Cafeína Dupla

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"África não existe - existem áfricas e desconheço a maioria. As minhas áfricas, aquelas de que posso falar, têm em comum serem territórios propícios à surpresa e aos encontros. Lugares que desprezam as fronteiras entre a realidade e o maravilhoso. Finalmente: espaços em construção. Assim se explicam os livros que escrevo. Vêm de lá.

José Eduardo Agualusa - escritor angolano

"Parece um nome. Mas é mais do que isso. Trata-se de um conceito carregado de fantasmas e produtor de equívocos, quando pronunciado no singular. O que há são Áfricas. Plurais e diversas, em negação da imagem mistificada, do estereótipo e da visão folclórica."

Mia Couto - escritor moçambicano




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6 comentários:

Unknown disse...

Então não é que existem diversos Estados Unidos, diversas Russias, diversas Espanhas? É tudo uma questão de escala!

Anónimo disse...

Os que falam em África no singular referem-se, a meu ver, a todo um continente ainda hoje subjugado pelo atraso civilizacional (ainda que já não tecnológico), subjugado à miséria, à fome, à estigmatização conveniente a muita boa e "evoluída" nação, à perene categorização "Terceiro Mundo", a guerras e golpes de estado, enfim, a tudo menos o que qualquer uma das Áfricas possa ter de bom, de avançado em termos civilizacionais, e, sobretudo, de profundamente humano.

Anónimo disse...

Era isso que vinha dizer, caro Zito Azevedo: e Europas, e Américas, e Ásias... Só desconfio que esse desprezo pelas
"fronteiras entre a realidade e o maravilhoso" referido por Agualusa faz ainda parte da "imagem mistificada" de que fala Mia Couto... E que a literatura de ambos, já agora, não é alheia ao reforço desse estereótipo em muitos leitores.
RG

Unknown disse...

Creio que A CONFISSÃO DA LEÕA que o Mia Couto lançou recenemente, pretende, justamente, desmistificar a Africa das caçadas e das queimadas cinematograficas espécie de Eden transitório e superficial...

Anónimo disse...

Só nós cabo-verdianos continuamos a negar, esconder ou calar, a áfrica de nós, contida nos nossos genes e na nossa cultura, e que participa, dessa comunidade plural que são as Áfricas. Na verdade, e como regularmente se vê, se ouve e se apreende, Europa é um anacronismo que temos procurado forçar desde da Hélada. Uma pluralidade de nações (povos, culturas e paisagens). Sim, como a Rússia, sim como os EUA, sim como Cabo Verde e suas ilhas, sim como numa família, sim como em mim mesmo nas diferentes horas do dia. Sim, meu caro Zito, é tudo uma questão de escla, e de perspetiva. Creio que todos percebemos o que Agualusa e Mia quiseram dizer. Hélas, a Europa é hoje um estereótipo fragmentado onde cada um puxa a brasa à sua sardinha. Nunca foi tão nítido, e nulo, a ideia de que o que há, são Europas. Podiamos escrever um calhamaço sobre essas diferentes realidades, todas válidas.

Unknown disse...

Pois é: puxar a brasa à sua sardinha!
Por detras do popular refrão e do proletarismo dos ingredientes se esconde a fina-flor da ganâmcia universal na construção do um "eu" que pertence ao DNA dos humanos e, se calhar, de outros primatas, mais ou menos primitivos... Do centro de Manhattan ao mais recôndito dos quimbos dos bosquimanes angolares, proliferam os "puxadores de brasas",pelo que os há de todas as cores e de todos os feitíos...As regras da formatação social podem diferir conforme o paralelo mas a massa dos seus componentes não tenho receio de acreditar que tenha a nesna origem...
A História assinala a existência de alguns seres escepcionais que se elevaram pelos seus próprios méritos acima da populaça...Tinha que haver quanto mais não fosse para abrir caminho à invenção da bitola...
Não se crendo na existencia dos seres superiores pela origem pela raça, pelo indice de desenvolvimento material, restam-nos os individuos que alcançam as estrelas pelo mérito, pela coragem, pela santidade, pelo exemplo, pela dádiva de si próprios: são os que me fazem aínda acreditar que a Humanidade tem outro futuro!