Um Café com Jorge de Sena

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        De cada vez que um governo necessita de segredos,
        por segurança do Estado
        ou para melhor êxito
        nas negociações internacionais,
        é o mesmo que negar,
        como negaram sempre desde que o mundo é mundo,
        a liberdade.
        Sempre que um povo aceita que o seu governo,
        ainda que eleito com quantas tricas já se sabe,
        invoque a lei e a ordem para calar alguém,
        como fizeram sempre desde que o mundo é mundo,
        nega-se
        a liberdade.
        Porque, se há algum segredo na vida pública
        que todos não podem saber
        é porque alguém, sem saber,
        é o preço do negócio feito.
        E se há uma ordem e uma lei que não inclua
        mesmo que seja o último dos asnos e dos pulhas
        e o seu direito a ser como nasceu ou o fizeram,
        a liberdade
        é uma farsa,
        a segurança
        é uma farsa,
        a ordem é uma farsa,
        não há nada que não seja uma farsa,
        a mesma farsa representada sempre
        desde que o mundo é mundo,
        por aqueles que se arrogam ser
        empresários dos outros
        e nem pagam decentemente
        senão aos maus actores.

Jorge de Sena (1919 — 1978) poeta, dramaturgo, ficcionista e historiador da cultura.




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