Crónica desaforada

24 Comments


15 anos, porra!

1. No dia 17 de Fevereiro de 1993, um mandrongo deslavado acabado de aterrar em S. Vicente entrava no salão daquela que era na época a biblioteca do Centro Cultural Português do Mindelo, onde o esperavam cerca de 30 jovens, que se haviam escrito no que foi anunciado como sendo um «Curso de Teatro e Expressão Corporal».

2. Escusado será dizer que o mandrongo deslavado era eu, e entre os jovens estavam, por exemplo, o João Paulo Brito, o Elisângelo Ramos (jornalista da RCV), a Sílvia Lima (sobrevivente no actual grupo) ou Júlio Santos (hoje, sociólogo cabo-verdiano).

3. Foi o início de uma grande aventura. Formamos o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português que, durante 15 anos, revolucionou por completo o panorama teatral em S. Vicente. Até parece mal dizer isto assim, tão basofo, tão sem papas na língua. Quero lá saber. São 15 anos e hoje vou dizer o que me vai na alma.

4. Vou ser claro e directo: se o grupo tivesse um outro nome, tipo Grupo de Teatro Monte Cara ou Morabeza Companhia Teatral ou Grupo de Teatro Palko Krioulo, o seu reconhecimento interno a vários níveis seria bem maior. A verdade é que o grupo tem o nome que tem, porque foi o Centro Cultural Português que apostou e apoiou desde sempre este projecto teatral que dura já à década e meia. Como hoje continua a fazer. E como o Mindelo deve a esta instituição! Não só na produção teatral, mas também na área central da formação, alimentando com novos actores e actrizes o teatro em S. Vicente de forma ininterrupta durante os últimos 15 anos.

5. Vivemos, desde sempre, numa encruzilhada complicada muito bem descrita pela Ana Cordeiro na edição comemorativa dos 10 anos do grupo: este espaço de criação teatral foi e sempre tem sido «um espaço de liberdade que tem mantido o grupo longe de pressões e de tentações de gestão cultural, que sempre existem. Da sociedade cabo-verdiana a pressão para a crioulização como condição para não ser visto como um corpo estranho. Da sociedade portuguesa a pressão para que o grupo se transformasse numa espécie de agente de divulgação da língua e cultura portuguesas.»

6. Continua-se, por desconhecimento mas também muitas vezes por pura má fé, a confundir-se o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português com a Associação Mindelact e o facto de ter tantas vezes a mesma pessoa a dar a cara por um e pela outra, não será alheio a esse facto. Quantas vezes repeti, publicamente, inclusive vendo-me na ingrata posição de ter que corrigir altas individualidades públicas de que o «Mindelact não é, nunca foi e nunca será um grupo de teatro». O meu grupo de teatro, que pratica, cria, procura, experimenta, arrisca, erra, tropeça, sonha e ousa outros caminhos para o teatro cabo-verdiano chama-se Grupo de Teatro do Centro Cultural Português. Orgulhosamente.

7. Sejamos claros: são 15 anos, porra! E este foi o primeiro grupo que adaptou para a nossa realidade, tendo como instrumento fundamental a língua crioula, peças históricas fundamentais, como «Romeu e Julieta» ou «Rei Lear», de Shakespeare; «Casa de nha Bernarda» ou «Sapateira Prodigiosa», de Lorca, «Médico à Força» de Moilière. Chama-se …«do Centro Cultural Português» e faz muitas vezes teatro em crioulo. Sim, e depois?

8.
Todas as 40 produções têm uma profunda marca de cabo-verdianidade. Todas. Falam de nós, do nosso povo, da nossa história, das nossas línguas, dos nossos amores e ódios, dos nossos desejos e aspirações, dos nossos medos e dos nossos risos. Muitos dos textos são de autores cabo-verdianos. Fomos os primeiros e únicos até ao momento a adaptar para o teatro obras de Germano Almeida (por três vezes). Encenamos Aurélio Gonçalves, Osvaldo Alcântara e Eugénio Tavares. Mário Lúcio Sousa escreveu uma peça para nós, que foi encenada em 2002, e se chamava «Salon».

9. A questão da língua no teatro tem muito que se lhe diga. Eu não aceito que se dilua o sentido nacional do nosso trabalho, quando as peças são escritas e encenadas em língua portuguesa. Não faz qualquer sentido. Por essa ordem de ideias 99% da nossa literatura não poderia ser considerada cabo-verdiana. Curiosamente, quase todos os textos que encenamos de autores cabo-verdianos foram apresentados em português, mantendo a sua forma original.

