Crónica Desaforada

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Impressões Eleitorais


1. Não gostei da campanha eleitoral. Já escrevi aqui porquê. Temi mesmo que o pior pudesse acontecer e o pior seria a concretização de distúrbios, materialização de ameaças, revelação de maus perdedores, alimentação de discursos de fraude e outras encenações que já conhecemos de outros carnavais. Mas para minha grande alegria, nada disso aconteceu. 

2. O líder do partido perdedor falou primeiro, aceitando a derrota. O líder do partido vencedor fez um discurso de vitória sem qualquer arrogância até aceitável tendo em conta as circunstâncias. Fiquei orgulhoso de Cabo Verde e dos cabo-verdianos. Limpo, tranquilo, transparente. Uma lição, aqui sim, de maturidade democrática.

3. Outro motivo de orgulho de todos foi, certamente, a organização de todo o processo eleitoral. Com excepção de alguns percalços, com eleitores que não conseguiram saber a tempo e horas onde votar, nada de especial, embora seja sempre de lamentar que um cidadão que queira exercer o seu direito (e dever cívico, já agora) de votar não o tenha conseguido fazer por razões burocráticas. 

4. Apesar disto, se pensarmos que a abstenção foi de pouco mais de 20%, num pais com a mobilidade social de Cabo Verde, só podemos concluir que a participação foi massiva e exemplar. O povo de Cabo Verde interessou-se pelos destinos do seu pais e foi votar em massa. Mais um sinal de maturidade democrática.

5. A organização do processo eleitoral também deve ser elogiada pela rapidez e transparência com que os resultados foram sendo anunciados. E só não foram mais rápidos os mágicos da NOSI porque o clima de desconfiança instalado por uma campanha eleitoral pouco esclarecedora acabou por falar mais alto e os planos de se conseguir saber os resultados finais na própria noite das eleições acabou por se gorar.

6. Mas se tivermos na memória – que tantas vezes é curta – eleições anteriores, só podemos ficar orgulhosos pelo que já avançamos neste domínio. Cabo Verde provou, mais uma vez, que pode ser sim um exemplo para o mundo! Também aqui, quem nos vê e não conhece da história a sua metade, diria que andamos nisto de eleições há séculos. Maturidade, também neste caso? Com certeza, mas sobretudo muita competência

7. De há muito que não me lembrava de uma cobertura mediática tão imparcial e empenhada por parte de quem de direito. Tirando um ou outro caso de radicalismo crónico sem remédio, o balanço aqui é positivo e a maturidade democrática falou alto no que diz respeito ao excelente trabalho de todos os jornalistas e profissionais envolvidos nesta cobertura.

8. Mas a campanha eleitoral em curso fazia prever o pior. Aliás, devo dizer que no início tive a percepção de que o MPD poderia mesmo ganhar estas eleições. Começou com uma dinâmica interessante, parecia conseguir mobilizar mais gente nos seus comícios e actividades, o slogan fica no ouvido o que acabou mesmo por originar um slogan inverso do outro lado da barricada. 

9. Mas depois foi o descalabro. E deste descalabro, o principal partido da oposição saiu mais chamuscado. Deixou-se de falar de projectos ou de pais, e passamos a ver imagens manipuladas, vídeos comprometedores, desculpas esfarrapadas, ataques e contra-ataques, mails forjados, teorias da conspiração, insultos violentos, de parte a parte, contra cidadãos só porque estes defendiam uma determinada cor politica. Inaceitável.

10. Também penso que o discurso do bota-abaixo da oposição não resultou de todo porque nem tudo está assim tão mau. O pais não caminha “para o precipício”, não está perto do “descalabro total”, não corre o perigo de se instalar uma espécie de “ditadura camuflada”. Estas e outras tontices foram lançadas para o ar com alguma leviandade. 

11. Por outro lado, o carácter hiper-optimista e o pintar o país de cor-de-rosa, com aquele optimismo militante característico de José Maria Neves, acabou por fazer com que na última semana da campanha eleitoral, o PAICV recuperasse o terreno suficiente que lhe permitiu renovar uma maioria absoluta histórica.

