Crónica Desaforada

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O exemplo da Islândia

1. A Islândia, um pequeno país insular, com uma população de apenas cerca de 320 mil habitantes, era considerado, antes da eclosão da crise económica global, como um dos países mais ricos do mundo e tem-se tornado com o passar do tempo numa estranha e bizarra fábrica de casos com repercussão mundial, prontos para serem objecto de investigação académica para elaboração de teses de sociologia, cultura ou economia.

2. Além de ser um país gélido, ou talvez por isso mesmo, apenas legalizou a cerveja em 1989 (!) e cobra impostos pelas razões mais inusitadas como, por exemplo, pelo facto de alguém ter um animal de estimação na sua própria casa.

3. Foi a Islândia, como deverão estar lembrados, um dos países mais marcados pela recen. te crise económica, tendo mesmo acontecido, há pouco menos de dois anos, que muitos dirigentes, economistas, políticos e responsáveis governamentais anunciavam na comunicação social que o seu próprio país estaria na bancarrota, com uma dívida 12 vezes maior que a economia, tendo anunciado o fecho da sua Bolsa de Valores de Reikiavik e estatizado os maiores bancos

4. Esta crise descomunal também foi notícia por outras razões: conhecido como um dos países mais avançados na luta pela igualdade do género, viu as suas mulheres virem a terreiro acusar directamente os homens da tremenda crise financeira que viria a colocar em causa o futuro imediato daquela pequena nação.

5. Bem mais recentemente, a Islândia deu a conhecer ao mundo mais uma lei controversa: o Governo proibiu o strip-tease! Isso mesmo, proibido tirar a roupa e ganhar dinheiro com isso, presumindo-se que esta nova legislação seja aplicável a ambos os sexos.

6. Claro que não se sabe se esta foi uma boa altura para aplicação e implementação de tão radical medida, até porque em tempos de crise as pessoas andam muito mais tristes e deprimidas, e é quando andam assim, tristes e deprimidas, que procuram algumas formas de diversão, umas mais originais, outras menos, e esse aumento da procura acaba por gerar uma relação de causa/efeito em alguns sectores de actividade económica, com o aumento do volume de negócios e consequentemente do emprego em determinados sectores.

7. Portanto, não sei se seria esta uma boa altura para em vez de proibir, incentivar os islandeses a tirar a roupa, a mostrarem-se uns aos outros tal como vieram ao mundo, independentemente do frio gélido que sempre faz por aquelas paragens, a não ser que sejam todos feios e gordos, o que não me parece que seja o caso.

8. Portanto, a partir deste momento, se uma mulher islandesa quiser tirar a roupa de forma sensual, tem que o fazer no conforto do lar, e mesmo assim cuidado, se houver algum tipo de troca de serviços, do tipo tu tiras a roupa e eu compro-te uns sapatos novos, é bom que não haja por lá nenhuma fiscalização mais competente, ainda vai tudo parar a tribunal.

9. Mas a partir de agora os clubes de lazer masculino não podem mais lucrar com a nudez feminina e o contrário também passa a ser válido. Esses bares islandeses vão perder a piada, dizem, apesar de os deputados da nação terem garantido de que esta nova lei vem provar que o país tem uma das democracias mais fortes da Europa.

10. Os donos das casas de show já estão desesperados e ensaiam pedir uma indemnização ao Governo do país e parece-me bem. Porque uma coisa é a exploração ilícita do negócio, com aqueles horrendos casos de tráfico e escravatura moderna de mulheres, outra é uma actividade que envolve profissionais, que sabem o que estão a fazer, dançam, mexem-se à volta de um varão e ganham dinheiro com uma actividade tão válida como qualquer outra, tirando partido do facto mais que comprovado de a grande maioria dos homens deste planeta se babarem ao se depararem face to face com um belo par de mamas.

11. Não confundam as coisas: sou totalmente a favor de todas as medidas que possam favorecer e ir de encontro a uma maior justiça social e cultural, no que à questão do género diz respeito e é bom que neste sentido se veja que esta minha objecção esteja direccionada nos dois sentidos, porque também às mulheres islandesas lhes foi proibida a ida aqueles bares de strip masculino cujo momento mais fantástico e digno dos maiores elogios e admiração, é sempre aquele em que os bailarinos homens, num gesto apenas, tiram se forma repentina as calças, peça de roupa à partida concebida para dar muito mais trabalho a desaparecer nos momentos de maior fogosidade, momento esse que provoca na maioria das vezes gritos alucinados de mulheres à beira de um ataque de nervos.

12. E eis que, mais uma vez, quando menos se esperava e pela mais inusitada das razões, este pequeno e aparentemente insignificante país insular, volta às bocas do mundo por causa de um vulcão que resolveu dar sinal de vida e expelir uma nuvem de cinzas capaz de paralisar uma parte significativa do tráfego aéreo internacional. Mais uma vez o bizarro tomou conta do mundo global. Basta ver o nome do vulcão que tem cuspido a nuvem de cinza que tem provocado todo este alvoroço: Eyjafallajokull. Isso mesmo, vulcão chama-se Eyjafallajokull. Credo!

13. Não vou ao ponto de fazer uma relação directa entre a proibição do striptease comercial e a erupção do vulcão islandês, mas é uma coincidência perturbadora. Mesmo sabendo-se que tudo se perdoa ao país onde nasceu uma das estrelas pop mais fascinantes das últimas décadas, Bjork de seu nome, que com a sua extravagância, visual e arte tem deixado marcas e conquistado uma legião de fás por esse mundo fora, fica sempre aquela dúvida se isto tudo não estará ligado. Pelo sim pelo não, espero que os nossos deputados não proíbam aquela forma desmesurada e urgente com que muitos crioulos “dançam” nas principais discotecas do país, num estilo não assumido mas por todos comentado, não vá o vulcão do Fogo zangar-se por se dar um fim a uma das mais estranhas e originais idiossincrasias do relacionamento social nestas ilhas.

Excertos da crónica publicada no jornal A Nação




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1 comentário:

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=SvTrfjTlsgA

:op
moreia