10. Até porque é com o teatro em língua portuguesa, sem qualquer desvirtuamento do seu sentido mais genuíno, da sua cabo-verdianidade mais autêntica, que abrimos ao nosso teatro as portas da internacionalização. Isto parece-me óbvio e as 25 vezes que já participamos em eventos internacionais são prova disso mesmo.

11. Lançamos o termo «crioulização», que hoje é alvo de estudo para teses de Mestrado (pelo menos uma, que eu saiba). «Crioulizar» não é «traduzir». Vai muito mais fundo do que isso. É tornar crioulo, tornar nosso. Assimilar, portanto. A história, os personagens, os locais, os cheiros, as cores e os sons. Esse tem sido o nosso caminho. Assim continuará a ser no futuro.

12. Este grupo, que se chama Grupo de Teatro do Centro Cultural Português, já montou 40 produções teatrais. Quarenta. É, de longe, o mais produtivo de toda a nossa historiografia teatral. Durante estes anos, apresentamos mais de 350 espectáculos. E nem sequer entro pela área da qualidade artística, porque essa não pode nem deve ser avalizada na primeira pessoa. Mas que o nosso teatro é hoje bem diferente, e para melhor, do que foi no passado, disso ninguém tenha dúvidas.

13. Desculpem lá qualquer coisa. Chamem-me arrogante à vontade, mas primeiro procurem conhecer a nossa realidade, a nossa história. Quem não conhece não tem direito à palavra, já dizia o outro. São 15 anos de trabalho, porra! Fiz um cálculo às horas de ensaio e a máquina calculadora mostrou-me 10.000 horas de ensaio. Dez mil. Como disse na nota que enviei à imprensa, foram dez mil horas, para que no momento da verdade, tudo corra bem e o abraço com o público seja, ainda e sempre, uma imensa festa do Humanismo.

Mindelo, 15 de Fevereiro de 2008


Imagem: «Lágrimas de Lafcádio», produção do GTCCP (1995)



You may also like

24 comentários:

Anónimo disse...

Antes de mais Parabéns João e todos aqueles que tornaram o teatro uma realidade na nossa terra...bendito mandrongo deslavado k aterrou em SV!! Acho que o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português já provou e tem vindo a provar que é digno de todo e qq mérito pelo trabalho k tem vindo a desenvolver,por isso deixe k te chamem de "intxod". Eu pessoalmente vivi bons momentos com os meus amigos assistindo às vossas peças, é uma das coisas de k sinto mta saudade em SV. Quanto ao nome do grupo é como disseste, dá a César o k é de César.

Viva o TEATRO!!!

Unknown disse...

Obrigado pela força, Sisi. Já agora, qual a peça das que viste do nosso grupo, a que mais te marcou e porquê? Assina: Intchód Bronk

Anónimo disse...

Todas as k eu vi tiveram um "quelque chose", mas o k me marcou de uma forma interessante foi o Auto d'Holanda pk o meu pai era emigrante da Holanda tb e então fartei-me de brincar com algumas falas da peça para picar o meu pai, como aquela em k o marido liga e dizem-no k a mulhar está no 5º piso do hospital (maternidade)com uma pneumonia.

Só uma curiosidade, "À espera de chuva" foi escrita por ti, certo?

Eileen Almeida Barbosa disse...

Meus parabéns, João e companhia! Honra seija feita, devia haver hoje qualquer coisa de muito especial para comemorar a data!

Já agora: a mim, duas peças concorrem para a mais marcante: os Dois Irmãos, por tudo! Pela brilhantérrima cenografia, pela música do Pantera, pela actuaçºao e realismo dos actores; E Romeu e Julieta... porque sim.

Carlos Parreira disse...

Parabéns pelo esforço, ambição, dedicação, empenho, coragem de ter aceitado o desafio de desafiar uma sociedade que até a data era fechada a qualquer tipo de produção teatral. Parabéns por ter sonhado e acreditado no teatro em São Vicente, o meu sincero obrigado! O mérito é de todo merecido. Orgulhaste a nossa cidade, Mindelo é hoje (o Mindelact) conhecido, por várias companhias teatrais internacionais e não só seguramente.


Abraç tds

Anónimo disse...

Levanto o meu chapéu...à coragem e a perseverância.


(E hop, aproveito para colocar o café margoso no meu blog)...;o)

Anónimo disse...

Konde besote grupo ta trazé um Peça pa bem presenta li na Praia?Nô precisa de dá uns gargalhadas

Parabéns e continuação de muitas gargalhadas

Unknown disse...