12. Os próprios resultados, com algumas surpresas, demonstram notável maturidade democrática. S. Vicente deu a vitória ao PAICV, o que não acontecia desde 2001, incluindo autárquicas. Foi uma surpresa enorme. Santo Antão deixou de ser um bastião ventoinha, assim como a diáspora já não tem o domínio absoluto dos tambarinas. A vitória do PAICV em Santiago Norte foi outra das maiores surpresas destas eleições, tendo em conta que a maioria dos municípios está nas mãos do MPD. 

13. Uma palavra final para Carlos Veiga que teve uma postura notável na noite de Domingo, assim como que para José Maria Neves, que não se deixou cair numa arrogância vitoriosa. Haja esperança que o actual governo aprenda com os erros cometidos no passado, e não foram poucos. Energia, transportes, segurança, cultura, quatro áreas fundamentais a rever. 

14. Haja esperança que o parlamento renovado com caras novas e com muito para dar, cujo esforço e abnegação durante a campanha são certamente resultado de um grande amor pelo seu pais, possa subir a fasquia da qualidade no serviço que presta a quem o elegeu. Haja esperança que a oposição se renova no discurso e na postura. Haja esperança que o Governo melhore substancialmente a sua performance e, sobretudo, que se abra mais à sociedade civil e às pessoas comuns. Porque mais do que à máquina partidária, é ao povo que se deve prestar contas.







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23 comentários:

Anónimo disse...

Excelente post, João. Diria mesmo que [quase] perfeito. Bali

Anónimo disse...

uma boa leitura da campanha/eleicao legislativa que passou.
eu tambem confeso que tinha medo do que podia acontecer depois das eleicoes mais no final fiquei supreso com os resultados.
eu quero pedir a permisao para publiclar esta cronica no meu wall do Facebook.
Octavio Garcia

Cristina disse...

Agradeço o artigo, eu que estou longe e não me mantive a par da situação politica do país senti-me esclarecida ao lê-lo.
Esclarecida e orgulhosa da maturidade democrática demonstrada.
Sim Senhor! Afinal sempre aprendemos com os erros passados e caminhamos para frente!

Unknown disse...

Obrigado a todos. Octávio, podes, com certeza.

Abraço

Bitim disse...

Também acho muito bom essas impressões e correspondem inteiramente a verdade. Além disso é de muito bom tom e uma atitude plausível por parte do Café Margoso, reconhecer o lado bom da campanha eleitoral e dos lideres partidarios, depois de correr muita critica aqui no blog.

Agora eu não compreendo o porque de haver pessoas que não encontraram o nome nas listas no dia das eleições?? É normal que no meio daquele trabalhão, a CNE cometer erros. Mas no dia seguinte ao término do recenseamento foi disponibilisado uma semana (1 a 8 de Dez.) justamente para os cidadãos verificarem e confirmarem o nomes deles nos cadernos. Os caboverdianos já sabemos, gostam de deixar tudo para o fim...

Anónimo disse...

"Mas a campanha eleitoral em curso fazia prever o pior. Aliás, devo dizer que no início tive a percepção de que o MPD poderia mesmo ganhar estas eleições"

PIOR porquê? O MPD se ganhasse seria PIOR?!
Pior, numa terra sem luz, sem iágua,sem cinema e com um partido que deita casas-monumentos abaixo?!
Deixa estar que também já foi colonizado pelas mentes mesquinhas e tresloucadas mindelenses.
S.Vicente deu vitória ao PAICV, mas vai pagá-la, com fome na terra, protituição e droga em barda!
Este é o programa para os 5 anos vindouros para esse povo leviano de SVicente, de que fazes parte!!!

Unknown disse...

Costumava um amigo meu dizer que "tudo está bem quando bem acaba"...Parece ser o caso, a julgar pela prosa escorreita que acabdo de ler...Todavia, não creio que viesse muito mal ao mundo com
uma reflexão mais aprofundada no impecável aos exgeros de
alguns "entretantos" da campanha...Porquê essas nódoas cívicas manchando a impecável razoabilidade de tudo o resto?

Anónimo disse...

Naquela tua rúbrica (acho) "ofereço um café" devias abrir o blog a opiniões de quem deveria ir para o governo, para cada uma das pastas (tomando como referência as da última legislatura).

