Crónica Desaforada

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O Espantoso Mundo das Revistas Femininas

1. De tempos em tempos aconselho todos os homens a comprarem certas revistas (ditas) femininas. Há de todo o tipo, umas mais utilitárias do que outras, umas com mais classe que outras, umas mais elitistas outras mais populares, umas mais diversificadas outras orientadas para jovens e adolescentes. 

2. Aqui é preciso separar o trigo do joio, porque neste bloco editorial de que falo na presente crónica não cabem as marias, caras ou novas gentes, que são uma espécie de revistas buraco da fechadura, cuscam a vida dos famosos e dos menos famosos, colocam alguns em situações ridículas, quase sempre em posses inusitadas perto de móveis de gosto duvidoso mas sempre muito chiques.

3. As revistas a que me refiro concretamente são as que se dedicam ao mundo da moda, mas cujos conteúdos vão muito para além do que se deve ou não deve vestir em cada época Primavera - Verão ou Outono - Inverno, as cores predominantes, os acessórios respectivos e as maquilhagens mais aconselhadas em cada ocasião.

4. Como exemplos mais antigos temos a Marie Claire, a Elle ou a Vogue, pelo menos falando daquelas que tem edição própria em Portugal há bastantes anos. Todas estas revistas tem artigos de elevado interesse para as mulheres e, aqui está o busilis deste texto, para os homens que se interessam por mulheres, ou dito de outra forma, pelo seu bem estar (delas, das miulheres), ou ainda para aqueles que, como eu, ainda não desistiram de compreender o fascinante e misterioso mundo feminino.

5. Graficamente, as revistas tem uma relação qualidade preço imbatível. São autênticos calhamaços, cheios de páginas de papel de luxo e a cores, com não menos que trezentas páginas, publicidade incluída,  infindáveis brindes e amostras de cremes, perfumes, shampoos e outros produtos misteriosos, muito que ler e apreender, assimilar mesmo para aqueles que mais se interessam por esta ciência de melhor compreender as mulheres que por natureza foram feitas para ninguém entender ou alcançar de forma absoluta. O preço varia entre os duzentos e os quatrocentos escudos, o que, tendo em conta o que atrás foi dito, fica muito em conta. 

6. Pois bem, está bom de conversa fiada, vou passar agora ao exemplo concreto. Comprei o último número da revista Happy Woman, que custou 2,20 euros (mais ou menos 250 escudos) e tem trezentas e quarenta páginas e muitos assuntos de elevado interesse. A principal manchete do número deste mês diz assim: «mude de vida em 59 segundos. A ciência mostra que podemos alterar o nosso rumo em menos de um minuto.» Mais nada!

7. Que a possibilidade de mudar de vida em menos de um minuto possa interessar também um homem é algo que qualquer simples mortal pode entender, embora estes sejam bem mais fáceis de contentar (diz-se). Umas cervejas, uma vitória do clube de futebol de que é adepto e um despertar erótico, e está o assunto arrumado. Mas nem todos são assim. Vamos lá esmiuçar esta coisa um pouco mais. As surpresas são mais que muitas.

8. Vamos começar pela moda propriamente dita, com conjuntos de «tendências», todas elas extremamente criativas. Se não nas roupas e acessórios, pelo menos nas suas justificações. Estilo newspaper: «o preto e branco em peças cool com mensagens gráficas»; estilo navajo: «a tendência étnica é movimento em destaque»; estilo watch: «cores e reflexos metálicos marcam a tendência mais chocante da estação»; estilo military: «peças cool com tachas e camuflado completam um look army»; estilo juicy: «prints berrantes misturam-se com demim para um look ultra casual»; e finalmente, estilo cocktail: «peças sofisticadas saltam da passarelle para o mundo urbano». Como se vê, a imaginação é o limite.

9. Mas vamos aos artigos de fundo. Além desse que faz manchete, o tal que muda a nossa vida num tempo recorde, um outro texto responde à questão metafísica «o que nos move? - a motivação pode fazer milagres pela nossa felicidade; descubra como acreditar sempre.» Um artigo de fácil leitura e bons conselhos, como aquele que diz para que elas, as mulheres, estejam rodeadas «de pessoas que a estimulem, que a incentivem, que sejam gotas de gasolina para o seu motor avançar.» Quem escreve assim não é gago!

10. Mais umas páginas à frente, dão-nos algumas pistas sobre os grandes testes da vida, ou seja, «como reagir perante as mudanças, as crises e as rupturas», onde mulheres testemunham casos de mudança brusca de desemprego ou a descoberta repentina de que tem um cancro. Alguns dos testemunhos são tocantes, as conclusões do articulista nem tanto.

11. As entrevistas não faltam, geralmente com estrelas, nacionais ou internacionais. Nesta revista é tudo em grande. Os dois entrevistados do mês são Leonardo DiCaprio (que sempre que está mais agitado publica poemas na net) e Diane Kruger que afirma ninguém saber as suas origens. Ah, e fiquei ainda a saber que Jessica Alba tem o corpo perfeito, segundo investigadores da Universidade de Cambridge, mas isso eu já desconfiava.   

12. E parece que nunca mais acaba. «Renascer aos 40 anos» (li com especial atenção); «como ser melhor» (um método de auto-treino); «os melhores refirmantes de corpo escolhidos por um júri»; «cirurgia da hora de almoço»; «barriga killer, como perdi a barriga em 20 dias»; «especial bronzeado perfeito»; «o que eles gostam & odeiam nas mulheres» (os homens preferem as que tenham sido casadas ou mães, pode ser ciumenta mas tem que ser fiel, claro); «a primeira vez com um acompanhante» (o que levou uma mulher atraente e bem sucedida a quebrar todas as regras?); «gosto de ser a outra» (quando elas escolhem ser a amante, histórias de um mundo tabu); e por aí fora. A lista é interminável!

13.  Um mundo fascinante, é o mínimo que se pode dizer. E muito se aprende, sendo que é preciso saber filtrar toda esta informação, porque nem tudo é pão pão queijo queijo. Vou continuar a comprar uma destas revistas por mês, a ler atentamente e aprender. Espero um dia que me expliquem como é possível que esta moda de os homens e jovens andarem a mostrar os seus truços e cuecas possa ter algum interesse real ou que esta seja uma mania que nos mostra, se preciso fosse, que o mundo anda mesmo louco.





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3 comentários:

Anónimo disse...

Moda ? Revista feminina ? Em pleno "aftermath" da hecatombe de alegria e festa que caiu sobre o mundo e também em Cabo Verde por causa da campeaonato de Benfica ? Só pode vir de um Portista !

Unknown disse...

Ao ler Pss entendo como é possivel que nos una aquilo que nos separa!

Grace disse...

N sou mto de comprar revistas, mas tenho de concordar contigo, a happy tem bons artigos, e da para aprender muito. isto de revistas cor de rosa é preconceito. Há boas e mas revistas