Sisi, À Espera da Chuva foi adaptada por mim, a partir de um texto, seguramente uma das maiores pérolas da dramaturgia universal, chamada «À Espera de Godot», de Samuel Beckett, prémio nobel da literatura e uma das mentes mais brilhantes do século XX.

Eileen: a data certa será dia 17, Domingo. Vamos tentar juntar todos os elementos do grupo que ainda pululam aqui por Soncent e fazer um brinde aos próximos 15. Coisa simples, que o dinheiro não dá para mais!

Odair: obrigado pelas palavras e um abraço, li de Soncent.

Moreia: obrigado pelo chapéu e pela referência ao Margoso.

Katy: temos ido à cidade da Praia regularmente. Assim derrepente, lembro-me de termos apresentado na Praia: «O Último dia de um Condenado», «Conde d'Abranhos», «Agravos de um Artista» (todas na bela sala da Assembleia Nacional, ainda na década de 90); «Rei Lear», «Auto d'Holanda», «À Espera da Chuva», «Mar Alto» (no auditório nacional Jorge Barbosa», e mais recentemente, «O Doido e a Morte», «A Caderneta» e «Mulheres na Lajinha», no auditório do CCP. Esperamos voltar com a produção que vamos estrear em Março denominada «A Última Ceia», mas que de rir tem muito pouco. Esperemos é que dê que pensar! Fica atenta e um dia destes estaremos por aí.

Anónimo disse...

João,
Palavras para quê? Mal sabiamos (uma cambada de putos. tu também) nesse dia 17 de Fevereiro, à noite, que iriamos passar por tantas emoções... Estamos mais velhos, alguns carecas (eheheheh), outros barrigudos,... mas todos com a sensação clara e vontade de gritar: Porra!! (ja tou como o mandrongo) Valeu a pena. Aquele Abraço,
Jota

Unknown disse...

Jota: um grande PORRA!!! para ti! E a foto selecionada foi só para te dar águinha na boca... vai ser quando, vai ser quando? Abraço!

Carlos Alberto (KAKA) Barbosa disse...

Olá João esta é a 2ª tentaiva.
Sim meu caro amigo. Bem Hajas neste pedaço de chão onde tens amigos e amigos de verdade. Vai um Abraço rijo aqui da Grandílha.
1º ainda está fresco no meu ouvido esquerdo a tua insistencia para o OTACA participar no MesMarço de Teatro;
2º ainda fresco também está a passeata na morada do grupo que organizaste, com cavalos e tudo;
3º ainda fresco o abraço de separação e aquela recomendação não deixem morrer a coisa;
4º tudo está fresco e tu gozando a frescura da nossa amizade que a arte fertiliza ainda mais.
Com isto digo-te o mesmo BEM HAJAS.
Benka li (anda cá)ouvir o som amigo dos do SUL. Um Blogabraço. Kbarboza

Unknown disse...

Eh pá, Kaka, é como o Djinho diz: uma autentica ponte aérea está a ser criada com a comunidade blogueira. Uma ponte de liberdade, fraternidade, amizade, onde são exorcizadas tantas questiúnculas que não interessam rigorosamente para nada. Aceito, claro, o teu abraço, e fica certo que o teu canto, com o encanto revolucionário, também está fresco, ou não fosse eu filho de um músico de intervenção... Abraço!

Anónimo disse...

Parabéns e muita MERDA nos próximos 15 anos.
Não posso dizer qual a minha peça preferida. Citando alguém (a Sisi, acho eu)todas têm um "quelque chose" de espectacular, aquele toque de J.B. e toda aquela malta do teatro que tens vindo a inspirar durante uma década e meia.
Trabalhar contigo tem sido uma das grandes experiências da minha vida. Um sentimento partilhado por muitos jovens e adultos do Mindelo.
És o filho pródigo dos Deuses do Teatro cabo-verdiano. Makna ki flá!

Unknown disse...

Eh Makna, esse café de bossa (leia-se coments) até que saiu bem docinho! Akele abraço, men!

Anónimo disse...

Meu nome é Cadu Fávero sou comentarisata de teatro ou futebol (pra mim a mesma coisa)


GRUPO DE TEATRO DO CENTRO CULTURAL PORTUGÊS X OUTROS GRUPOS DE TEATRO DE CABO VERDE OU DE QUALQUER OUTRO LUGAR DO MUNDO.

PALCO DA DECISÃO:

MINDELACT

Gosto muito de futebol. Todo clube tem sua história e essas histórias se confrontam em cada jogo. E o lema é vencer ou vencer.

