Primeiro levaram os negros

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Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.


Bertold Brecht

Imagem: fotografia de Paulo César





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8 comentários:

Anónimo disse...

É triste chegar a conclusão que este poema vai mto de encontro com o tipo de "relação social" que tem sido estabelecido nos nossos dias, em que é cada um por si e ninguém se importa com ninguém, apenas com o próprio umbigo.

Abraço!

Unknown disse...

Sisi, por isso mesmo quando li o poema - que já conhecia - o achei bonzim para colocar aqui no Margoso. O pessoal anda todo com os olhos demasiado virados para o próprio umbigo...

Fonseca Soares disse...

Há muitos anos atrás que não relia este Hino à SOLIDARIEDADE!
Continua sempre - e parece que cada vez mais! - actual. Uma tendência que devemos todos 'trabalhar', no sentido de voltarmos a ser 'seres sociais'. Afinal há muitas mais preocupações nesta vida, que não os nossos problemas (o nosso umbigo), que carecem urgentemente da nossa atenção, do nosso carinho, das nossas soluções, do nosso contributo! Antes que seja de facto, tarde demais!
Tchá

Unknown disse...

É isso ai, Tchá. Falou e disse!

Anónimo disse...

So para contrariar: não foi do Brecht, mas do pastor alemão Niemöller.

Unknown disse...

Mic: é uma polémica antiga que nunca foi esclarecida. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas isso nunca foi nem confirmado nem aceite por todos. Pelo menos foi isso que li por aí. Abr.

Alex disse...

Como vês João, às vezes apetece meter ANÓNIMO nisso, que o importante não é a assinatura.
Eis um EXCELENTE exemplo do que pode dar, PENSAR-SE COM O, E PELO, CALENDÁRIO. Ocorrem-me Mil situações que merecem reflexão diária, e que nunca são DIA DE CALENDÁRIO, pelo menos dos oficiais, e dos oficiantes. Tenho para mim, que são esses dias órfãos, esses dias anónimos, que têm feito a história repetir-se, e dar sentido ao poema-grito. O poema do Sant'Anna é parecido, num outro registo.
Há silêncios, e silenciamentos, que falam mais alto do que muita festança, e muito foguetório.
Fica bem.
ZCunha
P.S.- Obrigado Mic pela oportunidade que nos dás, de ilustrar como o acessório, por vezes, tende a amputar, a matar, o essencial. É o que eu chamo de questões 'assassinas', questões 'desviantes'.
Fosse apócrifo, diminuiria alguma coisa à autoridade do poema? E dizer que é de BB, acrescenta-lhe mais autoridade por isso? NÃO e NÃO! O resto são preconceitos e ideias feitas.
Abç's a todos.
ZC

Unknown disse...

Pois, Alex, canto contigo, «Não e Não». Mas quantos poucos pensarão assim? Basta, tantas vezes, um nome e todos se prestam a um ajoelhar ridículo, antes mesmo do individuo abrir a boca. E como se comprovou, neste mesmo café, há bem pouco tempo, mentes brilhantes também ofuscam (ou será, fuscam?). Abr.