Declaração Cafeana

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Três pequenos pormenores, se quisermos assim considerar, motivam este texto. Em primeiro lugar, o facto de hoje se comemorar mais um Dia Internacional da Dança, e se estas datas comemorativas servem para alguma coisa - há muito boa gente que defende não servirem para rigorosamente nada - é de provocarem ou incentivarem alguma reflexão relacionada com o tema da data em comemoração. Hoje seria um bom dia para se reflectir sobre a dança cabo-verdiana, ou melhor ainda, qual o papel do Estado, qual pode ser o papel do Estado, na potenciação desta qualidade inata do povo crioulo que é saber-se mexer como poucos. Bem que poderíamos tirar um pouco de mais proveito disso, não?

O segundo pormenor está relacionado com a notícia de que os hotéis e pousadas da ilha do Fogo se encontrarem completamente esgotados e a razão principal é fácil de adivinhar: as festividades da Bandeira, o maior acontecimento cultural durante o ano da ilha do Vulcão, que mobiliza vontades, dinâmicas, gentes como nenhum outro acontecimento local, além de provocar, como se vê, uma movimentação com repercussões directas nos pequenos e grandes negócios, ou seja, na economia real. Não é novidade. Quando e onde se enchem os hotéis em Cabo Verde? Normalmente quando alguma grande actividade cultural tem lugar. Mais uma vez, esta seria uma boa altura para reflectir sobre aquela frase nuclear do economista David S. Landes já aqui referida há tempos idos que nos diz que "se aprendemos alguma coisa na história do desenvolvimento económico é que a Cultura faz toda a diferença."

E chegamos ao terceiro pormenor, que não o é (pormenor, digo). Falo do silêncio. O silêncio da nova equipa do Ministério da Cultura, melhor do Ministério do Ensino Superior, Ciência e Cultura. O Abraão Vicente chama atenção para o facto de não terem feito «nada de registo» e eu digo: há silêncios que são ensurdecedores. Com o pouco tempo que existe até ao final da legislatura, esta mudança de nomes só fará sentido se houver, nesse pouco tempo, sinais claros e inequívocos de uma alteração, eu diria radical, de políticas culturais públicas. Senão mais valia estar tudo como estava, mal por mal sempre nos íamos entretendo com uns fóruns de ocasião. 

Senhora Ministra, por quem tenho a maior consideração pessoal, já passou o tempo de «tomar o pulso», agora é hora de agir. Não é assim tão complicado. Há tanto por fazer. Olhe, comece por tomar uma medida efectiva para salvar o Éden Park, medida, aliás, que foi assumida publicamente e em texto escrito pelo seu antecessor. Mas seja o que for que estiver preparando, fale ao país, fale aos artistas, fale hoje sobre dança, amanhã sobre como potenciar acontecimentos como as festas de S. Filipe, e marque a diferença que é isso que se pede a quem governa os destinos deste país cultural. O país, esse, agradecerá certamente. Quebre o silêncio, d'izmola.


Fotografia «Danças» de Jorge Martins



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5 comentários:

Anónimo disse...

Em relação ao silêncio da Ministra da Cultura ... eu diria "dal temp pa pensá".

Mas o que me preocupa verdadeiramente é o silêncio da blogosfera caboverdeana sobre a investigação á Corrupção na Cãmara de S.Vicente. Vocês estão sob a Lei da Rolha ?

Deveriam pelo menos destacar essa nossa missão de ser os primeiros em (quase)tudo. Nós os Mindelenses. De entre outros, fomos os primeiros a ter uma mulher presidente de Câmara. E Agora fomos os primeiros a ter uma câmara ser alvo de buscas no âmbito de um processo judicial. Que venham mais buscas. Por mim deveria haver buscas como aquela TODO o santo DIA !

Desde da Câmara de Ribeira Grande em Santo Antão até a Câmara da Brava. Só assim seria possível acabar com esse CANCRO de corrupção que dá pelo menos de Gestão camarária.

Foi patético foi ver o Sr. Augusto vir pedir desculpas aos Sanvicentinos. Nós é que deviamos pedir desculpas uns aos outros por ter metido ai na Câmara aquela CORJA DE MALFEITORES.

Paulo Silva

Anónimo disse...

Definitivamente entendo os artistas: todos dizem que defendem o privado, mas ficam à espera das esmolas do Estado. Vocês que falam tanto de países desenvolvidos (desde que não me apresentem Portugal como exemplo)deviam saber que por aqueles lados ninguém se lembra do Estado e muitos nem têm Ministério da Cultura. Não vamos tanto para o Norte. No Brasil, Argentina, Costa Rica e México, por exemplo, nenhum artista procura o Governo. Ele ganha com talento.

Carlos Silva

Unknown disse...

Tipico comentário de quem não sabe o que diz sobre o assunto. Carlos, leio-te com interesse, mas nesta questão temos visões antagónicas. Não é uma questão de ter «artistas a chorar pelo apoio do Estado». É uma questão de uma aplicação efectiva de políticas culturais públicas que permitam o acesso, constitucionalmente garantido, de todos os cidadãos a bens culturais.

E depois, dizer que um país como o Brasil não tem Ministério da Cultura... É de bradar aos céus. Se há local onde existe um fortíssimo, não é forte, é fortíssimo, investimento do Estado e dos Governos Estaduais na arte e na cultura, esse país é o Brasil. Dos outros que referes não conheço, e não gosto de falar sobre o que não conheço.

Unknown disse...

até há pouco tempo atras o ministro da Cultura do Brasil não era o mestre Gilberto Gil?

Anónimo disse...

Ela está ocupada com a Comissão Executiva das Comemorações dos 550 anos das Descobertas de Cabo Verde e dos 35 anos da Independência Nacional.