Vamos colocar o MINDELACT como o meu MARACANÃ maior pauco de futebol do mundo
O GRUPO DE TEATRO DO CENTRO CULTURAL PORTUGÊS.

X (se confronta)

OUTROS GRUPOS DE TEATRO DE CABO VERDE OU DE QUALQUER OUTRO LUGAR DO MUNDO.

O meu time COMPANHIA LIVRE DE TEATRO. Jogou quatro vezes no Palco do MINDELACT. Defendendo meu BRASIL. Assim como todos os outros grupos defediam cada um seu País de origem. Em todos os jogos sempre o time do GRUPO DE TEATRO DO CENTRO CULTURAL PORTUGÊS jogava. E batia um bolão. Seu jogo era sincero, iam na bola, não davam cotoveladas nem pontapés. E o mais interessante: Eles tem no no nome PORTUGAL e defendem com todos os dentes as cores de CABO VERDE. Incrível.

Lembrança histórica: Cabo verde é independente de Portugal a pouco mais de 30 anos. Viva a liberdade.

Não é incrível um time Português lutar pelas cores caboverdianas?
Isso é democracia. Isso é o futebol arte. É desse ópio que o povo precisa!

Nesse confronto quem vence?

GRUPO DE TEATRO DO CENTRO CULTURAL PORTUGÊS
X
OUTROS GRUPOS DE TEATRO DE CABO VERDE OU DE QUALQUER OUTRO LUGAR DO MUNDO. ?

Dificil arriscar um palpite. MAs o GRUPO DE TEATRO DO CENTRO CULTURAL PORTUGÊS é favorito pois carrega no nome uma tradição e leva no coração e na ponta da chuteira a superação. Eles acreditam na construção de um novo País CABO VERDE.

Álvaro Ludgero Andrade disse...

Estimado João, parabéns e manda à porra mesmo todos aqueles que só sabem "maldizer", porque não conseguem nem "dizer mal". O teu exemplo é único. Continua crioulizando, porque a nossa terra precisa de "mandrongos" e outros "drongos" como tu, que a amam. Mantenhas tcheu, porra!!!!

Unknown disse...

Cadú: o teu comentário signifca muito para mim, porque vem de um irmão, que ganhei trilhando este nosso caminho teatral. Aquele grande abraço e viva o Fluminense!

Álvaro: obrigado pelo comentário. São palavras como essas que nos dão alento e força para continuar. Quem sabe, por mais quinze! Abraço

Anónimo disse...

Parabéns pela coragem e tenacidade! Vi tantas peças... e gostei de quase todas. Lembro-me da por exemplo da "Casa de Nha Bernarda", "Os dois irmãos", "Romeu e Julieta". Agora li na terra longe é só pa recorda esses belos momentos de teatro. Vi o teatro crescer nos anos 90 no Mindelo e grande parte desse sucesso deveu-se, sem dúvida, à tua persistência e à malta do CCPM. Quando é que voltam a Lisboa? Parabéns e força aí!

Alex disse...

Por que sim, PORRA!



Caros, João e trupe do Grupo de Teatro do Centro Cultural Portugês

Continuai o bom trabalho, sempre com golpes de audácia, sem pedir licença ou desculpas a ninguém. No entanto atentai, que muitas palmadas nas costas podem esconder furtivas adagas. Sejais mensageiros de boas novas, e muitas cenas. Sendo a nossa terra de muito vento e não pouca poeira, ignorai os grãos de areia com que buscam os ‘Fortinbrás’ turvar ‘a vista da alma’ de alguns incautos. Como disse Ricardo Reis “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.”.
Esta é para mim “uma alegria de certo modo incompleta”. Não por ter lágrimas ou cânticos fúnebres, como era o caso em Elsinor, mas por estar apartado do vosso convívio, e da vossa obra apenas me chegar a doce tortura dos rumores, e o silêncio dos aplausos, que aos felizes Mindelenses invejo. Saibam que a lei comum que une os homens é as suas múltiplas fraquezas, e sabendo isto, que não é pouco, sabemo-nos perdoados. Sabeis melhor do que eu, que apenas sofro de melancolia, que não há ingratidão que vença a força de quem, por andar descalço, escolheu o conforto dos caminhos mais difíceis e rigorosos. Que as poucas recompensas, para além do caminhar orgulhosamente a ombro, e no plural, são as feridas, as nódoas negras, e as cicatrizes que sabemos nossas, e por o serem nos fortalecem, e nos lavam a alma. Que o mundo é feito de coisas vis, sabemo-lo todos. O que poucos sabem, ainda, é que esse defeito original é apenas um desafio, uma oportunidade que a natureza nos concedeu para a contrariarmos.
Escrevo-vos, sem nunca vos ter visto em cena, sem nunca vos ter conhecido, sem que entre nós tenha havido outro negócio que não o desta unilateral admiração. Prefiro que assim seja. Acerco-me pois de vós, como diria Horácio, por “capricho de vagabundo”. Mas também por fraqueza de coração e por amor, que tudo o que toca a Cabo Verde me obriga, por dever de gratidão, por capricho de amizade, e por alegria do espírito, ao reconhecimento e à partilha, sem Orbigado’s de circunstância.
Entendei, pois, como quiserdes este gesto. Saboreai este café como vos aprouver, com açúcar de lei, ou simplesmente “margoso” como manda a regra da casa.
Deixo-vos, a ti, João, e à tua trupe, um conselho, e um pedido aos vossos gentis corações vagabundos e saltimbancos.
O conselho, que não é meu (como podia o atrevimento?), ireis colhê-lo à Cena III, do Acto Primeiro, de HAMLET, o de Polónio a Laertes, na despedida, dispensando a mão paternal na cabeça, ou a haver uma, seja ela a vossa sobre a minha. “Fixa na tua memória estes conselhos: Não dês língua…” o resto está lá, lê-o com eles, e como é óbvio, é tanto para ouvir quanto para sentir.

