Declaração Cafeana

7 Comments



Iniciou-se hoje o julgamento de Carlos Pulu, a propósito do célebre caso da TVP, auto-intitulada TV do Povo. Como primeiro ponto de ordem, devo dizer que apenas conheço a pessoa em causa de o cumprimentar em acontecimentos sociais ou na rua e que, portanto, não tenho com ele o que se pode chamar uma relação de amizade.

Para quem não sabe o caso conta-se em poucas linhas: por iniciativa própria, Carlos Pulu começou a emitir para todo o Mindelo um canal de televisão, mais do que privado, doméstico. Escolhia os programas e os canais que emitia, durante parte importante do dia, promovendo, lá onde se justificasse o interesse local, reportagens que ele próprio fazia. A "programação" era organizada para agradar a todos: nas manhãs emitia canais infantis, na hora do almoço a SIC notícias, de tarde as novelas da Globo, no inicio da noite algum dos canais generalistas portugueses, e pela madrugada dentro, canais de cinema. Quando em 2006, chegou o Campeonato do Mundo de futebol, interesses mais elevados se elevaram e a Direcção Geral da Comunicação social obrigou que a emissão fosse interrompida, o que não foi logo acatado. Resultado: tribunal com ele e a maior manifestação popular de que há memória no Mindelo nos últimos tempos.

Até aqui tudo bem. O problema é que este julgamento é uma tremenda demonstração de hipocrisia judicial, porque até hoje qualquer um pode ver canais portugueses, incluindo um dos canais pré-pagos de desporto, que são pirateados pelas Câmaras Municipais e emitidos nos seus concelhos. Estas também, ou pelo menos aqui de S. Vicente, estão a emitir ilegalmente. Até hoje. Onde estão os processos judiciais?

Os próprios canais de televisão com licença legal, emitem séries famosas e filmes da grande produção cinematográfica mundial, sem que se saiba muito bem se estes direitos de emissão foram, efectivamente, comprados nas grandes feiras internacionais onde as principais distribuidoras mundiais negoceiam estas coisas. Ainda me lembro do tempo em que se via um filme na televisão nacional e no final aparecia a comprometedora frase "não se esqueça de rebobinar a cassete". Outros tempos...

Neste, como em muitos outros casos, a moralidade só serve para alguns. E ao querer fazer-se justiça, coloca-se a nu uma das suas maiores debilidades: a de que a justiça tem dois pesos e duas medidas conforme o poder político e financeiro de cada qual.



You may also like

7 comentários:

hãToino de Lírio disse...

'...dois pesos e duas medidas conforme o poder político e financeiro de cada qual.' Em Cabo Verde e por todos os outros lados, nuns mais, noutros menos. Quem tem mais poder só o quer porque assim pode mais do que os outros... Por aqui pela Republica de Portugal, tanto se manda para prisão quem escreve uma frase numa parede, como se mantém em liberdade quem rouba milhões do dinheiro que nos é imposto pagar.

Anónimo disse...

É muito grave, meu amigo João, que defendas a pirataria. A questão não é alguns programas piratiados no ar - tu também deves usar textos de grandes nomes da literatura e não pagas nenhum centavo - mas ir contra toda a lei do país, em vez de concorrer e esperar pela autorização legal. Não é assim em Portugal por exemplo, que conheces bem. Porque aqui tinha de ser diferente? Sinceramente, no melhor pano cai a nódoa.

Abraço

António d´Almeida

Unknown disse...

Sinceramente, António, acho que não leste bem o que escrevi. Se este texto defende a pirataria, enfim. A questão aqui são os dois pesos e as duas medidas da justiça. Nada mais. Além de que há ainda o pormenor de ainda não ter havido qualquer concurso público na data do lançamento desse "canal doméstico", lembrando, aliás, os tempos das chamadas rádios piratas em Portugal, antes da legalização das mesmas por concurso público. Poderei lembrar, por exemplo, que a hoje consagrada TSF também começou assim?

Abraço

Unknown disse...

Sinceramente, António, acho que não leste bem o que escrevi. Se este texto defende a pirataria, enfim. A questão aqui são os dois pesos e as duas medidas da justiça. Nada mais. Além de que há ainda o pormenor de ainda não ter havido qualquer concurso público na data do lançamento desse "canal doméstico", lembrando, aliás, os tempos das chamadas rádios piratas em Portugal, antes da legalização das mesmas por concurso público. Poderei lembrar, por exemplo, que a hoje consagrada TSF também começou assim?

Abraço

Tchale Figueira disse...

que a balança pesa para o lado do poder govarnamental está claro... toda gente sabe que o Pulu é do MPD. Justiça teria que ser para todos. Quanto a mim, a grande gafe foi ele ter começado a fazer publicidade e pegaram neste argumento como leit motiv.

De todas as formas,condeno a ilegalidade... Justiça para todos? SIM!!!!!!

Anónimo disse...

Caro João Branco começa a ser cansativo os dois pesos e duas medidas que os blogueiros afectos ao PAICV usam para criticar.

É assim com o Cesar, com o Paulino ... contigo.

Para fingirem que criticam o PAICV metem todo o sistema. O caso do Pulu é o caso típico de perseguição política, a mesma que fizeram com a Zau e não aconteceu com Filú porque PAICV.

Que cidadania é essa que não chama os bois pelos nomes?

Medo???

Cidadão

Unknown disse...

Um dos problemas estruturais é mesmo esse: achar que tudo, mesmo tudo, que acontece por aqui, tem a ver com os partidos. Á presidente da Câmara de S. Vicente nada foi feito, precisamente na mesma situação, e é isso que a minha posição denuncia. O Púlu foi constituído arguido e a CMSV continua a transmitir canais impunemente. Partidarismo? Não me parece.

De resto,quem acompanhou o julgamento já saberá que a própria acusação, ou seja, o ministério público, pediu a absolvição do arguido. Menos mau. Mas podemos com isso concluir que o MP é avesso ao actual poder?

Cidadania é saber ver as coisas para além das lutas partidárias, isso sim.