A primeira vez que entendi

2 Comments


A primeira vez que entendi do mundo
alguma coisa
foi quando na infância
cortei o rabo de uma lagartixa
e ele continuou mexendo.

De lá para cá
fui percebendo que as coisas permanecem
vivas e tortas
que o amor não acaba assim
que é difícil extirpar o mal pela raiz.

A segunda vez que entendi do mundo
alguma coisa
foi quando na adolescência me arrancaram
do lado esquerdo três certezas
e eu tive que seguir em frente.

De lá pra cá
aprendi a achar no escuro o rumo
e sou capaz de decifrar mensagens
seja nas nuvens
ou no grafite de qualquer muro.

Affonso Romano de Sant'Anna


Imagem: Raphael, o pensativo





You may also like

2 comentários:

Alex disse...

Boa João. Bela foto, e belíssimo poeta o 'sacana' do Sant'Anna (perdoa lá a rima).
Gente boa, sem peneiras, sem oitavas distorcidas, sem entradas fora de tempo, e sem desejo de palco, holofote, e fanfarra, discreto na sua luminosidade.
1 ab
P.S.- Segue breve um pequeno recuerdo em homenagem ao teu Café. Eu e o Mito bebendo uma bica (por ti e por tua conta - depois pagas!) no Café di Roma não resistimos em pedir umas lembranças aí para o Margoso. Não dá para montar negócio, mas fica o gesto para a vitrina. Só faltou mesmo uma foto. Acredita ou não, as miúdas ao balcão, 2 (duas) lindíssimas, eram crioulas, vá-se lá saber de que bairro-ilha (Bairro-Estado é o que está a dar!) aqui desta Lisboa a perder vergonha da sua natural mestiçagem.

Unknown disse...

Eu, pessoalmente, adoro a poesia do sacana santana. É uma escrita iluminada. Quanto ao recuerdo, fico à espera, e que chegue com a respectiva factura dos cafés romanos. Pagarei com todo o gosto! Abraço ao Mito, também.