O pedido é bem mais breve. Partilhai. Perseverai. Perseverai sempre na partilha.

“Palavras, palavras, palavras!”? Em tempos de ingratidão, é de justiça que duvideis.
Mas, “Ser ou não ser, eis a questão.”.

E, eu acredito!

E na cal recrudesce a luz
com o fulgor de uma aurora dourada.
No fundo do teu coração habita um céu imenso.
O que trago na ponta dos meus dedos
é ainda o calor da tua face.
Alexadre Cunha

Ao João Branco e ao GTCCP

O poema vem de longe com as palavras.
No dorso do tempo a precária memória
abrindo sulcos na geografia das pedras.
É para a luz que o verbo sangra
inevitável ferida, sopro e voz,
raiz de fogo subindo à língua.
Na boca arde ainda o grito
das cinzas do primeiro canto.

Alexandre Cunha


José E. Cunha

Unknown disse...

Anónimo das 21 e pouco: obrigado pelo comentário. Por acaso, estivemos em Lisboa em Agosto do ano passado, apresentando «O Doido e a Morte» integrado no Festival Internacional de Máscaras e Comediantes. O espectáculo estava previsto para o belo cenário do castelo de S. Jorge, mas teve que ser adiado por causa da chuva que caiu naquela noite. Acabamos por fazer a nossa apresentação no Museu da Marioneta, no dia seguinte. Não havia muito público, infelizmente... Quando lá voltarmos, disso darei conta aqui no Margoso. Abraço!

Alex: que comentário, porra! Olha, com a devida vénia, vou publicá-lo num post próprio, porque dizes coisas importantes, porque nunca viste um trabalho nosso, o que torna o comentário mais, como direi, desinteressado. Falando do nosso trabalho, acabas por dizer outras coisas que a todos deveria caber ouvir. Espero que não te importes. Abraço!

Anónimo disse...

...10.000 horas de ensaios!!:O Isso e´que e´trabalhar! ufa, ufa)))
Obrigada pa tud Joao,e Parabens!!!:D

Unknown disse...

Obrigado, Natasha!

Elisângelo Ramos disse...

O que ainda não disseste é aquilo que foi pensado para ser, tão-somente, um curso de teatro (após evoluir para uma companhia) transformou-se, também, num laboratório de experiências teatrais envolvendo criadores de vários países. Há que ainda assinalar o facto de o Curso de Teatro ter permitido à esses 30 jovens ver a vida com outros olhos, proporcionando-lhes - quase todos - a realização dos seus sonhos, pelo menos, a nível profissional. Todos nós que passamos pelo primeiro curso de teatro e expressão corporal do CCP somos grato a aposta da Ana Cordeiro, somos imensamente gratos à paciência do João, que birrento como só ele sabe ser conseguiu erguer um dos mais respeitados grupos de teatro da Lusofonia. O GT - CCP-M não é só teatrpo é também apaixonante história de amores e conquistas. Vá-se entender ... Parabéns, João pelo teu enorme sucesso só comparavel à velocidade com que inspiras nos outros a intensidade de uma "boa merda".

Unknown disse...

Elisângelo, que saudades! Um grande abraço!