Sanpadjud disse...

E presta contas... no momento do voto. Foi o povo que votou!
Ao sufragar pela terceira vez consecutiva a governação do PAICV o povo cabo-verdiano disse duas coisas: que vamos no bom caminho e que confia que assim continue. A boa governação deste país é inegável e o MPD foi incapaz de apresentar uma proposta alternativa credível. Foi incapaz de fazer os cabo-verdianos acreditar que é capaz de fazer melhor com os recursos que o país dispõe.
Esta mania que se criou de dizer que JMN pinta o país de cor-de-rosa é perturbadora... JMN tem dito repetidamente que se trabalhou muito mas ainda há muito mais para fazer. Se isso é pintar o país de rosa...
A atitude do Veiga, caramba! Como referiu a MM num comentário no FB é só ler o discurso do Aristides Pereira ou do Pedro Pires em 1991... e naquele momento a aceitação clara e tranquila da derrota foi decisiva na consolidação da democracia cabo-verdiana.

Lily disse...

Felicito todos os Cabo Verdeanos por mais um processo eleitoral muito bem sucedido, pela elevada participação às urnas, mostrando não ser uma sociedade passiva. E acima de tudo, parabéns por mais uma boa lição de democracia e liberdade.

Anónimo disse...

O povo caboverdiano nunca foi inteligente coisa nenhuma; é um povo africano analfabeto e cheio de manias e ainda por cima racista contra os africanos do continente.

PAICV nunca terá duas maiorias qualificadas como o MPD teve e jamais o génio disso será José Maria Neves, um vendedor de miséria ao povo; agora vamos deixar o povo sofrer mais 4 anos e depois voltaremos com o ciclo de maiorias qualificadas. Os ciclos são 15 anos de regime de partido nacional revolucionária, 10 anos de maioria qualificadas em democracia e 15 anos de promessas e miséria; depois regressaremos!

Unknown disse...

Oh anónimo da mente precipitada! Quando disse que temia o pior, tem a ver com o clima de quase violência, com as denúncias de ameaças, com a psicose da fraude, com o facto de alguma força política poder não aceitar os resultados de forma pacífica, etc. Felizmente, nada disso aconteceu.

Porque será que é preciso colocar as coisas sempre nessa vossa balança? Muita calma nessa hora, meu amigo. A vida continua.

Anónimo disse...

O Adolfo Hitler também gozava de grande apoio popular. Enfim, e depois falam de "povo"!

Só dementes é que não conseguem ver o desgoverno e o rumo que este país está a tomar. Para a frente que é caminho.

Cada vez é mais expressiva a imensa minoria do MPD. É só vê-los felizes e triunfantes apesar da aparente "derrota" eleitoral. São os maiores cabeças pensantes deste país, os maiores profissionais em todas as áreas e os de maior sucesso! Fora do sistema cada vez mais decadente do Estado e do funcionalismo público, o pessoal do MPD são cada vez os mais distintos, enquanto os amarelos vão esvaziando a Administração do Estado, vão afugentando os mais capacitados e vão colocando apenas e só os seus bestas militantes e incompetentes em lugares de chefia que não entendem patavina. As consequências estão à vista de todos. Só espero que com os 15 anos de governo, já não haja mais desculpas com os anos 90.

A tendência será para que a imensa Minoria se mantenha cada vez mais unida, numa organização exclusiva e altamente selectiva, onde não haverá lugar para todos, principalmente para os escravizadores e prostitutos da compra de votos e consciência!

Será uma união de valores onde a vulgaridade e a falta de ética não terão lugar e só lá entram homens limpos, críticos, exigentes e conscientes da sua própria capacidade e importância!

Anónimo disse...

