Plágio 21: Cultura e Criativos

8 Comments


O César Schofield foi dizer de sua justiça no programa 180º, que infelizmente não vi.. A conversa só pode ter sido boa. Vai daí e o Tide publica no seu Pedra Bika algumas considerações bem interessantes sobre cultura, artistas, politica cultural e desenvolvimento. Pelo interesse e pertinência, aqui ficam algumas das passagens mais interessantes.


Então ele escreve assim:

«Partilho da ideia da cultura como um elemento central da estratégia de qualquer plano de desenvolvimento. Limitar a cultura a eventos ou mercantilizá-la é redutor e felizmente esta é apenas uma das dimensões sob a qual se pode abordar a cultura e o seu papel no desenvolvimento.

Há a dimensão simbólica da cultura, e aí reside o seu valor incomensurável, no entanto essa é a óptica mais frágil e abstracta sendo assim a mais complexa. Nesta abordagem, a cultura transcende as expressões materiais (livros, shows, cd´s ou autoria) para o pano de fundo que constitui a identidade crioula ou matriz sob o qual expressamos a nossa autenticidade enquanto povo.

Esta dimensão é essencialmente imaterial mas implícita no homem cabo-verdiano. São os nossos códigos, símbolos, modos, usos, reflectidos no folclore, na tradição e na contemporaneidade. No fundo é tudo o que nos enforma e identifica. Cabral debateu esta questão demonstrando que há uma relação implícita entre o modo de produção de um povo e a sua cultura.

Exige-se é que os poderes públicos estejam atentos e intervenham, onde seja necessário, para proteger, reforçar ou facilitar o acesso do povo à cultura seja pela arte, pela educação, pela formação profissional, pelo desporto ou por qualquer outra forma de realização humana.

Isso amplia a missão dos poderes públicos, mas também transfere outra responsabilidade para os cidadãos e criadores. (...)

Se temos uma cultura viva que foi dito valer um diamante bruto, o seu valor na prática nem sempre é medido pelo preço e sendo assim as manifestações, serviços e produtos culturais raramente se reflectem no PIB.

Contraditoriamente, quando se vê o valor de artistas, como a Cizé, que vendem alguns milhões de cópias no mercado mundial, mas cuja riqueza produzida é contabilizada nos países que detêm o registo dos respectivos direitos autorais, então sem dúvida precisamos repensar o papel da cultura no contexto do desenvolvimento e de uma vez por todas.

Para isso o César diz que os artistas precisam ser ouvidos e levados a sério. Concordo a 100%. Como uma sociedade carente de soluções pode descuidar-se e não levar em consideração os artistas e criadores? As fragilidades e condições estruturais das ilhas sempre impuseram ao homem cabo-verdiano a busca de soluções e atrevo-me a dizer que sempre fomos criativos na sobrevivência. (...)

Entendo que nada isolado é nada, tudo tem que fazer parte do todo para fazer sentido. Daí penso que a nossa missão individual só soma quando adicionada ao todo. Do mesmo modo, fazem pouco sentido as acções nobres do MC, como o projecto de regresso do Navio Ernestina, quando tudo o resto carece de um norte, a pergunta é pertinente: Afinal qual é a agenda do MC? O que é prioritário?

Do que é colectivo para o nível individual, acho contraditório os artistas refugiarem-se numa redoma e faz-me pensar até que ponto os próprios artistas não estarão a ser egoístas em relação ao seu próprio povo donde bebem a seiva da arte que praticam

Muitas e boas ideias para discutir, não é? Para início de conversa, não está nada mal!


Fotografia: galeria de Kizó Oliveira




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8 comentários:

Fonseca Soares disse...

Inteiramente de acordo com o TID. Coisa rara em termos de 'opiniões' sobre o que fazer para o bem da nossa cultura no geral. Enquanto não houver 'uma política' do MC...(de conveniência encontrada por todos - agentes e povo) não se pode saber o que é prioritário. Elementar, pois não? Mas, por outro lado, tb d'acordo com o défice por parte dos artistas que têm tendência para se 'fecharem numa redoma'...isolando-se... cortando o 'cordão umbilical'... pervertendo... produzindo uma arte...órfã à nascença.
Belo post
Tchá

Unknown disse...

Também achei, por isso achei que vale o eco margoso aqui colocado...

gicas disse...

Muito bom, interessante e pertinente nas suas questoes. Mas Tide, explica-me tudo isto como se eu fosse uma criança de cinco anos. É que as bases da cultura começam exactamente aí. Enquanto a cultura passar à margem das crianças, enquanto nao houver uma política cultural logo a partir do ensino básico...enfim, para bom entendedor meia palavra basta. Assim como as crianças, também a cultura é o parente pobre da naçao.

Unknown disse...

Ora cá está uma observação que nunca me canso de sublinhar: por enquanto que não se fizer uma reforma PROFUNDA em todo o sistema educativo, colocando a educação artística ao mesmo nivel de uma lingua, matemática, ciências ou economia, vamos andar aqui a discutir sempre as mesmas questões. Como dizia um personagem popular numa das peças do Juventude em Marcha, «o problema é o base»!

E não é que é mesmo?!

Unknown disse...

Oi Gicas, papo de adulto para explicar à criançada é sempre uma doidera, mas sim, simplificando elas seriam as primeiras a ter o direito de acesso aos bens comuns como é o caso da cultura.

Pois é Jon acho que é por aí, o sistema de educação devia ser mais inteligente aproveitando o potencial das crianças desde do principio e daí canalizar esse potencial para o(s) talento(s) que ela(e) manifestar. Não sei se fui claro, mas quem sabe daí não teriamos mais criativos e menos pessoas frustadas pela vida inteira porque não se dão bem com determinadas disciplinas.

Bali!!! ;)

Unknown disse...

Bali Tide, obrigado pela visita. E quanto à clareza dos teus comentários, podes ficar descansado. Está clarinho!

Sara disse...

Cultura é a base para se identificar como Caboverdiano.
Como tal devia ser ensinado na primaria.
Dai se cria visões, correntes, estilos..caboverdianos!!
E falta disso leva nos a ser
Alienados...frustrados..ridiculo..falta de identidade...problemas existencias..e otras cositas más!

Unknown disse...

Adê Sara! Estamos em sintonia!