Declaração Cafeana

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Se há algo que é consensual para toda a gente é o facto de não se poder construir um edifício começando pelo telhado. Há que projectar primeiro, a partir de uma profunda reflexão sobre o local onde a obra vai ser implementada, as suas características, a sua integração paisagística e a forma como se vai relacionar, visual, urbana e socialmente, com os restantes prédios, ruas e casas. Depois o próprio projecto tem que ter em conta o que se pretende para a casa. Só depois começamos a construção e esta, como é óbvio, começa sempre pelos alicerces. Não sendo assim, mais dia menos dia, a casa vem abaixo.

É precisamente isso que está a faltar a Cabo Verde, 35 depois da Independência do arquipélago: um pensamento (e consequente fazer) projectado, consistente, realista e de alto índice de praticabilidade de educação artística no país. Porque, e esta é outra verdade tão evidente que se torna banal, é pela educação que tudo começa. Se não temos um pensamento voltado para a arte (e não temos), há falta de educação artística de base isso se deve. Se temos um cinema que morre e agoniza (veja-se o caso do Éden-Park), é porque não temos uma educação artística de base. Se continuamos a menosprezar o papel da cultura e dos seus intervenientes, caindo no engodo de que o investimento público na área é dinheiro deitado no mar (que é como quem diz, para sustentar alguns oportunistas que não tem mais nada melhor que fazer na vida), é porque nunca tivemos uma educação artística que nos mostrasse o quanto a arte pode fazer a diferença num pais como o nosso.

Parece que Cabo Verde está acordando para esta realidade. Por mim, tenho muito claro que não há outro caminho. Estudos estão feitos em todo o mundo e está mais do que provado que a cultura faz toda a diferença. Pode fazer toda a diferença. Seria bom pensarmos porque é que ainda hoje, num pais destes, quando um jovem de 17 anos diz aos pais que quer ser músico e estudar música, lhe respondem algo como “tudo bem, fazes isso nos tempos livres, mas entretanto tens que estudar algo realmente importante, como direito, economia.” Só a educação artística de base pode mudar esta triste realidade.




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4 comentários:

Anónimo disse...

Acho que o problema é que a verdadeira arte sempre andou lado a lado com falta de reconhecimento atempado e com parca ou nenhuma remuneração. A história tem demonstrado que a maioria dos grandes nomes da arte sempre viveram humildemente e muitos morreram na pobreza. Claro que ninguém quer ver os filhos a viverem na pobreza. Hoje em dia pode-se dizer que já há alguns artistas que vivem bem, mas também a forma de arte é outra, mais comercial e holiwoodesca que outra coisa...O problema é complexo, e passa necessariamente pelo reconheciemnto das artes como um dos alicerces para a formação de uma sociedade. Eu lamento todos dos dias não ter uma conservatória de música para me matricular e à minha filha; que não haja mais ecolas de teatro; quem não haja mais galerias; que não haja espaços públicos para tertúlias, enfim poderia alongar-me o dia todo.
Eu digo e repito andamos a confundir paródia e festanças com cultura, e isso é péssimo. Bares há muitos, discotecas também, festas e choldra nem se fala. Mas arte, criação artística, política cultural e artística, essa não há. E há que reconhecer e enfrentar isso com seriedade.

Pimintinha

Amílcar Tavares disse...

Uma pergunta: a "classe artística" está unida, empenhada e comprometida à volta de um propósito? Sem essa premissa, não será possível voar alto. Penso eu de que...

Anónimo disse...

Existe classe artistica?

Sarabudja disse...

Espero que se algum dia o meu filho me abordar com a vontade de ser artista, eu saiba estar à altura da sua decisão e não ouse queimar as asas da vontade e do sonho.