Bom post!
Mas, caro João, há dois erros neste teu post.
O PAICV ganhou em São Vicente em 2001, 2006 e, agora, em 2011. Em São Vicente o PAICV perdeu nas autárticas, mas ganhou sempre nas legislativas, desde 2001. Quanto a Santiago Norte, também é a mesma coisa, são três vitórias consecutivas. Consulte os dados e verás.
Também estou orgulhoso de todo o processo eleitoral. Só fiz o reparo a bem da verdade e do rigor de informação.
Quanto ao inicio da campanha, o PAICV começou mais forte que o MpD e terminou mais forte ainda. Aqui em São Vicente o PAICV teve sempre mais gente nos comícios do início até o fim, e no resto do país foi também a mesma coisa. Aliás, os resultados finais dizem tudo, formam mais de 17 mil votos de diferença entre o PAICV e o MpD. É uma diferença muito expressiva.
Bia.

Anónimo disse...

Mente desabrida, é você que anda ha anos é desprezar esta terra e este povo; a prova é que estava convencido de que ia haver porrada, ia haver partidos que nao aceitariam a vitoria do outro; que ia haver violência; porquê estes preconceitos? porque despreza este povo e depois fica aqui a desconversar!

Unknown disse...

Último anónimo, está a ver aquele post SMS, mesmo aí em cima? É excelente para si. Bom proveito.

(haja paciência!)

Anónimo disse...

Que paciencia? Chinesa ou portuguesa? Eu nao quero paciência, mas argumentos. Ficou escasso de argumento? Tenha paciência porque eu tenho argumentos e nao cultivo a cultura de sms; sou enciclopédico; esta cultura de sms é que està a dar cabo desta terra de nariz arrebitado, vaidosa e analfbeta.

Unknown disse...

Bom aprender com os mestres. Com aqueles que sabem mais do que nós. Com os génios que se permitem transmitir o seu rico e profundo conhecimento e ciência aos outros mortais.

Por isso adoro o Café Margoso. Aprende-se imenso com todo a gente. Incluindo com os enciclopédicos e os googlásticos.

Abraço!

Carla disse...

Bom post João. concordo inteiramente contigo.
agora, eu tenho uma dúvida. pelo pais ouve-se falar da compra de votos. alguém me disse que estavam comprando bilhetes por 15 contos. quando dinheiro seria preciso para comprar cerca de 80 mil eleitores do PAI e mais de 60 mil do MpD. alguém ja fez as contas????

Anónimo disse...

Há comentários que um gajo lê e tem logo vontande de ir cagar ou vomitar. Para quê que PAI iria comprar 80 mil votos ? Isso quer dizer que nesse teu raciocinio nem os próprios militantes desse partido votariam PAI não é ? Agora que neste campanha SUSPENDE-SE A Lei isso não duvido. E é verdade que compravam BI, aliás RTC noticiou tipos no interior de Santiago com bolsas de BI. E mais ... comprava-se voto com dinheiro falso. Portanto com dinheiro falso não seria dificil comprar a 15, ou a 20 contos, 80 ou 140 mil votos.

Carla disse...

Anónimo
eu não disse que o PAICV chegou a comprar os 80 mil votos. perguntei quanto dinheiro seria preciso para comprar os do PAICV e do MPD. acho que não entedeste o espirito da coisa, mas estou preguiça de explicar. Aliás, não gosto de falar com gente sem rosto, sem nome, sem identidade, sem......

Anónimo disse...

Oh Joao (quando chamo às pessoas pelo nome de baptismo, é porque ja estou mesmo chateado) achas mesmo de verdade que eu quando venho aqui leio o teu post, e vou logo de seguida copiar no google, para te vir responder?
Achas mesmo isso, ou brincas com a tua inteligência?
Aqui agora caiste muito baixo. Isto nao é de homem que sabe algumas coisas mas como nao sabe mais, fica furioso por encontrar um é"mestre".
Nao, tu sabes que o que disseste de googalizar é uma grande mentira, e que nao serve para mim. Eu sou um homem de CULTURA; CULTURA, repito, e nao de cultura geral; tu fazes-me rir rapaz!E como é que eu associava o teu post com os textos que eu tinha que ler rapidamente no google para te respodner. Estàs a enormidade da tua ignorância aqui? Quer dizer eu teria que consultar rapiamente Aristoles para ver o quê do seu texto serviria para responder a um teu primeiro paragrafo; depois Aristofanes para ver se colava ao teu terceiro paragrafo... Nao vês que aqui foste mesmo béra?!!!

Unknown disse...

Sempre aprender, sempre aprender!