo o valor e aplauso que eles (obra e autor), sem dúvida, nos merecem. 

Fotografia de Alexandre Conceição




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